domingo, 25 de março de 2012

MANÉ GARRINCHA EM MACAPÁ

               Por Nilson Montoril                                

                                                                                        
Envergando a camisa do Ypiranga, com a qual atuou no 1º tempo do jogo de exirição que realizaou em Macapá, Garrincha ouve a saudação que lhe foi dirigida pelo desportista e torcedor botafoguense, Jarbas Ferreira Gato. No sentido do ponteiro do relógio identificamos as demais pessoas que aparecem na fotografia: Walter Banhos de Araújo, Ronaldo da Mota Borges(repórter esportivo), Orlando Torres(atleta do São José), Luiz Melo(repórter esportivo), Almir Menezes(repórter esportivo), Estácio Vidal Picanço(jornalista e historiador). Garrincha estava "fininho", resultado dos puxados exercicios que fazia no Centro de Treinamento do Palmeiras/SP, preparando-se para o jogo de despedida da Seleção Brasileira.

               Em 1973, quando suas pernas tortas estavam ainda mais atrofiadas Mané Garrincha, o maior ponta direita do futebol mundial veio fazer um jogo de exibição em Macapá. Ele estava sem clube e precisava de dinheiro para sua subsistência. Cobrava quatro mil cruzeiros para vestir a camisa do time que pagasse o cachê. Quando as despesas eram pagas mediante coleta feita por dois clubes rivais, Mané Garrincha jogava um tempo por cada agremiação. Jogava não é o termo preciso para ser aplicado, mas a torcida vibrava quando ele dominava a bola e saia driblando seus adversários. Na maior parte do tempo o “Demônio das Pernas Tortas” recebia a bola e fazia lançamentos preciosos a seus companheiros. Como torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas me acostumei a ver a “Estrela Solitária” brilhar intensamente nos gramados do país e do exterior. Entre os anos de 1953 a 1965, Garrincha defendeu a camisa alvinegra do “Glorioso de General Severiano”.

 Foi descoberto pelo lateral Arati, que havia integrado uma famosa linha intermediária do Botafogo: Arati, Bob e Juvenal. Em 1953, o lateral esquerdo do Botafogo era o Nilton Santos, que levou um baile do Garrincha no primeiro treino do Mané. Após o treino o Nilton Santos endossou a contratação do ponteiro, haja vista que jamais gostaria de tê-lo como adversário. Na primeira partida que o Botafogo fez, com Garrincha vestindo a camisa nº. 7, o alvinegro venceu o Bonsucesso por 6x3, em 19/7/1953. Seu último jogo pelo fogão ocorreu a 15/9/1965, com vitória sobre a Portuguesa Carioca por 2x1. Seu último gol aconteceu no jogo Botafogo1x0 Flamengo, realizado no dia 22/8/1965. Garrincha disputou 609 jogos pelo Botafogo e marcou 252 gols. Foi campeão carioca em 1957, 1961 e 1962. Campeão do Torneio Rio - São Paulo em 1963 e 1964.

              Quando ele deixou o Botafogo, a bebida havia dominado totalmente o talentoso Garrincha. O Corinthians se interessou por ele e tentou recuperá-lo para o futebol. O diagnóstico médico indicava que o Mané tinha uma distrofia física: “de frente, a perna esquerda era 6 cm mais curta que a direita e flexionada para o lado direito. A perna direita apresentava o mesmo desenho”. No Timão, na temporada 1966/1967, Garrincha realizou 13 jogos e marcou apenas 2 gol: derrota para o Cruzeiro por 2 x 1 e vitória diante do São Paulo por 2 x 0. Despediu-se do Corinthians com uma derrota contundente de 3x0 para o Santos.Passou vários meses sem clube, indo jogar no Atlético Júnior de Barranquilha, na Colômbia.Só fez uma partida, com derrota de 3x2 diante do Santa Fé, em 20/8/1968.Depois atuou no Flamengo( 14 jogos e 4 gols), Olaria(10 jogos e 1 gol). Participou de 61 jogos pela Seleção Brasileira, assinalando 17 gols. Campeão mundial em 1958 e 1962. Pela Seleção Carioca marcou 7 gols em 9 jogos.Excursionou por algumas cidades da Itália realizando exibições. No geral, ele participou de 714 jogos e consignou 283 gols. Não foram computados os tentos marcados em jogos de exibição por times do interior do Brasil. A 7/2/1957, ele fez parte de um combinado formado por jogadores do Botafogo e do Flamengo, na vitória sobre o Honved, da Hungria, por 6x2. Mané marcou um gol. Em 1968, Garrincha foi contratado  pelo Treze de Campina Grande/Paraiba para enfrentar a seleção da Romênia. Ekle ficou em campo por 40 minutos e os romenos venceram por 2x1.


               Garrincha desembarcou em Macapá na manhã do dia 11 de agosto de 1973. Já havia vestido a camisa de 13 clubes no giro realizado no Nordeste. Ficou hospedado no decadente Macapá Hotel. Louco por passarinhos, ele demonstrou interesse em conhecer quem tinha a mesma mania. Apresentaram-lhe o Chefe Escoteiro Humberto Santos, que entre outros pássaros criava um rouxinol, o “Preto”, pelo qual o Mané se apaixonou. Deram-lhe uma gaiola com um curió e um alçapão. Arranjaram-lhe como guia o índio Tunari, que passava a maior parte do tempo na recepção do Macapá Hotel vendendo artesanatos indígenas que fabricava. O Tunari e o Garrincha tinham um ponto em comum: apreciavam a marvada pinga. Na manhã de sábado, eu e o João Silva fomos ao hotel tentar uma entrevista com o Garrincha. O encontramos sentado no assoalho do apartamento, ao lado do Tunari, bebendo cachaça e tirando o gosto com camarão.

        Como botafoguense, jamais imaginei conhecer o Garrincha em tal situação. Diante da nossa perplexidade e da censura feita pelo João Silva, Garrincha disse que a vida é assim mesmo, dá e tira. Nunca senti tanta pena de uma pessoa como naquele dia. Domingo pela manhã, dia 12/8/1973, reencontrei o Garrincha no Estádio Glicério Marques. Eu havia atuado pelo Grêmio Recreativo Universitário do Território do Amapá-GRUTA, que, na preliminar empatou em 1x1 com o Ipanema Esporte Clube. Uma rápida solenidade ocorreu no centro do campo,estando presente o Prefeito Municipal de Macapá, Lourival Bevenuto da Silva. A proprietária do “Armazém Colorado”, esposa do desportista Bernardino Sena, entregou ao Garrincha uma rosa de prata.Ficou acertado que o Mané atuaria um tempo pelo Ypiranga e um tempo pelo São José, os dois maiores rivais do futebol amapaense naquela oportunidade. Assim foi feito.

                No primeiro tempo, o conjunto negro-anil do bairro proletário atacou a meta que fica próximo ao portão de entrada do "Gigante da Favela"e contou com o concurso de Garrincha pela extrema direita do ataque. Pouco foi acionado por seus companheiros e teve pouca oportunicade de realizar suas belas jogadas. Na etapa final a estória foi outra. Defendendo o São José, Garrincha ficou mais à vontade e frequentemente os atletas tricolores lhe passavam a bola. Neste tempo do jogo o "Anjo das Pernas Tortas" brincou os torcedores com belas jogadas, 4 delas memoráveis: cobrança de falta para o São José, com a bola batendo na trave; um drible desconcertante que fez 3 jogadores do Ypiranga passarem direto para a linha de fundo; um chute longo que o goleiro defendeu; uma ginga de corpo incrível sobre o zagueiro ypiranguista Oleno que o fez perder o rumo.No final da partida o São José venceu por 2x1. Deomir marcou os 2 gols do tricolor e Bil descontou pata o Ypiranga. Como o jogo foi festivo, não oficializado pela Federação Amapaense de Desportos, o registro do evento ficou na memória dos que foram ao "Glicerão". O tempo faz as pessoas esquecerem certos acontecimentos e vários atletas que estiveram em campo quase nada lembram de um fato tão importante.


segunda-feira, 19 de março de 2012

BOMFIM SALGADO, REPÓRTER ACIMA DE TUDO

                         
               Nilson Montoril

Bonfim Salgado, participando de um congraçamento dos integrantes do Jornal do Dia, em Macapá. Ao lado de amigos ele  saboreava uma cervejinha. A fotografia foi tirada no dia 2 de janeiro de 2008, época em que o jornalista atuava como articulista do citado órgão de imprensa.(Foto do arquivo do Jornal do Dia)

              O jornalista Bomfim Salgado costumava dizer que um homem de imprensa nunca deve deixar de lado sua condição primordial de reporte. Dizia e cumpria essa máxima com invulgar sagacidade. Fomos contemporâneos como alunos do Colégio Amapaense no inicio da década de 1960, e quase ao mesmo tempo evidenciamos nossas tendências para o jornalismo. Ele participava do movimento estudantil com mais impetuosidade do que eu, tanto que vivia infiltrado entre os que se devotavam às questões políticas, mesmo as de cunho partidário. Bomfim Salgado gostava de comentar tudo o que acontecia no cenário nacional. Para manter-se bem informado sintonizava as poderosas emissoras de rádio do sul do país e lia jornais e revistas que chegavam as suas mãos graças à gentileza de amigos mais abastados. Nascido no município de Amapá, a 29 de novembro de 1948, recebeu o nome cristão de José Antônio Bomfim Salgado, dado pelos pais Benedito Salgado e Antônia Bomfim Salgado. A família mudou-se para Macapá em busca de melhores condições de trabalho para seu Benedito, mecânico de máquinas pesadas, e a fim de favorecer melhor atendimento educacional aos filhos. O ano de 1968 marcou o ingresso do Bonfim Salgado no jornalismo. Ele fez parte da primeira equipe de redatores e noticiaristas da Rádio Educadora São José Ltda., emissora pertencente à Prelazia de Macapá. A partir de 4 de agosto de 1968, data em que a Rádio Educadora entrou no ar em caráter efetivo, o Departamento de Jornalismo contava com a participação de Hélio Penafort, Paulo Oliveira, Bonfim Salgado e Odilardo Lima. O batismo de fogo da reportagem ocorreu no dia 10 de agosto, ocasião em que o Presidente da República, Arthur da Costa e Silva, visitava o Território Federal do Amapá. Tudo saiu a contento. Tendo boa desenvoltura com a escrita e a locução, Bonfim Salgado recebeu a incumbências de apresentar o programa “Fatos Boatos e Vice Versa”, levado ao ar às 13 horas, de segunda a sexta-feira.
Flagrante histórico para o então Território Federal do Amapá, ocorrido no dia 8 de agosto de 1968. Em primeiro plano, de terno preto, vemos o Presidente da República Arthur da Costa e Silva e o Ministro da Marinha, Maximiliano da Fonseca, prestes a lançar uma garrafa de chapagne contra a proa do Iate Marcilio Dias, recem saido de uma reforma no estaleiro territorial. À esquerda do ministro está o general Erneto Gaisel. Entre o presidente e o ministro aparecem Hélio Penafort e Bonfim Salgado, ambos integrantes da equipe de jornalistas da Rádio Educadora São José Ltda.(Fotopublicada pelo Hélio Penafort, recolhida por Nilson Montoril)
                Os deslizes dos governos territorial e municipal eram evidenciados de forma incisiva e o povo tinha voz ativa. Para tentar frear a grande aceitação do programa da RE, o governo contra atacou através da Rádio Difusora de Macapá. Os textos eram produzidos pelo jornalista Alcy Araújo Cavalcante e outros articulistas e lidos com soberba maestria pelo Pedro Silveira. Sem argumentos para contestar o que o Bonfim dizia, chegaram a chamá-lo, no ar, de “Macaco Torrado”. Altivo ele ignorou a ofensa.Ainda em 1968, Bonfim Salgado passou a devotar-se à política partidária, filiando-se a Aliança Renovadora Nacional-Arena, na condição de correligionário do então deputado federal Janary Gentil Nunes. O Território Federal do Amapá era governado pelo General Ivanhoé Gonçalves Martins, que não privilegiou os políticos, mas também não aceitou ações vingativas deles advindas. Contou com a ação do cunhado, coronel Gerson Góes e do diretor da Divisão de Segurança e Guarda, capitão-de-corveta Luiz Gonzaga Vale, para intimidar os cidadãos que ousassem criticar seu governo. Segundo relatos do próprio Bonfim, ele foi detido oito vezes e submetido a cansativos interrogatórios. Em 1970, ano eleitoral, o Amapá viveu momento de incontida rivalidade entre os partidários de Janary Nunes e seus opositores. O Movimento Democrático Brasileiro-MDB deliberou pela formação de uma chapa constituída pelos professores Antônio Cordeiro Pontes e Lucimar Amoras Del Castilho. Os adversários de Janary Nunes diziam que ele relegou o Amapá quando aceitou presidir a Petrobrás e depois foi ser embaixador do Brasil na Turquia. A classe estudantil apoiou maciçamente os candidatos do PMB. Bonfim Salgado permaneceu fiel a Janary Nunes e acreditava que o ex-governador era o único que poderia tornar realizade a mística do Amapá. Bonfim foi um dos coordenadores da campanha de Janary Nunes, ganhando desafetos e ofensores. Consciente de que a vitória de Antônio Pontes geraria um clima político que lhe seria adverso, Bonfim contou com o apoio de seu líder político para ir residir no Rio de Janeiro. Soube aproveitar o tempo que passou na cidade maravilhosa, qualificando-se em Comércio Exterior e militando na imprensa local. Em 1985, após a posse do Dr. Nova da Costa como governador do Amapá, Bonfim Salgado retornou a Macapá, atuando como assessor de imprensa e consultor político. Também participou do governo de João Capiberibe e de Waldez Góes. Sempre foi senhor de si, refutando a condição de integrante da “mídia adestrada”. Quis ser e foi jornalista “free lance”, mesmo aceitando algumas conveniências de seus patronos que não lhe levasse a transgredir seus princípios éticos. Por ter decidido manter ampla liberdade na sua trilha de jornalista, Bomfim nunca foi funcionário público efetivo e sim, em alguns momentos, um empregado público, ocupando cargos comissionados. A Carteira de Trabalho do Bonfim só recebeu o registro de um contrato pouco tempo antes da sua morte.Ele permitiu que isso fosse feito pelo grupo empresarial Pinheiro Borges, ao qual o "Marquês de Bonfá" prestava serviços jornalisticos e de consultoria politica. Até o dia 12/3/2012, suas assas estiveram livres para voar por onde bem entendesse. E ele voou, para a eternidade.

quarta-feira, 14 de março de 2012

APERITIVO CAIMBÉ



Caimbé da espécie Curatella americana, de pequeno porte, comum nos cerrados e lavrados da Amazônia. O aperitivo fabricado pelo senhor Pedro Azevedo Costa era feito com a casca dessa árvore.
                                     
      

                 Na edição número dois (31/3/1945), do Jornal Amapá, impresso pelo governo do Território Federal do Amapá há partir o dia 19 de março de 1945, encontram-se diversas propagandas de estabelecimentos comercias instalados em Macapá e em outras localidades da novel unidade federada. Um anúncio bem simples evidencia que, naquela época, fabricava-se na cidade um aperitivo denominado “CAIMBÉ”, preparado pelo macapaense Pedro Azevedo Costa. O reclame publicitário dizia: “Provem CAIMBÉ, de P. A. Costa. Aperitivo de gosto agradável, barato e inofensivo, licenciado pelo Laboratório Central de Enologia do Rio de Janeiro sob o nº. 00396. À venda na Av. Presidente Vargas, nº. 46. Aceitam-se encomendas de qualquer quantidade”. O senhor Pedro Azevedo Costa, mais conhecido por Perico Costa, integrava uma família tradicional de Macapá, cuja referência maior era o general do Exército e engenheiro militar João Álvares de Azevedo Costa, macapaense que, no inicio de sua carreira, ainda no tempo do II Império do Brasil, fez parte da guarda pessoal do Imperador D. Pedro II.  Perico Costa era proprietário de uma casa comercial de secos e molhados e fabricava o aperitivo em sua residência, um amplo imóvel que figurava como um dos melhores de Macapá. Suas atividades se estendiam de segunda-feira a sábado. Aliás, naquela época havia uma tal “lei seca” que proibia a venda de bebidas alcoólicas aos domingos.Ela vigorou no período de 1939/1945, na chamada Era Vargas, sendo prorrogada até 1951, pelo Decreto-lei nº. 7.604/1945.
Arvore caimbé da espécie coussapoa asperifolia, com até 15 metros de altura, encontrada nos cerrados da Região Centro Oeste do Brasil, notadamente no Estado do Mato Grosso. O exemplar acima não é tão tortuoso como os encontrados nos campos cerrados do Estado do Amapá.

                  O aperitivo Caimbé era preparado com a casca da árvore de igual nome que viceja nos cerrados, cerradões, lavrados e capões. Algumas espécies podem ser encontradas nas várzeas. As folhas têm propriedades medicinais contra artrite, diabetes e pressão alta, O chá das flores atua contra tosse, bronquite e resfriados. A infusão da casca fornece uma bebida eficiente para curar aftas, dores de cabeça e de estômago, resfriados e pulmões. A espécie utilizada no fabrico do aperitivo é da Curatella americana, planta dileciácea da Amazônia, de pequeno porte, de madeira imputrescível, usada em cavernas de canoas, marcenaria e construção civil. A casca é rica em tanino, as folhas são ásperas, usadas como lixas, e os frutos dão uma tinta pardo-escura. A árvore com estas propriedades é encontrada em várias regiões do Brasil com nomes diversos: lixeira, caimbé, cajueiro bravo, cajueiro bravo do campo, cambarba, marajoara, penttiera, sambaiba e sobro.
Galho de um caimbé contendo flores em capitulos e surgimento dos primeiros frutos. O chá das flores atua contra tosse, gripe e resfriado. Dos frutos se retira uma tinta pardo-escura.
               Para colher a casca da árvore caimbé, os empregados de Perico Costa não precisavam andar muito. Em toda a área de campo que circundava a pequena cidade de Macapá os tortuosos caimbés imperavam. Era só usar o terçado e retirar a quantidade de casca necessária. Em seguida ela era macerada à cacete e colocada em tambores com água e açúcar para fermentar. Algum produto químico era adicionado, mas a fórmula nunca foi revelada. Devido à resina de cor amarelo-esverdeada da madeira, o aperitivo ficava amarelo claro. A dosagem alcoólica não era forte, mas os gulosos acabavam ficando embriagados. Quando havia treino dos times de futebol de Macapá, no campo da Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos, nos dias de semana, a venda do aperitivo aumentava consideravelmente no comércio do Perico Costa. Encerrado o treino e mesmo jogos, os atletas se dirigiam ao ponto de venda do Caimbé para matar a sede. A maioria deles afirmava que o produto tinha efeitos cicatrizantes e ajudava a curar baques, gastrite, arranhões e até unha encravada. O Sr. Walter Batista Nery, que em 1945, integrava o elenco do Amapá Clube, diz que o aperitivo era muito bom, com sabor variando entre o mel e o licor. Perico Costa sempre procurou obedecer à lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas aos domingos. Entretanto, em maio de 1945, confiou na suposta discrição do freguês João Evangelista de Almeida e vendeu-lhe um litro de Caimbé num dia de domingo. Nem bem saiu da casa do comerciante, o comprador foi bebericar perto da Divisão de Segurança e Guarda e acabou sendo recolhido aos costumes.
Ramo de uma árvore de Caimbé apresentando folhas novas e flores que gerarão os frutos. O chá das folhas, segundo a medicina caseira, é um santo remédio para artrite, diabétes e pressão alta. Secas, elas servem de lixa.
                  Na edição nº. 6 do Jornal Amapá, que circulou no dia 12 de maio de 1945, o fato ganhou destaque na coluna Registros Policiais: “Vendia Caimbé Durante Lei Seca – Pedro. A. Costa, conhecido fabricante da bebida denominada “Caimbé”, não se conformando com a lei seca, vendeu, em um domingo, um litro dessa aguardente composta a João Evangelista de Almeida. Feita a apreensão da “água que passarinho não bebe” o fabricante vendedor foi obrigado a pagar a multa regulamentar”. Desse dia em diante, Perico Costa não atendeu nem os pedidos especiais que algumas autoridades faziam as escondidas. Quem desejasse ter o aperitivo Caimbé para saboreá-lo aos domingos, em sua residência, tinha que comprá-lo no decorrer da semana. Curioso é que na época já funcionava na esquina da Rua São José com a Avenida Presidente Vargas, o Bar Elite, de João Vieira de Assis, onde a cerveja era servida bem gelada. O Bar Elite também dispunha de outras renomadas bebidas, mas o pessoal preferia mesmo era o aperitivo fabricado por Perico Costa, por ser mais barato.

quinta-feira, 1 de março de 2012

FALECE DO RIO DE JANEIRO AMILCAR PEREIRA

                  
      Por Nilson Montoril


Em primeiro plano visualisamos o Governador Amilcar Pereira e o Padre Vitório Galliani. Em 2º plano vemos o Deputado Coaracy Gentil Monteiro Nunes(à direita do Dr. Amilcar) e o Padre Antônio Cocco( à esquerda do Padre Vitório). O Sr. PauxyGentil Nunes, que então exercia o cargo de Secretário Geral, está perto do irmão Coaracy usando camisa branca. O policial que faz continência é o Maestro Miguel Silva, regente da Banda de Música da Guarda Territorial.

               Faleceu ontem, dia 28 de fevereiro de 2012, às 11h50min, na cidade do Rio de Janeiro, o médico Amílcar da Silva Pereira, o quarto governador do Território Federal do Amapá. Era natural de Bragança, a Pérola do Caeté, no Estado do Pará, onde nasceu no dia 16 de fevereiro de 1919. Seus pais, Antônio Manuel Pereira e Argentina Pinheiro da Silva, deram-lhe todo o apoio necessário para que conseguisse concretizar o sonho de ser médico. Cursou o primário e o ginasial em sua cidade natal, ingressando na Escola de Medicina e Cirurgia do Pará em 1939. Concluiu o curso de medicina em 1945. Para reforçar os recursos financeiros recebidos dos pais, lecionou Ciências Físicas e Naturais no Colégio Progresso Paraense, em Belém até o término do ano letivo de 1945.  Ainda no inicio do ano de 1946, embarcou para Macapá em 15 de fevereiro, ingressando no quadro de funcionários do recém criado Território do Amapá. Ainda era solteiro e aceitou passivamente sua nomeação para o cargo de Diretor do Posto Médico de Oiapoque. Na cidade fronteiriça iniciou suas atividades profissionais e soube enfrentar com muita resignação os problemas naturais de um lugar tão isolado. Em Oiapoque, conheceu a Professora Normalista Oneide Cruz e Silva, com a qual contraiu matrimônio no final do ano de 1947, tendo os filhos Paulo Sérgio e Telma, ambos nascidos no Amapá. Enquanto residiu na cidade do Oiapoque, o Dr. Amílcar Pereira desenvolveu outras atividades para suprir lacunas na administração do município, até mesmo na condição de prefeito em substituição ao Dr. Sérgio Olindense Ferreira.

Solenidade festiva de aniversário do Rotary Clube de Macapá de julho de 1956, dirigida por Jacy Barata Jucá, presidente da instituição. Fazem parte da mesa: Professora Oneide Cruz Pereira, o Governador Amilcar da Silva Pereira e o Secretário Geral do Território,Pauxy Gentil Nunes. Detalhe para o bolo confeitado e para a garrafa do Flip Guaraná, esta à frente do Dr. Amilcar.(Arquivo Nilson Montoril)

             Ao ser transferido para Macapá, passou a exercer a medicina na então Divisão de Saúde, começando como Chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Geral de Macapá que havia sido inaugurada há pouco tempo. Era médico pediatra e teve decisiva participação nas atividades da Legião Brasileira de Assistência, destacando-se como Diretor do Posto de Puericultura Iracema Carvão Nunes, então localizado ao lado da residência governamental, na Avenida Cândido Mendes de Almeida. Foi um dos fundadores do Centro de Estudos Dr. Lélio Gonçalves da Silva, que funcionou no próprio Hospital Geral de Macapá e compreendia uma Sociedade Médica do Território do Amapá. Ele, na condição de presidente, o Dr. Mário de Medeiros Barbosa e o Dr.Carlos Asclepíades de Lima constituíram a Comissão Cientifica da entidade Voltou a atuar no magistério lecionando Ciências Físicas e Naturais no Ginásio Amapaense. Também ocupou o cargo de diretor do citado educandário, hoje registrado como Colégio Amapaense. A 16 de maio de 1954, em caráter interino, o Governador Janary Gentil Nunes o guindou à condição de Secretário Geral, substituindo o Dr. Hildemar Pimentel Maia, à época suplente do deputado Coaracy Nunes, mas servidor efetivo do Ministério da Justiça e Negócios Interiores na condição de Promotor Público.

Em solenidade realizada em 1956, o Promotor Público e Suplente de Deputado Federal, Hildemar PImentel Maia faz uso da palavra. Sentado à esquerda do orador, vemos o Governador Amilcar da Silva Pereira. Atrás dele, encostado na janela, vislumbramos a figura do técnico de som da Rádio Difusora de Macapá, Carlos Lins Cortes, popularmente conhecido por Baião Caçula. ( Foto escaneada do livro "Histório do Amapá, da Autonomia Territorial ao Fim do Janarismo-1943-1970"-página 97)

                A Secretaria Geral do Território equivalia a um órgão com ações próprias de vice-governadoria. Sua efetividade ocorreu no dia 1º de julho do mesmo ano. A 2 de fevereiro de 1956, em decorrência da nomeação do Coronel Janary Nunes para o cargo de Presidente da Petrobrás, o Dr. Amílcar da Silva Pereira passou à condição de governador, nomeado pelo Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. No decorrer de seu governo tivemos a implantação da Companhia de Eletricidade do Amapá (3/9/1956) e a instalação do Município de Calçoene (25/1/1957), ambos os projetos de autoria deputado Coaracy Nunes. No dia 5 de janeiro de 1957, ocorreu a inauguração do Porto de Santana, estando presente em Macapá o Presidente do Brasil, Dr. Juscelino Kubitschek.Dia 11 de janeiro, Amílcar Pereira testemunhou o primeiro embarque de manganês para o exterior Como um acidente aéreo ocorrido a 21/1/1958, no campo de aviação do povoado Nossa Senhora do Carmo, no Rio Macacoary, ceifou a vida do deputado federal Coaracy Nunes e de seu suplente Hildemar Maia, o Amapá ficou sem representatividade na Câmara Federal. Houve a necessidade de ser feita uma eleição extemporânea a 18 de maio de 1958, para eleger novos parlamentares. O Dr. Amílcar Pereira foi escolhido pela legenda do PSD, tendo o Promotor Público Aurélio Távora Duarte como suplente. Para poder concretizar sua candidatura deixou o cargo de governador.
 O religioso à esquerda é o Bispo Prelado de Macapá, Dom Aristides Piróvano.Ao centro, de camisa branca e falando ao povo vemos o Governador Raul Montero Valdez. O Dr. Amilcar Pereira, de camisa escura exercia o cargo eletivo de Deputado Federal. O menino da foto é Paulo Sérgio, filho do Dr. Amilcar.(Arquivo Nilson Montoril)


               Foi substituído por Pauxy Gentil Nunes, que tomou posse dia 14/2/1958. Os demais partidos não concorreram. À época, o Território Federal do Amapá tinha apenas 3.664 eleitores. Sob forte comoção 3.191 eleitores elegeram a única chapa registrada. Sua posse na Câmara Federal se deu no dia 7/7/1958. O Amapá ficou sem representatividade no Congresso Nacional por quase cinco meses. O Dr. Amílcar Pereira ainda cumpria o restante do mandato de Coaracy Nunes quando participou de nova eleição, levada a efeito no dia 3/10/1958. Desta feita, a chapa do Partido Social Democrático, composta por Amílcar Pereira e Aurélio Buarque teve a concorrência dos candidatos Dalton Cordeiro de Lima e Amaury Guimarães Farias, ambos filiados ao Partido Trabalhista Brasileiro. No decorrer da apuração, os opositores mantiveram a dianteira, mas foram suplantados após a contagem dos votos sufragados nos Municípios de Amapá, Calçoene e Oiapoque. Enquanto Amílcar Pereira desempenhava suas atividades em Brasília, o governador O flagrante é de 1962, feito na cidade de Mazagão.Pauxy Nunes e seus correligionários desencadearam incisiva perseguição aos funcionários partidários do PTB, descontentando o deputado que mantinha relações cordiais com os filiados da aludida agremiação política. Foi por indicação de Amílcar Pereira que a 8 de setembro de 1961, Mário de Medeiros Barbosa e Francisco Torquato de Araújo foram nomeados interinamente para os cargos de Governador e Secretário Geral respectivamente, em substituição a Joaquim Francisco de Moura Cavalcante, que estava do cargo desde o dia 17 de março de 1961. Os dois categorizados servidores permaneceram nos cargos até 21 de outubro, ocasião em que, por intercessão do Dr. Amílcar, saiu a nomeação do Dr. Raul Montero Valdez.  Em outubro de 1962, o coronel Janary Nunes, que já havia deixada a Presidência da Petrobrás e a Embaixada do Brasil na Turquia, decidiu candidatar-se ao cargo de deputado federal pelo Amapá. O carisma do 1º governador do Território fez a diferença e ele superou o Dr. Amílcar Pereira nas urnas, obtendo 6.559 votos contra 4.018 votos do oponente.  Ao encerrar seu mandato, Amílcar Pereira sentiu que era chegado o momento de deixar o Amapá para não sofrer retaliações, haja vista que havia rompido com os Nunes.



O Presidente Juscelino Kubitscheck, usando terno escuro, caminha pela pista que liga o escritório da ICOMI ao porto de embarque de manganês que iria ser inaugurado na manhâ do dia 5/1/1957, em Santana. À sua direita, seguia o Dr. Augusto Antunes e à esquerda o Coronel Janary Gentil Nunes, Presidente da Petrobrás. Um pouca mais á frente vemos o Deputado Federal Coaracy Nunes e o Governador Amilcar da Silva Pereira.(Foto Revista ICOMI Noticias)
              Requereu transferência para o quadro de servidores do Ministério da Saúde e fixou residência no Rio de Janeiro. Durante o governo do Dr. Nova da Costa houve uma tentativa de prover uma visita do Dr. Amílcar Pereira ao Amapá, mas ele não aquiesceu o pedido. Seu filho Paulo César, servidor da Caixa Econômica Federal, esteve em Macapá algumas vezes e narrou a seu pai as modificações que a cidade sofreu. O Dr. Amílcar da Silva Pereira também foi membro do Aéro-Clube de Macapá e do Rotary Clube. Apreciava e estimulava os esportes, principalmente o pedestrianismo e o futebol, modalidades que ele praticou. Era um cidadão livre de vaidades, não promoveu perseguições a funcionários oposicionistas e nem as referendava. Foi  amigo fiel dos que lhe dedicavam amizade sincera.Morreu 12 dias após completar 93 anos de idade. O Amapá lhe deve um tributo.

O Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira recebe do Presidente da Indústria e Comércio de Minérios S.A-ICOMI, Dr. Augusto Trajano Antunes, uma medalha comemrativa da inauguração do Porto de Santana a 5/1/1957. O Dr. Amilcar da Silva Pereira, Governador do Território Federal do Amapá, ao fundo, testemunha a homenagem prestada ao Chefe da Nação Brasileira.(Foto Nilson Montoril)