terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS CRÔNICAS DA RAINHA MOMA




            Por Nilson Montoril

Em 1998, a Banda prestou significativa e justa homenagem ao Job, que havia falecido no ano anterior. Job  era o tutor da boneca Chicona, encargo hoje assumido por sua viúva Ana Lúcia. Na foto que ora divulgo aparecem o Savino, a Alice Gorda e Antônio Munhoz, este fantasiado de palhaço.Ele foi o "juiz de paz" que celebrou o casamento da Chicona com o Anhanguera.  Veja a imagem do Job inserida na camisa usada pelo Savino. Os demais conselheiros da Banda também a vestiram no carnaval de 1998.


                Há dois anos, falecia na cidade de Macapá, a carnavalesca Alice Guedes de Azevedo, a eterna rainha moma do carnaval amapaense. Partiu quando faltavam apenas quinze minutos para as 24 horas do dia 2 de abril de 2005. As fortes emoções decorrentes de momentos especiais sempre tiravam do ritmo normal o sacolejo de seu coração alvi-azul, as cores vitoriosas do Paysandu Sport Clube. Nascida em Belém, no dia 8 de março de 1934, Alice Azevedo passou a infância e a juventude na casa dos pais, à Rua Veiga Cabral, número 114, na cidade velha. Seu primeiro emprego foi na Sorveteria “Flor de Lis”, na esquina da Rua Padre Eutiquio com a Avenida Almirante Tamandaré. Em meados do ano de 1959, passou a trabalhar com o senhor Orlando Ventura em dois estabelecimentos comerciais que ele possuía na cidade de Belém: o Hotel Coelho (que depois recebeu o nome de Vanja Hotel) e o Hotel Regina. Nesta ocasião foi designada para vir a Macapá, a serviço, porque o senhor Orlando Ventura havia arrendado o Macapá Hotel. Alice era chefe de cozinha e uma espécie de subgerente. Deveria passar três meses, mas permaneceu para sempre. Não vamos falar da Alice comerciante, desportista ou carnavalesca e sim da brava cidadã que tinha uma vontade imensa de ser escritora. O destino não lhe favoreceu nesta pretensão. Os estudos tiveram que ser interrompido porque o pai retirou-se do lar, deixando dona Felícia Silva Azevedo, sua genitora, com a missão de desdobra-se para sustentar a família. Alice precisou trabalhar para ajudar sua mãe e por isso não avançou nos estudos.
                O valor do consistente curso primário que a Alice freqüentou foi fundamental na vida da rainha moma. Escrevia bem, conhecia os meandros da gramática e as quatro operações fundamentais da matemática. Ela nunca temeu a morte. Sabia que todos os seres vivos fatalmente acabarão em seus braços. Guardo, com extremo zelo, algumas crônicas que a Alice escreveu e que estão sob meu cuidado graças à benevolência de sua filha Mary Lúcia de Azevedo Martins, as quais transcrevo neste artigo. A primeira destas crônicas tem o título de “A Morte”:

             "A morte, ninguém, ou quase ninguém gosta de escrever, de falar, ou mesmo de pensar sobre ela.
               Sempre que se escreve é aquela caveira, com uma foice, muito feia, que causa muito horror.
            Quando sentimos um arrepio, logo cruzamos os dedos, batemos na madeira dizendo “cruz credo, a morte passou por aqui, Deus me livre!”.
                Não gostamos de lembrar o nosso encontro com o dia da grande viagem.
           A morte é um anjo lindo, muito iluminado, e tão angelical, como todos os Arcanjos.
              E de tantas virtudes, e de tal grandeza, que mereceu de Deus a confiança de uma grande missão, a mais dura, a mais triste e dolorida.
            Em minha imaginação, esse lindo anjo, ao receber de Deus a ordem para cumprir sua espinhosa tarefa humildemente perguntou:
                 Divino Pai, por que eu? Por que esse tão pesado fardo? Só irei levar tristeza, lágrimas, dor, destruição, fazer órfãos, viúvas, só irei espalhar medo, horror a todos os viventes, todos fugirão ao escutarem o meu nome, nunca serei esperada e nunca receberei uma só prece.
                 DEUS, o senhor de tudo e de todos ordenou: ”Vai e cumpre tua missão, que é a mais bela de todas. Serás sempre o mais temido, o mais respeitado de todos!!! Nunca terás culpa, porque haverá sempre uma desculpa.”
               Assim, o lindo anjo do Senhor continua nos levando pela mão, quando chegar o nosso grande dia, a nossa hora, conforme está escrito no grande livro desde que somos mandados à cumprir  a nossa missão no planeta em que estamos situados.
                         Bendito sejas! Divino anjo do Senhor.
                         Bendito seja o teu nome: Morte.”
                          
                         Sofrendo de diabetes, com o peso acima do normal e convivendo com um câncer, Alice Azevedo tinha consciência de que seu desenlace poderia ocorrer a qualquer momento. O dadivoso coração já havia anunciado que sua saúde precisava de cuidados especiais. No dia 29 de setembro de 1996, Alice viveu um dos seus internamentos no Hospital Geral de Macapá. Naquele dia ela registrou a forte emoção que sentia da seguinte forma:
              “Na janela do velho Hospital Geral, onde encontro-me internada fiquei olhando para a Av. FAB.
                Embarquei no mundo das ilusões, vi a velha companheira de tantos carnavais, vestida de alegria, de luzes e fantasias, brilhos e cores a mil. Vi malabaristas de samba, mulatas com seus gingados fazendo a galera delirar. Escutei até os sons das baterias, acompanhando intérpretes nos sambas-enredo, bem eloqüentes. Era uma festa só.
                  No meu delírio, era uma noite de carnaval, uma noite de ilusão.   
                 De repente, despertei para a triste realidade: Eu, triste, sozinha, olhando para a passarela das emoções do samba. Mais triste, eu, calada, sem brilho, agitada, apenas pelo vai e vem do cotidiano. Ela mais triste do que eu porque nunca mais terá uma noite de carnaval. E eu? Sim, e eu sozinha? Eu sempre estive rodeada de amigos? Esqueci que meus amigos são todos alegres e das horas alegres do meu reino de ilusão.
                 Fico aqui na janela do velho e majestoso Hospital Geral, cantando baixinho, só para mim, aquela musiquinha da Divina Elizeth Cardoso: MÊ DÊ AS FLORES EM VIDA, O CARINHO E A MÃO AMIGA”.

                   Num outro período de internação, Alice Gorda assim escreveu:

                 “És a candeia que ilumina meus últimos dias de solidão. Chegastes quando eu não tinha mais forças, nem capacidade de lutar com a morte.
                     Não sei por quê!
                     Nem quando chegastes!
                     Nem de onde viestes! Só sei que tua divina luz invadiu minha alma.
                 Fez surgir em mim uma energia tão grande, que me fez crer na vida, que podia lutar contra a sorte, e a morte fez surgir em mim a própria razão de viver;
                    Candeia! Luz divina da minha vida, fonte de luz, mandada do infinito pelo pai dos sofredores;
                   Quero morrer iluminada pela luz nos últimos instantes da minha vida. Quero dizer com as últimas forças que me forem permitidas.
                          BENDITA LUZ, FOSTE O BÁLSAMO CONSOLADOR DE QUEM TANTO SOFREU”.
Esta fotografia foi tirada na esquina da Rua Jovino Dinoá com a Avenida Feliciano Coelho, no momento em que o "juiz de paz", Antônio Munhoz, celebrava o casamento da Chicona com o Anhanguera. O ato solene foi presidido pela Rainha Moma Alice Gorda.( Arquivo da Banda sob minha guarda).
             
                      Sempre que estava doente, sem poder sair de casa, a Alice Gorda clamava pela presença dos amigos. Em certa ocasião ela elaborou a crônica que ora transcrevo:

                           O QUE É SER AMIGA OU AMIGO.

                          “Eu, na minha pobreza de espírito como ser humano, fico sempre me perguntando: Será que sei que sou boa amiga? Às vezes apelo para o infinito, na esperança de que algum irmão da espiritualidade, me faça refletir melhor. Rogo a Deus que me ilumine como devo agir.
                          Eu sei que somos todos irmãos, que devemos nos respeitar, devemos nos amar, devemos nos ajudar. Foi o que nos ensinou o Mestre dos Mestres, nosso amado JESUS.
                          Eu acho que o amigo ou a amiga e o desconhecido, que por vontade de Pai Eterno foi colocado ao nosso lado, devem conviver, respeitar o próximo e não ofendê-lo, nem em pensamento ou palavras. Devem se tratar com carinho, com atenção. Estar lado a alado nos momentos difíceis, dividir as horas de tristeza, levando sempre a sua palavra amiga e tratar com respeito. Ser fiel. Defender um ao outro, na presença e na ausência. Não criticar seus erros, suas fraquezas. Procurar, sem ofender, oferecer ajuda para que ele ou ela, por si mesmo sinta necessidade de se corrigir.
                       Não devemos permitir que ninguém faça comentários, ofensas ou críticas destrutivas a um amigo.
                               Será que sou tudo isso? Não!!!
                          Sou uma pecadora, tenho minhas falhas e momentos de fraquezas. Como todo ser humano, luto e procuro me ajudar, para que a minha missão na terra seja cumprida e venha a ter saldo positivo para a vida futura. O que me causa essa parafernália toda foi ter visto criaturas amigas falar: - Fulano ou fulana é minha grande amiga, mas tem tal defeito, e passa a criticar na frente dos outros. Outra: um amigo ou uma amiga vem contar um segredo muito particular e diz: - eu só conto pra ti, que és meu amigo e em quem eu muito confio. Mas, logo ao virar as costas, passa o segredo que lhe foi confiado. O que sei é que, se alguma coisa me faz feliz e eleva a minha alma, é ter amigos. Uma coisa existe que me faz mais feliz ainda: É ser amiga.”

                        As crônicas elaboradas pela saudosa amiga Alice Gorda estão transcritas do jeito que ela escreveu. Alice Guedes de Azevedo, a risonha Alice Gorda, desencarnou do verbo no dia 2 de abril de 2005, há seis anos. O artigo que agora publico no meu blog foi escrito em 2007 e publicado no jornal Diário do Amapá.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O SUICÍDIO DE GETÚLIO VARGAS

                                           

       Por Nilson Montoril
                                                                                   

              A morte de Vargas foi divulgada pela Radio Nacional, através do “Repórter Esso”,  às 9 horas do dia 24 de agosto de 1954. 
            
O gaúcho Getúkio Vargas gostava de fumar charutos cubanos e usar ternos feitos sob encomenda. Na condição de presidente eleito, empossado no dia 31 de janeito de 1951, teve dificuldades para compor sua equipe do primeiro escalão. Quando governou o Brasil em regime ditatorial promoveu memoraveis reformas econômicas e sociais.

            Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, o povo brasileiro ouviu pelo rádio a notícia constrangedora de que o Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas tinha ceifado a própria vida. Eram 08h30min quando ele acionou o gatilho de uma pistola automática, calibre 22, e deferiu um tiro mortal no coração. Até às 08h10min o general Calado de Castro permaneceu no gabinete de trabalho do presidente fazendo-lhe companhia. Posteriormente, Vargas retirou-se para seus aposentos, no 3º andar do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Profundamente constrangido, ele precisou apenas de vinte e cinco minutos para escreveu um curto bilhete que, posteriormente, a imprensa sensacionalista iria chamar de carta testamento. Em seguida, Getúlio Vargas agarrou a pistola com a mão direita, encostou-a no peito, ä altura do coração e puxou o gatilho. Um estampido seco foi ouvido pelas pessoas que estavam perto do quarto e logo se deslocaram para ver o que tinha ocorrido. O general Calado de Castro foi a primeira pessoa da confiança de Getúlio a entrar na suite presidencial. Ao deparar com o corpo ensangüentado do presidente inerte sobre a cama ficou paralisado. O impacto emocional sentido pelo general com a brutal foi tão forte que ele perdeu os sentidos. Vargas ainda agonizava quando sua esposa Darcy Vargas, a filha Isaura e filho Lutero Vargas, que era deputado federal, tentaram socorrê-lo. Dona Darcy abraçou o corpo do marido e indagou o porquê de uma atitude tão radical. Logo depois entrava o senhor Osvaldo Aranha, amigo de Getúlio de longas datas e um dos artífices de sua posse como presidente do Brasil, em 1930. Uma ambulância foi solicitada, embora o estado de saúde do presidente fosse terminal. Mesmo assim, o médico Rodolfo Samuel Perissé determinou a locomoção de Getúlio para o hospital mais próximo. Entretanto, no interior da ambulância nº 155 o presidente exalou o último suspiro. Getúlio Vargas trajava um pijama listrado, marrom e branco, com o monograma G.V. bordado no bolso superior esquerdo. O blusão chegou a ser rasgado à altura do peito esquerdo pelos que socorreram o presidente, em virtude da ânsia com que procuraram prestar os primeiros socorros. A morte de Vargas foi divulgada pela Rádio Nacional, em edição extraordinária do “Repórter Esso”, às 9 horas.
O gesto tresloucado praticado por Getúlio Vargas abalou profundamente o Brasil. Os militares que o levaram ao poder em 1930, mantendo-o no cargo de presidente até meados de 1945, quando forçaram sua renúncia e o aceitaram como mandatário eleito em 1950, são indicados como algozes do "velinho". A gravura que ilustra este artigo é de Carlos Estevão.

          Getúlio Vargas havia assumido o cargo de presidente no dia 31 de janeiro de 1951, eleito em sufrágio universal no dia três de outubro de 1950. Naquela ocasião obteve 3.849.040 votos, quase 49% de votos válidos. O brigadeiro Eduardo Gomes ficou em segundo lugar com 2.343.384 de votos, cerca de 30% do total de eleitores. Cristiano Machado, sabotado por seu partido, o PSD, alcançou somente 1.697.193 votos, equivalente a 22% dos sufrágios computados.  Entretanto, a União Democrática Nacional - UDN, cujo candidato tinha sido o brigadeiro Eduardo Gomes, alegava que Getúlio não havia conseguido a maioria absoluta de votos como determinava a Constituição Federal. O partido apelou para o Tribunal Superior Eleitoral, mas não foi atendido. Os principais chefes das Forças Armadas externaram descontentamento. No entanto, declararam que respeitariam a decisão da Justiça. Quando os getulistas ainda costuravam a candidatura do velhinho, no decorrer de 1950, o general Góis Monteiro, ministro da guerra do presidente Eurico Dutra, afirmou que as Forças Armadas não colocariam obstáculos á eventual posse de Getúlio caso ele respeitasse não só a Constituição como os direitos impostergáveis dos militares.  Para poder chegar ao Palácio do Catete, o presidente contraiu pesadas dívidas políticas com adversários ferrenhos. Para poder neutralizar a força popular do Partido Social Progressista-PSP, de Adhemar de Barros, firmou aliansa com ele, assegurando que um ministério lhe seria reservado. As classes média e alta não aceitavam o exacerbado populismo de Getúlio e o hostilizavam. Sua popularidade sempre foi elevada entre os pobres, os desvalidos e membros da classe baixa. No decorrer de sua campanha política o Brasil inteiro cantou uma marchinha contagiante composta por Marino Santos e Haroldo Lobo e interpretada por Francisco Alves, o Rei da Voz, cujo teor era: “Bota o retrato do velho outra vez/ bota no mesmo lugar/o retrato do velhinho/faz a gente trabalhar.” No curso de seu mandato o velhinho enfrentou muitas dificuldades. Tendo passado quinze anos dirigindo a nação como ditador, de 1930 a 1945, agora estava vivenciando um período democrático. Para continuar fazendo o papel de pai dos pobres tinha que afagar a cabeça da alta burguesia e fazer vistas grossas às crueldades e arbitrariedade da polícia. Neste ponto foi ao fundo do poço, permitindo que a polícia entregasse Olga Benário, esposa do líder comunista Luiz Carlos Prestes à Gestapo. Ela era tida como espiã e os alemães queriam prendê-la a qualquer custo. Olga Benário foi deportada e morreu num campo de concentração nazista. Estudiosos da vida de Getúlio dizem que ele era avesso a gestos teatrais e frases grandiloqüentes. Tinha a cabeça fria e era capaz de dominar suas emoções. Também era honesto em matéria de dinheiro e ao que parece nada ambicioso a bens materiais. Sua grande paixão era o poder de mando, a defesa do homem comum, o bem estar do povo. Acreditava cegamente em pessoas que ele julgava serem merecedoras de confiança, mas que se valiam da influência para aprontar coisas que manchavam a reputação do presidente. Ao saber do atentado Getúlio comentaria indignado: “Esse tiro é uma punhalada em minhas costas”.

O povo brasileiro compareceu em massa ao velório de Getúlio Vargas. Ele era cognominado o "Pai dos Pobres"e dos trabalhadores mais humildes. Após sua morte, os governantes do Brasil têm procurado extinguir as conquistas trabalhistas adotadas em suas gestões. Ainda hoje ele é considerado o maior presidente que o Brasil já possuiu.
                                              
          As hostilidades contra Getúlio Vargas aumentaram a partir do dia cinco de agosto de 1954, quando dois pistoleiros tentaram matar o jornalista Carlos Lacerda, que lhe desferia contundentes críticas através do jornal Tribuna da Imprensa. Passavam cerca de quarenta minutos da madrugada quando Carlos Lacerda chegava de carro a sua residência, na Rua Toneleros, 180, em Copacabana. Ele, o filho Sérgio e o major da Aeronáutica, Rubens Florentino Vaz, regressavam de uma conferência antigetulista. De tocaia, dentro de um táxi, os pistoleiros atiram contra Lacerda. Um tiro lhe fere de raspão o pé esquerdo e o outro se aloja no peito do major Vaz, que morre no caminho do hospital. Um dos tiros fere o guarda municipal Sávio Romeiro que fazia sua costumeira ronda no local. Mesmo ferido o guarda consegue anotar a chama do veículo e acertar um balaço em sua lataria. Ao saber do atentado, Getúlio comentaria indignado: “Esse tiro é uma punhalada em minhas costas”. O alvo preferido de Lacerda era a corrupção do governo Vargas e o verdadeiro mar de lamas que havia no Palácio do Catete. A perícia constatou que abala que matou o major Vaz tinha saído de uma pistola calibre 45, arma privativa das Forças Armadas. Um inquérito policial foi instaurado. Carlos Lacerda recorreu ao brigadeiro Eduardo Gomes para que o inquérito fosse tirado das mãos da polícia e transferido para a Aeronáutica. Passou a ser então um Inquérito Policial Militar sediado no Aeroporto do Galeão. Este inquérito apurou que o motorista do táxi era Nelson Raimundo dos Santos. Temendo ser morto, Nelson apresentou-se à polícia e disse que não conhecia os pistoleiros, apenas atendeu ao sinal que eles fizeram. O IPM teve como encarregado o coronel-aviador João Adil de Oliveira e em poucos dias chegou aos suspeitos. Pressionado, o motorista confessou que havia transportado Climério de Almeida, um dos duzentos indivíduos que integravam a guarda pessoal de Getúlio Vargas. Em seguida foi preso João Alcino do Nascimento. Os pistoleiros disseram que cumpriram ordens de Gregório Fortunato para matar Lacerda. Gregório comandava a guarda pessoal de Getúlio deste o Estado Novo, criado em 1937. A morte de Getúlio arrefeceu um pouco o interesse pelas ações do IPM para apurar o crime arquitetado por Gregório. Ao saber que Getúlio tinha morrido, o povo tomou conta das ruas. Desnorteado, queimou caminhões de jornais da oposição, depredou suas redações, entrou em choque com a polícia, apedrejou a embaixada americana. O povo sabia que Getúlio tinha sido vítima dos inimigos do trabalhismo e do nacionalismo que combatiam suas qualidades. No governo Vargas o nível de emprego cresceu, o salário e a estabilidade no emprego aumentaram. Surgiram as maiores conquistas do proletariado. O quebra-quebra se deu no Brasil todo.

                                O bilhete de Getúlio Vargas tinha o seguinte conteúdo: “Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente contra mim. Não me acusam, insultam, não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu continue a defender, como sempre defendi o povo e principalmente os mais humildes. Sigo o destino que me é imposto. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre ao vosso lado. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Getúlio Vargas recebe em audiência o então capitão Janary Gentil Nunes, governador do Território Federal do Amapá.Na oportunidade o presidente do Brasil manuseia um albúm de fotografias evidenciando as transformações ocorridas no Amapá no decorrer de 18 meses da gestão de Janary Nunes.Foto do Jormal AMAPÁ nº 11, de 2 de junho de 1945.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

AMAPÁ ESTADO, O EFETIVO SINAL DA TRANSFORMAÇÃO

           
AMAPÁ ESTADO, O EFETIVO SINAL DA TRANSFORMAÇÃO
Por Nilson Montoril
A TV Equatorial,com Nilson Montoril, entrevistou o Comandante Barcellos quando de seu retorno a Macapá, vindo de Brasilia, onde foi recebido pelo Presidente João Batista Figueiredo. Na noite do dia 29/9/1983, eu tive o privilégio de fazer a primeira transmissão direta de televisão no Amapá. ( Foto extraida do Jornal do Povo, edição de 6/10/1983).Na presente fotografia identificamos Herminio Gurgel, Henrique Duarte, Amiraldo Bezerra, Annibal Barcellos,Osmar Melo,Nilson Montoril, Haroldo Franco, Vivaldo Eloi e o tenente Ivanildo.
                        Criado em 1903, o Território Federal do Acre foi transformado em Estado em 1956. Durante 53 anos enfrentou a dura realidade de ser uma unidade federada sem a autonomia própria dos estados. O governo brasileiro adotou este tipo de gestão para, definitivamente alojar no mapa do país uma área que não lhe pertencia e fora comprada da Bolívia. Em 1942, foi criado o Território Federal de Fernando de Noronha. O Brasil procurava salvaguardar sua soberania no arquipélago que a Coroa Lusitana arrendou ao cristão novo Fernando de Noronha no inicio da colonização da Ilha de Vera Cruz. No inicio da década de 1940 a segunda guerra mundial estava em curso e os norte-americanos tinham sido autorizados a instalar bases aéreas em solo brasileiro. Em 1943, por questão de segurança nacional, surgiram mais cinco territórios: Amapá, Guaporé (Rondônia), Rio Branco (Roraima), Iguaçú e Ponta Porã. Em 1945, terminada o grande conflito bélico foram extintos os dois últimos e reintegrados aos Estados do Paraná e Mato Grosso. O Ministério da Justiça e Negócios do Interior recebeu a incumbência coordenar as atividades dos governos territoriais, fazendo-o até o momento em que apareceu o Ministério do Interior. Os Territórios de Guaporé e Amapá sempre reivindicaram suas transformações em Estados. No caso do Amapá, o senador Cândido Mendes de Almeida se destaca como um grande defensor da causa. Em 1853, ele apresentou à Assembléia Nacional Constituinte um projeto propondo a criação da Província da Oiapoquia, cuja sede seria a cidade de Macapá. Seu projeto foi rejeitado, mas não apagou a chama da esperança das populações de Macapá e Mazagão, Na época, as terras entre a margem esquerda do rio Araguary e o lado direito do rio Oiapoque eram declaradas neutras. Mesmo assim, para eliminar de vez as pretensões francesas, o projeto de Cândido Mendes incluiu-as como próprias do Brasil.

                        O território federal era uma espécie de extensão do poder central da República. Os governadores e secretários gerais, nomeados pelo presidente, congregavam as ações do poder executivo e legislativo. O Acre, desde a Revolução de 1930, elegia dois deputados federais. Os demais territórios só passaram a ter representantes na Câmara Federal a partir de 1947. Mesmo assim, apenas um parlamentar por unidade federada. O território não tinha representatividade no Congresso Nacional, haja vista que o deputado é um proposto do povo. Os quatro primeiros governadores do Território Federal do Amapá nasceram no Estado do Pará: Janary Gentil Nunes (27/12/1943 a 2/2/1949 e 18/12/1949 a 2/2/1956), Raul Montero Valdez (2/2/19490 a 018/12/1949), Theodoro Arthou (16/9/1954 a 10/1954), Amílcar da Silva Pereira (2/2/1956 a 20/3/1958) e Pauxy Gentil Nunes (1958 a 1961). Dos ex-governadores, Amílcar Pereira foi o primeiro a se eleger deputado federal e hoje reside no Rio de Janeiro. Janary Nunes o segundo e Annibal Barcellos o terceiro. Dois governadores foram mais enfáticos na defesa de que o Território do Amapá passasse à condição de Estado: Pauxy Nunes e Annibal Barcellos. Os argumentos de Pauxy Nunes estão contidos no livro “Mosaicos da Realidade Amapaense”. A publicação da obra fez ruir a máscara de falsidade que muita gente ostentava sem se dar conta. Por ter sido tão incisivo, Pauxy Nunes passou a ser considerado problemático, polêmico e doido. Passou quase três anos como governador e enfrentou um período muito conturbado. Barcellos assumiu o governo do Amapá 18 anos depois da gestão de Pauxy Nunes. O Brasil era outro e tinha a governá-lo os militares golpistas de 1964. Enquanto Pauxy Nunes lutou contra forças antagônicas de dentro e de fora do Amapá, Annibal Barcellos navegou em mar de almirante, apoiado pelo Ministro do Interior Mário David Andreaza.
Os governadores Vicente de Magalhães Moraes (Roraima) e Annubal Barcellos (Amapá), em audiência com o Presidente Figueiredo no dia 28/9/1983. Neste dia eles ouviram Figueiredo dizer que os dois Territórios Federais seriam transformados em estado em 1984. A previsão falhou e a transformação só ocorreu em 1988, quando entrou em vigor a Constituição da República Federativa do Brasil. Em 1988, Barcellos era deputado federal constituinte e em 1991, governador.

                        No dia 28 de setembro de 1983, o Capitão-de-Mar e Guerra Annibal Barcellos, governador do Amapá e o Brigadeiro Vicente de Magalhães Moraes, governador de Roraima, eram recebidos em audiência pelo Presidente da República João Batista Figueiredo, que lhes garantiu que os citados Territórios Federais seriam Estados em 1984. Este fato ganhou especial atenção da Rede Globo de Televisão através do Jornal Nacional. Enquanto Barcellos buscava sensibilizar o General Figueiredo, tramitava na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Complementar nº 51/83, cujo autor era o deputado Federal Antônio Cordeiro Pontes, que criava o Estado do Amapá. Os fundamentos eram basicamente os mesmos utilizados pela Lei Complementar nº 41/81, que criou os Estados de Rondônia e do Mato Grosso do Sul. O deputado Leorne Belém, relator da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, já havia emitido parecer favorável ao projeto de Antônio Pontes nos seguintes termos: “ Não criará ele tal como se encontra redigido, despesas adicionais ou suplementares às atualmente exigidas. O novo Estado contará com fontes próprias de receita e terá de elaborar o seu orçamento atento às limitações que daí decorram. Reconheço que o ideal seria a União efetuar transferências de capital e implementar programas de assistência à nova unidade federada.Face ao esforço, voto pela constitucionalidade, jurídica e boa técnica legislativa deste Projeto-de-Lei Complementar nº 51, que cria o Estado do Amapá e dá outras providências”. Esta em vigor a Constituição aprovada em 1969, mas se falava em constituinte. O governador Annibal Barcellos deixou Brasília ao anoitecer do dia 28 de setembro com destino a Belém, onde, na manhã do dia 29, participaria da reunião do Conselho de Desenvolvimento da SUDAM.


                        Na noite do dia 29 de setembro, como passageiro da VASP, Barcellos retornou a Macapá, sendo recebido, no aeroporto, por centena de amigos e admiradores. Devido à repercussão da notícia da criação do Estado do Amapá, a imprensa local também marcou presença. A TV Equatorial utilizou pela primeira vez o seu moderno equipamento de externas e eu tive a primazia de realizar a primeira transmissão ao vivo da televisão amapaense. Postado no pátio de estacionamento da aeronave entrevistei o Comandante Barcellos de maneira objetiva e esclarecedora. O governador estava sensivelmente emocionado. Falamos principalmente sobre a audiência com o Presidente Figueiredo. Barcellos disse que o Presidente foi enfático ao afirmar que o Ministério do Interior estava autorizado a formar um grupo de trabalho que estudaria a transformação dos Territórios do Amapá e Roraima em Estados. Figueiredo também determinou a elaboração de uma mensagem do Executivo ao Congresso Nacional e encarregou o Ministro Mário Andreazza de cuidar pessoalmente do apoio aos governadores Barcellos e Vicente Morais. As três fotografias que ilustram este artigo foram publicadas pelo Jornal do Povo em 6 de outubro de 1983. Na primeira objetiva eu estou entrevistando o governador e o saudoso amigo Osmar Melo, com o microfone da Rádio Nacional de Macapá, capta a entrevista que a emissora federal transmitiu na íntegra. Ao fundo várias pessoas conhecidas: jornalista Haroldo Franco, Vivaldo Elói, presidente da CEA, Hermínio Gurgel, Henrique Duarte e Amiraldo Bezerra. Comentando o acontecimento em sua coluna Informe JP, Haroldo Franco assim escreveu: “Zelito deu um show, com a sua TV Equatorial, na transmissão direta da chegada de Barcellos à pista, no último dia 29. Nilson Montoril fez a cobertura. O cinegrafista caprichou e o banho foi completo. De leve”.Na segunda foto, lado a lado, Annibal Barcellos e Vivente Moraes ouvem as explanações do Presidente João Figueiredo. Na terceira fotografia, Barcellos desce a escada do avião da VASP.

O governador Annibal Barcellos desce a escada do avião da VASP, no Aeroporto Internacional de Macapá, na noite de 29 de setembro de 1983. Amigos e correlgionários politicos foram recepcioná-lo

                        Ciente de que o sinal verde para a criação do Estado do Amapá havia sido acionado, Barcellos passou a desenvolver seu trabalho pensando na estrutura mínima indispensável ao funcionamento de um estado. Foi contestado e ofendido. Neste ponto ele se igualou a Pauxy Nunes. Muita gente dizia que era a favor do Estado do Amapá, mas na prática torcia o nariz diante do fato se tornar realidade. O destino tramou contra Barcellos. Figueiredo deixou o Governo em 15 de março de 1985 e sequer transferiu a faixa presidencial a José Sarney.  Tancredo Neves tinha sido operado na véspera e não iria se recuperar. Sarney foi efetivado, sem ter vice. Veio a constituinte e Barcelos se elegeu deputado federal em 1986. A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi sancionada a 5 de outubro de 1988, estabelecendo, no art. 14 do Ato das Disposições Transitórias que os Territórios Federais do Amapá e de Roraima eram transformados em Estados. Transformou, mas acrescentou a condição de que a efetiva instalação do novo estado só ocorreria a 1º de janeiro de 1991, com a posse do governador eleito.  Nas eleições de 1990, certamente reconhecendo os méritos do Comandante, o destino se redimiu e levou Barcellos ao cargo de primeiro governador do Estado do Amapá, exatamente o que promoveu efetivamente a sua instalação.

                         Annibal Barcellos cumpriu seu mandato de 1/1/1991 a 31/12/1994, atuando em perfeita sincronia com os poderes Legislativo e Judiciário. Quando todos pensavam que o comandante deixaria o Amapá, ele afirmou que não faria porque ainda tinha outras pretensões políticas. Elegeu-se prefeito de Macapá (1997 a 2000) e vereador (2004 a 2007). Em 2008, apoiou a candidatura de Roberto Góes, o atual prefeito de Macapá e passou a exercer o cargo de Ouvidor da comuna macapaense. Barcellos manteve sua fidelidade ao Amapá por 32 anos, falecendo na madrugada do dia 14 de agosto de 2011. Seu corpo foi velado do Plenário da Assembléia Legislativa até a manhã do dia 16, sendo trasladado para o Cemitério Nossa Senhora da Conceição. Por onde o féretro passou, os populares  ocupavam as laterais das vias públicas para aplaudir o velho comandante.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

AMILAR BRENHA, O MAGO DO BANDOLIM




                                 

       Por Nilson Montoril
O instrumentista Amilar Brenha viveu 33 anos no Amapá, 26 deles na cidade de Mazagão,com breves períodos em Macapá. Veio para o Amapá com 43 anos. Em 1965, foi residir em Mazagão, onde passou 26 anos.A diabetes causou-lhe problemas na vista direita. A presente foto ilustra a capa do CD gravado por iniciativa do Rui Lima, no verão de 2008.
                        O maranhense Amilar Artur Brenha foi um cidadão que fez das adversidades um bom motivo para divertir-se e alegrar seus amigos. Nascido na cidade de Pinheiro, a 15 de agosto de 1915, começou sua vida artística aos 11 anos de idade apresentando-se em Circos, Teatros e em emissoras de rádio. Entre os anos de 1926 a 1958, participou do cast artístico de diversos circo, o último deles o “Circo Teatro Ibis”, que em 1958 empreendeu um longa temporada pelo norte do Brasil. Além de bandolinista, Amilar Brenha contracenava com os palhaços, fazia pontas nos dramas e comédias e integrava a orquestra. Quando o Amilar falava sobre sua vida circense não deixava de lembrar do grande amigo Laquimé, um instrumentista de inegáveis méritos. Devido a sua participação em uma comédia, Amilar Brenha ganhou o apelido de "javali", pelo fato de lamentar-se da indiferença da mulher que ele paquerava dizendo: “agora tu não me queres mais porque eu não valo nada, mas eu já vali”. O Circo Teatro Ibis foi o primeiro circo a se instalar em Macapá, já na fase do Amapá como Território Federal. Instalou-se no campo de futebol que então existia na Praça capitão Augusto Assis de Vasconcelos, que mais tarde passou a ser identificada como Veiga Cabral. Quando isso ocorreu  o Amilar sentia-se cansado da vida artística. Durante sua estada em Macapá, Amilar conheceu vários boêmios que o estimularam a vir trabalhar na capital amapaense, largando as freqüentes andanças necessárias à sobrevivência do circo. Porém, somente no dia 2 de julho de 1958, na condição de passageiro do Rebocador Araguary, embarcação pertencente ao Sertta Navegação, desembarcou no Trapiche Eliezer Levy. Obteve o emprego de capataz de operários na Companhia de Eletricidade do Amapá e foi atuar no Paredão, onde estava sendo construída a Hidrelétrica Coaracy Nunes. Devotado ao trabalho, não dispunha de tempo para tocar seu bandolim, que por sinal estava bastante avariado. No inicio do mês de fevereiro de 1965, Amilar desligou-se da CEA e foi trabalhar em Mazagão, desempenhando as funções de capataz, auxiliar administrativo e almoxarife.

                        Na década de 1970, quando se realizou a 1ª Operação Aciso, em Mazagão, os coordenadores da ação social souberam que um funcionário da Prefeitura Municipal tocava bandolim com esmero. O servidor era o Amilar. Inscrito na Ordem dos Músicos do Brasil, Conselho Regional do Amapá, Amilar possuía o Certificado de Habilitação de Violonista, expedido no dia 13 de novembro de 1962. Foi como violonista que o ilustre maranhense começou a ser conhecido nas rodas de serestas de Macapá e Mazagão. Não demorou a mostrar seu desprendimento com o cavaquinho e com o bandolim. Em 1972, Amilar Brenha concorreu às eleições para a Câmara Municipal como candidato do Movimento Democrático Brasileiro-MDB. Tomou posse a 31 de janeiro de 1973, mas renunciou o mandato em 1976, por não comungar com a linha de ação agressiva que o partido adotara contra as autoridades municipais e territoriais. O Território Federal do Amapá era governado pelo capitão de mar e guerra José Lisboa Freire ao qual competia nomear o prefeito. Ainda em 1976, acatando um convite formulado pelo Secretário de Educação, Coronel Luiz Ribeiro de Almeida, o pacato Amilar filiou-se a Aliança Renovadora Nacional-ARENA e nunca mais quis ser vereador. Recebeu a incumbência de ministrar aulas de música na Escola D. Pedro I e saiu-se muito bem. As aulas de violão eram supervisionadas pelo Conservatório Amapaense de Música, hoje Escola de Música Walkiria Lima. A remuneração das aulas deu mais tranqüilidade ao Amilar, haja vista que o salário recebido da prefeitura era baixo e costumava atrasar até quatro meses.
Nesta fotografia tirada em 1982, na frente da casa onde o Amilar morava, em Mazagão, ele aparece ao lado do Nilson Montoril Júnior, Torquato Neto e Débora Montoril. Meus filhos o chamavam de "vôvo Amilar"
                         Por ocasião da realização da 1ª Semana de Arte Amapaense, levada a efeito no período de 24 a 31 de outubro de 1981, promoção conjunta da Secretaria de Planejamento do Governo do Amapá, Secretaria de Educação e Cultura e Representação do Ministério da Educação e Cultura-REMEC/AP, o Amilar Brenha teve participação marcante. Incentivado pelos amigos no sentido de aprimorar sua escolaridade e obter conhecimentos gerais, Amilar fez vários cursos no campo da música e do folclore. O Curso mais importante foi o de Capacitação Para o Magistério de 1ª a 5ª Séries de 1º Grau, realizado no Instituto de Educação do Território do Amapá-IETA, no período de 5 a 23 de maio de 1980. Respaldado pela Resolução Nº. 37/79 do Conselho de Educação do Território do Amapá-CETA, o curso conferiu a seus participantes um certificado e o competente registro de professor. Amilar Brenha foi assíduo parceiro do violonista Nonato Barros Leal, integrou o grupo de choro “Café com Leite”, o “Regional E-2” da Rádio Difusora de Macapá e o grupo de chorões “Os Piriricas”. Em 1986, contando com o patrocinio do governador Nova da Costa, gravou um disco de vinil com 12 músicas de sua autoria: Piririca no Choro, Laquimé, Sargento Penha, Complete o Tempo, Capitão Boca Torta, Choro das Crianças, Choro Café Com Leite, Lama na Cara, Mazagão no Choro, Choro de Lenha e Tião. Amilar Arthur Brenha faleceu em Macapá no dia 20 de abril de 1991, sendo sepultado no Cemitério S no dia 20 de abril de 1991, sendo sepultado no CemitGrupo de Choro Caf professor.erestas

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CRUZANDO OS UMBRAIS DA HISTÓRIA




                                

         Por Nilson Montoril
O Comandante Barcellos nunca deixou de prestar esclarecimentos à Imprensa. O presente flagrante fotográfico foi feito no momento em que o então Prefeito Municipal explicava o porque excluiu do serviço municipal dezenas de trabalhadores: Ele foi obrigado a cumprir uma decisão judicial. Barcellos foi Prefeito Municipal de Macapá no período de 1997 a 2000

                        Em 1939, entre os novos Oficiais de Marinha que concluíam o curso da Escola Naval se encontrava ANNIBAL BARCELLOS, um jovem nascido a 10 de julho de 1918, na  cidade de Campos dos Goitacases, importante pólo açucareiro do Brasil desde os tempos coloniais e atualmente rotulada como a capital do açúcar e do petróleo. Convicto de que sua satisfação profissional só seria encontrada na Marinha do Brasil, Annibal Barcelos inscreveu-se no exame de admissão ao curso de Comando da Escola Naval, em 1954,obtendo a almejada aprovação. Iniciou o mencionado curso em junho de1955, concluindo-o em dezembro de mesmo ano. De junho de 1958 a março de 1959, Barcellos destacou-se no Curso Superior de Comando da Escola de Guerra Naval. Iniciou suas atividades profissionais como Oficial do Encouraçado São Paulo. Também atuou no Navio Auxiliar Vital de Oliveira, na Base de Navios Mineiros e no Comando da Defesa Flutuante do Porto do Rio de Janeiro. Pouco tempo depois assumiu o posto de Comandante nos rebocadores Wandenkolk e Laurindo Pitta, no navio Hidrográfico Lahmeyer, no aviso de guerra Mário Alves, nos contratorpedeiro Benevente e Greenhalgh, no navio-transporte Barroso Pereira. Em terra, continuou a ser distinguido para assumir novas e relevantes missões, inclusive em Belém, tanto na Escola de Marinha Mercante como no Serviço de Material do 4º Distrito Naval. Um de seus últimos trabalhos na ativa ocorreu na condição de titular do Comando Naval de Brasília, que ele ajudou a instalar. O desprendimento, a vocação perene para desempenhar novos desafios e a rígida disciplina, credenciaram Annibal Barcellos a exercer funções de destaque no Conselho de Segurança Nacional. Foi transferido para a reserva remunerada em 29 de abril de 1969, no posto de Capitão de Mar e Guerra, computando 40 anos e seis meses de efetivo serviço a Marinha de Guerra do Brasil. Na vida civil o Comandante Barcellos foi Diretor do Ensino Profissional Marítimo da CRONIN-Consultores Técnicos Ltda., Supervisor do Ensino Profissional Marítimo da Diretoria de Portos e Costas, Diretor de Administração e Finanças da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, Presidente do Conselho Fiscal da Companhia de Transportes Coletivos do Rio de Janeiro e Diretor do Departamento Esportivo do Clube Naval.
O Comandante Annibal Barcellos, como governador do Território Federal do Amapá, concedendo entrevista coletiva à Imprensa

                        Com o advento da Revolução Militar de 1964, dois Generais do Exército governaram o Amapá: Luiz Mendes da Silva e Ivanhoé Gonçalves Martins. A partir de 1967, a nomeação dos governadores dos Territórios Federais passou a levar em conta a localização de cada unidade federada. Assim, o Exército indicaria o gestor de Rondônia, a Aeronáutica o governador de Roraima e a Marinha respaldaria o governador do Amapá. No dia 4 de novembro de 1967, o capitão de mar e guerra José Lisboa Freire tomava posse como governador do Território do Amapá, substituindo o general Ivanhoé. Com a posse do General João Batista Figueiredo na Presidência da República, o Almirante Maximiano da Fonseca foi guindado ao cargo de Ministro da Marinha. Ele estivera em Macapá, no período de junho de 1952 a abril de1953, comandando o navio hidrográfico Rio Branco por ocasião do balizamento do Canal Norte do Rio Amazonas, e sabia que o Amapá estava precisando do dinamismo de um homem afeito às ações estruturantes e desenvolvimentistas. Não titubeou em indicar o Comandante Annibal Barcellos para governar o então Território Federal do Amapá. 
O Ministro da Marinha Maximiano da Fonseca e o Governador Annibal Barcellos em visita à Fortaleza de Macapá-1980

Além de ser contemporâneo de Annibal Barcellos, o Ministro Maximiano da Fonseca levou em conta a brilhante trajetória profissional do amigo como Comandante, inclusive do Comando Militar de Brasília. A posse de Barcellos aconteceu no dia 15 de março de 1979, em substituição ao também capitão de mar e guerra Arthur Azevedo Henning. A cidade de Macapá e o interior amapaense voltaram a sentir o surto de progresso já experimentado em gestões anteriores, principalmente na época dos governadores Janary Gentil Nunes e Ivanhoé Gonçalves Martins. O Comandante Barcellos desenvolveu importantes projetos no campo educacional, esportivo, de obras, de eletrificação, de saúde, de ação social e político. Ele foi bastante criticado quanto deu inicio as obras da Assembléia Legislativa, do Tribunal de Contas, do Centro Cívico, do Banco do Amapá e outras sobejamente necessárias para a efetiva existência de um Estado. Deixou o governo em 20 de julho de 1985. Em 1986, elegia-se Deputado Federal. Em 1990, com 65% dos votos foi eleito o 1º governador do Estado do Amapá. Também em decorrência de eleições assumiu o cargo de Prefeito (1997/2000) e de vereador (2004/2007). Atualmente era o Ouvidor Geral da Prefeitura de Macapá. O Amapá teve até agora 26 governadores efetivos, sendo 19 na condição de Território Federal e 6 como Estado. Annibal Barcellos foi o único a dirigi-lo nas duas fases. O ilustre militar e político Annibal Barcellos faleceu em Macapá, na madrugada do dia 14/8/2011, aos 93 anos de idade. Satisfazendo a sua vontade, a família fará seu sepultamento em Macapá, na tarde de hoje, 16/8/2011. O féretro sairá do prédio da Assembléia Legislativa, onde seu corpo foi exposto à visitação pública desde a tarde de domingo. Neste aspecto ele suplantou Janary Nunes, que também desejou ser enterrado em solo amapaense, mas está inumado no Rio de Janeiro. A passagem de Barcellos pelo Amapá fixou na memória dos amapaenses um boné azul e o número 25. 
A Senhora Mariinha Barcellos e seu esposo, Comandante Annibal Barcellos, foto de 1979
  

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PERCALÇOS DA AGRICULTURA NO AMAPÁ


       
      Por Nilson Montoril

                        Ainda em 2011, o empirismo agrícola prevalece na lavoura do Amapá. Nossos agricultores continuam utilizando o machado e o fogo para limpar as áreas desmatadas destinadas as suas roças. Raramente algum produtor agrícola pode fazer uso de arado, trator, grade e adubo em suas plantações. A cultura da mandioca segue despontando como a de maior prática porque farinha todo mundo come, com a tapioca se faz o beiju e o tucupi é muito apreciado. Como os solos do Estado do Amapá são em grande parte laterizados, os agricultores optam por culturas mais resistentes. A concorrência de gêneros produzidos em larga escala, com boa colocação no mercado dificulta a venda de seus produtos. Em 1751, quando os colonos açorianos chegaram a Macapá, plantando de imediato suas roças, as chuvas foram implacáveis com eles. Acostumados a enfrentar revezes os açorianos voltaram a plantar arroz, milho, feijão, urucu, mandioca e hortaliças a partir de junho de 1752. Em Mazagão, a contar de 1771, quando os primeiros colonos foram instalados, a produção começou fraca, mas em 1773, a exemplo de Macapá, já exportava arroz para Belém. Dados referentes ao ano de 1839,  dão conta de que as propriedades agrárias de Macapá haviam prosperado bastante e as fazendas  de criar animais elevaram-se a 52. Macapá, devido a cultura da cana-de-açúcar, registrava  intensa produção de aguardente e açúcar mascavo ou moreno no dizer do caboclo. Plantava-se bastante anileiras e outras leguminosas para a produção de anis. 

                       Em Mazagão, na mesma época, a cultura do arroz evoluia muito bem e a extração de cacau era compensadora. Na Colônia Pedro II, que em 1840, o presidente da Província do Pará mandara o capitão Andrade Parreiras  instalar à margem esquerda do rio Araguary, a agricultura não prosperou como se esperava. Além dos 28 militares e seus familiares, a colônia também abrigou cabanos anistiados. Cada residente recebeu um lote de terras compatível com  o tipo de cultura que desenvolveria e uma ajuda de custo anual , com valor mensal de seis mil réis. O governo provincial concederia outros privilégios aos colonos e soldados que casassem com mulher indígena. Em 1862, Macapá e Mazagão  tinham progredido bem nos trabalhos produtivos do setor primário. Macapá conbtava com 471 estabelecimentos industriais, que empregavam 1.409 pessoas. Havia ainda: 8 engenhos movidos por animais, 2 cortumes, 1 olaria, 60 pequenas fábricas de sabão e 400 sitios produtores de farinha. Plantava-se cacau,fumo,urucu, café, milho, arroz,mandioca,macaxeira e algodão. Colhia-se castanha-do-pará e cacau. O produto que gerava maior volume de venda era a borracha,  cerca de 160 mil réis. Mazagão possuia 5 engenhos de fabricar mel de cana-de-açúcar, 9 fazendas de gado com 953 cabeças, produzia 4.500 arrobas de borracha, colhia 4.000 alqueires de castanha e 400 arrobas de cacau. A partir de 1891, posicionada no local onde está a cidade de Ferreira Gomes,  Colônia Pedro II obteve resultados relativamente apreciáveis. A colônia produziu arroz, feijão, farinha , borracha e outros gêneros. Até um trapiche foi construído, servindo de atracador para navios egressos de Belém, que transportavam estes produtos para a capital do Pará. As febres palustres e a pobreza do solo fizeram a colônia regredir. Em 1890, no lugar denominado “Ponta dos Índios”, o governo republicano do Brasil mandou construir 12 casas de madeira para abrigar um contingente do Exército e colonos. Entretanto, o local foi mal escolhido e o projeto de povoamento da região não teve êxito. Transferida para a localidade de Santo Antônio, à margem direita do Rio Oiapoque, a Colônia Militar ali permaneceu até 1920, ocasião em que surgiu o Núcleo Colonial de Clevelândia. Nos anos de 1920 e 1921, várias casas foram construídas para abrigar colonos nordestinos flagelados pela seca. 

Plantação de cana-de-açúcar
                       O local dispunha de hospital, serraria, escola, estação rádio-telegráfica, luz elétrica, armazém e capela. Em 1923, quando 30 famílias já atuavam na área, prisioneiros políticos e até 158 condenados por crimes comuns lá desembarcaram prejudicando a iniciativa. No período de 1925 a 1927, uma devastadora epidemia de desinteria bacilar ceifou a vida de 42% da população. Em 1935, o governo federal extinguiu o núcleo colonial e colocou Clevelândia sob jurisdição do Ministério da Guerra. Em 1949, quase seis anos após a criação do Território Federal do Amapá, o governador Janary Nunes distribuiu lotes de terras a 12 colonos nordestinos ao longo da estrada que liga a base aérea a Oiapoque. A partir de 1950, o governo territorial iniciou a elaboração de um projeto visando a criação de uma colônia agrícola entre as vilas de Porto Grande e Ferreira Gomes. Outra tentativa agro-pecuária foi realizada na região do rio Matapi, distante 120 km de Macapá. A Colônia Agrícola do Matapi começou a funcionar em fevereiro de 1949 e em março de 1950 registrava a presença de cinco colonos. No mês de junho desse ano havia 17 casas abrigando 100 pessoas. Os lotes de terra tinham a forma retangular medindo 300 m de largura e mil metros de comprimento. Durante os dois primeiros anos cada colono casado recebeu Cr$ 500,00(quinhentos cruzeiros) mensais em forma de pecúlio. Quase todos os colonos vieram de sítios existentes ao longo da Estrada de Ferro de Bragança e plantaram arroz, milho, mandioca, feijão, macaxeira, batata doce, girimum, hortaliças e frutas diversas, mesmo enfrentando os ataques do “chupão”, da formiga-de-fogo e da saúva. O arroz produzido era beneficiado na usina que o governo tinha instalado no Posto de Experimentação Agro-Pecuária da Fazendinha. As sementes eram distribuídas gratuitamente pela Divisão de Produção e o governo comprava toda a safra. 
                          
                       Na região compreendida entre a margen esquerda do rios Araguary e a margem direita do rio Oiapoque, que em 1833, ainda era declarada como área contestada, praticava-se a criação do gado bovino, a coleta de riquezas naturais e a exploração das minas. Existiam então 35 pequenos povoados. A contar de 1841, novos sitiantes se estabelecem na citada região dando origem aos povoados de Amapá, Calçoene, Cunani, Cassiporé, Uaçá, Arucauá e Curupi. Em 1847, no distrito de Aporema, os pecuaristas Antônio Procópio Rila e Lira Lobato introduzem o gado vacum, obtendo ótimo resultado. A vila do Espirito Santo do Rio Amapá pequeno aglomerava o maior contingente populacional da região do Contestado e funcionava como centro dos grandes negócios comerciais.

Plantadores de cana-de-açúcar



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

FIDELIDADE PARTIDÁRIA RECONHECIDA


                                    

         Por Nilson Montoril
O candidato do PSD, Cristiano Machado, acabou sendo relegado por seu próprio partido que se aliou ao PTB de Getúlio Vargas. O fato gerou o termo "cristianização" haja vista que, a exemplo de Jesus Cristo, ele foi cruelmente "crucificado."


                                    A criação e a implantação do Território Federal do Amapá aconteceram em plena vigência do “Estado Novo”, que Getúlio Vargas havia instituído no dia 10 de outubro de 1937. Em decorrência do golpe deixaram de funcionar o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. A partir de então, o presidente da República dos Estados Unidos do Brasil passou a legislar por decretos-lei e os Territórios estavam subordinados ao Ministério da Justiça e Negócios do Interior. Getúlio Vargas dirigia a Nação com mão de ferro desde 1930, mas vivia prometendo que a democracia não tardaria a despontar. Tinha o mérito de confiar nos seus subordinados, assessores e aliados. Era implacável com os correligionários infiéis e adversários ofensivos. Porém, por várias vezes foi capaz de perdoar seus opositores em virtude de atenuantes plenamente justificáveis. O exemplo mais patente deste modo de agir de Getúlio Vargas é o Coronel Janary Gentil Nunes, que ostentava a patente de Capitão quando o “velinho” o nomeou para governar o Território Federal do Amapá. Janary Nunes sempre foi um militar disciplinado, que seguiu rigorosamente as instruções recebidas do chefe da Nação. Acompanhou com vivo interesse todos os passos que conduziriam o Brasil à Democracia em 1945. No dia 18 de março do referido ano, Getúlio baixou um decreto anistiando os presos políticos. A 28 de maio  editou o decreto-lei nº. 7.586, aprovando o Código Eleitoral com 146 artigos. O novo código instituiu o sistema eleitoral de sufrágio universal, o voto obrigatório e criou a Justiça Eleitoral com Tribunais Regionais nos Estados e o Tribunal Superior Eleitoral na cidade do Rio de Janeiro, então sede do governo central. Nos Estados, os eleitores escolheriam o Presidente, os Senadores e os Deputados. Nos Territórios Federais só haveria eleições para Presidente da República. O alistamento começaria dia 1º de julho de 1945 e as mulheres que trabalhavam fora do lar teriam de se alistar. Janary Nunes lançou as bases de pré-alfabetização de adultos no dia 23 de junho para atender duas exigências legais; só poderia ser eleitor o cidadão alfabetizado e analfabeto não ingressaria no serviço público. Os dois primeiros eleitores qualificados no Território do Amapá foram: Henedino Duarte da Silva e José Maria Osório Santos, ambos da Coletoria Federal de Macapá.
Botom de Cristiano Machado largamente difundido no Território Federal do Amapá em 1950. O uso deste botom pelo estudante Raimundo Maia Barreto, aluno do Grupo Escolar Alexandre Vaz Tavares, em sala de aula, lhe valeu o apelido pelo qual é conhecido: Cristiano.

                                     O Código Eleitoral dizia que era da exclusiva competência das Comissões Executivas dos Partidos escolherem candidatos. Como os partidos políticos ficaram muito tempo na clandestinidade, era imprescindível reorganizá-los. No dia 14 de julho de 1945, foi instalado o Partido Social Democrático-PSD, com solenidade realizada às 20 horas no Cine Teatro Territorial. Os Diretórios Municipais de Macapá, Amapá, Mazagão e Territorial deram posse a seus membros e imediatamente iniciaram suas campanhas para filiação de eleitores. Referindo-se a importância do acontecimento, o advogado e jornalista Paulo Eleutério Filho disse: “Não são os regimes políticos que modificam a estrutura das nações, mas sim o caráter dos homens que as dirigem. Nos partidos políticos dá-se a mesma coisa”. O brilhante orador também fez apreciações a respeito da fidelidade partidária, porque não se admite que alguém queira impor suas pretensões em detrimento de uma filosofia que é o apanágio dos membros de um partido. O governador Janary Nunes ratificou as palavras de Paulo Eleutério e lembrou que um homem honrado deve primar pela retidão. Dia 29 de outubro de 1945, pressionado pelos militares, Getúlio Vargas renunciou o cargo de presidente. Como não havia vice-presidente, José Linhares, Presidente do Superior Tribunal Federal passou a dirigir o país. Não fez mudanças radicais nos Estados e recusou o pedido de exoneração do governador do Amapá e referendou a permanência dos gestores dos territórios do Acre, Guaporé, Rio Branco, Ponta Porá, Iguaçu e Fernando de Noronha. As eleições estavam às portas e o Partido Social Democrático-PSD, através de sua Comissão Executiva Nacional, em sessão extraordinária, homologou a candidatura do General Eurico Gaspar Dutra para o cargo de presidente da República. Janary Nunes desdobrou-se para assegurar a vitória do candidato de seu partido no Amapá e conseguiu ser bem sucedido As eleições estavam marcadas para o dia 2 de dezembro e assim aconteceu. Dutra venceu obtendo 2.252 votos. O Brigadeiro Eduardo Gomes (União Democrática Nacional-UDN) conseguiu 83 votos e Yedo Fiúza (Partido Comunista Brasileiro-PCB) ficou com 64 votos.
Os três candidatos ao cargo de presidente da República do Brasil em 1950:: Getúlio Dorneles Vargas(PTB/PSD), Brigadeiro Eduardo Gomes(UDN) e Cristiano Machado(PSD)

                                  Foi nas eleições de 1950, que se evidenciou a fidelidade partidária de Janary Nunes. O Partido Social Democrático lançou a candidatura de Cristiano Machado à presidência do Brasil, considerada pelos analistas políticos do país como inoportuna e insensata. O mineiro Cristiano Machado não era um político sobejamente conhecido e iria enfrentar Getúlio Vargas (Partido Trabalhista Brasileiro) e Eduardo Gomes (União Democrática Nacional), reconhecidamente mais fortes. Só poderia superar João Mangabeira (Partido Socialista Brasileiro). Ao sentirem que Cristiano Machado não teria a mínima chance de sair vitorioso, os principais líderes do PSD aderiram à candidatura de Vargas. Esta atitude recebeu a denominação de “cristianização”, alusão ao que ocorreu com Jesus Cristo e seu calvário. Janary Nunes tinha consciência de que seria exonerado assim que se configurasse a vitória de Getúlio Vargas, mas decidiu ser fiel a seu partido e ao então presidente da República, General Eurico Dutra. A atitude de Janary Nunes não seria uma traição de Getúlio?Afinal de contas, foi o velinho que o nomeou para governar o Amapá, em 1943. Ocorre que  Janary Nunes levou ao conhecimento de Getúlio sua tomada de decisão e o “Velinho” disse que ele ficasse tranqüilo para agir conforme ditasse sua consciência.Janary continuou obediente e desprendido no cumprimento de sua missão.Trabalhou incansavelmente pela vitória de Cristiano Machado, pelo menos no Amapá. A chapa constituída por Getúlio Vargas e João Café Filho venceu a nível nacional com 3.849.040 votos, contra 2.343.384 votos de Eduardo Gomes/Odilon Braga e 1.697.193 votos de Cristiano Machado/ Altino Arantes. Mas, no Amapá, Cristiano Machado obteve 4.154 votos, enquanto Getúlio não passou de 787 votos, isto é, quase seis vezes menos o quantitativo de votos dados a Cristiano.
O Dr. Getúlio Dorneles Vargas com a faixa de Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. Candidato do PTB foi apoiado pelo PSD, ainda que o partido tenha concorrido as eleições de 3/10/1/50, tendo como candidato Cristiano Machado. Ele reconheceu a fidelidade de Janary Nunes ao PSD e o manteve como governador do T.F. do Amapá.

                                   Todos julgavam que Janary Nunes perderia o cargo de governador, o que não aconteceu. Mesmo antes de Getúlio Vargas tomar posse, o governador Janary Nunes encaminhou-lhe seu pedido de exoneração, o qual Getúlio Vargas rejeitou, pois conhecia a potencialidade de trabalho e de liderança do antigo assessor. Sabia também que o Partido Trabalhista Brasileiro do Amapá ainda não dispunha de alguém acostumado aos problemas de gestão de um território federal. Para não desagradar os membros do PTB, Getúlio decidiu formar um governo de coalizão. Reuniu com Janary Nunes e líderes do partido vitorioso, deliberando pela nomeação do presidente do PTB, Claudomiro Morais para o cargo de Prefeito de Macapá, cuja posse aconteceu a 19 de março de 1951, dia de São José. Getúlio Vargas justificou a permanência de Janary Nunes dizendo: “Um homem que é fiel a seu partido, mesmo diante da evidência de derrota numa eleição, será sempre fiel a quem o valorize”.
Em 1945,o Governador do Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes ainda ostentava a patente de Capitão do Exército Brasileiro. Fiel aos princípios éticos e democráticos não abandonou o candidato de seu partido político, o PSD. Observe no fundo da foto a figura de uma valorosa mulher amapaense, a Professora Raimunda Mendes Coutinho(Guita).