quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VIGIA,VIGILENGA,GURIJUBA, TURU E PACAMÃO


            
        Por  Nilson Montoril

Gurijuba que justifica o nome: guri=bagre e juba=amarelo. O exemplar que o cidadão apresenta é costumeiramente pescado na costa do Estado do Amapá. A cidade de Calçoene desponta como um importante entreposto pesqueiro, mas a produção é destinada a mercados de outros estados brasileiro. Ainda é bem reduzida a quantidade de peixe do mar vendida em Macapá.

              O território da cidade de Vigia de Nazaré era ocupado pelos índios tupinambás quando Francisco Caldeira Castelo Branco chegou ao Pará, em 1616. Os franceses já haviam passado por lá e até mantinham cordiais relações com os gentios. Em face de sua posição estratégica, os colonizadores portugueses estabeleceram ali um posto fiscal para vigiar as terras conquistadas. Com o passar do tempo os jesuítas fixaram residência na povoação e desenvolveram um trabalho vital para fazê-la progredir. Os vigienses, valendo-se do acesso fácil ao oceano Atlântico tornaram-se experientes pescadores. Além da pesca, dedicaram-se a produção da farinha de mandioca, ao beneficiamento do arroz, a fabricação de tijolos, calçados e de foguetes, ao comércio e ao beneficiamento de madeira. Foi na Vigia que teve inicio o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que no último dia 13 de setembro do corrente ano alcançou a marca de 312 romarias. A pesca continua a ser a atividade econômica mais importante do município. Em tempos mais recuados os pescadores utilizavam um tipo de embarcação quase redonda, que tem apenas um mastro, com espaçoso porão coberto por um toldo que serve para transportar mercadorias e principalmente peixes. A tripulação de uma vigilenga é no máximo de quatro embarcadiços denominados vigilengos. A atividade exige muita coragem, notadamente quando a pesca é realizada no oceano. À proporção que as gurijubas iam sendo pescadas, os vigilengos as evisceravam e salgavam. O tempo de permanência no mar era de três ou quatro meses. Passavam por maior perigo os pescadores que vinham realizar a árdua tarefa na costa do Amapá, entre as cidades de Amapá, Calçoene e Oiapoque. 
O pescador exibe orgulhoso a bela Gurijuba que ele conseguiu pescar com anzol e linha.

Atualmente as vigilengas quase não são vistas operando em alto mar, embora algumas delas o façam na Vigia. Predominam os barcos impulsionados por potentes motores e maiores que as vigilengas. Os porões são revestidos com material apropriado para o armazenamento do gelo que conservará em bom estado os peixes capturados. Consequentemente, o período de atividade no mar é menor do que ocorria com as vigilengas. Poucas são as vigilengas que ainda são impulsionadas pela vela e pela bujarrona. Atualmente um bom número delas adaptou motore de centro. A preferência da maioria dos pescadores da Vigia pela gurijuba está no fato de que sua bexiga natatória tem boa cotação no mercado internacional e serve para o preparo de remédios e outros produtos. A bexiga é identificada como grude, palavra oriunda do latim glute, que é uma espécie de cola. Não existe apenas uma espécie de gurijuba. A espécie pescada na costa do Amapá e no litoral paraense é comumente denominada bagre-do-mar, tem carne comestível e se presta para o preparo de ótimas iguarias. Aliás, guri é um vocábulo tupi utilizado para identificar o bagre novo. O sufixo yub ou juba que dizer amarelo. Logo, gurijuba é o nome do bagre amarelo que tanto fascina os vigienses. O bagre novo também pode ser chamado guribu. Se ele for grande aplicam-se os vocábulos guriaçu, guriguaçu ou guariguaçu. O bagre do mar ou bagre amarelo também pode ser denominado gruijuba ou guarijuba.

              Pode não ser correto, mas o povo costuma dizer que a verdadeira gurijuba é o peixe teleósteo, siluriforme, da família dos taquissurídeos de cor azul-pateado e abdome amarelo que mede de 25 a 30 cm de comprimento. Ora, se o vocábulo gurijuba significa bagre amarelo e existe a espécie toda amarela, há de se convir que este peixe seja a verdadeira gurijuba. Pelo menos é o bagre totalmente amarelo que se pesca na costa do Amapá. Há outras duas variedades de gurijuba que recebem o nome de bagre bandeira. Elas têm coloração azulada-metálica, com laivos esverdeados, flancos prateados, abdome branco-amarelado, medem até 50 cm de comprimento e pesam até quatro quilos. Possuem nadadeiras e barbilhões que ultrapassam o tamanho da cauda. Existem ainda outras variedades de peixes identificadas como gurijuba, pescada no rio Guajará-Mirim, que banha a cidade da Vigia, nos demais rios da região fisiográfica do salgado e na costa do Pará: o cangatá e o bagre-sapo. O cangatá tem coloração cinza-prateada uniforme, e também é conhecido popularmente como “cabeça-dura-focinho de rato”, “cabeça-dura-prego”, cangangoá, canganguá, cangoá e roncador. Por sinal que roncar muito é uma coisa que a gurijuba faz ao ser capturada. A cabeça da gurijuba, seja ela de qualquer espécie, tem fama de afrodisíaca. O bagre-sapo tem uma aparência que causa repulsa em algumas pessoas devido ao fato do mesmo ter cabeça chata, larga e abdome desenvolvido. Visto em seu habitat natural parece com um sapo cururu. É um peixe de pele do gênero Zungaro Bleek, distribuído em todo o Brasil. Sua coloração vai do pardo-escuro ao negro com manchas escuras dispersas pelo corpo. No Nordeste, principalmente no rio São Francisco o peixe-sapo recebe a designação de pacamô. Na Amazônia, o bagre-sapo recebe diversos nomes: pacamão, brecambucu, brecumbucu, manguriú, manguruiu, piacurura e piracururu. Esta última designação, decorrente do tupi que dizer peixe-sapo. O pacamão vive no fundo, come toda espécie de substância e pode chegar aos 32 cm de comprimento.
Este peixe que a fotografia mostra é o famoso pacamon ou pacamão, mais conhecido como peixe sapo devido a sua estranha aparência. Sua carne é muito apreciada, principalmente quando gera uma suculenta caldeirada.

              O cidadão comum da Vigia e das demais localidades da zona do salgado, no Estado do Pará, jura por todos os santos que o melhor remédio contra o desânimo é um suculento caldo feito com a cabeça da gurijuba. A iguaria é indicada principalmente como estimulante sexual. Entretanto, não é qualquer sujeito que pode tomá-la devido o efeito “reverterio”, isto é, o aquecimento pode ocorrer na tomada em vez de se manifestar no cabo de alta tensão. O risco torna-se ainda mais evidente se o caldo tiver sido feito com a cabeça da gurijuba, a carne do pacamão e o turú. Dizem que o turú é o grande vilão da iguaria por tratar-se de um molusco ou verme branco que gosta de viver enfiado em buracos de madeira apodrecida. Para desalojar o turedo, o caboclo usa um pedaço de arame vergado na ponta e enfia-o nos túneos que o molusco cava dos troncos de árvores tombados no mangue. 
A presente fotografia mostra o momento em que o caboclo retira o turu do amago de madeira podre que ele acabou de rachar com o machado. É comum o caboclo comer o turu do jeito que é capturado, sem lavar,sem sal e sem limão.

Em pouco tempo o apanhador de turú terá uma cuia, lata ou paneiro cheio de vermes compridos e brancos. O caboclo que gosta de se exibir engole o turú sem lavá-lo ou pelo menos passar limão e sal. O turú é rico em cálcio e ferro. Quem tem aversão à minhoca e lombriga, mas deseja sentir o sabor adocicado do turú, não pode vê-lo no seu estágio natural. O aspecto chega a ser repugnante, principalmente porque o turú expele uma substância leitosa e gosmenta que usa para lubrificar os buracos abre na madeira podre. Alguns restaurantes já estão servindo caldo e sopa de turú além de turú à milanesa. Dizem que a grande lombriga branca do mangue é o viagra dos pobres.   


Alguns turus expostos sobre uma tábua de cozinha. Está no ponto de ser cortado em pequenas rodelas, temperado e levado ao fogo em panela com bastante água e diversos ingredientes exóticos. Ao cozinhar o turu libera um leite adocidado que faz a iguaria ganhar uma tonalidade branca. é tido como o viagra da turma que não comparece assiduamente.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

UMA FILHA DE CABRALZINHO VISITA O AMAPÁ


            Por  Nilson Montoril

Sra. Altamira Cândida da Veiga Cabral Cacela, terceira filha do Héroi do Amapá Francisco Xavier da Veiga Cabral, tirada em 1984, na cidade de Belém, pelo Jornalista Aluisio Brasil que a doou para meu acervo histórico.

                        No inicio do mês de julho de 1950, o Governador Janary Gentil Nunes formulou convite a Sra. Altamira Cândida da Veiga Cabral Cacela para que ela viesse conhecer Macapá, capital do Território Federal do Amapá e a cidade de Amapá, onde seu pai, Francisco Cabral da Veiga Cabral, o Cabralzinho, liderou a reação dos brasileiros contra a pretensão dos franceses em  se apoderar da região situada entre a margem esquerda do rio Araguary e a margem direita do rio Oiapoque. Altamira Veiga Cabral era a terceira filha do casal Francisco Xavier da Veiga Cabral e Altamira Waldomira Vinagre da Veiga Cabral. Seu avô Pedro Augusto de Oliveira Vinagre descendia do tenente da Guarda Nacional Francisco Pedro Vinagre, o 2º Presidente Cabano do Pará. Altamira Cândida já estava viúva do jurista e homem público do Pará, depurado estadual na década de 1920 e ex-prefeito de Belém na década de 1930, Dr. Alcindo Comba do Amaral Cacela, quando veio ao Amapá. Dentre as três filhas de Cabralzinho foi a que conviveu por mais tempo com o herói do Amapá. Sabia detalhes históricos da refrega entre brasileiros e franceses que o próprio pai lhe contou.  Muitos destes detalhes foram repassados aos estudantes de Belém que a procuravam frequentemente à cata de subsidiuos para a realização de trabalhos escolares. Ela acatou o convite do governo amapaense porque desejava conhecer a antiga vila do Espírito Santo do Rio Amapá Pequeno, local onde seu pai, a 15.05.1895, se notabilizou impedindo que os franceses  fossem bem sucedidos na operação bélica concebida pelas autoridades da Guiana Francesa. A ilustre visitante chegou a Macapá no dia 19 de julho de 1950, viajando em avião do Correio Aéreo Nacional-CAN, sendo festivamente recepcionada pelas autoridades, estudantes e populares.

                        Às 17 horas do mesmo dia, a senhora Alcindo Cacela, participou de uma solenidade realizada no Cine-Teatro Territorial, oportunidade em que entregou ao governador Janary Nunes a farda de General Honorário do Exército Brasileiro que Cabralzinho usava nas solenidades cívicas, espada, cinto e insígnias. Também passou às mãos do governador Janary Nunes uma bandeira brasileira e uma francesa, ambas rasgadas, bandeira do Estado do Pará e do Triunvirato do Território Amapaense. Compareceu à solenidade o senhor Bernardo Batista da Silva, então com 63 anos de idade, mas que, segundo Otávio Meira, autor de “Fronteira Sangrentas”, tinha 8 anos em 1895. Ele residia na vila de Amapá na época do combate entre brasileiros e franceses e recebeu grave ferimento no punho esquerdo, provocado por um tiro desferido pelos invasores. Bernardo Batista da Silva morava em Macapá, mantendo-se na capital do Território Federal do Amapá até o dia 7 de dezembro de 1979, quando faleceu com 99 anos. Até o dia 21 de julho de 1950, a senhora Altamira da Veiga Cabral ficou em Macapá como hóspede do governo territorial, alojada no Macapá Hotel. Dia 21, pela manhã, a ilustre visitante embarcou no avião do Correio ereo Nacional, cedido pela Força Aérea Brasileira e seguiu para o Município de Amapá, desembarcando na pista da Base Aérea. Na cidade de Amapá ela foi saudada pelo Dr. José da Silva Castanheira, Juiz de Direito da Comarca local e pelo Prefeito Vitorino Luna. Algumas pessoas remanescentes do "Exército Defensor do Amapá", que participaram do ato de reação contra os franceses mantiveram demorada conversa com dona Altamira. No dia 22 de julho, a bordo do avião do CAN, Dona Altamira Cabral Cacela foi conhecer a pequena cidade de Oiapoque, na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. No aeroporto da Força Aérea Brasileira ela recebeu homenagens das autoridades e do povo.



Na sede do antigo povoado de Espirito Santo do Rio Oiapoque Antamira Cabral conheceu outro cidadão que lutou ao lado de seu pai: Guilherme da Luz, cidadão colored que então contava 79 anos de vida. Ele estimava ter nascido na Região do Contestado por volta do ano de 1877. Residiu na cidade Oiapoque até falecer com 97 anos. de idade. Quando o avião retornou de Caiene e pousou em Oiapoque, Dona Altamira Cândida da Veiga Cabral Cacela nele embarcou e voltou para Belém.
Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho. Pintura a bico de lápis feita por Aluisio Carvão, um dos irmãos da Sra. Iracema Carvão Nunes, primeira esposa do Governaor Janary Gentil Nunes.Copiada do livro "Informações Sobre a História do Amapá, de autoria do Prof. Estácio Vidal Picanço.

                        Os objetos que a senhora Altamira entregou ao governo do Amapá foram repassados ao Museu Territorial instalado no interior da Fortaleza de São José. A bandeira do Triunvirato correspondia a um retângulo dividido em três faixas horizontais de igual dimensão, nas cores vermelho branco e vermelho. A bandeira francesa é butim de guerra e foi tomada do soldado Etyenne depois que Cabralzinho o feriu com um tiro no rosto.
                               O uniforme de General Honorário foi vestido em um manequim cujo rosto tinha as feições de Cabralzinho. Nele estavam colocadas as insígnias do herói. A espada de Cabralzinho também estava colocada no manequim. A farda que Cabralzinho usava nas solenidades cívicas lhe foi concedida pelo Exército Brasileiro no Rio de Janeiro, dia 11 de junho de 1896.       

                               

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A VERSATILIDADE DOS JEEPS






                     

           Por Nilson Montoril

O modelo da foto é um dos últimos a serem fabricados. Já apresentava recursos e dispositivos que os Jrrps comuns não possuiam, como rodas mais altas, limpador de para-brisa com motor, guincho e para-choque reforçado.


                        Por longo tempo os serviços de mensageiro e de batedor do Exército dos Estados Unidos da América do Norte foram realizados por homens montados a cavalo. As trilhas que os mensageiros e os reconhecedores seguiam eram muito acidentadas e nada recomendadas para charretes e diligências. Posteriormente, estas atividades passaram a ser desenvolvidas por motociclistas. Entretanto, as motos eram do tipo “side car” e tinham limites para transporte de pessoal e material. Interessado em utilizar um veiculo de reconhecimento leve, rápido e capaz de trafegar em qualquer terreno, o Exército norte-americano lançou um desafio a 135 fabricantes de automóveis dos Estados Unidos, expresso em um edital datado de 11 de julho de 1940, nos seguintes termos: a viatura deveria ser fabricada em aço estampado, ter tração nas 4 rodas, capacidade para 3 passageiros, pesar no máximo 600 kg , potência máxima do motor de 40 HP, velocidade máxima de 80 km/h, transportar no mínimo 300 kg e estar adaptada com uma metralhadora de 30 mil. As empresas interessadas deveriam apresentar o protótipo do veiculo 49 dias após o lançamento do edital e entregar 70 viaturas 75 dias após atender a primeira exigência. A empresa American Bantam Car Company foi a primeira a fabricar seu protótipo identificado como MK II, entregando-o ao Exército dos Estados Unidos no dia 23 de setembro de 1940. O pequeno MK II foi submetido a rigorosos testes em mais de 5.000 km de estradas de chão e considerado apto.

O modelo MK II fabricado pela Americam Bantam Car Companhy, apelidado General Purpose é rigorosamente o primeiro veículo que ficou mundialmente conhecido como Jeep. A empresa norte-americana certamente foi preterida por razões ainda não convicentes.

A Willys-Overland Company só apresentou o modelo “Quand” em 11 de novembro de 1940. O modelo da Ford, batizado como Ford GP “Pygmy” foi entregue em 23 de novembro do citado ano. Os modelos da Willys e da Ford eram muito parecidos com o MK II da American Bantam Car Company. Por ser arrojado e capaz de trilhar terrenos ingrimes e lamacentos, satisfazendo assim os interesses dos militares, o MK II foi apelidado de General Purpose, alcunha do personagem Eugene do desenho animado Popeye, que fazia sucesso desde 1936, ano de seu lançamento. O pequeno personagem correspondia a um animal com poder de viajar entre as dimensões e resolver todos os tipos de problemas. General Purpose significa “fim geral” em inglês e no desenho era referenciado como Gee Pee, nome das letras G e P. Entretanto, no seio da população a letra G era pronunciada como se fosse um J. Assim, o veiculo ficou popularizado como Jeepee, evoluindo para Jeep. No quesito motor o modelo da Willys levava grande vantagem porque tinha 60 HP contra 46 HP da Ford e 45 HP da American. O motor Go Devil fabricado pela Willys podia alcançar a velocidade máxima de 118hm/h e percorria até 38 km queimando um galão de gasolina. Para que o modelo da Willys apresentasse rendimento ainda mais satisfatório, seu motor foi totalmente desmontado e as peças avaliadas uma a uma. Como forma de conciliar uma forte animosidade que surgia entre as empresas que fabricaram protótipos, o Exército Norte-Americano encomendou 1.500 veículos a cada companhia, perfazendo o total de 4.500 unidades Quando os Estados Unidos passaram a participar da Segunda Guerra Mundial, a partir de dezembro de 1941, a produção de Jeeps alcançou índices bem elevados. A 23 de julho de 1941, o Corpo de Intendência do Exército concedeu a Willys-Overland Motors o contrato para a fabricação de 16 mil veículos do modelo Willys MA. 

Modelo Willys MB ou Mobel B pode ter sido concebido a partir do modelo MK II.  A Willys-Overland só entregou seu protótipo ao Exército dos Estados Unidos depois que a American Bantam o fez rigirosamente dentro do prazo exigido.

Este modelo sofreu alterações dando origem ao modelo Willys MB (Mobel B) com a forma com que ficou conhecido no mundo. O carro da Willys ganhou a preferência dos militares, tanto que, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, mais de 660 mil unidade do modelo Willys MB Track ¼, 4/4 foram utilizadas nas operações de campanha bélica. Ainda no fluxo de 1941, o modelo MB ganhou grades dianteiras em aço soldado, igual a uma grelha e ficou conhecido popularmente como “Slatt Grill”. Estima-se que ainda rodem pelo mundo cerca de 200 veículos.

Modelo MB da Willys Overland que foi fabricado em série por ela e pela Ford.Is Jeeps fabricados pela Ford eram obrigados a ter na lataria as letras GPWs, com o W evidenciando que a viatura decorria de um modelo da Willys. O Jeep foi preparado para enfrentar terrenos hostis, possuindo machado, pá e um holofote sobre o para-lama dianteiro esquerdo.

                        Em outubro de 1941, forçado pela grande procura de Jeeps, o governo americano fez um acordo com a Willys-Overland para que ela entregasse a um segundo fabricante o projeto e as especificações do modelo MB, ficando-lhe assegurado o direito de produzir pelo menos a metade das encomendas. O segundo fabricante em questão era a Ford, que a contar do dia 10 de janeiro de 1942, iniciou a produção de 15 mil GPWs. A letra W que figurava no modelo significava “padrão Willys”. Até dezembro de 1945, a Willys e a Ford fabricaram 640 mil Jeeps. 

Modelo MB fabricado pela própria Willy e que foi exaustivamente utilizado pelos exércitos estadunidense, ingles e brasileiro na II Guerra Mundial e no pós guerra.


Foram Jeeps deste modelo que a Força Expedicionária Brasileira-FEB recebeu como doação do governo dos Estados Unidos. As tropas brasileiras integraram o contingente do V Exército Norte-Americano durante a campanha da Itália. O número total de Jeeps ¼ toneladas foi da ordem de 655, havendo entre eles 9 ambulâncias. Em 1942, a Willys produziu o Jeep mais prestigiado pelos Exércitos dos Estados Unidos e Inglês, o MB42, considerado o modelo mais clássico.
Jeeps doados pelo Exército Norte-Americano à Força Espedicionária Brasileira por ocasião da II Guerra Mundial. O valente Jeep MB transportava até cinco pessoas.


Após o encerramento do grande conflito, as viaturas que se apresentavam em perfeita condição de uso foram trazidas para o Brasil. Em 1950, a Willys registro a marca Jeep, mantendo-a até 1953, quando a vendeu para Henry J. Kaiser Motors. A Kaiser Motors introduziu no mercado automobilístico os modelos CJ 5  e CJ 6, que foram fabricados até o ano de 1986. Atualmente a marca Jeep pertence à Daimler-Chrysler depois de ter passado pelo controle acionário da American Motors Corporation e da Chrysler.

                        A WILLYS-OVERLAND DO BRASIL

                        A Willys-Overland do Brasil foi fundada em 26 de agosto de 1952, na cidade paulista de São Bernardo do Campo. Em 1954, a empresa deu origem a produção de veículos com o nome de Jeeps Universal, correspondendo ao Jeep Willys modelo CJ 5, montados com peças trazidas dos Estados Unidos. Do ano de 1957 até 1959, quase todas as partes do veiculo foram fabricadas no Brasil. A partir de 1959, até o motor já era de fabricação brasileira. Em outubro de 1967, a Ford do Brasil assumiu o controle acionário da Willys-Overland do Brasil, herdando as marcas Jeep, Rural Willys, Pick-Up Willys, Aero-Willys, Itamaraty, Gordini e Interlagos. Em 1970, a Ford deixou de fabricar o Jeep e o Aero-Willys. Em 1986, quando a marca Jeep se encontrava sob controle da Kaiser Motors, a linha CJ foi substituída pela linha Jeep Wrangler. Coube a Daimler-Chrysler, em 2002, trazer de volta a marca overland, utilizada no Jeep Grand Cherokee.
O mODELO CJ 5 foi o último a ser fabricado peal Ford do Brasil depois de ter assumido o controle acionário da Willys Overland do Brasil.


                        A IMPORTÂNCIA DOS JEEPS NO DESENVOLVIMENMTO DO AMAPÁ

                        Os Jeeps modelo CJ 5 foram os que mais circularam nas terras do Território Federal do Amapá. Sem ter suas ruas asfaltadas ou calçadas, a cidade de Macapá apresentava aspectos desoladores durante o período invernoso. Em algumas delas até os veículos automotores acabavam ficando atolados na lama. Os primeiros registros oficiais relativos a existência de Jeeps em Macapá datam do ano de 1960, ocasião em que o governo amapaense comprou as primeiras unidades. Até o ano de 1957, o preço de um Jeep era elevado, visto que sua montagem no Brasil ainda dependia da impostação de peças fabricadas nos Estados Unidos. Em 1960, o governo territorial adquiriu dois Jeeps destinados ao Posto Agro-Pecuário de Macapá, na Fazendinha e à Olaria Territorial. 
Em 1964, por ocasião da abertura dos jogos estudantis, o então Professor Antônio Cordeiro Pontes, Diretor da Escola Industrial de Macapá, dirigiu um Jeep da Divisão de Educação abrindo o desfile. A bela jovem com trajes gregos, Nilza Pontes, sua parenta, carregava a tocha olimpica. Dois alunos da EIM estavam a seu lado. O desfile aconteceu na Avenida Iracema Carvão Nunes, entre as duas alas da Praça Barão do Rio Branco.

Em 1961, foi comprado um Jeep para a Seção de Produção Animal. Em 1963, o governo territorial possuía 10 Jeeps Willys-Overland: 1 na Secretaria Geral, 2 na Divisão de Produção, 2 na Divisão de Obras, 1 na Divisão de Terras e Colonização, 3 recolhidos a Garagem Territorial aguardando reparos e 1 Jeep recém comprado aguardando destinação. Além deles, havia um Jipão Internacional. Nos anos posteriores a quantidade de Jeeps pouco aumentou. Alguns veículos novos foram comprados para substituir os que não tinham condições de tráfego.
Em pé no Jeep da Secretaria Geral, o Governador Jorge Nova da Costa abre o desfile estudantil de 13 de setembro de 1987, na Av. Fab.

Estes veículos eram mantidos na garagem para aproveitamento de peças. Em 1967, na gestão do General Ivanhoé Gonçalves Martins foi comprado o primeiro Jeep da marca Toyota para uso do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Em 1968, outro Jeep Toyota foi adquirido para a Olaria Territorial. Em 1969, a frota de Jeeps compreendia 25 viaturas da marca Willys e 2 da marca Toyota. Neste ano foram compradas cinco unidades assim destinadas; Residência Governamental, Divisão de Educação, Divisão de Saúde, Serviço de Administração Geral e Serviço de Municipalidade. Antes da fabricação do Jeep Willys no Brasil, o veiculo tinha que ser importado dos Estados Unidos. No Amapá rodaram alguns desses importados, todos pertencentes ao governo. Os Jeeps que se destinavam à Divisão de Obras, Divisão de Produção, Superintendência de Abastecimento do Território Federal do Amapá-SATFA, e DNER tinham guincho elétrico na parte dianteira e guincho mecânico na parte traseira. 
Em primerio plano a fotografia mostra o Governador Ivanhoé Gonçalves Martins(de preto) tendo à direta Clodoaldo Carvalho do Nascimento(Diretor de Terras e Colonização) e Odair da Fonseca Benjamim(Diretor da Escola D. Pedro I) e à esquerda Geraldo Leite de Moraes(Diretor da Educação), Roque de Souza Penafort(Prefeito de Mazagão) e o engenheiro Joaquim Vilhena Neto(Diretor de Obras). Observe o Jeep que os conduziu a Mazagão atrás das autoridades que foram inauguras seis casas do IPASE destinadas a funcionários.

Devido ao fato de viajarem frequentemente pelo interior do território, trafegando por estradas esburacadas e lamacentas, precisavam do cabo enrolado nos guinchos, com um gancho da ponta, para rebocar ou ser rebocado ou ainda ser içado caso caísse em uma depressão do terreno ou içar veículos que estivessem em situação semelhante. Por ocasião da abertura do trecho da BR-15, atual BR- 156, entre a Base Aérea de Amapá e Calçoene, o único veículo leve capaz de andar pelo campo encharcado da região era o Jeep Willys CJ 5 utilizado pelo empresário Walter do Carmo. Para vencer um lodaçal existente numa área de campo, onde sequer havia árvores que servissem de ponto de apoio para a atracação do cabo do guincho dianteiro, os operários da estrada de rodagem cortaram centenas de varas, distribuindo-as paralelamente pelo trecho a ser percorrido. O próprio empresário Walter do Carmo dirigiu o veiculo com o sistema de tração das quatro rodas devidamente acionado. Os moradores de Calçoene comemoraram bastante quando o Jeep adentrou na vila. Eles passaram a ter certeza de que finalmente iriam sair do isolamento terrestre, fato concretizado pouco tempo depois. O ex-vereador Juvenal Canto, que ao ingressar no quadro de pessoal do governo do Território Federal do Amapá foi designado para dirigir um Jeep do Serviço de Geografia e Estatística, conta o drama que viveu porque, acostumado a dirigir motor de popa, não sabia engatar a marcha à ré da viatura. Por esta razão ele sempre parava o Jeep em parte inclinada da lateral da rua. Quando queria sair bastava desengatar o freio de mão. Agiu assim até o dia em que o diretor do órgão descobriu sua peripécia. Acabou sendo transferido para o Serviço de Navegação. O Jeep sempre foi destaque nos desfiles cívicos e militares. Governadores e Oficiais das Forças Armadas abriam os desfiles em pé dentro do veículo. Em Macapá o procedimento não foi diferente. Porém, o General Ivanhoé Gonçalves Martins preferia cumprir o ritual caminhando na pista do desfile. Enquanto os contingentes estivessem desfilando ele se mantinha em posição de sentido na frente do palanque. Foi no governo dele (1967 a 1972) que os desfiles da Semana da Pátria e da Semana do Território passaram a ser realizados na Avenida FAB. Até 1966, os desfiles ocorreram no trecho da Avenida Iracema Carvão Nunes, entre as duas alas da Praça Barão do Rio Branco. 
Jeep de campanha que a Força Expedicionária Brasileira recebeu dos norte-americanos na Itália por ocasião da II Guerra Mundial. Foi usado em campanhas de reconhecimento e trazido para o Brasil após o conflito.


Um fato muito interessante aconteceu no trecho mais baixo da Rua Cândido Mendes, entre as atuais Avenidas Matheus de Azevedo Coutinho e a Nações Unidas. O perímetro estava sendo aterrado e antes disso só as lambretas e vespas trafegavam por lá. Um sujeito que encheu a cara de cana na Doca da Fortaleza voltava para casa quando duas lambretas passaram por ele tirando um fino danado. O bêbado xingou as genitoras do lambretistas e continuou caminhando. Ao perceber que dois faróis vinham em sua direção estancou no meio da rua julgando que fossem as lambretas retornando para o centro da cidade. Para azar seu, o veículo era um Jeep da Divisão de Obras que fiscalizava o serviço de abertura de valas para assentamento de tubos e expansão de distribuição de água. Para felicidade do motorista a abalroada não causou grandes danos ao “pau-de-cana”. Viveu muito tempo em Macapá um comerciante cujo estabelecimento tinha o titulo de “Bazar Bandeirante”. Ele possuía um Jeep que tinha luzes coloridas por todas as partes do veículo. À noite, era muito fácil identificar o Jeep do Bandeirante que mais parecia uma árvore de natal ambulante. Quando alguém caprichava na indumentária, o povo dizia que o sujeito estava mais enfeitado do que o jeep do Bandeirante. Em 1961, quando exercia o cargo de governador do Amapá, o pernambucano José Francisco de Moura Cavalcante, cognominado de “Zé Bonitinho”, julgou que tinha poderes para se intrometer nos negócios da Indústria e Comércio de Minérios S.A. Numa manhã de sábado Moura Cavalcante usou o Jeep da residência governamental para ir ao porto de Santana verificar se era verdade que a balança usada pela ICOMI para pesar o minério de manganês exportado estava avariada. Ao chegar ao portão da ICOMI encontrou a entrada bloqueada por uma grossa corrente de ferro. Os vigilantes da empresa indagaram o que ele pretendia e o informaram que o ingresso na área da companhia só ocorreria após a identificação do condutor do veículo e a autorização de estâncias superiores. Sentindo-se ofendido, o governador engatou a marcha ré do veículo e investiu contra a corrente, arrebentando-a e danificando a frente da viatura. Foi detido pela vigilância até a chegada do funcionário que exercia as atividades de relações públicas da ICOMI ao local do entrevero. Convencido de sua atitude não se coadunava com a natureza do cargo que exercia, Moura Cavalcante retornou a Macapá jurando que tudo faria para provar que a ICOMI estava sonegando imposto sobre minério. A atitude desrespeitosa do governador lhe valeu uma admoestação do senhor Jânio da Silva Quadros, Presidente do Brasil. Pequeno e ágil, o jeep foi usado no Amapá para trafegar nos trechos mais inóspitos da BR 156. 


Às vezes, com carga excessiva, a robusta viatura ligou o interior à capital ajudando a resolver inúmeros problemas. Ainda na fase do Amapá como Território Federal, o engenheiro Azarias Neto, prefeito nomeado do Município de Oiapoque, resolveu colocar um motor de caçamba na parte traseira do Jeep da PMO e transportá-lo para Macapá. A viagem transcorreu normalmente até que o Jeep alcançou um trecho íngreme. Ao tentar vencer o acentuado aclive o Jeep rebolou ladeira a baixo ceifando a vida do prefeito. O Jeep Willys passou a ser vendido em Macapá pela firma Irmão Zagury & Companhia Ltda., capitaneada por Moisés Zagury e Jaime Isaac Zagury, depois que a Ford do Brasil comprou a Willys-Overland do Brasil.  




quarta-feira, 7 de setembro de 2011

HEITOR DE AZEVEDO PICANÇO, O "GALINHO BRANCO"





                            
         Por Nilson Montoril

Procissão de São José, dia 19 de março de 1959. Da esquerda para a direita vemos: Secretário Geral do Governo do Territorio do Amapá, Dr. João Telles e sua esposa Terezita Telles; Maria Emilia Andrade Nunes e seu esposo, o Governador Pauxy Gentil Nunes; Heitor de Azevedo Picanço, que ocupava o cargo de Prefeito Municipal de Macapá.

                        Em 1808, ano em que se realizou um recenseamento na então vila de Macapá, foi constatada a presença de três habitantes com o sobrenome Picanço. Manoel Joaquim Picanço, Antônio José Picanço e Florentino José Picanço. Manoel Joaquim Picanço era natural da Ilha Graciosa, uma das ilhas que integram o arquipélago dos Açores. Era Cabo de Esquadra Miliciano, branco, viúvo, idade de 57 anos. Tinha um filho chamado José Antônio Picanço, de 20 anos de idade que gerenciava os negócios da fazenda de seu pai. Antônio José Picanço também tinha vindo da Ilha Graciosa, era Alferes da Milícia da Fortaleza de Macapá e possuía uma propriedade agrícola que era dirigida pelo filho Manoel Antônio Picanço de 20 anos de idade. Os dois empreendimentos agrícolas produziam algodão, milho, arroz, feijão e mandioca. Florentino José Picanço era lavrador, tinha 23 anos, era casado e tinha uma filha de 9 meses chamada Joaquina Rosa do Espírito Santo. A exemplo dos outros agricultores locais ele se dedicava à lavra de algodão, milho, arroz, feijão e maniva. O nome de sua mulher não é citado no documento que se reporta ao censo porque à época apenas o homem, tido como cabeça de família, podia representar o casal. A mulher só era mencionada como chefe de família quando fosse viúva. Durante a Cabanagem, movimento revolucionário popular ocorrido no Pará entre os anos de 1935 a 1940, um cidadão denominado Estácio José Picanço ocupava o importante cargo de promotor público e presidia o Senado da Câmara. Integrou a comissão encarregada de elaborar a defesa do município de Macapá contra os cabanos. Depois da Cabanagem, despontou no seio dos aquartelados da Fortaleza São José de Macapá, o cidadão Leonardo José Picanço, português, branco, casado e dono de um empreendimento agrícola na região do Rio Araperu ou Rio Pedreira. Em 1869, em plena vigência do Segundo Império do Brasil, Leonardo Picanço ostentava a patente de Capitão da Guarda Nacional. No dia 20 de novembro de referido ano, o Imperador Pedro II, através de Carta Patente, conferiu-lhe o posto de Tenente Coronel Chefe do Estado Maior do Comando Superior da Guarda Nacional dos Municípios de Macapá e Mazagão, da Província do Grão-Pará. A Carta Patente conferia ao Tenente Coronel Leonardo José Picanço todas as honras, privilégios, liberdades, isenções e franquias próprias dos oficiais do Exército Brasileiro.
Congresso das Federações de Desportos da Região Norte do Brasil, realizado em Macapá, no salão de recreios da Piscina Territorial. Heitor Picanço, então presidente do Esporte Clube Macapá está entre o Prof. Mário Quirino da Silva e João Havelange, cuja candidatura Pauxy Nunes lançou para presidir a Confederação Brasileira de Desportos. Quem está em pé, discursando, é o Tenente José Alves Pessoa. Pauxy Nunes está de costa, sendo o primeiro dos que fazem parte da mesa, ao lado de Raimundinho Araújo. De terno escuro, presidindo a solenidade, vemos o Governador Janary Gentil Nunes.

                        Um dos filhos do Tenente Coronel Leonardo Picanço, batizado na Igreja de São José com o nome de João Batista Picanço, casou com Severina de Azevedo Picanço e entre outros rebentos gerou João Batista de Azevedo Picanço, nascido a 12 de janeiro de 1897. João Batista casou com Francisca Claudina Picanço e com ela teve os filhos: Heitor, Naíde, os gêmeos José e Ubiracy, Ana (Noquinha) e Manoel. O personagem deste artigo é Heitor de Azevedo Picanço, que faleceu no dia 29 de agosto de 2011, com 87 anos de idade. Ele era o primogênito do casal João Batista e Claudina Picanço e nasceu no dia 6 de janeiro de 1924, na localidade São Sebastião do Rio Pedreira, que pertencera ao Tenente Coronel Leonardo Picanço. Heitor freqüentou a Escola Primária de Macapá até concluir a 3ª série, a última que o citado estabelecimento ministrava. Para dar seqüência aos estudos foi mandado para Belém, onde concluiu o curso primário, submeteu-se ao exame de admissão ao ginásio e iniciou este curso no Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo. Em 1942, retornou a Macapá e foi nomeado pelo Prefeito Eliezer Levy para ocupar o cargo de Auxiliar de Tesouraria da comuna macapaense, cujo titular era seu pai, então sobejamente conhecido na cidade como tio Joãozinho Picanço. A partir de 1947, ano em que foi criado o Ginásio Amapaense, Heitor Picanço lecionou História no mencionado educandário, mantendo sua ocupação de auxiliar de tesouraria na Prefeitura Municipal de Macapá. Diplomou-se Técnico em Contabilidade na Escola de Comércio do Amapá-ETCA, onde passou a lecionar as disciplinas Análise de Balanço e Contabilidade Pública. Exerceu o cargo de Prefeito Municipal de Macapá pela primeira vez no período de 22/8/1951 a 26/11/1952. Voltou a dirigir a comuna entre 22/2/1957 e 16/4/1961. Trabalhou com os governadores Janary Nunes, Amílcar Pereira e Pauxy Nunes. Neste segundo período como gestor municipal começaram a ser implantados os bairros Buritizal, CEA, Jacareacanga, Pacoval e Igarapé das Mulheres. Também tiveram inicio os trabalhos de asfaltamento das primeiras ruas de Macapá. Devotado aos esportes, Heitor Picanço e seu pai Joãozinho abrigaram na casa da família, por alguns anos, a Federação de Desportos do Amapá. Ele presidiu o Esporte Clube Macapá, o São José e participou da fundação da Academia Amapaense de Letras. Foi rotariano, carnavalesco, desportista, secretário da Justiça Eleitoral, prefeito protempore de Santana, assessor parlamentar, conselheiro da CEA, diretor da CAESA e chefe de gabinete da Saúde Quando Heitor Picanço atuou como secretário da Justiça Eleitoral ficou famosa a dobradinha que ele fazia com o Juiz de Direito Clemanceau Pedrosa Maia por ocasião da apuração dos votos. Naquele tempo, antes da urna ser aberta, o juiz solicitava que o secretário fizesse a leitura da ata da seção eleitoral correspondente. O juiz falava rápido e atrapalhava as palavras. O Heitor não tinha a menor pressa na leitura do texto da ata. É claro que a apuração se tornava morosa e levava dias para a conclusão dos trabalhos. A legislação em vigor estabelecia tal procedimento e toda cautela era necessária para evitar acidentes de percurso. 
João Batista de Azevedo Picanço, o Tio Joãozinho, macapaense de grande prestigio que exerceu o cargo de Tesoureiro da Prefeitura de Macapá e do Governo do Território Federal do Amapá. Era o pai de Heitor de Azevedo Picanço

                        Por ser muito atencioso com as mulheres, Heitor Picanço foi rotulado pelas línguas ferinas de Macapá como um incorrigível paquerador. Ele não admitia isto, embora muitas das “parentas” o chamassem de “Galinho Branco”. Tentei arrancar-lhe uma confissão sobre tal fama, mas ele alegava que o titulo decorresse do fato de ele ser muito irrequieto e disposto a brigar com as pessoas que lhe faltassem com o respeito. Casou com Helenita Gomes de Souza no dia 13 de maio de 1948, e com ela teve os filhos: Heleni, João Batista, Heitor, Heiliana, Roberval, Herbert, Francisca, Helder e Hildemar. No paralelo, com a prima Otacília Picanço, gerou o Herivelto. As más línguas suspeitam que ainda haja rebentos que faltam ser catalogados. Heitor Picanço desempenhou importante trabalho político no Amapá. Começou sua militância no Partido Social Democrático, o famoso PSD. Posteriormente transitou pela Aliança Renovadora Nacional-ARENA, pelo Partido da Frente Liberal-PFL e pelo Partido Democrático Social-PDS. Angariou nesta militância um forte prestigio político capaz de ajudar bastante na eleição dos filhos Roberval (deputado estadual) e Hildemar, o Badú, como deputado federal.  Um dos maiores prazeres de Heitor Picanço era passar momentos de deleite no Retiro Santana do Paricá, à margem esquerda do Rio Matapi. A área do retiro é ampla e já foi utilizada para a criação de gado bovino. Seu Heitor gostava de jogar dominó, saborear uma cerveja bem gelada e prosear com os familiares e amigos. Picanço é nome que deriva do latim “picus” aplicado vulgarmente ao pica-pau ou peto, e a mais algumas aves trepadores que vivem nas árvores catando larvas e insetos.

Por ocasião de um encontro entre os ex-prefeitos de Macapá foi batida  esta foto onde vemos: Wldez Góes, Heitor Picanço,Helena Guerra, João Henrique, Alfredo Oliveira,Annibal Barcelos,  Marilia Góes, Murilo Pinheiro e Azevedo Costa. Heitor Picanço aparece ao lado do então governador do Amapá, Waldez Góes e o peso da idade se fazia sentir.