Nilson Montoril
O jornalista Bomfim Salgado costumava dizer que um homem de imprensa nunca deve deixar de lado sua condição primordial de reporte. Dizia e cumpria essa máxima com invulgar sagacidade. Fomos contemporâneos como alunos do Colégio Amapaense no inicio da década de 1960, e quase ao mesmo tempo evidenciamos nossas tendências para o jornalismo. Ele participava do movimento estudantil com mais impetuosidade do que eu, tanto que vivia infiltrado entre os que se devotavam às questões políticas, mesmo as de cunho partidário. Bomfim Salgado gostava de comentar tudo o que acontecia no cenário nacional. Para manter-se bem informado sintonizava as poderosas emissoras de rádio do sul do país e lia jornais e revistas que chegavam as suas mãos graças à gentileza de amigos mais abastados. Nascido no município de Amapá, a 29 de novembro de 1948, recebeu o nome cristão de José Antônio Bomfim Salgado, dado pelos pais Benedito Salgado e Antônia Bomfim Salgado. A família mudou-se para Macapá em busca de melhores condições de trabalho para seu Benedito, mecânico de máquinas pesadas, e a fim de favorecer melhor atendimento educacional aos filhos. O ano de 1968 marcou o ingresso do Bonfim Salgado no jornalismo. Ele fez parte da primeira equipe de redatores e noticiaristas da Rádio Educadora São José Ltda., emissora pertencente à Prelazia de Macapá. A partir de 4 de agosto de 1968, data em que a Rádio Educadora entrou no ar em caráter efetivo, o Departamento de Jornalismo contava com a participação de Hélio Penafort, Paulo Oliveira, Bonfim Salgado e Odilardo Lima. O batismo de fogo da reportagem ocorreu no dia 10 de agosto, ocasião em que o Presidente da República, Arthur da Costa e Silva, visitava o Território Federal do Amapá. Tudo saiu a contento. Tendo boa desenvoltura com a escrita e a locução, Bonfim Salgado recebeu a incumbências de apresentar o programa “Fatos Boatos e Vice Versa”, levado ao ar às 13 horas, de segunda a sexta-feira.
Os deslizes dos governos territorial e municipal eram evidenciados de forma incisiva e o povo tinha voz ativa. Para tentar frear a grande aceitação do programa da RE, o governo contra atacou através da Rádio Difusora de Macapá. Os textos eram produzidos pelo jornalista Alcy Araújo Cavalcante e outros articulistas e lidos com soberba maestria pelo Pedro Silveira. Sem argumentos para contestar o que o Bonfim dizia, chegaram a chamá-lo, no ar, de “Macaco Torrado”. Altivo ele ignorou a ofensa.Ainda em 1968, Bonfim Salgado passou a devotar-se à política partidária, filiando-se a Aliança Renovadora Nacional-Arena, na condição de correligionário do então deputado federal Janary Gentil Nunes. O Território Federal do Amapá era governado pelo General Ivanhoé Gonçalves Martins, que não privilegiou os políticos, mas também não aceitou ações vingativas deles advindas. Contou com a ação do cunhado, coronel Gerson Góes e do diretor da Divisão de Segurança e Guarda, capitão-de-corveta Luiz Gonzaga Vale, para intimidar os cidadãos que ousassem criticar seu governo. Segundo relatos do próprio Bonfim, ele foi detido oito vezes e submetido a cansativos interrogatórios. Em 1970, ano eleitoral, o Amapá viveu momento de incontida rivalidade entre os partidários de Janary Nunes e seus opositores. O Movimento Democrático Brasileiro-MDB deliberou pela formação de uma chapa constituída pelos professores Antônio Cordeiro Pontes e Lucimar Amoras Del Castilho. Os adversários de Janary Nunes diziam que ele relegou o Amapá quando aceitou presidir a Petrobrás e depois foi ser embaixador do Brasil na Turquia. A classe estudantil apoiou maciçamente os candidatos do PMB. Bonfim Salgado permaneceu fiel a Janary Nunes e acreditava que o ex-governador era o único que poderia tornar realizade a mística do Amapá. Bonfim foi um dos coordenadores da campanha de Janary Nunes, ganhando desafetos e ofensores. Consciente de que a vitória de Antônio Pontes geraria um clima político que lhe seria adverso, Bonfim contou com o apoio de seu líder político para ir residir no Rio de Janeiro. Soube aproveitar o tempo que passou na cidade maravilhosa, qualificando-se em Comércio Exterior e militando na imprensa local. Em 1985, após a posse do Dr. Nova da Costa como governador do Amapá, Bonfim Salgado retornou a Macapá, atuando como assessor de imprensa e consultor político. Também participou do governo de João Capiberibe e de Waldez Góes. Sempre foi senhor de si, refutando a condição de integrante da “mídia adestrada”. Quis ser e foi jornalista “free lance”, mesmo aceitando algumas conveniências de seus patronos que não lhe levasse a transgredir seus princípios éticos. Por ter decidido manter ampla liberdade na sua trilha de jornalista, Bomfim nunca foi funcionário público efetivo e sim, em alguns momentos, um empregado público, ocupando cargos comissionados. A Carteira de Trabalho do Bonfim só recebeu o registro de um contrato pouco tempo antes da sua morte.Ele permitiu que isso fosse feito pelo grupo empresarial Pinheiro Borges, ao qual o "Marquês de Bonfá" prestava serviços jornalisticos e de consultoria politica. Até o dia 12/3/2012, suas assas estiveram livres para voar por onde bem entendesse. E ele voou, para a eternidade.
Um comentário:
Espetacular Nilson, o que voce escreve sobre o Bonfim.Com a sua permissão vou colar este artigo em meu blog, apesar do link aberto do meu para o seu blog.
Vou comprar um telefone novo para não mais perer as ligações dos amigos, como tenho perdido as suas
Postar um comentário