quarta-feira, 19 de junho de 2013

AS PRODUÇÕES CULTURAIS DE DONINHA BANHOS





                           AS PRODUÇÕES CULTURAIS DE DONINHA BANHOS

                                                                                                  Nilson Montoril
 
Honorina Banhos de Araújo ou simplesmente Doninha Banhos.  Foto de família artisticamente preparada que evidenciar a beleza de uma das maiores dançarinas e atrizes do Estado do Pará. Está sepultada no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Macapá.
                     Consagrada como bailarina em circos e teatros do Norte do Brasil, tendo inclusive participado de várias peças e musicais criados por Felix Roque, Honorina Cavalcante Banhos ainda é referência para quem deseja saber algo sobre artistas paraenses das décadas de 1940 e 1950, tempos memoráveis das festas de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém. Filha de Raimundo de Oliveira Banhos e de Honorina Cavalcante Banhos, nossa ilustre personagem nasceu na cidade de Belém a 10 de agosto de 1902. Félix Roque é considerado o revolucionista e renovador da Festa de Nossa Senhora de Nazaré entre 1940 e 1960, Teve a iniciativa de instalar o Palace Cassino em prédio edificado na então Avenida 15 de Agosto, hoje Presidente Vargas, na capital do Pará. Á época, o jogo era legalizado no Brasil e Felix Roque possuía a concessão para implorá-lo. No Palace Cassino eram encenadas peças teatrais famosas e números de dança, inclusive as relativas aos folguedos de época. Em 1940, Félix Roque instalou no local ocupado pela extinta Feira de Amostras do Pará, que depois abrigaria a Vila Leopoldina e a Rádio Marajoara, uma companhia teatral. Ali, em 1941,foi erguido o Teatro Coliseu, inaugurado pelo mais caro elenco de artistas do Brasil, figurando no mesmo Orlando Silva, o cantor das multidões, Jararaca e Ratinho, Manezinho Araújo, Augusto Calheiro e a cantora portuguesa Beatriz Costa. Nos anos seguintes estiveram em Belém, apresentando-se nos Teatros Coliseu, Moderno, Variedades, Poeira, Iracema e Odeon, os artista Saddi Cabral, Chocolate, Vicente Celestino e Gilda de Abreu, Aracy Cortez, Adelaide Chiozzo e Ankito. Honorina Banhos viveu esses momentos de glória e deles participou. 
Honorina Banhos de Araújo, a mais idosa dentre as pessoas que aparecem na presente fotografia residiu algum tempo na casa do filho Walter Banhos de Araújo. Ao seu lado, sentada no sofá, vemos a senhora Vitorina Gualberto da Rocha(vestido de bolinhas) era a mãe de Terezinha Gualberto Rocha de Araújo, esposa do senhor Walter Banhos. O casal teve 14 rebentos que identificamos a partir da esquerda da foto: Em pé - Ana Celi, Walter, Ana Izabel,Ana Soré, Mário Luiz,Ana Regina,Ana Tereza e Ana Maria. No sofá: Marco Antônio,Ana Débora(amparada pelo pai Walter Banhos), Ana Rita(de vestido branco),Ana Betânia(no colo de Vitorina),Ana Cristina(com a mão esquerda no queixo)e Ana Rosa.Dona Vitorina foi casada com Eduardo Moreira da Rocha e criou, além de seus filhos, a neta Zaide Soledade Silva. A foto foi cedida pela Socorro Silva,filha da Professora Zaide.

                       Casou com Elísio Araújo e com ele teve os filhos Mário Rocha de Araújo, Walter Banhos de Araújo, José Moacyr Banhos de Araújo e Affonso Banhos. Atraídos pela oferta de emprego que fazia o governo do recém criado Território Federal do Amapá, os jovens Walter e José Moacyr vieram para Macapá. Com formação em composição gráfica, eles conseguiram colocação no Jornal Amapá, órgão de comunicação social do governo territorial e passaram a trabalhar como tipógrafos. Mário Rocha permaneceu em Belém ligado as atividades musicais e dirigindo uma companhia cultural. A presença de Walter e José Moacyr em Macapá motivou Doninha Banhos a passar uma temporada na cidade, residindo com o filho Walter no nascedouro bairro do Trem. Embora não tenha participado diretamente da fundação do Trem Esporte Clube Beneficente a 1º de janeiro de 1947, Doninha Banhos integrou o Departamento Feminino da agremiação e colaborou intensamente com o clube rubro-negro na área social e artística, notadamente nessa última com a apresentação do cordão junino “Tem-Tem” e com o auto de Natal "As Pastorinhas”, encenado pelas meninas do grupo “Jovens Primaveras”.  A primeira apresentação do grupo pastoril “Jovens Primaveras” ocorreu no dia 24 de dezembro de 1947, quando a sede do Trem ainda era de madeira. Num palco relativamente rústico foi encenado o auto de Natal “As Pastorinhas”, que se constituiu em grande sucesso. Em 1948, no dia 25 de dezembro, a mesma peça voltou a ser exibida às 21 horas. Em 1949, atendendo a pedidos da população, o auto voltou a ser apresentado na véspera de Natal. No mês de junho,a partir de 1947, na véspera do dia de São João, Doninha Banhos brindava o público com o cordão de pássaro denominado “Tem-Tem”.Inspirou-se certamente no cordão surgido em Icoaraci que neste ano de 2013, completa 83 anos de existência. 
O cordão natalino "As Pastorinhas" destacando entre as alas azul e encarnado os personagens Fé, Esperança e Caridade.Doninha Banhos conhecia muito bem os motivos folclóricos das épocas junina e natalina. Sua presença em Macapá foi benéfica para tornar mais conhecida a tradição do pastoril de natal, antes só evidenciado em Mazagão Velho.

                 O auto de Natal “As Pastorinhas” foi introduzido no Brasil pelo Jesuítas no século XVI e corresponde a um bailado de origem portuguesa. O enredo principal é a visita que os pastores fizeram ao menino Jesus nascido em Belém. No caso das pastorinhas infantis participam meninas de 10 a 12 anos de idade. As Pastorinhas Juvenis têm de 15 anos para mais. Nos dois tipos as pastoras são divididas em duas filas paralelas: cordão azul e cordão encarnado ou vermelho.Sobresaem os personagens Fé, Esperança, Caridade,Cigana,Anjo, Diana, Simão,o velho,o pastorzinho Benjamim e o capeta Luzbel.
Passarinho Tem-Tem, também conhecido como Sebinho,Sebito, Caga-Cebo, Amarelinho e Guaratã guarda alguma semelhança com o ben-te-vi, até mesmo na valentia para defender seus filhos ou ovos. Inspirado nesse pássaro comum na região amazônica, o cidadão Manoel da Silva, que em 1930 residia em Icoaraci/Pará, fundou um cordão evidenciando o nome do passarinho. Neste ano de 2013, o cordão do Tem-Tem completa 83 anos de existência. O enredo desse cordão foi utilizado por Doninha Banhos, em Macapá, no dia 24 de junho de 1947, na sede do Trem Esporte Clube Beneficente e fez muito sucesso.
                       No Nordeste do Brasil também pode haver como personagens:Camponesa, Libertina, Linda Rosa, Lindo Cravo, Borboleta, Diana, Pastorzinho e Ciganas.No cordão de pássaro os brincantes ficas distribuídos no palco ou local da apresentação em meia lua. O pássaro é o personagem principal. O Tem-Tem é um passarinho parecido com o bem-te-vi, menor em tamanho e bico curvo,mas é valente à beça.
 
Erastos Gurgel Banhos, o famoso palhaço"Alecrim da Beira D'Água",possivelmente em ambiente familiar. Ele se destacou nas décadas de 1960 a 1980, conforme informações de Jonas Banhos, seu filho, de cujo blog copiamos a presente fotografia.
                Doninha Banhos era irmã de Erastos Gurgel Banhos, o famoso palhaço “Alecrim da Beira D’Água” nascido em Belém em 1919, que tanto divertiu as crianças que compareciam ao auditório da Rádio Marajoara, aos circos e teatros da capital paraense. Alecrim sempre se apresentava na companhia da palhaça Alfazema. Os filhos de Doninha Banhos, Walter e José Moacyr tocavam violão com louvável tirocínio e fizeram parte do conjunto “Regional E 2” pertencente à Rádio Difusora de Macapá. Walter gerenciou vários cinemas de Macapá e José Moacyr destacou-se como jornalista e radialista. Os últimos anos da vida de Doninha Banhos foram passados em Macapá, onde ela faleceu às 22h30min, do dia 17 de junho de 1978, vitima de Infarto Agudo do Miocárdio. Contava 76 anos de idade.
Integrantes do cordão junino Tem-Tem,de Icoaraci, dispostos em meia lua para desenvolver o enredo do teatro popular. Ao centro, um personagem representa o pássaro Tem-Tem vestindo uma belíssima e estilizada fantasia. Após o falecimento do senhor Manoel da Silva, o fundador do cordão, os brincantes do Tem-Tem se apresentam sob a coordenação do senhor João Ramos.





                        

quarta-feira, 5 de junho de 2013

ARISTIDES PIRÓVANO,1º BISPO DE MACAPÁ




                         ARISTIDES PIRÓVANO, 1º BISPO DE MACAPÁ

                                                                                   Nilson Montoril
 
A fotografia em tela mostra o Governador Janary Gentil Nunes ao lado de Dom Aristides Piróvano. O flagrante foi colhido na pista do primeiro aeroporto da cidade de Macapá instalado em área delimitada pelas Avenidas FAB e Raimundo Álvares da Costa e Ruas General Rondon e Professor José Barroso Tostes.
                        Dia 27 de maio de 1956, em clima de muita festa, a grande família católica da cidade de Macapá presenciou a posse de Dom Aristides Piróvano como Bispo Prelado. A cerimônia foi realizada na igreja matriz de São José, que se apresentava ornada de flores e repleta de fieis. Até a data em referência, Dom Aristides atuava como Administrador Apostólico do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras-PIME, no Amapá e coordenou com invulgar denodo a implantação do trabalho missionário da aludida sociedade italiana em nossa terra. As paróquias então existentes no Território Federal do Amapá até esta data integraram a Prelazia de Santarém. Aristides Piróvano chegou a Macapá no dia 29 de maio de 1948, revestido da função de Superior local dos Padres do PIME. Desembarcou no aeroporto da Panair do Brasil acompanhando o padre Arcângelo Cérqua e Dom Anselmo Pietrula, Bispo Prelado de Santarém. Os ilustres religiosos foram hóspedes do Governador do Território, Capitão Janary Gentil Nunes e ficaram alojados na residência governamental. Encontravam-se em Macapá, prestes a deixar a cidade, os padres Antônio Schulte e João Lentnerz da Congregação da Sagrada Família. 
Dom Giuseppe Maritano nasceu na Itália a 18 de março de 1915 e foi nomeado para o cargo de Bispo Prelado de Macapá no dia 30 de dezembro de 1965. Sua posse ocorreu a 19 de março de 1966, dia de São José, Padroeiro de Macapá.No decorrer de sua gestão a Prelazia de Macapá foi transformada em Diocese.Tomou posse como Bispo Diocesano no dia 31 de agosto de 1983.

A instituição religiosa a qual pertenceu o Padre Júlio Maria Lombaerd estava se retirando do Amapá devido à falta de membros disponíveis para substituí-los. Na manhã do dia 30 de maio, Dom Anselmo Pietrula celebrou a Santa Missa na Igreja de São José, coadjuvado pelo Padre Arcângelo Cérqua e acompanhado pelo coro das professoras. Depois da leitura do Evangelho falou o Bispo Prelado de Santarém, que agradeceu a dedicação dos sacerdotes da Sagrada Família e deu posse no cargo de Vigário de Macapá ao Padre Arcângelo. Entre as autoridades presentes destacavam-se o governador Janary Nunes, o Prefeito Cláudio Carvalho do Nascimento, diretores de repartições públicas, membros do Judiciário. Aristides Piróvano nasceu em Erba, Província de Como e Arquidiocese de Milão, no dia 22 de fevereiro de 1915. Foi ordenado padre a 20 de dezembro de 1941. No decorrer da II Guerra Mundial integrou o grupo “partigrami” que se dedicava a salvar vidas e ajudar os injustiçados. Graças a sua coragem evitou que um grupo de revolucionários fosse fuzilado pelos nazistas. Sua nomeação para o cargo de Bispo Prelado de Macapá saiu no dia 21 de julho de 1955, mas a posse só aconteceu a 27 de maio de 1956. A Prelazia de Macapá foi criada no dia 1º de fevereiro de 1949, mas a comunicação desse feito só chegou ao conhecimento do Padre Aristides no dia 12, através de telegrama passado de Belém por Dom Mário Miranda Villas Boas. No dia 13, que caiu num domingo, Dom Aristides celebrou Missa e comunicou ao povo católico o grande acontecimento. 

O mineiro Dom Vicente Joaquim Zico, atualmente com 86 anos de idade, assumiu interinamente a Diocese de Macapá após a renúncia de Dom José Maritano e permaneceu no cargo, acumulando-o com o de Arcebispo de Belém até a posse do paulista Luiz  Soares Vieira.

Ao meio dia os sinos da Igreja de São José repicaram demoradamente e os seculares canhões da Fortaleza voltaram a troar, da mesma forma como faziam por ocasião da passagem de importantes festas cívicas e de devoção. Ao ser criada, a Prelazia de Macapá tinha quatro Paróquias canonicamente constituídas: São José, na cidade de Macapá;Nossa Senhora da Assunção, em Mazagão Velho, Divino Espírito Santo, na cidade de Amapá e Nossa Senhora da Conceição, na Vila e Ilha do Bailique.Quanto a religiosos havia 13 padres e um irmão leigo. Na fase Prelazia de Macapá tivemos os Bispos Aristides Piróvano e José Maritano.
Dom Luiz Soares Vieira recebeu a Diocese de Macapá das mãos do Arcebispo de Belém, Dom Vicente  Zico. Atualmente ele se encontra ocupando o importante cargo de Arcebispo de Manaus.

 A Diocese de Macapá data de 30 de outubro de 1980, criada pelo Papa João Paulo II. Nessa fase contamos com os Bispos José Maritano, que renunciou e foi substituído provisoriamente por Vicente Joaquim Zico, Luiz Soares Vieira, atualmente Arcebispo de Manaus, João Rizzati, falecido na Itália e Carlos Verzelete, que o substituiu até a chegada do atual Bispo Diocesano Dom Pedro José Conti. Dom Aristides Piróvano ainda foi eleito Superior Geral do PIME, fato que o levou a renunciar o cargo de Bispo Prelado de Macapá a 27 de março de 1965. Também atuou com Capelão Auxiliar na Colônia de Hansenianos de Marituba a partir de 1978.

Dom João Risatti falando aos comunicadores do Amapá durante um encontro promovido pela  Pastoral da Comunicação da Diocese de Macapá. Foto rara extraída de um jornal.
Dom Aristides Piróvano foi exemplar na realização de seu meritório trabalho à frente da Igreja Católica no Território Federal do Amapá. Sempre agiu com firmeza e sua liderança nunca foi contestada. Quando ele chegou a Macapá havia apenas a Paróquia de São José e os bairros do Laguinho, Trem, Favela e Perpétuo Socorro estavam sendo instalados. Os padres do PIME que atuavam em Macapá usavam bicicletas trazidas da Itália. Os sacerdotes que trabalhavam nas demais sedes municipais e distritos interioranos se valiam de motocicletas. Posteriormente a Prelazia de Macapá passou a contar com a utilização de um caminhão Mercedes Benz e outras viaturas menores. 

Dom Carlos Verzeletti, que completará 63 anos no vindouro dia  8 de setembro de 2013 é o primeiro Bispo Diocesano de Castanhal. A Diocese de Castanhal foi criada no dia 29 de dezembro de 2004. Dom Carlos Verzeletti substituiu interinamente a Dom João Risatti que faleceu na Itália enquanto visitava seus familiares.

Apreciador dos esportes, principalmente do futebol, Dom Aristides Piróvano deu total apoio as atividades dos Oratórios que foram implantados nas paróquias do Amapá, notadamente nas Paróquias de São José, onde surgiu o Juventus Esporte Clube e Nossa Senhora da Conceição, berço do Ypiranga Clube. Em 1949, o Pontificio Instituto das Missões Estrangeiras-PIME, assumiu os destinos da Igreja Católica no Amapá. No dia 29 haviam chegado a Macapá os Padres Aristides e Arcângelo Cerqua. Dia 15 de junho desembarcavam no aeroporto da Panair do Brasil, como passageiros do Correio Aéreo Nacional-CAN, os sacerdotes Vitório Galliani e Ângelo Bubani. Dia 25 de junho, a bordo da Lancha Amapá cegavam os padres Lino Simonelli,Jorge Basile, Luiz Viganó, Carlos Bassanini e Mário Limonta. Dia 15 de dezembro, em avião do CAN, chegam os padres Simão Corridori e Ângelo Negri. Dia 18 de dezembro desembarcam em Macapá os padres Antônio Cocco e Pedro Locati. O irmão leigo Francisco Mazollene havia chegado dia 17 de julho de 1949.

Dom Pedro José Conti é o atual Bispo Diocesano de Macapá
A dedicação de Aristides Piróvano só não foi maior devido a alguns problemas de saúde que o fustigavam, principalmente nos rins. Aliás, quem via a compleição física de Aristides Piróvano o julgava incapaz de levar a contento seu mister. Entretanto, a despeito de alguns contratempos nosso primeiro bispo demonstrava possuir uma capacidade enorme para superá-los.