quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

TRANSAZÔNICA,UMA ESTRADA SEM FIM



 TRANSAMAZÔNICA, UMA ESTRADA SEM FIM

 Por  Nilson Montoril


O Presidente Emilio Garrastazu Médice cumprimenta o Ministro do Interior, Mário David Andreaza,junto ao tronco da castanheira derrubada no inicio da construção da Transamazônica. No que restou da portentosa árvore foi afixada a placa que ainda hoje pode ser vista no chamado "pau do presidente, em Altamira.
                        No dia 6 de junho de 1970, o general Emilio Garrastazu Médice, presidente do Brasil, foi ao Nordeste para ver de perto os efeitos devastadores que a seca estava causando na região. No retorno a Brasília passou por Recife, onde anunciou o propósito do governo em construir a rodovia Transamazônica e assim transferir flagelados para a Amazônia. Ao encerrar o discurso que fez, afirmou que transporia “homens sem terra para terra sem homens”. A 16 de junho ele criou o Plano de Integração Nacional-PIN, no qual a abertura da Transamazônica era o projeto primordial. A concorrência pública foi lançada dia 18 de junho e as obras iniciaram em 1º de setembro de 1970. O dinheiro para o inicio da obra foi sacado do orçamento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM e da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE. Todas as providências para a concretização do projeto aconteceu de forma avassaladora. 

O Presidente Emilio Garrastazu Médice,ao lado do general João Batista Figueiredo,contempla a placa fixada no tronco de uma castanheira por ocasião do inicio das obras de construção da Rodovia Transamazônica,em Altamira, no Estado do Pará.
O governo pretendia instalar 500 mil colonos ao longo da estrada que passou a ser identificada como BR-230, na Amazônia. O propósito do projeto empolgava os governistas e os flagelados. Seriam instaladas agrovilas a cada 10 km da rodovia e, em cada uma delas, haveria entre 48 a 64 casas além de escola primária, capela ecumênica, armazém, clinica e farmácia. As casas ocupariam parte de terrenos com 20x80m a 25x125m. Cada família receberia uma gleba de 100 hectares(1 km por 1 km), preservando metade do terreno. A cada 50 km, haveria uma agrópole com quatro agrovilas sob sua jurisdição. Cada agrópole teria 500 casas e no máximo 2.500 habitantes. Ali funcionaria uma escola secundária, olaria, comércio e posto de gasolina. A cada 150 km, haveria uma rurópole com duas agrópoles em sua jurisdição. No dia 10 de outubro de 1970, Médice inaugurou, em Altamira, o marco inicial das obras da rodovia, ocasião em que uma castanheira de 50 metros foi derrubada. No tronco da monumental árvore foi colocada uma placa de bronze com os seguintes dizeres: “Nesta margem do Xingu, em plena selva Amazônica, o Sr. Presidente da República dá inicio à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde”.

O tronco da castanheira derrubada em 1970, com a placa que registra o inicio da grande empreitada,em 2010, 40 anos após este fato. No presente momento, fevereiro de 2014, contamos 43 anos do feito.O tempo se encarregou de provocar irreversíveis danos ao importante marco histórico. 
No trecho Altamira-Itaituba, surgiram a primeira agrópoles, a “Brasil Novo” e a primeira rurópoles,a “Presidente Médice”,consagrada como Medicilândia. A Brasil Novo dista 46 km do marco inicial da estrada. A Medicilândia ficou um pouco mais distante, a 90 km de Altamira. Dentre as agrovilas, a Leonardo da Vinci, localizada no município de Vitória do Xingu merece destaque, pois até rua asfaltada possui. No decorrer da década de 1970, o governo federal gastou mais de um bilhão e quinhentos mil dólares na construção da rodovia. Numa extensão de 4.000 km abertos na Amazônia, só restam 20 agrovilas em 2012. Medicilândia foi elevada à condição de município e hoje possui uma população de mais de 30 mil habitantes.

Agrovila Presidente Médice, que acabou consagrada como Medicilândia. O progresso por ela experimentado elevou-a à condição de sede do município de idêntico nome. No inicio de sua ocupação ainda não havia energia elétrica,água encanada e rua.
Em 1970, Altamira possuía cerca de três mil habitantes. Atualmente este contingente populacional é superior a 100 mil almas. A Transamazônica atravessa Altamira de leste a oeste numa extensão de 60 km. Belém está a 800 km da sede do citado município. O trecho Altamira-Itaituba compreende 500 km de distancia. Lonjura semelhante precisa ser percorrida entre Altamira-Marabá e Altamira-Santarém. Altamira é tida como a capital da Transamazônica, à margem do rio Xingu. Como os colonos não tiveram o crédito prometido pelo governo para plantar, foram saindo da região, vendendo ou simplesmente abandonando as terras recebidas. Os que chegaram a produzir alguma coisa não tiveram cesso ao mercado produtivo. Outros, nem terras receberam.
Uma das agrovilas implantadas ao longo da BR-230 - Transamazônica. Os lotes destinados às atividades produtivas mediam 100 hectares( 1 km por 1 km). O governo não assegurou as vantagens que foram prometidas aos assentados.


Uma motoscrit, também conhecida como e"euclides"em operação na abertura da Transamazônica. Robusta,ela raspava o chão,enchia sua basculante e depois espalhava a terra no trecho estava aterrando ou nivelando.
 
O inicio da construção da Transamazônica ficou marcada pela solene derrubada de uma castanheira de 50 metros de altura e despertou opiniões contraditórias sobre a validade do projeto incluso no Plano de Integração Nacional, que visava à ocupação física do solo por meio da abertura de estradas e tinha como meta absorvera mão-de-obra nordestina, disponível em grande quantidade devido às secas, e direcionar os fluxos de migração. Para que isso ocorresse, o governo federal pretendia fixar famílias na região amazônica, cujas terras, segundo a propaganda oficial, eram férteis e gratuitas. Os ocupantes das terras deveriam receber do governo titulo de legalização das mesmas, sementes para iniciar as plantações, vasta rede de postos médicos e escola para todos.

Entrada de Anapu, uma das agrovilas que evoluiu para sede de município. Esta situada às margens do rio Anapu,cujo significado na língua indígena é "ruído forte"e decorre do barulho produzido pelas águas do rio.Foi transformada em município em 1995.
 Todo o excedente da produção seria transportado para centros consumidores. O isolamento, o solo arenoso em grande parte, as chuvas torrenciais que transformam em rios de lama largos trechos da rodovia, dificultaram a adaptação dos colonos à região. A 3ª maior rodovia do Brasil foi projetada no governo do presidente Emilio Garrastazu Médice, de 1969 a 1974. Inaugurada dia 27 de dezembro de 1972, e classificada como uma rodovia transversal, a Transamazônica deveria ter 8 mil km de comprimento  ligando região Nordeste e Norte do Brasil com o Peru e o Equador. Posteriormente o projeto foi modificado para 4.977 km e a estrada chegaria ao município de Benjamim Constant. Entretanto, não passou de Lábrea com 4.233 km. No período chuvoso, que se estende de outubro a março, os trabalhos eram interrompidos e os trabalhadores ficavam isolados por terra.

No período chuvoso a situação de tráfego na Transamazônica e problemática. Nas áreas baixas, que antes eram capoeiras rebaixadas, o aterro ainda não foi devidamente compactado, fato que facilita danos causados pelos  repiquetes. As vezes,até três tratores de esteiras são estrategicamente colocados para operarem nestes trechos ajudando os carros a passar.
 Quando o tempo permitia, pequenos aviões, usando pistas precárias, faziam o transporte de viveres e medicamentos. Às vezes, os helicópteros também operavam na região. A comunicação era realizada através de rádio. A Transamazônica, identificada como BR-230, tem inicio na cidade portuária de Cabedelo, no Estado da Paraíba. Dos 4.233 km que possui, a rodovia tem 2.656 km asfaltados e 1577 km de terra. Ela corta os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Na Paraíba a Transamazônica compreende 521 km com boa condição de tráfego até a divisa com o Ceará.


No dia 14/1/2014, estive em Cabedelo e aproveitei a oportunidade para documentar minha passagem na cidade portuária da Paraíba. Quem retorna a Belém por via terrestre,tomando a rota de Picos, no Piauí, transita por toda a extensão da rodovia no Nordeste.
 Inicia em Cabedelo, se ponto extremo leste e em João Pessoa ela tem interseção com a BR-101, que dá acesso a Natal. Depois de João Pessoa a estrada passa por Bayeux, Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Sobrado, Caldas Brandão, Gurinhén, Mogeiro, Ingá, Riachão do Bacamarte, Massaranduba, Campina Grande (interseção com a BR-104 e acesso a Caruaru), Soledade, Juazeirinho, Junco do Seridó, Santa Luzia, São Mamede, Patos, Malta, Condado, São Benedito, Pombal, Aparecida, Souza, Marizopólis e Cajazeiras. É duplicada no trecho de 147,6 km entre Cabedelo e Campina Grande, conhecido como rodovia governador Antônio Mariz, para dar maior desenvolvimento à região com o transporte da safra agrícola.

Trecho da BR-230 que passa ao largo da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Trafeguei na pista direita(onde se vê o automóvel branco) da rodovia em 18/1/2011, quando estava em demanda de João Pessoa tendo saído de Exu.
 No estado do Ceará a estrada passa por Ipaumirim (interseção com a BR-116, acesso a Fortaleza), Lavras da Mangabeira, Vargem Alegre, Farias Brito, Antonina do Norte e Campos Sales. No Piauí ela passa por Picos (acesso a Teresina), Oeiras e Floriano. No Maranhão ela corta Balsas e Imperatriz. Nesta cidade existe interseção para Belém, Palmas (Tocantins), Goiânia (Goiás) e Brasília (DF). No Estado de Tocantins: Aguiarnópoles, Nazaré/Santa Terezinha a 2 e 3 km da rodovia,respectivamente.Luzinópoles,Cachoeirinha,(a 2 km da rodovia),São Bento do Tocantins, Araguatins(a 8 km da estrada), além de acesso pela TO-010 ao povoado de Transraguaia e travessia do rio Araguaia. 

Entrada da cidade de Pombal, na Paraíba. Já passei neste local em 1999 e 2011. Não há como deixar de lembrar a música Maringá, principalmente aparte da letra da canção que diz: " antigamente uma alegria sem igual,dominava aquela gente da  cidade de Pombal". Foi o nome desta música que deu identidade a Maringá, no Paraná.
No Estado do Pará o primeiro centro urbano é Palestina do Pará, cujo centro da cidade dista 6 km da estrada. Seguem: Brejo Grande do Araguaia (a 2 km), São Domingos do Araguaia (a 4 km), Marabá (acesso a Parauapebas, Xinguara e a Redação pela BR-155), Itupiranga, Novo Repartimento (acesso a Tucurui pela BR-422), Pacajá, Anapu (acesso a Vitória do Xingu pela PA-415), Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Rurópoles (acesso a Belterra e a Santarém pela BR-163/Rodovia Cuiabá-Santarém, Campo Verde (distrito de Itaituba com acesso a Trairão, Novo Progresso e a Cuiabá/Mato Grosso pela BR-163) Itaituba (travessia sobre o rio Tapajós) Jacareacanga (a 7 km da rodovia). No Estado do Amazonas: Apuí, Humaitá (acesso a Porto Velho/Rondônia e a Manaus pela BR-319) e Lábrea. 

Mapa das regiões Nordeste e Norte com o traçado da Transamazônica.O trecho tracejado em preto e amarelo indica por onde a rodovia deveria passar  até atingir Benjamim Constat.
Em 1974, 300 famílias foram assentadas no trecho km 930 a 1035, em Humaitá e cada uma delas recebeu lote de 100 hectares. Estima-se que, no entorno da Transamazônica vivem cerca de um milhão e 200mil pessoas, a maioria no Pará. O trecho deste estado concentra 60% da produção de cacau e 20% da criação de gado. No dia 12 de janeiro de 2011, percorri o trecho que se estende de Fortaleza a Crato, trafegando pelo perímetro acima descrito. Dia 18 do mesmo mês e ano sai de Exu (Pernambuco) seguindo o mesmo trecho e passando pela extensão da BR-230, até João Pessoa. No dia 22 de janeiro de 2014, viajamos de Crato (Ceará) para Teresina (Piauí), trafegando pela Transamazônica e passando por Picos, Oeiras e Floriano. 

Trecho de Pacajá, no Estado do Pará.
No Maranhão, ainda trilhando pela BR-230, passamos por Balsas e Imperatriz. Nesta cidade a estrada faz conexão com outra rodovia que leva a Belém, Palmas, Goiânia e Brasília. Em Cabedelo-PB, perto do porto e da  Fortaleza de Santa Terezinha, há uma placa que assinala o inicio da rodovia Transamazônica, a BR-230. Documentei em foto minha presença no local. O trecho problemático da Transamazônica está localizado no Pará e Amazonas. No Nordeste o movimento de veículos é intenso e as estradas estão em ótima condição de tráfego. Testemunhei este fato, identificando, pela chapa do veículo sua procedência. Nos postos de combustível indaguei a diversos motoristas o destino da carga que transportavam. Em maior quantidade elas eram conduzidas para Belém, São Luiz, Palmas, Marabá e Santarém. 
O corpo da freira Doroty Mea Stang depois dela ter sido assassinada por pistoleiro de aluguel a mando de proprietário de terra que fazia exploração ilegal de madeira em Anapu. A religiosa foi atingida por seis tiros porque se opunha a tal procedimento e denunciava os transgressores da lei às autoridades.
Este mapa se reporta às três rodovias que ainda podem ser asfaltadas e melhorar a vida dos que teimam em viver nas regiões por onde elas passam. A mais extensa é a BR-230,a Transamazônica. A BR-319,a Manaus-Porto Velho possui trechos que só não foram totalmente tomados pela floresta devido as atividades das companhias de eletricidade e telecomunicações que precisam utilizá-la. A BR-163, a Cuiabá-Santarém, poderá beneficiar o porto de Santana,no Amapá, com a exportação de grãos.
Presidente Médice e seus assessores contemplando a maquete da construção da Transamazônica, em 1970.
Bonita vista aérea da Transamazônica,no Estado do Pará.Imagine o progresso que a região teria se ela estivesse asfaltada totalmente

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ASSARÉ E SERRA DE SANTANA



                                        ASSARÉ E SERRA DE SANTANA

                                                                         Nilson Montoril

Imagem de Nossa Senhora das Dores, padroeira do Assaré.
                        O município cearense de Assaré dista 490 km de Fortaleza e 82 km da cidade do Crato. Possui uma área de 1.116,320 km quadrados e situa-se no lado oeste da Chapada do Araripe. A atual sede municipal despontou como vila em 1865, quando havia se desmembrado de Sobreiro. É município desde 1950 e conta com os distritos de Amaro, Genezaré, Aratana e Assaré. Ao ser desmembrado de Sobreiro o nome do município era Assaipio de Assaré. O clima é quente semi-árido com chuvas de janeiro a abril. Na língua tapuia, Assaré significa travessia diferente ou atalho. A Serra de Santana, que está localizada a 18 km de Assaré é uma das elevações importantes de Assaré. Existem várias fontes de água espalhadas por toda a área da Chapada do Araripe, na jurisdição de Assaré. A barragem Canoas é o maior reservatório de água da região. O antigo açude Bangüê ainda se mantém acumulando o precioso liquido, mas está relativamente assoreado. Perto dele ficava o Sitio Cachoeira, propriedade de meus trisavôs Antônio da Silva Pereira e Maria Angelina de Alencar da Silva. 

Memorial Patativa do Assaré. No local onde está erguido o prédio que abriga o acervo de Antônio Gonçalves da Silva existiu um casarão que pertenceu a uma família tradicional da cidade. Foi desapropriado pela Prefeitura de Assaré. O importante Museu, que é bastante frequentado por estudantes e populares, recebe apoio financeiro da Prefeitura, do Governo do Ceará e do Ministério da Cultura.
Foi herdada pela filha do casal Luzia da Conceição de Alencar da Silva, que alterou seu nome para Luzia da Conceição Montoril após o casamento com Joaquim Pereira Montoril. Antônio Pereira da Silva desempenhou o importante cargo de Juiz de Paz de Assaré. O casal Joaquim e Luzia gerou quatro filhos, que tiveram vida relativamente longa: Antônio Pereira Montoril, Maria Pereira Montoril, José Pereira Montoril e Alexandre Pereira Montoril. Minha avó Maria Montoril casou com João Lourenço de Araújo e concebeu dez filhos, mas apenas quatro alcançaram a fase adulta: Francisca Olga Montoril de Araújo, Francisco Olavo Montoril de Araújo, Francisca Lourdes Montoril de Araújo e Francisca Juracy Montoril de Araújo Cabral. Essa última vive em João Pessoa, capital do Estado da Paraíba e fará 94 anos de idade no vindouro dia 20 de fevereiro.Maria e Lourdes estão sepultadas em Castanhal, onde faleceram.Olga Montoril
morreu a 5 de julho de 1955, na cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá.
Casa onde morou o Patativa do Assaré., em Serra de Santana. Atualmente o imóvel está precisando de reparos. A casa é bem espaçosa e contém alguns bens que não foram catalogados para integrar o acervo do Memorial, em Assaré. Antônio Patativa gostava de ficar sentado em frente da casa sentindo a suave brisa da Serra de Santana.
Na Serra de Santana morava Maria Pereira da Silva, a Mariinha, prima de minha trisavó Luzia Montoril, casada com Pedro Gonçalves da Silva. Entre seus filhos havia o Antônio Gonçalves da Silva, que se tornou poeta popular, compositor, cantor e repentista. Estudou apenas seis meses em escola de Assaré, mas tinha uma impressionante inteligência. Lia tudo que caia em suas mãos. Antônio nasceu no dia 5 de março de 1909. Ficou órfão aos 8 anos, em 1917. Em decorrência de uma doença conhecida como “dor d'olhos” perdeu a vista direita. Trabalhou duro na lavoura ajudando a mãe. Quando Antônio Gonçalves completou 16 anos pediu a sua mãe para vender uma cabra que lhe pertencia e comprasse uma viola. Ela o atendeu e Antônio passou a buscar parceiros para suas apresentações.

Fotografia tirada no dia 21/1/2014, no salão de recepção do Memorial Patativa do Assaré.No sentido dos ponteiros do relógio o flagrante mostra a Fátima Cidrão, Pedro Gonçalves, filho do Patativa,Nilson Montoril de Araújo e Rosa Araújo.Pedro é o mais novo dos filhos de Patativa,mora em Assaré e é pai de Fátima, coordenadora do Memorial.
 Fazia versinhos que serviam de graça para os assistentes. Progressivamente foi ampliando o palco de suas exibições e angariando fama. Em 1928, meu tio José Pereira Montoril, o Cazuzinha retornou a Assaré para rever familiares e amigos. Ele estava estabelecido na localidade Porto Serafim, no Furo Grande desde a década de 1910. Ali prevalecia a jurisdição do município paraense de Macapá. Em Assaré, Cazuzinha Montoril ficou hospedado na casa de seu primo José da Silva Pereira, a Pereirinha, que lhe falou a respeito de um parente de ambos residentes em Serra de Santana que era um prodígio de inspiração.

Patativa do Assaré segurando uma pássaro da espécie que lhe deu o nome artístico. Trata-se de um macho, cuja cor é acinzentada. A patativa fêmea tem a cor parda. O canto da patativa é suave e agradável. Antes dele receber esse apelido, o alagoano Augusto Calheiros já era chamado de "A Patativa do Norte".
 Destacava-se como improvisador, cantador em desafio a viola e outras modalidades conhecidas no folclore brasileiro. Cazuzinha Montoril decidiu ir a Serra de Santana para conhecer o primo violeiro e gostou da performance do parente. Foi preciso muita conversa para convencer Mariinha a deixar o jovem poeta acompanhá-lo ao Pará. A viagem para Belém, as suas custas, ocorreu no mês de maio a bordo do vapor Itapajé, as custas de Cazuzinha. Em Belém, Cazuzinha apresentou Antônio Gonçalves ao tabelião José Carvalho de Alencar, cearense do Crato que também era escritor e poeta. Carvalho organizou uma tertúlia e convidou um público seleto para prestigiar a apresentação de Antônio. O rapaz de Assaré fez uma formidável exibição

José Pereira Montoril, o Cazuzinha. Esse primo de Antônio Gonçalves da Silva o trouxe para a Amazônia,mais precisamente para o lugar Porto Serafim, no Furo Grande, Ilha do Marajó, que pertencia a Cazuzinha e estava sob jurisdição do município paraense de Macapá. Cazuzinha era irmão de minha avó Maria Montoril de Araújo e ambos nasceram no Sitio Cachoeira, em Assaré.
José Carvalho, em belas quadras deu a Antônio Gonçalves a alcunha de Patativa. O Major Cumaru elogiou o poeta, mas lamentou ele ser cego de um olho. Patativa de Assaré, ao agradecer os elogios dedilhou sua viola e cantou: “Minha sorte comigo, foi bem cruel e tirana, só me consente enxergar, três dias por semana”.Em 1928, o Intendente de Macapá era o tenente Otávio Accioly Ramos, amigo da família Montoril. Ele abriu as portas da Intendência Municipal para receber em tertúlia Patativa do Assaré. Em frente da edilidade havia uma grande casa amarela pertencente ao coronel Coriolano Finéas Jucá, cearense natural da cidade de Baturité, onde Cazuzinha Montoril se hospedava quando vinha a Macapá.

Os irmão Alexandre Pereira Montoril, Antônio Pereira Montoril e José Pereira Montoril, o Cazuzinha, irmãos de minha avó Maria Montoril,saíram de Assaré para prosperar em terras da Amazônia. Alexandre cursou odontologia em Manaus, onde galgou a patente de Coronel da Policia Militar do Amazonas e foi deputado estadual por quatro legislaturas. Antônio e José foram comerciantes bem sucedidos. O rapaz com a mão esquerda sobre o ombro direito de Antônio é o Rivadávia Montoril, seu filho que ainda reside em Belém.
 Desta vez Antônio Gonçalves da Silva o acompanhava. Dia 21 de janeiro de 2014, visitei meus parentes em Serra de Santana e vivi uma das maiores emoções de minha vida. Ali encontrei Geraldo, Inês e Aloísio, filhos de Patativa. Em Assaré conheci o Pedro e outro primo, o Raimundo Gonçalves, curiosamente conhecido como “Sem Preconceito”. Minha visita ao Memorial Patativa do Assaré foi marcante. Em pouco tempo vários familiares de Antônio Gonçalves e de meus antepassados que ali permaneceram foram ao memorial para conhecer o primo de Macapá. Passei mais de 4 horas conversando com os filhos de Patativa do Assaré e outros parentes. 

Geraldo Gonçalves da Silva é o filho mais velho de Patativa do Assaré. Tem 77 anos de idade, mas é dotado de espírito jovial. Muito parecido com o pai, costuma ser tratado como Geraldo Patativa. Na Serra de Santana foi o primeiro e nos recepcionar. Vez por outra declama alguns versos de seu pai.Adora conversar e contar novidades.Quando abusa um pouco no fraseado a irmã Inês lhe puxa as orelhas e pede desconto nas estórias que ele conta.
Conversa descontraída e alegre, principalmente quando o Geraldo Patativa fazia valer sua espontaneidade. As casas que visitamos são feitas de taipa-de -mão,um modo de edificação onde o barro bem amassado é fixado à parece composta por uma rede de ripas e ramos de árvores. Na cozinha da casa dos pais do Patativa vi uma espécie de dispensa edificada sobre o fogão,onde era guardada a produção de milho, arroz com casca e feijão.Como o fogo ficava aceso durante 24 horas, o calor e a fumaça que dele emanava impedia que os gorgulhos e outra pragas atacassem os alimentos armazenados. Geraldo, na brincadeira, disse que ali eram colocadas as moças velhas e feias que ficavam no caritó. 

Raimundo Iberalino,primo de Patativa do Assaré foi o primeiro membro da família a manter contato comigo.A foto foi tirada na recepção do Memorial. Na ocasião em que a fotografia foi batida eu anotava algumas informações importantes tendo minha esposa Rosa ao lado esquerdo. Iberalino tem o curioso apelido de "Sem Preconceito",mas em alguns momentos eu o identifiquei como "Sem Restrição". Solicito, chegou a oferecer sua casa,ao lado do Memorial para ficarmos hospedados.Na citada residência o Patativa residiu por algum tempo.
A estória do caritó o Geraldo falou a uma autoridade solteirona de Assaré e deixou a mulher muito enfezada. Inês lembrou que estiveram em Serra de Santana em época mais recuada, minha prima Capitulina Montoril e outros membros de minha família. Devido a problemas pulmonares a Capitulina precisava respirar ar puro,coisa que não falta naquela região elevada. Também passaram uns dias por lá Dona Sinhazinha, a segunda esposa de Cazuzinha, acompanhada do filho Joaquim e da enteada Luzia Lúcia, a Lucy. Meus avós João Lourenço e Maria Montoril migraram para Castanhal, no Estado do Pará, em março de 1932 e nunca mais retornaram a Assaré.

Ao centro, sentado, usando camisa azul vemos Antônio Gonçalves da Silva, o "Patativa do Assaré". Atrás dele, com a mão direita sobre seu ombro identifiquei a Inês, 74 anos,com uma filha, netos e netas. A esquerda de Patativa  está o Geraldo(camisa branca) e outros dois membros da família.(espero identificar todos em breve).
 Andaram por lá, há uns 30 anos minhas tias Francisca Lourdes e Francisca Juracy,com seus respectivos maridos José Alves de Lemos e Fernando Cabral de Melo,mas não encontraram os velhos amigos de outros tempos. Nos meus planos para as próximas férias, quando deveremos ir a Sergipe e Alagoas, incluirei uma permanência mais demorada em Assaré para rever os parentes e conhecer o que restou do Sítio Cachoeira e do Açude Banguê.

Uma foto rara de Patativa,sorrindo.

Na Rua Francisco Gomes nº 82,por trás da Igreja de Nossa Senhora das Dores, fica a sede do Memorial Patativa do Assaré. Estacionada na via pública vemos o veículo que usamos em nosso passeio pelo Nordeste. Sobre a calçada, em frente do Memorial vemos minha filha Débora e minha esposa Rosa.