Por Nilson Montoril
Em 1808, ano em que se realizou um recenseamento na então vila de Macapá, foi constatada a presença de três habitantes com o sobrenome Picanço. Manoel Joaquim Picanço, Antônio José Picanço e Florentino José Picanço. Manoel Joaquim Picanço era natural da Ilha Graciosa, uma das ilhas que integram o arquipélago dos Açores. Era Cabo de Esquadra Miliciano, branco, viúvo, idade de 57 anos. Tinha um filho chamado José Antônio Picanço, de 20 anos de idade que gerenciava os negócios da fazenda de seu pai. Antônio José Picanço também tinha vindo da Ilha Graciosa, era Alferes da Milícia da Fortaleza de Macapá e possuía uma propriedade agrícola que era dirigida pelo filho Manoel Antônio Picanço de 20 anos de idade. Os dois empreendimentos agrícolas produziam algodão, milho, arroz, feijão e mandioca. Florentino José Picanço era lavrador, tinha 23 anos, era casado e tinha uma filha de 9 meses chamada Joaquina Rosa do Espírito Santo. A exemplo dos outros agricultores locais ele se dedicava à lavra de algodão, milho, arroz, feijão e maniva. O nome de sua mulher não é citado no documento que se reporta ao censo porque à época apenas o homem, tido como cabeça de família, podia representar o casal. A mulher só era mencionada como chefe de família quando fosse viúva. Durante a Cabanagem, movimento revolucionário popular ocorrido no Pará entre os anos de 1935 a 1940, um cidadão denominado Estácio José Picanço ocupava o importante cargo de promotor público e presidia o Senado da Câmara. Integrou a comissão encarregada de elaborar a defesa do município de Macapá contra os cabanos. Depois da Cabanagem, despontou no seio dos aquartelados da Fortaleza São José de Macapá, o cidadão Leonardo José Picanço, português, branco, casado e dono de um empreendimento agrícola na região do Rio Araperu ou Rio Pedreira. Em 1869, em plena vigência do Segundo Império do Brasil, Leonardo Picanço ostentava a patente de Capitão da Guarda Nacional. No dia 20 de novembro de referido ano, o Imperador Pedro II, através de Carta Patente, conferiu-lhe o posto de Tenente Coronel Chefe do Estado Maior do Comando Superior da Guarda Nacional dos Municípios de Macapá e Mazagão, da Província do Grão-Pará. A Carta Patente conferia ao Tenente Coronel Leonardo José Picanço todas as honras, privilégios, liberdades, isenções e franquias próprias dos oficiais do Exército Brasileiro.
Um dos filhos do Tenente Coronel Leonardo Picanço, batizado na Igreja de São José com o nome de João Batista Picanço, casou com Severina de Azevedo Picanço e entre outros rebentos gerou João Batista de Azevedo Picanço, nascido a 12 de janeiro de 1897. João Batista casou com Francisca Claudina Picanço e com ela teve os filhos: Heitor, Naíde, os gêmeos José e Ubiracy, Ana (Noquinha) e Manoel. O personagem deste artigo é Heitor de Azevedo Picanço, que faleceu no dia 29 de agosto de 2011, com 87 anos de idade. Ele era o primogênito do casal João Batista e Claudina Picanço e nasceu no dia 6 de janeiro de 1924, na localidade São Sebastião do Rio Pedreira, que pertencera ao Tenente Coronel Leonardo Picanço. Heitor freqüentou a Escola Primária de Macapá até concluir a 3ª série, a última que o citado estabelecimento ministrava. Para dar seqüência aos estudos foi mandado para Belém, onde concluiu o curso primário, submeteu-se ao exame de admissão ao ginásio e iniciou este curso no Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo. Em 1942, retornou a Macapá e foi nomeado pelo Prefeito Eliezer Levy para ocupar o cargo de Auxiliar de Tesouraria da comuna macapaense, cujo titular era seu pai, então sobejamente conhecido na cidade como tio Joãozinho Picanço. A partir de 1947, ano em que foi criado o Ginásio Amapaense, Heitor Picanço lecionou História no mencionado educandário, mantendo sua ocupação de auxiliar de tesouraria na Prefeitura Municipal de Macapá. Diplomou-se Técnico em Contabilidade na Escola de Comércio do Amapá-ETCA, onde passou a lecionar as disciplinas Análise de Balanço e Contabilidade Pública. Exerceu o cargo de Prefeito Municipal de Macapá pela primeira vez no período de 22/8/1951 a 26/11/1952. Voltou a dirigir a comuna entre 22/2/1957 e 16/4/1961. Trabalhou com os governadores Janary Nunes, Amílcar Pereira e Pauxy Nunes. Neste segundo período como gestor municipal começaram a ser implantados os bairros Buritizal, CEA, Jacareacanga, Pacoval e Igarapé das Mulheres. Também tiveram inicio os trabalhos de asfaltamento das primeiras ruas de Macapá. Devotado aos esportes, Heitor Picanço e seu pai Joãozinho abrigaram na casa da família, por alguns anos, a Federação de Desportos do Amapá. Ele presidiu o Esporte Clube Macapá, o São José e participou da fundação da Academia Amapaense de Letras. Foi rotariano, carnavalesco, desportista, secretário da Justiça Eleitoral, prefeito protempore de Santana, assessor parlamentar, conselheiro da CEA, diretor da CAESA e chefe de gabinete da Saúde Quando Heitor Picanço atuou como secretário da Justiça Eleitoral ficou famosa a dobradinha que ele fazia com o Juiz de Direito Clemanceau Pedrosa Maia por ocasião da apuração dos votos. Naquele tempo, antes da urna ser aberta, o juiz solicitava que o secretário fizesse a leitura da ata da seção eleitoral correspondente. O juiz falava rápido e atrapalhava as palavras. O Heitor não tinha a menor pressa na leitura do texto da ata. É claro que a apuração se tornava morosa e levava dias para a conclusão dos trabalhos. A legislação em vigor estabelecia tal procedimento e toda cautela era necessária para evitar acidentes de percurso.
Por ser muito atencioso com as mulheres, Heitor Picanço foi rotulado pelas línguas ferinas de Macapá como um incorrigível paquerador. Ele não admitia isto, embora muitas das “parentas” o chamassem de “Galinho Branco”. Tentei arrancar-lhe uma confissão sobre tal fama, mas ele alegava que o titulo decorresse do fato de ele ser muito irrequieto e disposto a brigar com as pessoas que lhe faltassem com o respeito. Casou com Helenita Gomes de Souza no dia 13 de maio de 1948, e com ela teve os filhos: Heleni, João Batista, Heitor, Heiliana, Roberval, Herbert, Francisca, Helder e Hildemar. No paralelo, com a prima Otacília Picanço, gerou o Herivelto. As más línguas suspeitam que ainda haja rebentos que faltam ser catalogados. Heitor Picanço desempenhou importante trabalho político no Amapá. Começou sua militância no Partido Social Democrático, o famoso PSD. Posteriormente transitou pela Aliança Renovadora Nacional-ARENA, pelo Partido da Frente Liberal-PFL e pelo Partido Democrático Social-PDS. Angariou nesta militância um forte prestigio político capaz de ajudar bastante na eleição dos filhos Roberval (deputado estadual) e Hildemar, o Badú, como deputado federal. Um dos maiores prazeres de Heitor Picanço era passar momentos de deleite no Retiro Santana do Paricá, à margem esquerda do Rio Matapi. A área do retiro é ampla e já foi utilizada para a criação de gado bovino. Seu Heitor gostava de jogar dominó, saborear uma cerveja bem gelada e prosear com os familiares e amigos. Picanço é nome que deriva do latim “picus” aplicado vulgarmente ao pica-pau ou peto, e a mais algumas aves trepadores que vivem nas árvores catando larvas e insetos.
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