sábado, 21 de abril de 2012





 SUBMARINOS ALEMÃES AFUNDADOS NA COSTA DO AMAPÁ

 Por Nilson Montoril

Avião americano Martin PMD 3B que afundou o submarino alemão U-513 no litoral de Santa Catarina

                        A Kaiserliche Marine da Alemanha utilizou 1.168 submarinos na II Guerra Mundial.  Seus adversários afundaram 800 e cerca de 150 atuaram no litoral norte-americano, no caribe e em águas brasileiras, afundaram 33 navios mercantes que transportavam matérias primas para os Estados Unidos da América. Os alemães identificavam estas poderosas armas como “Unterseeboat”, que literalmente quer dizer “pequeno barco de baixo-de-água”. De forma simplifica, usavam a letra U e um número para identificá-los. Singrando as águas atlânticas, entre os Estados Unidos e o Golfo do México, os U-boats tinham o propósito de afundar navios de carga que transportavam suprimentos e material bélico dos Estados Unidos e Canadá para a Europa. Eram, basicamente de dois tipos: o IXC( nove c) e VII( sete c). Causaram muito estrago até o momento em que os Estados Unidosentraram no conflito e passaram a fazer uso de radar, sonar, carga de profundidade, decodificação de códices, escolta aérea e formação de comboios, diminuindo a eficácia alemã. Em meados de 1941, começou a ser instalada a “Cintura do Atlântico”, que correspondia ao trecho de 1.700 milhas entre Natal e Dacar. O Brasil autorizou os USA a instalar bases aéreas nas cidades de Amapá, Belém, Natal e Recife e liberou-lhes os portos de Recife e Salvador. Ainda em meados de 1941, chegava a Natal a “Task-Force 3” dos Estados Unidos, sediando suas atividades em Parnamirim e transformando a pequena cidade de Natal no "Trampolim da Vitória". Em represália, os alemães atacaram navios brasileiros na costa americana e no Caribe. Foram a pique os navios Cabedelo, Buarque, Olinda, Arabutan, Cairu e Parnaíba. Em águas brasileiras, o submarino italiano “Bergarigo” torpedeou sem sucesso o navio Comandante Lira. Além do Bergarigo, os italianos fizeram uso dos submarinos Calvi, Capelline, Aechimedes e Da Vinci. Barcos corsários camuflados de navios mercantes supriam as necessidades dos submarinos alemães.Havia U boats que só faziam o abastecimento dos outros e eram chamados de “milchkuh” ou vaca leiteira.


Um dos poucos alojamentos contruidos pelos norteamericanos que ainda permanecem eretos na Base Aérea de Amapá
A Força do Atlântico Sul, criada pelos americanos ficou  sediada em Recife de onde partiam navios contratorpedeiros e aviões de combate da bem estruturada Divisão VP 83. A ação contra os U-boats destruiu nove unidades alemãs, duas delas na costa do Amapá: U-590(afundou 1 navio) e U-662(afundou 3 navios). No litoral da Bahia foi afundado no dia 27/9/1943, o U-161, que torpedeou e colocou a pique 19 embarcações.Os demais submarinos afundados eram: U-164, na costa do Ceará, dia 6/161943, que destruiu 3 navios mercantes; U-598, no litoral do Rio Grande do Norte, dia 23/7/1943, responsável pelo afundamento de 2 navios; U-591, no litoral da Paraiba, dia 31/7/1943, que levou a pique 5 navios; U-128, afundado no litoral de Pernambuco dia 17/5/1943,que torpedeou 12 navios; U-199, afundado dia 31/7/1943, no litoral do Rio de Janeiro,carrasco de 14 navios e o U-513, afundado dia 19/7/1943, no litoral de Santa Catarina. O total de navios afundados é de 65 unidades, inclusos 33 embarcações de empresas de navegação do Brasil. 
Avião Catalina dos Estados Unidos na Base Aérea de Natal embarcando tripulantes do submarino alemão U-598, afundado no litoral do Rio Grande do Norte dia23/7/1943.

                      O submarino U-513, patrulhava a rota Rio de Janeiro-Buenos Aires e já havia torpedeado e afundado 6 navios. Tinha 53 tripulantes, conduzia 22 torpedos e 14 minas. Encontrava-se na superficie do Atlântico quando um avião Catalina americano o surpreendeu e lançou contra ele duas bombas de 225 quilos cada uma, atingindo-o em cheio. Foi localizado pela família Schurmann, no dia 14/7/2011,no litoral norte de Santa Catarina a 75 metros de profundidade. Os Schurmann pretendem trazê-lo à tona e mantê-lo exposto em museu. O U-Boat-590, comandado pelo capitão OBLT Werner Kruer vinha sendo caçado porque afundara o navio Pelotas Lóyde. Navegava na superfície ao largo da costa do Amapá, em alto mar, dia 9/7/1943, quando o avião Catalina PBY-3, do Esquadrão PV-94 sediado em Belém, que patrulhava a região norte o avistou a 200 milhas do litoral amapaense. Ao perceber a aproximação do avião o submarino emergiu e desapareceu por cerca de uma hora. Logo depois retornou á superfície, ocasião em que o catalina mergulhou sobre ele e lançou suas bombas, atingindo-o em cheio. O U-590 foi ao fundo no ponto demarcado por 3º e 22’ de Latitude Sul e 48º, 38’ de Longitude Oeste.Restaram na superfície do oceano 5 homens e vários destroços. A tripulação do Catalina jogou ao mar várias balsas, mas apenas 2 alemães conseguiram alcançá-las. Horas mais tarde eles foram recolhidos por um navio e levados para os Estados Unidos e submetidos a interrogatórios.
Submarino alemão da lª Guerra Mundial

                        O U-Boat-662 navegava ao largo da costa do Amapá, no dia 21/7/1943, comandado pelo capitão OBLT Heinz-Eberhard Muller, a espreita do comboio T3-2, que seguia com destino aos Estados Unidos. Ele já havia afundado três navios. O Catalina 94-P-4, que dava cobertura aos navios brasileiros avistaram o submarino a 4 milhas de distância e se posicionou para o ataque. O submarino imediatamente acionou a artilharia antiaérea, conseguindo ferir o radiotelegrafista do avião. O aparelho iniciou um pique raso, já atingido pelo fogo inimigo. Mesmo com problemas no estabilizador vertical e na cantoneira exterior do casco da estação radiotelegráfica, o Catalina conseguiu despejar suas bombas sobre o submarino, atingindo em cheio o casco a bombordo, da torre de comando à frente da proa. Esta se elevou sob espessa cortina de fumaça e o submarino afundou sob mancha de óleo. Pouco tempo depois, quatro tripulantes, entre eles o capitão foram vistos na superfície do oceano. O Catalina lançou balsas, para onde nadaram os sobreviventes que foram resgatados pelo navio USS – S Siren e levados para os Estados Unidos. Bastante danificado o catalina 94-P-4 retornou a Belém com problemas hidráulicos e de comunicação pelo rádio. O submarino foi a pique na posição Latitude 3º 56’ Sul e Longitude 48º 46’ Oeste.
         

Destroços do submarino alemão U-513 afundado no litoral de Santa Catarina

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A SEMANA SANTA EM OUTROS TEMPOS




      Por  Nilson Montoril

Anacleta Martins de Lima e Raimundo Ferreira Lima viveram na Vila Sossego por mais de 50 anos. Ali tiveram seus filhos e mantiveram vivos os ensinamentos que receberam de seus pais, principalmente os relacionados à moral e à religião. Enfrentaram momentos de muita dificuldade, mas souberam vencê-los. Ambos descendem de portugueses e de cearenses.
                       
                         Os cristãos só tiveram liberdade plena para celebrar a semana anterior à Festa da Páscoa dos Judeus depois que o cristianismo foi declarado como religião oficial do Império Romano. Não havia propriamente uma Semana Santa, haja vista que os festejos relembrando a vida, a paixão e a morte de Jesus Cristo só ocorriam na sexta-feira e no sábado. Este curto período era denominado Hebdomada paschalis (semana pascoal). No século V, quando Roma já era a sede do cristianismo a Hebdomada paschalis passou a chamar-se Semana Autêntica, evoluindo para Semana Santa. No tempo dos apóstolos o jejum era rigoroso e valia como preparação para o domingo, em que era celebrada a ressurreição de Cristo. A inclusão da quarta-feira ocorreu para lembrar que foi neste dia que os chefes judeus decidiram prender Jesus. Ainda no século V, cristãos passaram a comemorar a Feria quinta in coena Domini, isto é, Quinta-feira da ceia do Senhor. A sexta-feira, dia em que Jesus Cristo foi crucificado, ganhou o nome de Dies amaritudinis, o Dia da amargura. O ritual da Semana Santa, tal como conhecemos, teve como base os acontecimentos ocorridos em Jerusalém. O lado profano dos cristãos se encarregou de criar certas coisas que apavoraram muitas gerações. Puras superstições, como dizer que a partir da morte de Jesus, o Diabo ficava solto para tentar reorganizar seu reino de malefícios. Neste dia ninguém deveria vestir roupa vermelha porque o Diabo vinha buscar a alma do desavisado.

Entre o Porto de Santana e a Casa Potock, na foz do Rio Maracá-Mirim, uma catraia com motor de 10 Hp cobre a distância em 3h30m, a favor da maré. Para alcançar a foz do rio Maracá-Mirim, qualquer embarcação singra as águas do Canal Norte do rio Amazonas.A presente fotografia mostra imagens do trapiche, do estabelecimento comercial e da residência do portugues João Oliveira. A força da maré causou sérios danos na área, inclusive derrubando a ponta da ilha que se vê à esquerda da foto. No tempo aureo da borracha e da exportação de madeira em toras, o comércio tinha ótimo movimento.

 Outras preciosidades surgidas à conta da imaginação dos cristãos, a maioria do povo conhece muito bem. Faço aqui a citação de algumas narrativas que ouvi do meu sogro, Raimundo Ferreira Lima, 97 anos e de minha sogra, Anacleta Martins de Lima, 94 anos, Eles contam, com riqueza de detalhes, coisas que ninguém se atrevia a fazer e que hoje o povo simplesmente ignora. Seu Lima nasceu em 1915, no interior do município de Gurupá. Ela nasceu em 1919, em terras de Breves. Depois de casados foram morar na localidade de Sossego, no Rio Maracá Mirim, município de Mazagão. O casal teve sete filhas e um filho, mas ainda achou tempo para criar um menino da pele morena que vivia desamparado na região das minas de ouro do Rio Vila Nova, o Hilário. Uma das mulheres, Rosa Maria é minha esposa.
Nilson Montoril, com o filho Nilson Júnior, seu Raimundo Lima e dona Anacleta em frente à Escola Primária do Maracá-Mirim, em 1975. O prédio escolar ainda era o mesmo inaugurado pelo Governador Janary Nunes, em 1945. Na época, o casal tinha 60 e 56 anos respectivamente. Atualmente, nada mais existe edificado na área onde foi instalada a Vila Sossego.

Por ser mais velho, o Hilário era o encarregado de apanha o açaí na quarta-feira e amassá-lo, na sexta-feira, para o almôço da Semana Santa. Ai dele se fizesse barulho, era o primeiro a ver o ramo da aleluia romper em suas pernas, na manhã de sábado, O peixe era frito por Dona Mulata ao anoitecer de quinta-feira, guardado e aquecido na grelha no dia seguinte. Na Sexta-Feira Santa, seu Raimundo Lima só saia de casa se houvesse premente necessidade.  Despescava o cacuri e o matapi na quarta-feira. Os demais filhos ficavam quietos em suas redes, no quarto do casal. Seu Raimundo atava sua rede bloqueando a porta, impedindo que a filharada ficasse saindo e entrando no compartimento. Como a sede era a principal desculpa, uma bilha com vários copos ficava à disposição de todos. Em horários tradicionais, todos se postavam em frente ao Oratório, que não devia ser aberto, a faziam as orações de praxe. Ás 18 horas, da sexta-feira santa, os filhos tomava benção dos pais e pediam perdão pelas más criações feitas no dia a dia. 
Este flagrante mostra os efeitos devastadores que as águas do rio Amazonas causam às margens do grande caldal.Vemos na fotografia duas casas residênciais e a escola do Sossego. Além da escola ficava o empreendimento industrial(serraria) e  comercial do sr. João Oliveira Potock. A tranquilidade do lugar justificava seu nome.

Naquele tempo, ninguém podia comer carne no decorrer da Semana Santa, sob pena de cometer sacrilégio. Nos demais lares da região a situação era a mesma vivenciada pelos Lima. Muitas crianças sentiam tanto medo, que juravam ter visto o capiroto. A modernidade imensa que hoje domina o mundo fez a religiosidade regredir. Lojas, bares e botecos não abriam suas portas nos últimos três dias da Semana Santa. Quem vendesse ou comprasse bebida alcoólica seria preso e multado Os cinemas só passavam filmes de cunho religioso, principalmente “A Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Atualmente a perversão é imensa. No feriadão religioso pouca gente reza. A maioria faz farra.

terça-feira, 17 de abril de 2012

PADRES ITALIANOS NO AMAPÁ : CATECISMO, ÉTICA E ESPORTE.


   Por Nilson Montoril
Padre Vitório Galliani, músico, brincalhão e devotado à juventude.Foi vigário das Paróquias de São José e Nossa Senhora da Conceição. Ajudou a fundar a Tropa de Escoteiros Católicos São Jorge, o Juventus Esporte Clube e o Ypiranga Clube.

                         Os primeiros padres italianos que chegaram ao Amapá, a partir de maio de 1948, gostavam de narrar os grandes feitos do Torino Futebol Clube, um belo time da cidade de Turim, na Itália, onde estava sediado o Pontificio Instituto das Missões Estrangeiras-PIME, do qual eles faziam parte.Todos curtiam bastante o futebol, principalmente Vitório Galliani e Ângelo Pigi. Estes dois chegaram a participar dos treinos que o Juventus Esporte Clube realizava no campo do Estádio Municipal de Macapá, ambos na condição de zagueiros. O Padre Ângelo Pigi, por ser alto, desanuviava qualquer bola lançada para a meta que defendia. Vindos de um país onde o futebol é bastante apreciado, os sacerdotes viram que o nobre esporte bretão seria utilíssimo como instrumento para atrair a garotada que vivia nas ruas, sem uma sistemática assistência religiosa, moral e esportiva. Os moleques jogavam com bolas de meia e de sernambi, haja vista que "pneu" era coisa rara por estas bandas.O Padre Jorge Basile, foi encarregado de estruturar e reger o Oratório São Luiz, um espaço que a Paróquia de São José passava a dispor para receber meninos e meninas e assim  ministrar-lhes ensinamentos preciosos de conduta social. Durante um bom periodo de tempo o Padre Vitório Galliane coordenou os trabalhos com os garoto, auxiliados pelos chefes escoteiros Humberto Álvaro Dias Santos e Expedito Cunha Ferro, o popular 91.

O Padre Jorge Basile veio atuar no Amapá como membro da Pastoral da Comunicação. Participou ativamente da fundação do Jornal "A Voz Católica" e da Rádio Educadora São José Ltda. Também foi redator e articulista de vários jornais de Macapá. Trabalhou como Professor e convenceu o Governador Ivanhoé Martins e encampar a Escola Técnica de Comércio, transformando-a no Colégio Comercial do Amapá, atual Escola Estadual Gabriel de Almeida Café.

                O chamado quintal dos Padres era dividido em duas áreas por um grande barraco feito de madeira de lei, denominado Salão Paroquial Pio XII. Na parte maior ficavam os meninos, que eram mais numerosos. Na outra parte as meninas brincavam seguindo as orientações do Padre Lino Simonelli. Nos primeiros anos de atuação no Amapá, os sacerdotes italianos foram distribuidos pelos municipios então existentes e precisaram trabalhar bastante para fazer os católicos voltarem a frequentar a igreja. Em 1948, quando os padres italianos do PIME substituíram os religiosos alemães da Congregação da Sagrada Família, na condução do catolicismo no Amapá, o campeão italiano de futebol era o AC Torino, fundado em 3/12/1906, por membros do extinto FC Torinense e dissidentes do Juventus. A famosa agremiação grená de Turim era apelidada de “Il Granata” ou “Il Toro”. Base da seleção azzurra, o Torino só precisou da inclusão de um goleiro, que não pertencia a seu elenco, para derrotar a Hungria por 3x2, no dia 11/5/1947. O 1º titulo do Torino data de1943. A participação da Itália na II Guerra Mundial impediu-a de realizar os certames de 1944 e 1945. Em 1946, o Torino voltou a conquistar o escudeto de campeão, repetindo o feito até 1949.
Delegação do Torino embarcando em avião da Panair do Brasil S.A para realizar quatro jogos no Brasil, em julho de 1948.


            Foi na condição de tetra campeão italiano que o Torino esteve no Brasil, em julho de 1948. A delegação viajou em um aparelho da Panair do Brasil e disputou 4 partidas em São Paulo: 1x1 com o Palmeiras; perdeu para o Corinthians por 2x1; derrotou a Portuguesa de Desportos por 4x1 e empatou com o São Paulo em 2x2. Em 1914, quando esteve no Brasil pela primeira vez, o Torino triunfou sobre o Corinthians por 3x0 e 2x1, firmando com o alvinegro um pacto de amizade. A camisa grená que o Crinthians usa vez por outra, é uma homenagem ao Torino. O time do Torino era tão eficiente, que, na temporada 1947/48, venceu 19 partidas dentre as 20 disputadas. Obteve 39 pontos dos 40 possíveis de serem conquistados. Em 1949, o Torino foi a Lisboa disputar uma partida contra o Benfica.

  Restos do avião que conduzia a delegação de futebol do Torino.O impacto contra a base de uma das torres da igreja foi violento.

            O retorno para Turim, estava sendo feito no avião FIAT G 212, o 5º da série a ser fabricado na Itália, quando um acidente matou todos os ocupantes do aparelho: 18 jogadores, 4 tripulantes, 3 jornalistas e 6 funcionários, no total de 31 pessoas. Depois de uma escala em Barcelona/Espanha, o avião FIAT G 212 se dirigiu para o aeroporto de Turim. Um forte nevoeiro dominava a região e o comandante da aeronave foi alertado. Entretanto, o avião colidiu com uma das torres da basílica de Turim Superga, construída no século XVIII no cume do monte que lhe empresta o nome, onde existem tumbas de muitos príncipes e reis da casa de Sabóia.
  O Torino envergando seu bonito uniforme grená e branco. Todos os atletas que aparecem nesta fotografia morreram no acidente de 4 de maio de 1949.

                        No mesmo dia do acidente, sob forte comoção, a Liga Italiana declarou o Torino campeão de 1949. Os dirigentes do clube rejeitaram a homenagem e decidiram disputar as 4 partidas restantes utilizando seus atletas juvenis. Os adversários decidiram colocar em campo seus jogadores da mesma categoria. Assim, o Torino triunfou em todas as partidas: 4x0 no Genova; 3x0 no Palermo; 3x2 no Sampdória e 2x0 no Fiorentina.A Itália perdeu naquele dia 4/5/1949, a base de sua seleção de futebol e o atleta de maior expressão mundial na oportunidade:Valentino Mazzola. O trauma sofrido redundou na formação de uma seleção que não passou da fase classificatória do mundial de 1950, disputado no Brasil. Temendo novo acidente, atletas e dirigentes viajaram em navio. A famosa formação do Torino em 1949, era: Bacigalupo; Castigliano, Ballarim, Rigamonti e Loik. Manti,Ossola, Martelli Gabeto, Moroso e Valentino Mazzola.

O time do Torino entrando em campo para enfrentar o Corinthians, em julho de 1948, em São Paulo. Baltazar e Colombo consignaram os gols do coringão, que venceu pelo placar de 2X1. Gabetto fez o gol do Torino.

            Até 2005, o Torino realizou 2.509 jogos, obteve 1.030 vitórias, 757 empates, 722 derrotas. Marco9u 2.857 gols e sofreu 2.890.É o 5º clube italiano com maior na soma de pontos: 2.857. O grande rival do Torino sempre foi o Juventus, também de Turim. A maioria dos padre italianos torcia pelo Juventus, tanto é verdade, que batizaram com este nome um time fundado no Oratório São Luiz, O Juventus Esporte Clube. O desejo deles era que a agremiação usasse camisas listradas de preto e branco,mas já existia o Amapá Clube, fundado em 1944, que possuia uniforme igual ao do Botafogo de Futebol e Regatas. Os campeonatos organizados no Oratório São Luiz eram um primor. Os times tinham designações de clubes italianos: Milam, Internazionalle, Fiorentina, Juventus, Roma. As entidades esportivas homenageadas doavam uniformes completos,redes e bolas.

O escudo do Torino

              O moleque podia ser um craque, mas se não frequentasse as aulas de catecismo e não assistisse os oficios religiosos ficava fora das competições. Fui atleta da Fiorentina, time que ainda hoje tem minha simpatia e torcida. Faz muito tempo que isso aconteceu. Entretanto, parece que ainda ouço o Padre Vitório dizendo: "che belo esquadroni era o Torino. E que maravilhoso era o Valentino Mazzola ! Que Pelé que nada! ". O Padre Vitório Galliani foi o mentor da fundação de dois grandes clubes de futebol de Macapá: Juventus e Ypiranga. O Juventus está extinto. O Ypiranga, que tem as cores da Internazionalle de Milão, permanece ativo.
                       

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A VELHA BOA COM NOVO SOM


 Por Nilson Montoril


                                 
Esta foto de meados da década de 1960, mostra o prédio da Rádio Difusora da forma como ele foi conbstruido e inaugurado em 1946. As duas portas frontais davam acesso para o auditório, já desativado no ano em que a fotografia foi batida. O acesso ao estúdio, a discoteda, a sala do diretor e ao controle de audio era feito pelo corredor à direita da foto. O terraço, que tinha piso ladrilhado de branco e preto, como tabuleiro de jogo de dama, era utilizado para eventos diversos.

                        Criados para marcar a presença do governo brasileiro nas faixas de fronteira, os Territórios Federais, entre eles o do Amapá, permitiram ao Brasil resgatar a cidadania das pessoas que viviam isoladas e esquecidas nas áreas onde eles despontaram. As humildes cidades de Macapá, Mazagão, Amapá, Boa Vista e Porto Velho, que, até 13 de setembro de 1943, integravam os Estados do Pará e Amazonas, estavam decadentes. No caso das cidades amapaenses, seus habitantes esperaram mais 134 dias para ouvirem falar que o governo do Território do Amapá havia sido instalado a 25/1/1944. Souberam do fato através da PRC5 - Rádio Clube do Pará, emissora estabelecida em Belém, cuja Onda Tropical de 4.885 kHz cobria quase toda a região amazônica. Os moradores do atual Estado do Amapá estavam acostumados a sintonizar a referida estação transmissora. Entretanto, não era qualquer um que possuía um aparelho de rádio, caro e alimentado por energia elétrica. Nos lugares onde não existia energia, bateria de automóvel era conectada ao receptor. Os rádios a pilha, principalmente os menores, só começaram a aparecer em Macapá no inicio da década de 1960, contrabandeados do Peru. O governo do Amapá valeu-se frequentemente da PRC 5 para divulgar as noticiam de sua gestão administrativa, programas preventivos de saúde e as novidades programadas. Em 1945, o governador Janary Nunes requereu a concessão de uma emissora de rádio para ser instalada em Macapá. Ela deveria operar em amplitude modulada. O jornalista e advogado Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, que coordenava o Serviço de Informações do Território do Amapá foi credenciado para acompanhar o processo. Paulo Eleutério já havia instalado um sistema de alto-falantes no centro de Macapá, que funcionava das 17 às 18 horas, de segunda a sexta-feira e o Jornal Amapá, impresso pela primeira vez no dia 19/3/1945. Estava mais fácil para os citadinos, saberem as maravilhosas mudanças que se operavam na capital e no interior. A concessão da rádio não demorou a sair. A demora para sua instalação ficou por conta da encomenda do transmissor e dos demais aquipamentos. Em 1º/6/1946, excepcionalmente, haja vista que era a data do aniversário do governador Janary Nunes, a Rádio Difusora de Macapá entrou no ar, das 20 às 21 horas, com locução do Dr. Marcílio Felgueiras Viana. Foi um momento de muita alegria para os macapaenses.

Em 1987, o Embaixador do Marrocos Mohammed Nabi Messari visitou a vila de Mazagão Velho, dia 25 de julho, por ocasição da cavalhada de São Tiago. Na oportunidade eu realizava filmagem para a produção de um video e não perdi a chance de  entrevistá-lo.O video foi mostrado na Tv Amapá e o áudio na Rádio Nacional de Macapá. O embaixador era professor universitário e fala vários idiomas, inclusive o português. Os melhores registros históricos do marrocos foram feitos na língua francesa, obrigatória em todos os niveis, nas escolas marroquinas.
      
           O estúdio tinha sido improvisado no prédio da velha Intendência Municipal, no mesmo local onde operava o Serviço de Informações. Daí em diante, as transmissões em fase experimental se prolongaram até o dia 11 de setembro de 1946, ocasião em que foi inaugurado o prédio da estação transmissora e seu broadcasting. Nesta data entrava no ar a ZYE 2, Rádio Difusora de Macapá, a “Voz Mais Jovem do Brasil”, operava apenas em amplitude modulada (AM). Em 1953, houve a obtenção da emissora de onda tropical, freqüência de 4.915 Mc/s (megaciclos). Bem equipada, a RDM funcionou com muita desenvoltura. Revelou grandes valores para o rádio, inclusive um memorável cast de rádio-atores, instrumentistas e cantores. Em 1959, o transmissor de onda média da RDM apresentou um sério defeito e precisou ser mandado para São Paulo, de onde nunca voltou. Apenas a onda tropical ficou funcionando. Quando iniciei minha caminhada no rádio, em 1962, a Difusora continuava a ser bem ouvida, mas o povo sentia a falta da onda média. Em 1963, um grupo empresarial instalou a ZYD 11, Rádio Equatorial, uma emissora clandestina. Esta emissora contou com o beneplácido de algumas autoridades que estavam politicamente alinhadas com o Presidente João Goulart. O documento correspondente à concessão foi forjado e consequentemente a rádio não tinha registro oficial. Mesmo após a eclosão da revolução militar de 31/3/1964, essa emissora permaneceu no ar, sendo fechada pelo comando revolucionário e teve seus bens encampados pelo governo, passando a integrar o acervo da Rádio Difusora. Assim, a emissora voltou a operar em duas faixas de rádio.

Em 1957, no palco da Rádio Difusora de Macapá, Ruy Uchoa, vestido de cawboy, cantava um dos sucessos de Bob Nelson. Era acompanhado pelo Regional E2, constituido por instrumentistas do cast da emissora.Ao lado do Ruy Uchoa vemos o Cassiporé, tocando banjo.

              Mesmo combalida, porque os governantes nomeados por Brasilia não lhe davam a atenção devida, a RDM viu surgir a Rádio Educadora São José Ltda., em 1968 e, no decorrer de quase 10 anos disputou com a rival a preferência dos macapaenses, sendo mais ouvida no interior.Foi nesse período que o Rui Uchoa, apresentador de um programa sertanejo autocognominado de "Bode Velho", a rotulou como “ A Velha Boa”. Em 1978, quando mais parecia um arremedo de emissora, a RDM foi atingida pela insensatez do governador Arthur de Azevedo Henning e todo deu patrimônio repassado, de graça, para a Radiobrás. Seu prédio passou por soberbas reformas para a instalação de dois modernos estúdios para locução, um estúdio para gravações e um estúdio para uma emissora de frequência modulada. Os bens da Difusora, tidos como velharia, foram declarados inserviveis e relegados ao lixo. Neste momento eu fazia parte do pequeno grupo de funcionários e colaboradores da estação. Mesmo enfrentando problemas de reposição de peças, a Rádio Difusora tinha voltado a reinar absoluta no Amapá, haja vista que a Educadora deixou de existir em abril de 1978. Curioso foi o fato da RDM ter passado a ser identificada como Rádio Nacional de Macapá a partir de 28/8/1978, e a nova emissora ter ficado utilizando todos os seus equipamentos até outubro.
Um dos estúdios da Rádio Difusora de Macapá onde os radialistas Herminio Gurgel (Pai d'Égua) e Osmar Melo(Pai Véio) apresentavam o programa "Alvorada Sertaneja". Estrutura foi montada pela Radiobrás.Ambos são falecidos.

                       A Rádio Nacional de Macapá funcionou de outubro de 1978 a junho de1989. Neste ano, o governador Jorge Nova da Costa requereu a devolução da concessão da emissora e pediu a doação dos equipamentos da Rádio Nacional para o governo territorial. A Radiobrás disse, que, se o governo do Amapá quisesse reinstalar a RDM, deveria comprar os bens que constituíam a Rádio Nacional de Macapá. E assim ele fez. Em fevereiro de 1990, quando assumi a Secretaria de Administração, a qual a rádio estava subordinada, tomei conhecimento de que o pagamento das parcelas estava em atrazo e a Radiobrás ameaçava reavê-la. Autorizado pelo Dr. Jorge Nova da Costa fiz contato com o Benedito Picanço, Secretário de Finanças e regularizamos a dívida. Ao deixar a SEAD, a Difusora estava paga. Na última sexta-feira, dia 30/3/2012, para satisfação dos que amam a Difusora, o governador Camilo inaugurou dois novo transmissores, de onda média e de onda tropical, que estão permitindo longo alcançe para as irradiação da emissora pública. Podemos dizer, que, "A Velha Boa” está com novo som.