quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS

                                           

       Por Nilson Montoril
                                                                                   

              A morte de Vargas foi divulgada pela Radio Nacional, através do “Repórter Esso”,  às 9 horas do dia 24 de agosto de 1954. 
            
O gaúcho Getúkio Vargas gostava de fumar charutos cubanos e usar ternos feitos sob encomenda. Na condição de presidente eleito, empossado no dia 31 de janeito de 1951, teve dificuldades para compor sua equipe do primeiro escalão. Quando governou o Brasil em regime ditatorial promoveu memoraveis reformas econômicas e sociais.

            Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, o povo brasileiro ouviu pelo rádio a notícia constrangedora de que o Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas tinha ceifado a própria vida. Eram 08h30min quando ele acionou o gatilho de uma pistola automática, calibre 22, e deferiu um tiro mortal no coração. Até às 08h10min o general Calado de Castro permaneceu no gabinete de trabalho do presidente fazendo-lhe companhia. Posteriormente, Vargas retirou-se para seus aposentos, no 3º andar do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Profundamente constrangido, ele precisou apenas de vinte e cinco minutos para escreveu um curto bilhete que, posteriormente, a imprensa sensacionalista iria chamar de carta testamento. Em seguida, Getúlio Vargas agarrou a pistola com a mão direita, encostou-a no peito, ä altura do coração e puxou o gatilho. Um estampido seco foi ouvido pelas pessoas que estavam perto do quarto e logo se deslocaram para ver o que tinha ocorrido. O general Calado de Castro foi a primeira pessoa da confiança de Getúlio a entrar na suite presidencial. Ao deparar com o corpo ensangüentado do presidente inerte sobre a cama ficou paralisado. O impacto emocional sentido pelo general com a brutal foi tão forte que ele perdeu os sentidos. Vargas ainda agonizava quando sua esposa Darcy Vargas, a filha Isaura e filho Lutero Vargas, que era deputado federal, tentaram socorrê-lo. Dona Darcy abraçou o corpo do marido e indagou o porquê de uma atitude tão radical. Logo depois entrava o senhor Osvaldo Aranha, amigo de Getúlio de longas datas e um dos artífices de sua posse como presidente do Brasil, em 1930. Uma ambulância foi solicitada, embora o estado de saúde do presidente fosse terminal. Mesmo assim, o médico Rodolfo Samuel Perissé determinou a locomoção de Getúlio para o hospital mais próximo. Entretanto, no interior da ambulância nº 155 o presidente exalou o último suspiro. Getúlio Vargas trajava um pijama listrado, marrom e branco, com o monograma G.V. bordado no bolso superior esquerdo. O blusão chegou a ser rasgado à altura do peito esquerdo pelos que socorreram o presidente, em virtude da ânsia com que procuraram prestar os primeiros socorros. A morte de Vargas foi divulgada pela Rádio Nacional, em edição extraordinária do “Repórter Esso”, às 9 horas.
O gesto tresloucado praticado por Getúlio Vargas abalou profundamente o Brasil. Os militares que o levaram ao poder em 1930, mantendo-o no cargo de presidente até meados de 1945, quando forçaram sua renúncia e o aceitaram como mandatário eleito em 1950, são indicados como algozes do "velinho". A gravura que ilustra este artigo é de Carlos Estevão.

          Getúlio Vargas havia assumido o cargo de presidente no dia 31 de janeiro de 1951, eleito em sufrágio universal no dia três de outubro de 1950. Naquela ocasião obteve 3.849.040 votos, quase 49% de votos válidos. O brigadeiro Eduardo Gomes ficou em segundo lugar com 2.343.384 de votos, cerca de 30% do total de eleitores. Cristiano Machado, sabotado por seu partido, o PSD, alcançou somente 1.697.193 votos, equivalente a 22% dos sufrágios computados.  Entretanto, a União Democrática Nacional - UDN, cujo candidato tinha sido o brigadeiro Eduardo Gomes, alegava que Getúlio não havia conseguido a maioria absoluta de votos como determinava a Constituição Federal. O partido apelou para o Tribunal Superior Eleitoral, mas não foi atendido. Os principais chefes das Forças Armadas externaram descontentamento. No entanto, declararam que respeitariam a decisão da Justiça. Quando os getulistas ainda costuravam a candidatura do velhinho, no decorrer de 1950, o general Góis Monteiro, ministro da guerra do presidente Eurico Dutra, afirmou que as Forças Armadas não colocariam obstáculos á eventual posse de Getúlio caso ele respeitasse não só a Constituição como os direitos impostergáveis dos militares.  Para poder chegar ao Palácio do Catete, o presidente contraiu pesadas dívidas políticas com adversários ferrenhos. Para poder neutralizar a força popular do Partido Social Progressista-PSP, de Adhemar de Barros, firmou aliansa com ele, assegurando que um ministério lhe seria reservado. As classes média e alta não aceitavam o exacerbado populismo de Getúlio e o hostilizavam. Sua popularidade sempre foi elevada entre os pobres, os desvalidos e membros da classe baixa. No decorrer de sua campanha política o Brasil inteiro cantou uma marchinha contagiante composta por Marino Santos e Haroldo Lobo e interpretada por Francisco Alves, o Rei da Voz, cujo teor era: “Bota o retrato do velho outra vez/ bota no mesmo lugar/o retrato do velhinho/faz a gente trabalhar.” No curso de seu mandato o velhinho enfrentou muitas dificuldades. Tendo passado quinze anos dirigindo a nação como ditador, de 1930 a 1945, agora estava vivenciando um período democrático. Para continuar fazendo o papel de pai dos pobres tinha que afagar a cabeça da alta burguesia e fazer vistas grossas às crueldades e arbitrariedade da polícia. Neste ponto foi ao fundo do poço, permitindo que a polícia entregasse Olga Benário, esposa do líder comunista Luiz Carlos Prestes à Gestapo. Ela era tida como espiã e os alemães queriam prendê-la a qualquer custo. Olga Benário foi deportada e morreu num campo de concentração nazista. Estudiosos da vida de Getúlio dizem que ele era avesso a gestos teatrais e frases grandiloqüentes. Tinha a cabeça fria e era capaz de dominar suas emoções. Também era honesto em matéria de dinheiro e ao que parece nada ambicioso a bens materiais. Sua grande paixão era o poder de mando, a defesa do homem comum, o bem estar do povo. Acreditava cegamente em pessoas que ele julgava serem merecedoras de confiança, mas que se valiam da influência para aprontar coisas que manchavam a reputação do presidente. Ao saber do atentado Getúlio comentaria indignado: “Esse tiro é uma punhalada em minhas costas”.

O povo brasileiro compareceu em massa ao velório de Getúlio Vargas. Ele era cognominado o "Pai dos Pobres"e dos trabalhadores mais humildes. Após sua morte, os governantes do Brasil têm procurado extinguir as conquistas trabalhistas adotadas em suas gestões. Ainda hoje ele é considerado o maior presidente que o Brasil já possuiu.
                                              
          As hostilidades contra Getúlio Vargas aumentaram a partir do dia cinco de agosto de 1954, quando dois pistoleiros tentaram matar o jornalista Carlos Lacerda, que lhe desferia contundentes críticas através do jornal Tribuna da Imprensa. Passavam cerca de quarenta minutos da madrugada quando Carlos Lacerda chegava de carro a sua residência, na Rua Toneleros, 180, em Copacabana. Ele, o filho Sérgio e o major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, regressavam de uma conferência antigetulista. De tocaia, dentro de um táxi, os pistoleiros atiram contra Lacerda. Um tiro lhe fere de raspão o pé esquerdo e o outro se aloja no peito do major Vaz, que morre no caminho do hospital. Um dos tiros fere o guarda municipal Sávio Romeiro que fazia sua costumeira ronda no local. Mesmo ferido o guarda consegue anotar a chama do veículo e acertar um balaço em sua lataria. Ao saber do atentado, Getúlio comentaria indignado: “Esse tiro é uma punhalada em minhas costas”. O alvo preferido de Lacerda era a corrupção do governo Vargas e o verdadeiro mar de lamas que havia no Palácio do Catete. A perícia constatou que abala que matou o major Vaz tinha saído de uma pistola calibre 45, arma privativa das Forças Armadas. Um inquérito policial foi instaurado. Carlos Lacerda recorreu ao brigadeiro Eduardo Gomes para que o inquérito fosse tirado das mãos da polícia e transferido para a Aeronáutica. Passou a ser então um Inquérito Policial Militar sediado no Aeroporto do Galeão. Este inquérito apurou que o motorista do táxi era Nelson Raimundo dos Santos. Temendo ser morto, Nelson apresentou-se à polícia e disse que não conhecia os pistoleiros, apenas atendeu ao sinal que eles fizeram. O IPM teve como encarregado o coronel-aviador João Adil de Oliveira e em poucos dias chegou aos suspeitos. Pressionado, o motorista confessou que havia transportado Climério de Almeida, um dos duzentos indivíduos que integravam a guarda pessoal de Getúlio Vargas. Em seguida foi preso João Alcino do Nascimento. Os pistoleiros disseram que cumpriram ordens de Gregório Fortunato para matar Lacerda. Gregório comandava a guarda pessoal de Getúlio deste o Estado Novo, criado em 1937. A morte de Getúlio arrefeceu um pouco o interesse pelas ações do IPM para apurar o crime arquitetado por Gregório. Ao saber que Getúlio tinha morrido, o povo tomou conta das ruas. Desnorteado, queimou caminhões de jornais da oposição, depredou suas redações, entrou em choque com a polícia, apedrejou a embaixada americana. O povo sabia que Getúlio tinha sido vítima dos inimigos do trabalhismo e do nacionalismo que combatiam suas qualidades. No governo Vargas o nível de emprego cresceu, o salário e a estabilidade no emprego aumentaram. Surgiram as maiores conquistas do proletariado. O quebra-quebra se deu no Brasil todo.

                                O bilhete de Getúlio Vargas tinha o seguinte conteúdo: “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente contra mim. Não me acusam, insultam, não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu continue a defender, como sempre defendi o povo e principalmente os mais humildes. Sigo o destino que me é imposto. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre ao vosso lado. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Getúlio Vargas recebe em audiência o então capitão Janary Gentil Nunes, governador do Território Federal do Amapá.Na oportunidade o presidente do Brasil manuseia um albúm de fotografias evidenciando as transformações ocorridas no Amapá no decorrer de 18 meses da gestão de Janary Nunes.Foto do Jormal AMAPÁ nº 11, de 2 de junho de 1945.



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