quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    Por Nilson Montoril
 
As Negrinhas Namoradeiras entre as quais me posicionei para aparecer nesta fotografia estavam assentadas sobre um peitoral de uma janela no térreo de um sobrado de dois pavimentos localizado na Travessa Portugal, no Centro Histórico da cidade de  São Luiz, Estado do Maranhão.No local funciona um restaurante,cujo dono foi muito gentil comigo. Ele me disse que a maioria das pessoas nem se apercebe da presença das negrinhas na janela de seu estabelecimento comercial.
                        As negrinhas namoradeiras são um tipo de bonecas que ainda hoje enfeitam varandas, cozinhas, corredores, janelas de residências e de estabelecimentos comerciais, amurados, áreas de lazer e mesmo nas salas de muitas casas no interior do Brasil. Na época do Brasil colonial essa espécie de decoração evidenciava mulheres brancas, louras, olhos castanhos, lábios e unhas pintadas de encarnado. As primeiras bonecas foram trazidas de Portugal, mas depois passaram a ser confeccionadas no Brasil. Feitas de gesso, argila ou madeira, as bonecas namoradeiras podiam ser confundidas com as mulheres dos colonizadores, que não podiam aparecer reveladamente na frente cãs casas, principalmente as casadas.
A Boneca Namoradeira da foto enfeita o balcão de uma lanchonete num velho casario que outrora foi a Cadeia Pública de São Luiz.O imóvel foi totalmente restaurado e abriga inúmeras atividades culturais.

                            O costume teria surgido em Portugal na época da dominação moura. Para impedir que os passantes das ruas vissem as recatadas mulheres brancas bisbilhotando o que se passava na rua, os donos dos imóveis mandavam colocar um tipo de treliça de madeira chamada muxarabiê bloqueando as janelas.  Espécie de biombo tinha diversas frestas e através delas é que as mulheres viam o exterior das residências.  A palavra muxarabiê vem do Frances moucharaby, derivado do árabe masrabiya ou muxarabi. Assegura ventilação, sombra e permite olhar para o exterior sem ser observado. È uma patente influência da arquitetura moura na península ibérica. 
A fotografia acima foi tirada na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior, que é odontólogo estabelecido em São Luiz e de sua esposa Lana Nunes. Uma boneca igual encontra-se na cozinha de minha residência, em Macapá, graças ao presente que recebi da Lana. Todos os dias,ao entrar na cozinha, eu a cumprimento.

                    A descrição mais usual de muxarabiê corresponde a uma espécie de balcão mourisco, protegido por treliças em toda a altura da janela, o que o torna indevassável. Além do muxarabiê, também se fez uso das rótulas, esquadrias construídas em peças de madeira sobrepostas diagonalmente, de modo a formar desenhos variados, com a finalidade de resguardar a intimidade da família. A tradução literal de muxarabiê é: “De onde se vê sem ser visto”. 
Belíssima  arquitetura mourisca ainda existente em Portugal.
                          Na Região Nordeste o uso da urupema ainda é notado. Urupema é um vocábulo de origem tupy-guarany, mas também usado no nheengatu (fala bonita, correta), que designa uma esquadria feita de palha traçada de carnaúba, buriti, urubá. Entretanto, o termo também denomina uma espécie de peneira feita de fibras, usada para escorrer leite de coco, mandioca, bacaba e outros produtos decorrentes da maceração de frutos ou raízes. Pode ainda identificar um cesto esquinado, anguloso ou enquadrado utilizado como instrumento de pesca.
 
Casa em estilo colonial restaurada e conservando as rótulas de madeira nas janelas.
                        As bonecas namoradeiras são esculturas agradáveis, muito bem confeccionadas. Podem estar pintadas de preto, com olhos verdes, brincos, colares, pulseiras, enfeites presos ao cabelo, lábios e unhas pintadas de vermelho. Elas não são expostas em corpo inteiro, mas apenas a cabeça, busto, braços, ombros e mãos. De um modo geral as bonecas aparecem com o braço direito apoiado no beiral da janela ou no balcão que a bloqueia, com a cabeça inclinada e o queixo repousando na palma da mão. Essas bonecas podem ser entendidas como um recurso usado pelo dono da casa para mostra que em sua residência sempre tinha alguém vigilante na janela. 
Observe que apenas  uma janela do sobrado pintado de verde e branco tem um  muxarabiê. O prédio abriga atualmente uma biblioteca na cidade de Diamantina, Rua da Quitanda nº 48. Bela iniciativa que visa mostrar como as mulheres recatadas podiam ver o exterior sem serem vistas pelos transeuntes.

                         Quando estive em São Luiz, capital do Estado do Maranhão, no final do mês de novembro de 2012, freqüentei diversos lugares onde as negrinhas namoradeiras estavam expostas. Num velho prédio que teria servido como prisão, encontrei o busto de uma delas sobre o balcão de uma lanchonete. Outra boneca eu vi na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior e sua esposa Lana. Ao trafegar pela Travessa Portugal, no centro histórico da capital gonçalvina, deparei com outras duas negrinhas expostas na janela de um restaurante. Pedi autorização ao proprietário do estabelecimento e, postado entre as duas bonecas, solicitei que a Lana batesse uma fotografia. Gostei tanto das negrinhas que acabei ganhando uma de presente.

    
Boneca Namoradeira branca e loura é coisa rara de se ver, mas elas prontificam em Ritápolis. A moça representada não usa tantos enfeites como fazem as negrinhas. A danadinha é bonita, tanto quanto as bananas penduradas ao seu lado. Ambas devem ser deliciosas. A fotografia foi copiada do site nela  expresso.
                 






terça-feira, 12 de novembro de 2013

BICICLETAS EM MACAPÁ

      
      BICICLETAS EM MACAPÁ

      Por  Nilson Montoril
 
Veiculo construído de madeira segundo desenho feito por Leonardo da Vinci, em 1490.

                        Acredita-se que o primeiro engenho humano semelhante à bicicleta surgiu na China. Entretanto, entre os desenhos fantásticos concebidos por Leonardo da Vinci, corresponde a um veículo com duas rodas, que seria moldado em madeira. O desenho é de 1490 e inspirou o celerífero. Em 1817, o alemão Barão Karl Von Drais construiu um veículo a partir do celerífero feito em madeira. Porém, a bicicleta como o mundo conhece surgiu em 1880, na Inglaterra. Bicicleta é uma palavra originária do latim bi (duas) e do grego kiklos (rodas), com incursões pelo inglês bicycle, pelo diminutivo Frances bicyclette e pelo castelhano bicicleta. São inúmeras as marcas de bicicletas que se espalharam pelo mundo. No Brasil, a mais famosa delas foi a bicicleta Hércules, fabricada na Inglaterra graças a iniciativa de Edmond Crane, conhecido como Ted Crane.
Modelos nada convencionais fabricados em 1890, na Inglaterra. Os ciclistas tinham que possuir muito equilíbrio para poder  usá-los. É claro que uma mulher sentir-se ia extremamente desconfortável para sair pedalando algo tão esquisito.

 Ele foi o fundador da fábrica de bicicletas Hércules. Ted era filho de Jack Crane, que iniciou a vida empresarial fabricando 25 bicicletas por semana, em sua Companhia Ciclo Petroo, em Coventry Street, na cidade de Birmingham. Os veículos eram fortes e duráveis, justificando o nome que lhe foi dado. O velho Jack Crane contou com a ajuda dos filhos Ted e Harry em seu empreendimento, mas a robustez e o preço do veículo acabaram levando a empresa á falência. As bicicletas que não tinham sido vendidas com emissão de documento fiscal foram negociadas contrariando normas legais, fato que gerou problemas jurídicos para a família Crane.
A empresa cujo nome é visto no frontispício do prédio chegou a negociar cerca de um milhão de bicicletas.

 Em 1910, depois de livrarem-se do processo de conspiração econômica, os irmãos Crane decidiram criar a firma Ciclo Hércules and Motor Company. Iniciaram fabricando 25 veículos por semana e depois alcançaram a marca de 70 bicicletas. Em 1914, a fábrica obteve a produção de 10.000 bicicletas. Em 1923, Ted e Harry Crane compraram uma fábrica de pneus e câmaras de ar e iniciaram a construção de suas próprias peças. A bicicleta veio da Europa para o Brasil em 1898, no final do século XIX. Devido à migração alemã, ela foi inicialmente popularizada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aos poucos o veículo foi se tornando conhecido no restante do país. A bicicleta era importada desmontada. Apenas selins e pára-lamas eram fabricados no Brasil. 
A bicicleta que aparece em primeiro plano corresponde a um triciclo e tem até bagageiro. O casal que fazia uso do veículo vestia-se com elegância e ambos pedalavam.

Dominavam o mercado brasileiro as marcas Bianchi, Lanhagno, Peugeot, Duphopp, Phillips, Hércules, Raleigh, Prosdócimo, Singer, Caloi e Monark, todas importadas dos Estados Unidos da América. Em meados de 1940, devido à 2ª guerra mundial, que se espalhou pela Europa, o presidente Getúlio Vargas restringiu a entrada de produtos estrangeiros e estimulou a fabricação dos mesmos no Brasil, inclusive bicicletas. Entre 1950 e 1970, havia 30 fábricas no país e mais de 50 marcas e modelos. Em 1980, a Monark e a Caloi dominavam 95% do mercado. No último mês de agosto de 2013, a Caloi, que era a maior fabricante de Bicicletas da América Latina, com sede em Manaus, vendeu 70% de suas ações para a canadense Dorel Industries e hoje só detém 40% do mercado.
Vistosa bicicleta da marca Hércules devidamente equipada nos termos das normas existentes para que elas pudessem trafegar. O majestoso veículo possui luzes no para-lama e no garfo traseiro, dínamo, farol, bomba para encher as câmaras de ar, bagageiro e placa expedida pelo órgão de trânsito. Em Macapá, essas exigências também existiram.

 Não há registros formais sobre a existência de bicicletas em Macapá antes da criação do Território Federal do Amapá, em 1943. Elas começaram a aparecer na cidade a partir do ano de 1945. A casa Leão do Norte, então administrada pela família Zagury foi a primeira a vender os fascinantes veículos da marca Hércules. Em pouco tempo, quem não possuía uma bicicleta podia alugá-la pagando um cruzeiro à hora. O negócio era mantido pelo macapaense Francisco Marques Picanço, o Mixico, que ainda reside na capital do Amapá O próprio Mixico fazia a manutenção de suas bicicletas e montava e lubrificava as que eram vendidas na Casa Leão do Norte, onde trabalhava.
Foto tirada na Fazendinha, dia 13 de setembro de 1950.Em primeiro plano vemos alunas do Grupo Escolar Barão do Rio Branco. A 3ª estudante da 1ª fila é minha irmã Neyde Montoril de Araújo, integrante da Guarda de Honra à Bandeira Nacional.As alunas da Escola Normal de Macapá usavam camisas brancas de mangas compridas. Nota-se que algumas delas iriam desfilar em bicicletas.

 No decorrer de vários anos o Mixico destacou-se como o melhor ciclista da cidade, representando a Congregação Mariana e o Juventus Esporte Clube. Andar pedalando uma bicicleta Hércules dava um prestigio danado, notadamente se o veículo fosse próprio. O Mixico tinha umas 3 ou 4 bicicletas, todas impecáveis quanto ao estado de conservação. Creio que, atualmente, apenas o José do Carmo Tavares, o Zeca Eletricista é o único cidadão de Macapá a manter em funcionamento suas duas bicicletas da marca Hércules. E saiba que o Zeca tem mais de 80 anos de idade e todos os dias transita pelas ruas de Macapá.
 
A professora Predicanda Lopes(vestido escuro e óculos), então Diretora da Escola Normal de Macapá e diversas alunas do educandário,cercam a aluna Ahelhina Alencar e o aluno José Ubirajara de Souza que desfilariam em bicicletas no dia 7 de setembro.

                        Comprar uma bicicleta da marca Hércules não era privilégio reservado a qualquer um. O preço era salgado se comparado ao de outras marcas que depois foram aparecendo. A Casa Leão do Norte manteve a primazia de vender com exclusividade, por muitos anos, as bicicletas Monark. Foi neste estabelecimento comercial que, em 1966, comprei minha única bicicleta, um modelo com barra circular intitulado “Monark Copa do Mundo”. Antes, tive o prazer de pedalar uma bicicleta Goricke (fabricação alemã) e outra Mercswiss (fabricação totalmente brasileira), que pertenceram respectivamente as minhas irmãs Nice e Nancy. Lembro que a logomarca da Mercswiss era uma bela caravela, cuja placa vinha presa com rebites na parte do quadro por onde era embutido o garfo da roda dianteira e o guidom. Eram alvo de admiração as bicicletas utilizadas pelos padres italianos. 
Prova de ciclismo entre alunas dos estabelecimentos secundários de Macapá por ocasião da Primeira Olimpíada Estudantil. As seis atletas estão prontas para a largada, na Rua São José, esquina com a Avenida Iracema Carvão Nunes. O circuito compreendia o quadrilátero em torno da Praça Barão do Rio Branco com tempo controlado em cronômetro. Observa-se a presença do Professor Edésio Lobato, Diretor do Instituto de Educação passando por trás da 2ª ciclistas,próximo ao poste da rede elétrica.A marca de bicicleta que prevalecia era a Monarck.

Elas pareciam ser frágeis, mas suportavam muito bem o corpanzil do Irmão Leigo Francesco Mazollene, o famoso Catterpilar. Esse devotado religioso transportava com freqüência, sobre os ombros, um quarto trazeiro de carne bovina que os membros do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras consumiam na então Prelazia de Macapá. Fazia isso subindo a Rua Cândido Mendes, trajeto compreendido entre o Frigorífico Territorial (que ficava na esquina da citada rua com a Avenida Coaracy Nunes) e a Casa dos Padres, na Rua São José. As duas primeiras bicicletas oriundas da Itália, ambas da marca Bianchi, fabricadas em Treviglio, Milão a partir de 1885, pela fábrica de Edoardo Bianchi, chegaram a Macapá no dia 5 de outubro de 1948. 
Bicicleta Bianchi igual aos primeiros veículos italianos da citada  marca chegarem a Macapá, em 1948. Leves,mas robustas, as bicicletas podiam transpor os obstáculos existentes na periferia de Macapá. Os Padres do PIME que não sabiam pilotar as famosas moto Guzzi usavam as bicicletas Bianchi.
Elas vieram por via marítima até Belém e daí para Macapá em embarcações do governo territorial. Estavam montadas e prontas para uso imediato. Os dois maiores utilizadores das bicicletas eram o Padre Lino Simonelli e o irmão Francisco. O Padre Lino virava Macapá de cabeça pra baixo. Muito brincalhão, ele mesmo apitava com a boca para afastar apalermados do caminho. Ia freqüentemente pregar o catecismo na periferia da cidade, notadamente no Igarapé das Mulheres (Perpétuo Socorro) e o Morro do Sapo, assim denominada a parte alta no final da Rua São José, antes um precaríssimo caminho cortado por um braço do igarapé da Companhia, área que depois foi rasgada para a abertura da Avenida Nações Unidas.
Carlos Zagalo(camisa clara) e Nilson Montoril(camisa quadriculada) com suas bicicletas Monarck 12966 Copa do Mundo. A bicicleta do Zagalo era azul e branca. A minha era verde e branca.Ambas possuíam dínamo, farol e pneu balão.Sobre a ponta do para-lama dianteiro havia uma bola de futebol em miniatura,na cor branca. A foto foi tirada na parte posterior da Fortaleza São José, próximo ao Rio Amazonas.
 Nessas andanças pela periferia da cidade o Padre Lino contava com a colaboração do médico Diógenes Gonçalves da Silva, que fazia uso de uma velha bicicleta da marca Hércules trazida de Belém. Outra marca bicicleta que eu conheci e andei foi a Gulliver, fabricada em Bonsucesso no Rio de Janeiro pela firma “B Herzog”, pertencente à família de Leon Herzogera, seu fundador. Isso ocorreu a partir de 1951, e o veículo era de ótima qualidade. Em 1939 Leon Herzog possuía uma pequena fábrica na Polônia, mas a ocupação do país pela Alemanha o fez perder tudo. Em 1945, após a segunda guerra mundial Leon migrou para o Brasil. Sua lojinha de Bonsucesso cresceu até virar fábrica. Entretanto, devido a desentendimentos entre os familiares acionistas a firma encerrou suas atividades no final da década de 1950. As bicicletas de hoje são mais bonitas, leves, resistentes, mas perderam o encanto de outrora. Porém, a bicicleta é disparadamente, o veículo mais usado em todo o mundo

O  simbolo da bicicleta Mercswiss, exposto na quadro do veículo, corresponde a uma caravela. A bicicleta que vemos na imagem tinha varão,portanto destinada a homem. O modelo feminino era mais bonito.Minha irmã Nancy possuía uma e eu era seu sócio clandestino.

Velha bicicleta Haleigh equipada com dínamo, farol e buzina
A bicicleta vermelha da fotografia é uma Gulliver equipada com descanso, dínamo instalado no garfo dianteiro e farol
Bicicleta inglesa Hércules de 1928. Essa marca prevaleceu no volume de vendas em Macapá a partir de 1945. Pelo menos dois veículos iguais a que vemos na foto ainda existem na cidade e ambos pertencem ao macapaense José do Carmo Tavares, o Zeca Eletricista

terça-feira, 1 de outubro de 2013

GUATEMALTECOS EXILADOS PASSAM PELO AMAPÁ

      GUATEMALTECOS EXILADOS PASSAM PELO AMAPÁ

      Por Nilson Montoril
 
Em 1947, o advogado Coaracy Gentil Nunes toma posse no cargo eletivo de deputado federal, na condição de representante do Território Federal do Amapá. Foi eleito no pleito realizado no dia 19 de fevereiro de 1947, sem concorrente. Em 1950, obteve nova vitória nas urnas e em 1954, iria tentar a reeleição pela segunda vez. Coaracy Nunes era identificado na Câmara Federal como " Deputado da Amazônia", porque não se atinha apenas a defender as causas do Amapá,mas sim de todas as unidades da região Norte do Brasil.
                        No dia 15 de setembro de 1954, o jurista Theodoro Arthou, subprocurador da Justiça do Distrito Federal assumia interinamente o governo do Território Federal do Amapá, em substituição ao major Janary Gentil Nunes. A medida decorreu do fato do 1954 ser um ano eleitoral e os membros do Partido Trabalhista Brasileiro terem requerido que a executiva nacional cobrasse a intervenção do presidente João Café Filho no Amapá, no sentido de promover a imparcialidade governamental no pleito. Os petebistas temiam que, mais uma vez, os janaristas, donos do poder, repetissem práticas ilegais evidenciadas nas eleições passadas, quando se valeram do serviço público para pressionar os eleitores da aposição. O deputado federal Coaracy Gentil Nunes, irmão do gestor substituído, iria concorrer à reeleição pela segunda vez e ocupava o cargo eletivo na Câmara Federal desde fevereiro de 1947. Theodoro Arthou manteve sua interinidade com absoluta lisura, mesmo conservando inalterado o quadro diretivo do governo. Assim foi até o dia 9 de outubro, quando a apuração dos votos havia sido encerrada. A vitória de Coaracy Nunes foi incontestável: 3.471 votos contra 556 do candidato do PTB, senhor João Bruno Alípio Lobo, um carioca que jamais estivera antes do pleito no Amapá. Transcorrida a eleição, Janary Nunes reassumiu o caro de governador no dia 10 de outubro. A 19 de setembro de 1954, quatro dias após sua posse, Theodoro Arthou recebeu a incumbência do governo brasileiro para recepcionar 34 cidadãos da Guatemala que haviam solicitado exílio político ao Brasil assim que rebentou naquele país a rebelião militar liderada pelo coronel Carlos Castillo Armas e culminou na deposição do presidente Jacobo Arbenz Guzmán. 
O cartaz acima formulava convite ao povo para participar do 59º aniversário da tomada do poder na Guatemala, cujo ponto inicial foi o ano de 1951, quando o coronel Jacobo Arbenz Guzmán assumiu a presidência daquele país. O ato público aconteceu no dia 28 de março de 2010, domingo,às 11 horas, no Monumento ao Soldado do Povo, assim chamado o ex-presidente que os norte-americanos hostilizaram e conseguiram afastar do poder graças a um golpe militar comandado pelo coronel Carlos Castillo Armas. Na gestão de Jacobo Arbenz a tendência esquerdista era flagrante e a influência comunista no país estremeceu as relações entre a Guatemala e os Estados Unidos da América.
                     Os guatemaltecos estavam refugiados na embaixada brasileira e foram transportados para o Rio de Janeiro em avião da Força Aérea Brasileira. Ao penetrar no espaço aéreo do Brasil, o aparelho realizou um pouso na Base Aérea de Amapá e outro em Macapá. Na capital amapaense os exilados foram saudados pelo governador interino e dele ouviram votos de boas vindas. Entre os exilados havia 3 parlamentares, 5 estudantes universitários e 26 trabalhadores com especializações diversas. À época, o aeroporto de Macapá ocupava área do centro da cidade, espaço compreendido entre a rua General Rondon uma reentrância do lago do Pacoval, hoje cortada pela rua Professor José Barroso Tostes e delimitado pelo trecho da avenida FAB.Os guatemaltecos requereram exílio porque temiam represálias dos correligionários do coronel Carlos Castillo. O presidente deposto sempre demonstrou tendência esquerdista no exercício do cargo e instituíra reformas sociais e agrárias, além de expropriar as terras com plantações de bananas, quase todas pertencentes a companhias norte-americanas, entre elas a poderosa United Fruit Company. A influência comunista no regime de Jacobo Arbens levou a Guatemala a uma restrição das relações com os Estados Unidos da América. Com a ajuda americana, Carlos Castillo Armas, que era agente da CIA, derrubou o coronel Arbens e devolveu as terras expropriadas aos estrangeiros.
O coronel Carlos Castillo Armas era agente da CIA e recebeu ajuda americana para derrubar o presidente Jacobo Arbenz. Em 1957 ele foi assassinado dentro do Palácio Nacional de La Cultura.
Alguns dos transportados eram camponeses e, no regime socialista, chegaram a receber terras para cultivar. O coronel Carlos Castillo participou ativamente da revolução e fez parte da junta militar que assumiu o governo da Guatemala, dia 26 de junho, e se conservou na ativa até 8 de julho de 1954. Nesta data, Carlos Castillo foi empossado como presidente, mas a 26 de julho de 1957, morreu assassinado dentro do Palácio Nacional de La Cultura. Seu substituto foi Elfego Hermán Monzón Aguirre, que também fizera parte da junta militar. Entre os assessores de Jacobo Arbens encontrava-se o médico argentino Ernesto Guevara de La Serna, que havia chegado à Guatemala em dezembro de 1953. Guevara fugiu para o México após a queda do citado presidente, onde conheceu Raul Castro, atual presidente de Cuba, que o apresentou ao irmão Fidel Castro. A partir de então, Ernesto passou a ser chamado simplesmente de Che Guevara. 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

LINCOLN GORDON VISITA MACAPÁ


           LINCOLN GORDON VISITA MACAPÁ

           Por  Nilson Montoril


Professor de economia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Abraham Lincoln Gordon veio para o Brasil para ocupar o cargo de embaixador daquele país e teve papel importante na articulação do golpe militar de 1964, que levou o Brasil a uma ditadura que se estendeu até 1985. São raras as fotografias onde ele aparece sem o seu famoso cachimbo.
                        Na manhã do dia 28 de setembro de 1964, desembarcava no aeroporto internacional de Macapá uma comitiva liderada pelo embaixador norte-americano no Brasil Prof. Lincoln Gordon.O grupo de ilustres visitantes foi recepcionado  pelo general Luiz Mendes da Silva, o primeiro governador do Território Federal do Amapá após a revolução militar ocorrida a 31 de março do ano supra mencionado. O general Luiz Mendes estava acompanhado de sua esposa Inah Silva e por assessores mais diretos do 1º escalão governamental, entre os quais, o economista Roberto Rocha Souza, cujo cargo de Secretário Geral equivalia ao de vice-governador. A comitiva visitante estava assim constituída: Abraham Lincoln Gordon e sua esposa Allison Wright Gordon; Alfred L. Ranbone (adido mineralógico); Jack Wyant (Serviço Informativo e Cultural); Edmundo Wagner (Aliança Para o Progresso); Robert W. Dean, principal “officer” em Brasília e esposa; e os senhores Human Bloom e Vicent Rotundo do consulado americano em Belém. Também marcaram presença o embaixador brasileiro em Washington, Walther Moreira Salles e o Diretor Geral dos Diários Associados, Jornalista e Deputado Federal João de Medeiros Calmon Nascimento. Entre as autoridades que recepcionaram os visitantes estavam o engenheiro Osvaldo Senra Pessoa, Gerente da Indústria e Comércio de Minérios S.A. e o embaixador Edmundo Barbosa da Silva, que viera ao Amapá conhecer as atividades do Instituto Regional de Desenvolvimento do Amapá-IRDA, instituição que integrava as ações da citada mineradora. A Guarda Territorial, sob o comando do tenente Uadih Charone prestou honras de estilo.

O embaixador estadunidense Lincoln Gordon passa em revista uma representação da Guarda Territorial que foi ao aeroporto internacional de Macapá apresentar-lhe as honras de estilo. Observem que os soldados da Guarda Territorial são rapazes egresso do Tiro de Guerra nº 130, contratados pelo governo territorial para aumentar seu contingente.
 O resto do dia foi preenchido com visitas a Fortaleza São José, Escola Doméstica, Fazendinha e o Marco-Zero do Equador. À noite, na residência governamental foi servido um jantar oferecido pelo governador e esposa. Dia 29/9, realizava-se uma importante reunião no Salão de Recreio da Piscina Territorial, então situado por trás do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em área que hoje abriga uma quadra esportiva e o prédio do Centro de Processamento de Dados. O evento discutiu os problemas amapaenses e teve a participação de membros do governo territorial, representantes das classes conservadoras, estudantes, autoridades civis, militares, eclesiásticas, de populares e dos ilustres visitantes. O ato foi iniciado com a apresentação de um coro feminino composto por 300 vozes, dirigido pelo Padre Jorge Basile. Após a reunião a comitiva visitou a Escola Industrial de Macapá e outras unidades escolares edificadas no centro da cidade. O almoço foi servido no Recreio Amazonas, na área do CCH, onde residia o pessoal do Staff da ICOMI,em Vila Amazonas.

Na fotografia vislumbramos o Dr. Augusto Antunes, diretor-presidente da ICOMI e o embaixador Lincoln Gordon, com seu inseparável cachimbo, na entrada do Recreio Amazonas, área do CCH, em Vila Amazonas.
 Terminado o ágape, o Dr. Augusto Antunes levou visitantes e convidados a percorrerem a vila Amazonas e a área do porto, explicando-lhes minuciosamente seu funcionamento. Por volta das 15 horas ocorreu a viagem da comitiva a Serra do Navio, onde seus integrantes visitaram a mina de manganês, o beneficiamento e o embarque do minério nos vagões da Estrada de Ferro do Amapá. Todos ficaram impressionados com as instalações sociais, escolas, hospital, supermercado e residência de operários. No dia 1º de outubro, o Prof. Lincoln Gordon e seus acompanhantes regressaram ao Rio de Janeiro, depois de uma permanência de quatro dias no Amapá. Lincoln Gordon, que era professor de economia, esteve no Brasil entre 1961 e 1966, como embaixador dos Estados Unidos. 

A fotografia acima foi tirada por ocasião de um evento realizado na Associação dos Professores do Amapá-APA, e mostra o casal Luiz Mendes da Silva e sua esposa Inah Silva. A primeira dama conversa com uma integrante de um grupo de estudantes que mostrou a dança do marabaixo.
Notabilizou-se em 1960, ao ajudar a desenvolver a “Aliança Para o Progresso”, um programa estadunidense de assistência América Latina. Sua ação nos bastidores da política nacional foi fundamental em termos de apoio as articulações da oposição ao presidente João Goulart. Em 1962, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, Gordon e o presidente John Kennedy discutiram o gasto de 8 milhões de dólares para intervir nas eleições brasileiras e preparar o terreno para um golpe militar contra Jango Goulart e mantê-lo fora do Brasil devido sua tendência socialista.
A 10 de abril de 1962, o presidente João Goulart viajou aos Estados Unidos da América do Norte para avistar-se com o presidente John Kennedy. Na pauta das conversações a busca de soluções de sérios problemas econômicos entre Brasil e EUA. Ao retornar ao Brasil, João Goulart lançou o Plano de Reforma de Bases 
 Lincoln Gordon montou um esquema de dotações financeiras aos candidatos da oposição, usando como intermediários empresários e entidades. Em março de 1963, o governo americano impôs ao Brasil, condições vexatórias para conceder-lhe financiamento de 84 milhões de dólares e mais 314,5 milhões para o ano fiscal de 1964. Lincoln Gordon acompanhou de perto a conspiração de militares, políticos e empresários contra o presidente João Goulart. Nesta fase que antecedeu o golpe militar, o general Luiz Mendes da Silva,que exercia suas atividades sob o comando do general Humberto de Alencar Castelo Branco conviveu intensamente com o embaixador norte-americano e se tornou seu amigo.

Lincoln Gordon em sua residência nos Estados Unidos da América do Norte quando já estava aposentado. Depois de deixar o Brasil ele presidiu a Universidade Johns Hopkins, entre 1967 e 1971. Nascido em Nova Iorque, a 10 de setembro de 1913, faleceu em Mitchellville, Maryland, no dia 19 de dezembro de 2009, aos 96 anos de idade.
 Com a eclosão da revolução e a indicação de Castelo Branco para ocupar o cargo de presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Luiz Mendes foi nomeado governador do Território Federal do Amapá.Partiu dele o convite para Lincoln Gordon vir a Macapá. O Professor Lincoln Gordon chegou ao ponto de solicitar que o governo americano desse ao general Humberto de Alencar Castelo Branco apoio logístico e até militar se necessário, para afastar do cargo de presidente do Brasil o senhor João Goulart. Se os militares que apoiavam Jango Goulart tivessem resistido ao golpe, o Brasil seria invadido pela poderosa "Frota do Caribe" que se encontrava em águas brasileiras próxima ao Rio de Janeiro. A frota dispunha de 100 toneladas de armas leves e munições, navios petroleiros com capacidade para 130 mil barris de combustíveis, uma esquadrilha de aviões de caça, um navio de transporte de helicópteros com a garga de 50 aparelhos com tripulação e armamento completo, um porta-aviões classe Forrestal,seis destróieres, um encouraçado,além de um navio de transporte de tropas, e 25 aviões C 135 para transporte bélico.O deputado federal João de Medeiros Calmon Nascimento, que era ferrenho opositor de João Goulart, não poderia ficar fora do reencontro de alguns dos articuladores do golpe que implantou um regime de exceção no Brasil.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

PRIMEIRO DESFILE CÍVICO REALIZADO NA FORTALEZA SÃO JOSÉ

   PRIMEIRO DESFILE CÍVICO REALIZADO NA FORTALEZA SÃO JOSÉ

   Por Nilson Montoril
 
A Foto de 1952 nos revela a Fortaleza de Macapá inteiramente restaurada. À sua esquerda vemos o Trapiche Eliezer Levy e o igarapé do Igapó. A oeste, o local conhecido como Elesbão ainda não contava com a presença de moradores vindos da região das ilhas do Pará. Na faixa de terra junto ao Rio Amazonas existia o Parque Recreio, um lugar aprazível onde as programações governamentais destinadas aos servidores públicos eram realizadas.

                        No dia 7 de setembro de 1945, data da Independência do Brasil, a cidade de Macapá via pela primeira vez um desfile cívico realizado na Fortaleza São José. Desde cedo o povo saiu às ruas, rumando para a vetusta edificação militar, que ainda se encontrava em restauração. Ornamentada com galhardetes verde-amarelos e com enormes bandeiras do Brasil, nosso monumental patrimônio histórico, uma das sete maravilhas nacionais foi pouco a pouco sendo tomada por populares. A guarnição da briosa Guarda Territorial ali instalada, era a responsável pelos trabalhos de restauração. Vale dizer que, quando da instalação do governo do Território Federal do Amapá, a velha fortificação estava em ruínas. A Guarda Territorial não era apenas uma corporação paramilitar,mas também uma força tarefa para recuperação de prédios públicos e prestação de serviços comunitários. Por isso, contava com o concurso de pedreiros, carpinteiros, marceneiros, alfaiates, sapateiros e, atuando como mantenedores da ordem, reservistas de primeira categoria.
Na abertura dos desfiles cívicos na Fortaleza as autoridades territoriais os abriam com muito garbo.Quase todos os diretores de repartições públicas eram militares e a maioria ostentava a patente de tenente. Na fotografia acima destaca-se o trio onde o governador Janary Gentil Nunes desfila ao centro usando terno branco de linho, entre o Secretário Geral Raul Montero Valdez  e o Ajudante de Ordem  Rui Gama. Após o trio estavam os diretores e assessores do 1º escalão.

 Às 8 horas, o governador Janary Gentil Nunes chegava à Fortaleza São José, envergando seu uniforme de capitão da arma de Infantaria do Exército, sendo saudado pelos toques militares de estilo e hasteou o pavilhão nacional no mastro grande erguido no bastião de São José, o que atualmente é o mais próximo do Banco do Brasil. Enquanto a bandeira era hasteada a multidão cantava o hino pátrio. Houve saudação cívica realizada pelo governador e pelo capitão Humberto Pinheiro de Vasconcelos, diretor da Divisão de Segurança e Guarda e comandante da Guarda Territorial. Em seguida, ao rufo dos tambores da banda marcial dos escoteiros do Pará, que se encontrava na cidade desde o dia anterior, foi acesa uma garbosa tocha simbolizando a chama cívica que os brasileiros precisam cultivar. A parada cívica foi comandada pelo 1º Tenente Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, chefe do Serviço de Informações do governo territorial e estava primorosamente organizada. As entidades que desfilaram cobriram o curto trajeto entre os baluartes São Pedro e Nossa Senhora da Conceição. 
Em 1951, a Fortaleza já estava totalmente restaurada e abrigando, além da Guarda Territorial, algumas repartições do governo territorial. No dia da Pátria, os populares subiam nas muralhas para melhor presenciar o desfile cívico. O uso de roupa branca era predominante no meio da população. Ao fundo, as matas do atual bairro Santa Inês estavam preservadas.

A delegação da Federação Paraense de Escoteiros, chefiada pelo Capitão Gonçalo Lagos Castelo Branco Leão. Abriu o desfile ao som de sua contagiante banda marcial. Posteriormente, apresentaram-se os alunos do Grupo Escola r de Macapá, integrantes do Amapá Clube, Esporte Clube Macapá e Cumaú Esporte Clube. A Guarda Territorial fechou a para de 7 de setembro. Um acontecimento marcado por fortíssima emoção ocorreu por ocasião do desfile alusivo aos 125 anos da Independência do Brasil. O ex-pracinha Alfredo Fausto Façanha marcou sua presença envergando o uniforme do 6º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira que usou nas batalhas de Montese, Pao e Castelo Novo, contra forças alemãs que ocuparam a Itália durante a segunda guerra mundial. Alfredo era natural do lugar Floresta, na região das ilhas do Pará, que, até a criação do Território Federal do Amapá, a 13 de setembro de 1943, pertenceu ao município de Macapá.

Por muito tempo alguns soldados da Guarda Territorial vestiam uniforme militar português da época colonial. A prática dava um ar nostálgico no meio dos que visitavam a Fortaleza em dias festivos e de devoção. Esses militares era os responsáveis pela detonação dos canhões, com salva de 21 tiros, usando apenas pólvora.

 Com a edição do ato que desmembrou do Estado do Pará as terras do atual Estado do Amapá, o Rio Amazonas passou a ser o limite natural entre as duas unidades administrativas do país. Nasceu em 1921 e ao ser convocado para a guerra tinha 23 anos de idade. Embarcou para a Itália em dezembro de 1944, desembarcando em Nápoles dia 8 de fevereiro de 1945, entrando imediatamente em atividade. Com a rendição dos alemães a 8 de maio de 1945, as hostilidades cessaram e os pracinhas brasileiros retornaram ao solo pátrio. Como soldado da 8ª Região Militar, contingente da Amazônia, Alfredo Fausto Façanha embarcou para o Rio de Janeiro no dia 6 de junho. Era filho de Augusto Fausto Façanha e Amélia Maria Façanha.á noite, no Cine-Teatro Territorial, o ex-pracinha participou de uma sessão cívica e narrou lances dramáticos dos combates em que esteve presente.

Em 1953, ocorreu o último desfile cívico na Fortaleza. O efetivo estudantil e de outras entidades que sempre participaram do evento forçaram sua realização em outro local. No flagrante vemos a tropa de Escoteiros do Mar Marcílio Dias a postos no baluarte Nossa Senhora da Conceição, local onde estava fincado o mastro para o hasteamento da Bandeira Brasileira e o palanque das autoridades. Dai, os participes do desfile tomavam o sentido do baluarte São Pedro. Observe como prevalecia o usa de roupa branca feita de linho por parte dos populares.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ESCOLA DE CIVISMO:ESCOTEIROS E BANDEIRANTES



           ESCOLA DE CIVISMO: ESCOTEIROS E BANDEIRANTES

           Por Nilson Montoril(montorilaraujo@hotmail.com)
Famosa fotografia de Baden Powell, o fundador do escotismo. O movimento existe em todos os países do mundo e tem sido importantíssimo para moldar o caráter dos jovens que dele participam na forma dos princípios que o caracterizam. O grande oficial inglês, que faleceu aos 83 anos de idade, merece o reconhecimento expresso no cartaz acima: "Grande HOMEM Que Não Vamos Esquecer". Fui lobinho,escoteiro e chefe. Mantenho intactos meus ideais e a obediência à máxima de que: "Uma Vez Escoteiro,Sempre Escoteiro".
                        O marco inicial do escotismo é o acampamento que Baden Powell realizou na ilha de Browser, Inglaterra no verão de 1907, com o precípuo objetivo de colocar em prática os princípios contidos no livro “Aids to Scouting”, escrito por ele para uso de militares. O livro foi escrito antes de 1887, quando o autor ainda não compunha as tropas ingleses que foram lutar na África do Sul contra os Zulus,Ashantis e Matabeles. Em 1901, ao retornar a Londres, Baden Powell constatou que seu livro fazia muito sucesso entre as crianças e adolescentes e figurava como  compêndio nas escolas masculinas. Em 1908, B.P. concebeu o manual de adestramento intitulado “Escotismo Para Rapazes”. Em 1920, escoteiros de todas as partes do mundo reuniram-se em Londres, no 1º Jamboree Internacional, dando provas de que a escola de civismo idealizada por Baden Powell era sumamente importante para a educação dos jovens. No Brasil, o sucesso do movimento despontou a partir desse momento, mas as primeiras sementes já haviam sido plantadas por integrantes da Marinha de Guerra do Brasil que o conheceram em Londres, em 1910. No então Território Federal do Amapá, o Capitão Janary Nunes, governador dessa unidade federada era simpático ao movimento, tendo, inclusive, participado dele quando serviu no Estado do Paraná. Á Época, trabalhava em Macapá, ocupando a função de Inspetor de Ensino, o tenente Glicério de Souza Marques que também era chefe escoteiro. Janary Nunes o convidou para implantar o escotismo entre nós e mandou buscar em Belém dois jovens e promissores praticantes do movimento: Clodoaldo Carvalho do Nascimento e José Raimundo Barata. 

Flagrante fotográfico colhido em 1943, na frente da Prefeitura Municipal de Belém, ocasião em que os escoteiros foram apresentar suas despedidas ao Dr. Abelardo Condurú,que estava deixando o cargo de gestor municipal. Vários desses jovens escoteiros estiveram em Macapá, em setembro de 1945 e participaram da implantação do escotismo em nossa cidade.(foto contida no livro "Chefe Castelo, Escotismo e Feijianismo")
Os dois chegaram a Macapá no dia 20/8/1945, e imediatamente iniciaram suas atividades. A Associação de Escoteiros Veiga Cabral surgiu a 12/9/1945, contando com a presença de 22 jovens que integravam Federação Paraense de Escoteiros. Sob o comando do Capitão Castelo Branco presidente da citada entidade, os discípulos de BP chegaram a Macapá no dia 6 de setembro e aqui permaneceram até o dia 14. Desembarcaram no trapiche Eliezer Levy às 15 horas e, devidamente uniformizados, portando tambores, desfilaram pela ruas mais próximas do Rio Amazonas até o local do alojamento, situado na Rua Siqueira Campos (Mário Cruz), que correspondia a uma pensão mantida pela Madame Charlotte em um casarão que existia em frente à Prefeitura Municipal, que hoje abriga o Museu Histórico Joaquim Caetano da Silvas. As refeições eram feitas na mesma rua, na casa da senhora  Josefa Picanço, tratada por Tia Zefinha pelos macapaenses.


Os quatro chefes escoteiros que estão em pé são: Raimundo Rodrigues da Silva (Façanha/Tropa Marcílio Dias, modalidade Mar), José Raimundo Barata (Tropa Veiga Cabral), Expedito Cunha Ferro (Tropa São Jorge) e Clodoaldo Carvalho do Nascimento (Tropa Veiga Cabral). Agachados vemos cinco dos primeiros integrantes do Clã de Pioneiros do escotismo amapaense: José Vidal Picanço, Benedito Alves de Sá, José Pereira da Costa (Mimim),João Gualberto Tavares da Silva  e Luciano Pantoja. A foto integrava o acervo do chefe Clodoaldo quando obtive uma cópia. O original foi doado à Tropa Veiga Cabral.
 No dia 7 de setembro os escoteiros paraenses participaram do primeiro desfile cívico realizado na Fortaleza São José, que ainda passava por restauração. Na manhã do dia 12, na Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos (Veiga Cabral), ocorreu a apresentação de despedidas dos escoteiros paraenses e a fundação da Tropa Veiga Cabral. A 1 de setembro de 1946, na manhã de um belo domingo de sol, no mesmo local, aconteceu um ato cívico organizado pela Associação de Escoteiros Veiga Cabral e pela Federação das Bandeirantes de Macapá para a apresentação de seus novos integrantes. Após a Santa Missa houve o hasteamento do Pavilhão Nacional. Às 08h10min, o chefe Clodoaldo Carvalho do Nascimento proferiu uma bela oração ao movimento escoteiro. Às 08h20min, os novos escoteiros prestaram juramento e receberam de seus paraninfos os símbolos do escotismo. As 08h40min ocorreu o mesmo com as bandeirantes e fadas.

Clássica fotografia batida na Fazendinha,onde se realizava antigamente a programação do dia 13 de setembro,alusiva a criação do Território Federal do Amapá(1943). A Guarda de Honra à Bandeira estava formada, na primeira fila, pelos chefes Luciano Pantoja,Clodoaldo Carvalho do Nascimento(com a bandeira) e José Raimundo Barata. Pedro de Carvalho Monteiro e Expedito Cunha Ferro figuram na segunda fila. Todos foram pioneiros.Ainda vive o chefe Barata,em Belém.
 A seguir, os escoteiros fizeram demonstração de ordem unida, aplicação de ataduras, comunicação pelo código Morse, demonstração de educação física, giro do pórtico, corrida da tartaruga e corrida de obstáculos. As bandeirantes também demonstraram o uso do código morse por apito e semáforo, números de educação física,corrida da batata, corrida de três pernas e jogo do canguru. Eram 36 escoteiros e 25 bandeirantes que faziam parte do Grupo Ana Nery. Coube ao Chefe Clodoaldo Nascimento a preparação dos escoteiros e lobinhos. 

Nesta fotografia copiada do livro "Chefe Castelo, Escotismo e Feijianismo", escrito por Charles de Senna Mendes, vemos o general Gonçalo Lagos Castelo Branco Leão,que assumiu a direção do escotismo,no Pará,em 1932.Formado em direito, nunca exerceu a profissão devido a sua condição de militar. Presidiu a Federação Paraense de Escoteiros até 12/9/1949,quando transformou-a em Federação Educacional Infanto Juvenil-FEIJ.Prestou relevantes serviços ao escotismo do Amapá.
O Chefe José Raimundo Barata, que ainda reside em Belém, ficou com o encargo de instruir os rapazes integrantes do Clã de Pioneiros. Ainda no dia 1º de setembro, à tarde, os escoteiros realizaram jogos de voleibol e basquete, práticas esportivas que começaram a ganhar adeptos na cidade. À noite ocorreu animada festa dançante na casa da senhora Carmem Mendes Machado, genitora do escoteiro José Mendes Machado, o Machadinho. Essa residência estava edificada na Avenida Presidente Vargas esquina com a Cândido Mendes.

Simbolismo Escoteiro


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

FUNDAÇÃO DA UNIÃO BENEFICENTE DOS MOTORISTAS DO AMAPÁ






       UNIÃO BENEFICENTE DOS MOTORISTAS DO AMAPÁ

       Por Nilson Montoril

Imagem de São Cristovão intronizada em um singelo Oratório. é a configuração mais próxima do que diz a história a seu respeito, com o menino Jesus montado em seu ombro direito,tendo na mão direita, que manten erguida, o globo terrestre.
                        No dia 25/7/1952, fundava-se em Macapá a União Beneficente dos Motoristas do Amapá-UBMA, sociedade civil, beneficente, constituída por condutores de máquinas a explosão, profissionais e amadores, e todos aqueles que tinham ligação direta com aquele tipo de máquinas, sem qualquer distinção de nacionalidade, cor, raça ou religião. Dessa data em diante, uma comissão formada José Cardoso da Silva, Luiz Vitorino de Souza, Marcelino Ribeiro da Silva e Antônio Quintino de Menezes, membros da novel instituição, elaborou seu Estatuto, que foi aprovado em sessão de Assembléia Geral realizada no dia 23/12 do citado ano. A UBMA comemorou seu primeiro aniversário de fundação no dia 25/7/1953, consagrado a São Cristovão, padroeiro dos motoristas, e levou a efeito várias solenidades, constantes de novenas rezadas às 19h30min dos dias 22,23 e 24, e missa solene às 6h30min do dia 25. Após a missa ocorreu à benção dos carros, na Praça Veiga Cabral, e, em seguida teve inicio a procissão conduzindo a imagem do glorioso padroeiro.
O governador Janary Gentil Nunes e o Padre Aristides Piróvano fizeram parte da primeira diretoria da UBMA. O gestor territorial como Presidente de Honra e sempre apoiou a novel entidade O religioso como integrante do Conselho Fiscal. Ambos tinham "Carta de Motorista" e dirigiam normalmente. O Padre Aristides Piróvano também pilotava as motocicletas marca Guzzi que a Prelazia de Macapá possuía. Quando a UBMA foi criada, o religioso ainda não tinha sido nomeado bispo.Atuava com Administrador Apostólico do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras-PIME.

 Ás 8 horas do mesmo dia, no salão nobre do prédio da Prelazia de Macapá, houve a posse dos novos dirigentes da UBMA, eleitos para o biênio 1953-1954, em Assembléia Geral realizada no dia 30 de junho: Presidente de Honra: Tenente Coronel Janary Gentil Nunes, governador do Território Federal do Amapá; Presidente: Amilcar da Silva Pereira; Vice-Presidente: Marcelino Ribeiro da Silva; 1º Secretário: Dr. Dário Gomes; 2º Secretário: Gilberto Jucá de Araújo; Tesoureiro: Veridiano Souza; Procurador Geral: Emanuel Pinheiro. O Conselho Fiscal era formado pelo Monsenhor Aristides Piróvano, Amiraldo Elleres Nunes e Juvenal Salgado Canto.    

Gilberto Jucá de Araújo era meu tio pelo lado paterno. Jovem forte e impetuoso recebeu a imcumbência de dirigir o caminhão FNM(Feneme-da Fábrica Nacional de Motores) que integrava a frota de veículos do governo. Fez parte da primeira diretoria da UBMA ocupando a função de 2º Secretário. Na foto que exibimos ele aparece junto ao pé do mirante do farol da Fortaleza São José, instalado no centro do Baluarte Nossa Senhora da Conceição.
                        São Cristovão, Christophorus em latim, é venerado por fiéis da igreja católica, ortodoxa do oriente, anglicana, luterana e umbandistas. No oriente, a festa desse santo ocorre no dia 9 de março. No ocidente, as comemorações acontecem no dia 25 de julho. O nome Christophorus, em grego, significa “aquele que carrega Cristo”. Na Legenda Áurea, uma compilação de histórias de Santos do século XIII, Cristovão é citado como filho de um rei pagão em Canaã ou na Arábia, cuja esposa engravidou depois fervorosas preces ao deus Apolo. A criança recebeu o nome de ‘ Reprobus (Offerus) e ao alcançar a fase adulta causava admiração devido a sua compleição física de gigante. Decidido a servir aos mais fortes e destemidos vinculou-se a um individuo muito valente, mas que tinha medo do diabo. Isso foi o bastante para que Cristovão fosse oferecer seus préstimos ao próprio diabo. Fez isso até perceber que seu chefe tremia diante de uma cruz fincada à beira de uma estrada ou algo semelhante a ela compreendendo um esteio com uma placa sinalizadora na bifurcação de caminhos.

Juvenal Salgado Canto iniciou suas atividades em Macapá operando motor de popa Archimedes de 12 HP. Depois foi mandado dirigir um Jeep do Serviço de Geografia e Estatistica do governo territorial. Como não sabia encaixar a marcha ré, sempre deixava o carro em lugar inclinado.Na hora de sair bastava desengatar o veículo e deixá-lo descer o aclive. Com o tempo tornou-se eximio condutor de carros, empresário e dedicado político. Foi um dos três integrantes do primeiro Conselho Fiscal da UBMA.







 Certa vez presenciou um eremita aproximar-se de uma cruz, abraçá-la e beijá-la. Vendo nesse gesto uma prova de grande coragem, aproximou-se do eremita propondo fazer-lhe companhia em suas jornadas. O eremita educou Cristovão na fé cristã e o convenceu a prestar ajuda aos viajantes que precisavam transpor um caudaloso rio com forte correnteza. Certo dia, Cristovão viu uma criança postada à margem do referido rio e, colocando-a sobre o ombro direito iniciou a travessia. A cada passo dado, Cristovão sentia que o peso da criança aumentava. Chegando à outra margem, bastante cansado ouviu o menino dizer: “Tivestes às costas mais que o mundo inteiro. Transportastes o criador de todas as coisas. Sou Jesus Cristo, aquele a quem serves”. Jesus mandou Cristovão fincar seu bastão na terra. No dia seguinte, o cajado havia se transformado em uma exuberante palmeira.

O motorista que vemos na fotografia chamava-se oficialmente Osiel Borges. Popularmente era conhecido como Fortaleza.No flagrante que evidenciamos ele está entrando no caro que dirigia nas horas de folga do serviço público, prestando serviço como "motorista de praça". Foi um dos mais conhecidos condutores de carro de aluguel de Macapá.A fotografia nos revela um trecho bastante conhecido de Macapá, a Av. Coriolano Jucá, entre as Ruas Cândido Mendes e São José.Ao fundo vemos os prédios do Banco do Brasil e do então Forum,hoje sede da OAB-AP.
                      São Cristovão viveu na época das perseguições aos cristãos movidas pelos romanos quando era Imperador Caio Méssio Quinto Trajano Décio, que governou de 249 a 251 depois de Cristo. Capturado pelo governador da Antioquia foi martirizado de forma cruel e depois decapitado no dia 25 de julho de 250 depois de Cristo. A Antioquia era então uma região situada entre a Síria e a Abissínia, hoje cidade de Antakia, pertencente à Turquia. As narrativas sobre São Cristovão começaram a se espalhar pelo mundo a partir do século VI, notadamente na França. Foi canonizado no século XV, mas o Concilio Vaticano II, em 1969, julgou que havia poucas evidências históricas da existência de santidade nele. O mesmo aconteceu com outros 199 mártires do cristianismo, entre eles São Jorge. No sincretismo afro-brasileiro São Cristovão é equiparado ao orixá Xangô. 


O médico Amilcar Pereira da Silva iniciou suas atividades profissionais no Amapá dirigindo a Unidade de Saúde de Oiapoque. Muito cordial com as pessoas logo angariou um imenso circulo de amigos. Na fotografia ele aparece ao lado do João Batista de Azevedo Picanço, o Tio Joaõzinho, tesoureiro da Prefeitura de Macapá e depois do Território Federal do Amapá. Foi o primeiro presidente da UBMA.
O Concilio Vaticano II, convocado a 25 de dezembro de 1961, pelo Papa João XXIII e por ele instalado dia 11 de outubro de 1962, reuniu 2.000 prelados que discutiram vários temas visando atualizar a Igreja Católica. Cerca de 200 santos, cuja existência não tem sólidas convicções históricas, foram removidos do calendário católico. A Igreja aceita a devoção aos santos cassados e o culto aos mesmos, mas eles não fazem parte do Calendário Litúrgico e por isso não têm direito a missa e orações específicas. Entretanto, o povo manteve neles sua devoção. São Cristovão é o padroeiro dos solteiros, marinheiros, viajantes, epiléticos e dos jardineiros. Abranda as tempestades, favorece que seus devotos tenham uma santa morte e se livrem da dor de dente. 
Veridiano Souza sempre foi um cidadão participativo.Integrou a primeira equipe de mecânicos de máquinas pesadas do governo do Território Federal do Amapá e, quando aposentou-se passou a trabalhar com um carro guincho demonstrando a mesma dedicação a sua profissão. Nesta cópia de fotografia, escaneada do histórico que a própria família elaboru e me ofertou, Veridiano está recebendo um carinhoso beijo de sua esposa Andaoa Cherfen de Souza.Ambos já desencarnaram do verbo e seus restos mortais estão enterrados no Cemitério São José, em Macapá. Foi o primeiro Tesoureiro da UBMA.
A oração que os motoristas devem fazer pedindo a intercessão de São Cristovão é a seguinte: “Daí-me Senhor, firmeza e vigilância no volante, para que eu chegue ao meu destino sem acidentes. Protegei os que viajam comigo. Ajudai-me a respeitar a todos e a dirigir com prudência. E que eu descubra vossa presença na natureza e em tudo o que me rodeia”. 

Amirando Elleres Nunes era odontólogo e desempenhou relevantes funções públicas no Território do Amapá.Era primo do governador Janary Gentil Nunes e portava-se com relativa simplicidade em relação aos amigos menos aquinhoados financeiramente. Junto com o Bispo Aristides Piróvano e Juvenal Salgado Canto integrou o primeiro Conselho Fiscal da União Beneficente dos Motoristas do Amapá.Deixou Macapá apóis a revolução militar de 31 de março, indo fixar residência em Belém. Já não integra o mundo dos vivos.