quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    NEGRINHAS NAMORADEIRAS

    Por Nilson Montoril
 
As Negrinhas Namoradeiras entre as quais me posicionei para aparecer nesta fotografia estavam assentadas sobre um peitoral de uma janela no térreo de um sobrado de dois pavimentos localizado na Travessa Portugal, no Centro Histórico da cidade de  São Luiz, Estado do Maranhão.No local funciona um restaurante,cujo dono foi muito gentil comigo. Ele me disse que a maioria das pessoas nem se apercebe da presença das negrinhas na janela de seu estabelecimento comercial.
                        As negrinhas namoradeiras são um tipo de bonecas que ainda hoje enfeitam varandas, cozinhas, corredores, janelas de residências e de estabelecimentos comerciais, amurados, áreas de lazer e mesmo nas salas de muitas casas no interior do Brasil. Na época do Brasil colonial essa espécie de decoração evidenciava mulheres brancas, louras, olhos castanhos, lábios e unhas pintadas de encarnado. As primeiras bonecas foram trazidas de Portugal, mas depois passaram a ser confeccionadas no Brasil. Feitas de gesso, argila ou madeira, as bonecas namoradeiras podiam ser confundidas com as mulheres dos colonizadores, que não podiam aparecer reveladamente na frente cãs casas, principalmente as casadas.
A Boneca Namoradeira da foto enfeita o balcão de uma lanchonete num velho casario que outrora foi a Cadeia Pública de São Luiz.O imóvel foi totalmente restaurado e abriga inúmeras atividades culturais.

                            O costume teria surgido em Portugal na época da dominação moura. Para impedir que os passantes das ruas vissem as recatadas mulheres brancas bisbilhotando o que se passava na rua, os donos dos imóveis mandavam colocar um tipo de treliça de madeira chamada muxarabiê bloqueando as janelas.  Espécie de biombo tinha diversas frestas e através delas é que as mulheres viam o exterior das residências.  A palavra muxarabiê vem do Frances moucharaby, derivado do árabe masrabiya ou muxarabi. Assegura ventilação, sombra e permite olhar para o exterior sem ser observado. È uma patente influência da arquitetura moura na península ibérica. 
A fotografia acima foi tirada na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior, que é odontólogo estabelecido em São Luiz e de sua esposa Lana Nunes. Uma boneca igual encontra-se na cozinha de minha residência, em Macapá, graças ao presente que recebi da Lana. Todos os dias,ao entrar na cozinha, eu a cumprimento.

                    A descrição mais usual de muxarabiê corresponde a uma espécie de balcão mourisco, protegido por treliças em toda a altura da janela, o que o torna indevassável. Além do muxarabiê, também se fez uso das rótulas, esquadrias construídas em peças de madeira sobrepostas diagonalmente, de modo a formar desenhos variados, com a finalidade de resguardar a intimidade da família. A tradução literal de muxarabiê é: “De onde se vê sem ser visto”. 
Belíssima  arquitetura mourisca ainda existente em Portugal.
                          Na Região Nordeste o uso da urupema ainda é notado. Urupema é um vocábulo de origem tupy-guarany, mas também usado no nheengatu (fala bonita, correta), que designa uma esquadria feita de palha traçada de carnaúba, buriti, urubá. Entretanto, o termo também denomina uma espécie de peneira feita de fibras, usada para escorrer leite de coco, mandioca, bacaba e outros produtos decorrentes da maceração de frutos ou raízes. Pode ainda identificar um cesto esquinado, anguloso ou enquadrado utilizado como instrumento de pesca.
 
Casa em estilo colonial restaurada e conservando as rótulas de madeira nas janelas.
                        As bonecas namoradeiras são esculturas agradáveis, muito bem confeccionadas. Podem estar pintadas de preto, com olhos verdes, brincos, colares, pulseiras, enfeites presos ao cabelo, lábios e unhas pintadas de vermelho. Elas não são expostas em corpo inteiro, mas apenas a cabeça, busto, braços, ombros e mãos. De um modo geral as bonecas aparecem com o braço direito apoiado no beiral da janela ou no balcão que a bloqueia, com a cabeça inclinada e o queixo repousando na palma da mão. Essas bonecas podem ser entendidas como um recurso usado pelo dono da casa para mostra que em sua residência sempre tinha alguém vigilante na janela. 
Observe que apenas  uma janela do sobrado pintado de verde e branco tem um  muxarabiê. O prédio abriga atualmente uma biblioteca na cidade de Diamantina, Rua da Quitanda nº 48. Bela iniciativa que visa mostrar como as mulheres recatadas podiam ver o exterior sem serem vistas pelos transeuntes.

                         Quando estive em São Luiz, capital do Estado do Maranhão, no final do mês de novembro de 2012, freqüentei diversos lugares onde as negrinhas namoradeiras estavam expostas. Num velho prédio que teria servido como prisão, encontrei o busto de uma delas sobre o balcão de uma lanchonete. Outra boneca eu vi na sala de refeições da casa de meu sobrinho David Martins Nunes Júnior e sua esposa Lana. Ao trafegar pela Travessa Portugal, no centro histórico da capital gonçalvina, deparei com outras duas negrinhas expostas na janela de um restaurante. Pedi autorização ao proprietário do estabelecimento e, postado entre as duas bonecas, solicitei que a Lana batesse uma fotografia. Gostei tanto das negrinhas que acabei ganhando uma de presente.

    
Boneca Namoradeira branca e loura é coisa rara de se ver, mas elas prontificam em Ritápolis. A moça representada não usa tantos enfeites como fazem as negrinhas. A danadinha é bonita, tanto quanto as bananas penduradas ao seu lado. Ambas devem ser deliciosas. A fotografia foi copiada do site nela  expresso.