GUATEMALTECOS
EXILADOS PASSAM PELO AMAPÁ
Por Nilson Montoril
No
dia 15 de setembro de 1954, o jurista Theodoro Arthou, subprocurador da Justiça
do Distrito Federal assumia interinamente o governo do Território Federal do
Amapá, em substituição ao major Janary Gentil Nunes. A medida decorreu do fato
do 1954 ser um ano eleitoral e os membros do Partido Trabalhista Brasileiro terem
requerido que a executiva nacional cobrasse a intervenção do presidente João
Café Filho no Amapá, no sentido de promover a imparcialidade governamental no
pleito. Os petebistas temiam que, mais uma vez, os janaristas, donos do poder,
repetissem práticas ilegais evidenciadas nas eleições passadas, quando se
valeram do serviço público para pressionar os eleitores da aposição. O deputado
federal Coaracy Gentil Nunes, irmão do gestor substituído, iria concorrer à
reeleição pela segunda vez e ocupava o cargo eletivo na Câmara Federal desde
fevereiro de 1947. Theodoro Arthou manteve sua interinidade com absoluta
lisura, mesmo conservando inalterado o quadro diretivo do governo. Assim foi até
o dia 9 de outubro, quando a apuração dos votos havia sido encerrada. A vitória
de Coaracy Nunes foi incontestável: 3.471 votos contra 556 do candidato do PTB,
senhor João Bruno Alípio Lobo, um carioca que jamais estivera antes do pleito no
Amapá. Transcorrida a eleição, Janary Nunes reassumiu o caro de governador no
dia 10 de outubro. A 19 de setembro de 1954, quatro dias após sua posse,
Theodoro Arthou recebeu a incumbência do governo brasileiro para recepcionar 34
cidadãos da Guatemala que haviam solicitado exílio político ao Brasil assim que
rebentou naquele país a rebelião militar liderada pelo coronel Carlos Castillo
Armas e culminou na deposição do presidente Jacobo Arbenz Guzmán.
Os
guatemaltecos estavam refugiados na embaixada brasileira e foram transportados
para o Rio de Janeiro em avião da Força Aérea Brasileira. Ao penetrar no espaço
aéreo do Brasil, o aparelho realizou um pouso na Base Aérea de Amapá e outro em Macapá. Na capital
amapaense os exilados foram saudados pelo governador interino e dele ouviram
votos de boas vindas. Entre os exilados havia 3 parlamentares, 5 estudantes
universitários e 26 trabalhadores com especializações diversas. À época, o
aeroporto de Macapá ocupava área do centro da cidade, espaço compreendido entre
a rua General Rondon uma reentrância do lago do Pacoval, hoje cortada pela rua
Professor José Barroso Tostes e delimitado pelo trecho da avenida FAB.Os
guatemaltecos requereram exílio porque temiam represálias dos correligionários
do coronel Carlos Castillo. O presidente deposto sempre demonstrou tendência
esquerdista no exercício do cargo e instituíra reformas sociais e agrárias,
além de expropriar as terras com plantações de bananas, quase todas pertencentes
a companhias norte-americanas, entre elas a poderosa United Fruit Company. A
influência comunista no regime de Jacobo Arbens levou a Guatemala a uma
restrição das relações com os Estados Unidos da América. Com a ajuda americana,
Carlos Castillo Armas, que era agente da CIA, derrubou o coronel Arbens e
devolveu as terras expropriadas aos estrangeiros.
O coronel Carlos Castillo Armas era agente da CIA e recebeu ajuda americana para derrubar o presidente Jacobo Arbenz. Em 1957 ele foi assassinado dentro do Palácio Nacional de La Cultura. |
Alguns dos transportados eram
camponeses e, no regime socialista, chegaram a receber terras para cultivar. O
coronel Carlos Castillo participou ativamente da revolução e fez parte da junta
militar que assumiu o governo da Guatemala, dia 26 de junho, e se conservou na ativa
até 8 de julho de 1954. Nesta data, Carlos Castillo foi empossado como presidente,
mas a 26 de julho de 1957, morreu assassinado dentro do Palácio Nacional de La Cultura. Seu
substituto foi Elfego Hermán Monzón Aguirre, que também fizera parte da junta
militar. Entre os assessores de Jacobo Arbens encontrava-se o médico argentino Ernesto
Guevara de La Serna ,
que havia chegado à Guatemala em dezembro de 1953. Guevara fugiu para o México
após a queda do citado presidente, onde conheceu Raul Castro, atual presidente
de Cuba, que o apresentou ao irmão Fidel Castro. A partir de então, Ernesto
passou a ser chamado simplesmente de Che Guevara.
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