ASSARÉ
E SERRA DE SANTANA
Nilson Montoril
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Imagem de Nossa Senhora das Dores, padroeira do Assaré. |
O
município cearense de Assaré dista 490 km de Fortaleza e 82 km da cidade do Crato. Possui
uma área de 1.116,320
km quadrados e situa-se no lado oeste da Chapada do Araripe.
A atual sede municipal despontou como vila em 1865, quando havia se desmembrado
de Sobreiro. É município desde 1950 e conta com os distritos de Amaro, Genezaré,
Aratana e Assaré. Ao ser desmembrado de Sobreiro o nome do município era Assaipio
de Assaré. O clima é quente semi-árido com chuvas de janeiro a abril. Na língua
tapuia, Assaré significa travessia diferente ou atalho. A Serra de Santana, que
está localizada a 18 km
de Assaré é uma das elevações importantes de Assaré. Existem várias fontes de
água espalhadas por toda a área da Chapada do Araripe, na jurisdição de Assaré.
A barragem Canoas é o maior reservatório de água da região. O antigo açude
Bangüê ainda se mantém acumulando o precioso liquido, mas está relativamente
assoreado. Perto dele ficava o Sitio Cachoeira, propriedade de meus trisavôs
Antônio da Silva Pereira e Maria Angelina de Alencar da Silva.
Foi herdada pela
filha do casal Luzia da Conceição de Alencar da Silva, que alterou seu nome
para Luzia da Conceição Montoril após o casamento com Joaquim Pereira Montoril.
Antônio Pereira da Silva desempenhou o importante cargo de Juiz de Paz de
Assaré. O casal Joaquim e Luzia gerou quatro filhos, que tiveram vida
relativamente longa: Antônio Pereira Montoril, Maria Pereira Montoril, José
Pereira Montoril e Alexandre Pereira Montoril. Minha avó Maria Montoril casou com João
Lourenço de Araújo e concebeu dez filhos, mas apenas quatro alcançaram a fase
adulta: Francisca Olga Montoril de Araújo, Francisco Olavo Montoril de Araújo,
Francisca Lourdes Montoril de Araújo e Francisca Juracy Montoril de Araújo Cabral.
Essa última vive em João Pessoa,
capital do Estado da Paraíba e fará 94 anos de idade no vindouro dia 20 de
fevereiro.Maria e Lourdes estão sepultadas em Castanhal, onde faleceram.Olga Montoril
morreu a 5 de julho de 1955, na cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá.
Na Serra de Santana morava Maria Pereira da Silva, a Mariinha, prima
de minha trisavó Luzia Montoril, casada com Pedro Gonçalves da Silva. Entre
seus filhos havia o Antônio Gonçalves da Silva, que se tornou poeta popular,
compositor, cantor e repentista. Estudou apenas seis meses em escola de Assaré,
mas tinha uma impressionante inteligência. Lia tudo que caia em suas mãos.
Antônio nasceu no dia 5 de março de 1909. Ficou órfão aos 8 anos, em 1917. Em
decorrência de uma doença conhecida como “dor d'olhos” perdeu a vista direita.
Trabalhou duro na lavoura ajudando a mãe. Quando Antônio Gonçalves completou 16
anos pediu a sua mãe para vender uma cabra que lhe pertencia e comprasse uma
viola. Ela o atendeu e Antônio passou a buscar parceiros para suas
apresentações.
Fazia versinhos que serviam de graça para os assistentes.
Progressivamente foi ampliando o palco de suas exibições e angariando fama. Em
1928, meu tio José Pereira Montoril, o Cazuzinha retornou a Assaré para rever
familiares e amigos. Ele estava estabelecido na localidade Porto Serafim, no
Furo Grande desde a década de 1910. Ali prevalecia a jurisdição do município
paraense de Macapá. Em Assaré, Cazuzinha Montoril ficou hospedado na casa de
seu primo José da Silva Pereira, a Pereirinha, que lhe falou a respeito de um
parente de ambos residentes em Serra de Santana que era um prodígio de inspiração.
Destacava-se como improvisador, cantador em desafio a viola e outras
modalidades conhecidas no folclore brasileiro. Cazuzinha Montoril decidiu ir a
Serra de Santana para conhecer o primo violeiro e gostou da performance do parente. Foi preciso muita conversa
para convencer Mariinha a deixar o jovem poeta acompanhá-lo ao Pará. A viagem
para Belém, as suas custas, ocorreu no mês de maio a bordo do vapor Itapajé, as custas de Cazuzinha. Em Belém, Cazuzinha
apresentou Antônio Gonçalves ao tabelião José Carvalho de Alencar, cearense do
Crato que também era escritor e poeta. Carvalho organizou uma tertúlia e
convidou um público seleto para prestigiar a apresentação de Antônio. O rapaz
de Assaré fez uma formidável exibição
José Carvalho, em belas quadras deu a
Antônio Gonçalves a alcunha de Patativa. O Major Cumaru elogiou o poeta, mas
lamentou ele ser cego de um olho. Patativa de Assaré, ao agradecer os elogios
dedilhou sua viola e cantou: “Minha sorte comigo, foi bem cruel e tirana, só me
consente enxergar, três dias por semana”.Em 1928, o Intendente de Macapá era o
tenente Otávio Accioly Ramos, amigo da família Montoril. Ele abriu as portas da
Intendência Municipal para receber em tertúlia Patativa do Assaré. Em frente da
edilidade havia uma grande casa amarela pertencente ao coronel Coriolano Finéas
Jucá, cearense natural da cidade de Baturité, onde Cazuzinha Montoril se
hospedava quando vinha a Macapá.
Desta vez Antônio Gonçalves da Silva o
acompanhava. Dia 21 de janeiro de 2014, visitei meus parentes em Serra de
Santana e vivi uma das maiores emoções de minha vida. Ali encontrei Geraldo,
Inês e Aloísio, filhos de Patativa. Em Assaré conheci o Pedro e outro primo, o
Raimundo Gonçalves, curiosamente conhecido como “Sem Preconceito”. Minha visita
ao Memorial Patativa do Assaré foi marcante. Em pouco tempo vários familiares
de Antônio Gonçalves e de meus antepassados que ali permaneceram foram ao
memorial para conhecer o primo de Macapá. Passei mais de 4 horas conversando com os filhos de Patativa do Assaré e outros parentes.
Conversa descontraída e alegre, principalmente quando o Geraldo Patativa fazia valer sua espontaneidade. As casas que visitamos são feitas de taipa-de -mão,um modo de edificação onde o barro bem amassado é fixado à parece composta por uma rede de ripas e ramos de árvores. Na cozinha da casa dos pais do Patativa vi uma espécie de dispensa edificada sobre o fogão,onde era guardada a produção de milho, arroz com casca e feijão.Como o fogo ficava aceso durante 24 horas, o calor e a fumaça que dele emanava impedia que os gorgulhos e outra pragas atacassem os alimentos armazenados. Geraldo, na brincadeira, disse que ali eram colocadas as moças velhas e feias que ficavam no caritó.
A estória do caritó o Geraldo falou a uma autoridade solteirona de Assaré e deixou a mulher muito enfezada. Inês lembrou que estiveram em Serra de Santana em época mais recuada, minha prima Capitulina Montoril e outros membros de minha família. Devido a problemas pulmonares a Capitulina precisava respirar ar puro,coisa que não falta naquela região elevada. Também passaram uns dias por lá Dona Sinhazinha, a segunda esposa de Cazuzinha, acompanhada do filho Joaquim e da enteada Luzia Lúcia, a Lucy. Meus avós João Lourenço e Maria Montoril migraram para Castanhal, no Estado do Pará, em março de 1932 e nunca mais retornaram a Assaré.
Andaram por lá, há uns 30 anos minhas tias Francisca Lourdes e Francisca Juracy,com seus respectivos maridos José Alves de Lemos e Fernando Cabral de Melo,mas não encontraram os velhos amigos de outros tempos. Nos meus planos para as próximas férias, quando deveremos ir a Sergipe e Alagoas, incluirei uma permanência mais demorada em Assaré para rever os parentes e conhecer o que restou do Sítio Cachoeira e do Açude Banguê.
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Uma foto rara de Patativa,sorrindo. |
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