quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PERCALÇOS DA AGRICULTURA NO AMAPÁ


       
      Por Nilson Montoril

                        Ainda em 2011, o empirismo agrícola prevalece na lavoura do Amapá. Nossos agricultores continuam utilizando o machado e o fogo para limpar as áreas desmatadas destinadas as suas roças. Raramente algum produtor agrícola pode fazer uso de arado, trator, grade e adubo em suas plantações. A cultura da mandioca segue despontando como a de maior prática porque farinha todo mundo come, com a tapioca se faz o beiju e o tucupi é muito apreciado. Como os solos do Estado do Amapá são em grande parte laterizados, os agricultores optam por culturas mais resistentes. A concorrência de gêneros produzidos em larga escala, com boa colocação no mercado dificulta a venda de seus produtos. Em 1751, quando os colonos açorianos chegaram a Macapá, plantando de imediato suas roças, as chuvas foram implacáveis com eles. Acostumados a enfrentar revezes os açorianos voltaram a plantar arroz, milho, feijão, urucu, mandioca e hortaliças a partir de junho de 1752. Em Mazagão, a contar de 1771, quando os primeiros colonos foram instalados, a produção começou fraca, mas em 1773, a exemplo de Macapá, já exportava arroz para Belém. Dados referentes ao ano de 1839,  dão conta de que as propriedades agrárias de Macapá haviam prosperado bastante e as fazendas  de criar animais elevaram-se a 52. Macapá, devido a cultura da cana-de-açúcar, registrava  intensa produção de aguardente e açúcar mascavo ou moreno no dizer do caboclo. Plantava-se bastante anileiras e outras leguminosas para a produção de anis. 

                       Em Mazagão, na mesma época, a cultura do arroz evoluia muito bem e a extração de cacau era compensadora. Na Colônia Pedro II, que em 1840, o presidente da Província do Pará mandara o capitão Andrade Parreiras  instalar à margem esquerda do rio Araguary, a agricultura não prosperou como se esperava. Além dos 28 militares e seus familiares, a colônia também abrigou cabanos anistiados. Cada residente recebeu um lote de terras compatível com  o tipo de cultura que desenvolveria e uma ajuda de custo anual , com valor mensal de seis mil réis. O governo provincial concederia outros privilégios aos colonos e soldados que casassem com mulher indígena. Em 1862, Macapá e Mazagão  tinham progredido bem nos trabalhos produtivos do setor primário. Macapá conbtava com 471 estabelecimentos industriais, que empregavam 1.409 pessoas. Havia ainda: 8 engenhos movidos por animais, 2 cortumes, 1 olaria, 60 pequenas fábricas de sabão e 400 sitios produtores de farinha. Plantava-se cacau,fumo,urucu, café, milho, arroz,mandioca,macaxeira e algodão. Colhia-se castanha-do-pará e cacau. O produto que gerava maior volume de venda era a borracha,  cerca de 160 mil réis. Mazagão possuia 5 engenhos de fabricar mel de cana-de-açúcar, 9 fazendas de gado com 953 cabeças, produzia 4.500 arrobas de borracha, colhia 4.000 alqueires de castanha e 400 arrobas de cacau. A partir de 1891, posicionada no local onde está a cidade de Ferreira Gomes,  Colônia Pedro II obteve resultados relativamente apreciáveis. A colônia produziu arroz, feijão, farinha , borracha e outros gêneros. Até um trapiche foi construído, servindo de atracador para navios egressos de Belém, que transportavam estes produtos para a capital do Pará. As febres palustres e a pobreza do solo fizeram a colônia regredir. Em 1890, no lugar denominado “Ponta dos Índios”, o governo republicano do Brasil mandou construir 12 casas de madeira para abrigar um contingente do Exército e colonos. Entretanto, o local foi mal escolhido e o projeto de povoamento da região não teve êxito. Transferida para a localidade de Santo Antônio, à margem direita do Rio Oiapoque, a Colônia Militar ali permaneceu até 1920, ocasião em que surgiu o Núcleo Colonial de Clevelândia. Nos anos de 1920 e 1921, várias casas foram construídas para abrigar colonos nordestinos flagelados pela seca. 

Plantação de cana-de-açúcar
                       O local dispunha de hospital, serraria, escola, estação rádio-telegráfica, luz elétrica, armazém e capela. Em 1923, quando 30 famílias já atuavam na área, prisioneiros políticos e até 158 condenados por crimes comuns lá desembarcaram prejudicando a iniciativa. No período de 1925 a 1927, uma devastadora epidemia de desinteria bacilar ceifou a vida de 42% da população. Em 1935, o governo federal extinguiu o núcleo colonial e colocou Clevelândia sob jurisdição do Ministério da Guerra. Em 1949, quase seis anos após a criação do Território Federal do Amapá, o governador Janary Nunes distribuiu lotes de terras a 12 colonos nordestinos ao longo da estrada que liga a base aérea a Oiapoque. A partir de 1950, o governo territorial iniciou a elaboração de um projeto visando a criação de uma colônia agrícola entre as vilas de Porto Grande e Ferreira Gomes. Outra tentativa agro-pecuária foi realizada na região do rio Matapi, distante 120 km de Macapá. A Colônia Agrícola do Matapi começou a funcionar em fevereiro de 1949 e em março de 1950 registrava a presença de cinco colonos. No mês de junho desse ano havia 17 casas abrigando 100 pessoas. Os lotes de terra tinham a forma retangular medindo 300 m de largura e mil metros de comprimento. Durante os dois primeiros anos cada colono casado recebeu Cr$ 500,00(quinhentos cruzeiros) mensais em forma de pecúlio. Quase todos os colonos vieram de sítios existentes ao longo da Estrada de Ferro de Bragança e plantaram arroz, milho, mandioca, feijão, macaxeira, batata doce, girimum, hortaliças e frutas diversas, mesmo enfrentando os ataques do “chupão”, da formiga-de-fogo e da saúva. O arroz produzido era beneficiado na usina que o governo tinha instalado no Posto de Experimentação Agro-Pecuária da Fazendinha. As sementes eram distribuídas gratuitamente pela Divisão de Produção e o governo comprava toda a safra. 
                          
                       Na região compreendida entre a margen esquerda do rios Araguary e a margem direita do rio Oiapoque, que em 1833, ainda era declarada como área contestada, praticava-se a criação do gado bovino, a coleta de riquezas naturais e a exploração das minas. Existiam então 35 pequenos povoados. A contar de 1841, novos sitiantes se estabelecem na citada região dando origem aos povoados de Amapá, Calçoene, Cunani, Cassiporé, Uaçá, Arucauá e Curupi. Em 1847, no distrito de Aporema, os pecuaristas Antônio Procópio Rila e Lira Lobato introduzem o gado vacum, obtendo ótimo resultado. A vila do Espirito Santo do Rio Amapá pequeno aglomerava o maior contingente populacional da região do Contestado e funcionava como centro dos grandes negócios comerciais.

Plantadores de cana-de-açúcar



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