segunda-feira, 2 de abril de 2012

A VELHA BOA COM NOVO SOM


 Por Nilson Montoril


                                 
Esta foto de meados da década de 1960, mostra o prédio da Rádio Difusora da forma como ele foi conbstruido e inaugurado em 1946. As duas portas frontais davam acesso para o auditório, já desativado no ano em que a fotografia foi batida. O acesso ao estúdio, a discoteda, a sala do diretor e ao controle de audio era feito pelo corredor à direita da foto. O terraço, que tinha piso ladrilhado de branco e preto, como tabuleiro de jogo de dama, era utilizado para eventos diversos.

                        Criados para marcar a presença do governo brasileiro nas faixas de fronteira, os Territórios Federais, entre eles o do Amapá, permitiram ao Brasil resgatar a cidadania das pessoas que viviam isoladas e esquecidas nas áreas onde eles despontaram. As humildes cidades de Macapá, Mazagão, Amapá, Boa Vista e Porto Velho, que, até 13 de setembro de 1943, integravam os Estados do Pará e Amazonas, estavam decadentes. No caso das cidades amapaenses, seus habitantes esperaram mais 134 dias para ouvirem falar que o governo do Território do Amapá havia sido instalado a 25/1/1944. Souberam do fato através da PRC5 - Rádio Clube do Pará, emissora estabelecida em Belém, cuja Onda Tropical de 4.885 kHz cobria quase toda a região amazônica. Os moradores do atual Estado do Amapá estavam acostumados a sintonizar a referida estação transmissora. Entretanto, não era qualquer um que possuía um aparelho de rádio, caro e alimentado por energia elétrica. Nos lugares onde não existia energia, bateria de automóvel era conectada ao receptor. Os rádios a pilha, principalmente os menores, só começaram a aparecer em Macapá no inicio da década de 1960, contrabandeados do Peru. O governo do Amapá valeu-se frequentemente da PRC 5 para divulgar as noticiam de sua gestão administrativa, programas preventivos de saúde e as novidades programadas. Em 1945, o governador Janary Nunes requereu a concessão de uma emissora de rádio para ser instalada em Macapá. Ela deveria operar em amplitude modulada. O jornalista e advogado Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, que coordenava o Serviço de Informações do Território do Amapá foi credenciado para acompanhar o processo. Paulo Eleutério já havia instalado um sistema de alto-falantes no centro de Macapá, que funcionava das 17 às 18 horas, de segunda a sexta-feira e o Jornal Amapá, impresso pela primeira vez no dia 19/3/1945. Estava mais fácil para os citadinos, saberem as maravilhosas mudanças que se operavam na capital e no interior. A concessão da rádio não demorou a sair. A demora para sua instalação ficou por conta da encomenda do transmissor e dos demais aquipamentos. Em 1º/6/1946, excepcionalmente, haja vista que era a data do aniversário do governador Janary Nunes, a Rádio Difusora de Macapá entrou no ar, das 20 às 21 horas, com locução do Dr. Marcílio Felgueiras Viana. Foi um momento de muita alegria para os macapaenses.

Em 1987, o Embaixador do Marrocos Mohammed Nabi Messari visitou a vila de Mazagão Velho, dia 25 de julho, por ocasição da cavalhada de São Tiago. Na oportunidade eu realizava filmagem para a produção de um video e não perdi a chance de  entrevistá-lo.O video foi mostrado na Tv Amapá e o áudio na Rádio Nacional de Macapá. O embaixador era professor universitário e fala vários idiomas, inclusive o português. Os melhores registros históricos do marrocos foram feitos na língua francesa, obrigatória em todos os niveis, nas escolas marroquinas.
      
           O estúdio tinha sido improvisado no prédio da velha Intendência Municipal, no mesmo local onde operava o Serviço de Informações. Daí em diante, as transmissões em fase experimental se prolongaram até o dia 11 de setembro de 1946, ocasião em que foi inaugurado o prédio da estação transmissora e seu broadcasting. Nesta data entrava no ar a ZYE 2, Rádio Difusora de Macapá, a “Voz Mais Jovem do Brasil”, operava apenas em amplitude modulada (AM). Em 1953, houve a obtenção da emissora de onda tropical, freqüência de 4.915 Mc/s (megaciclos). Bem equipada, a RDM funcionou com muita desenvoltura. Revelou grandes valores para o rádio, inclusive um memorável cast de rádio-atores, instrumentistas e cantores. Em 1959, o transmissor de onda média da RDM apresentou um sério defeito e precisou ser mandado para São Paulo, de onde nunca voltou. Apenas a onda tropical ficou funcionando. Quando iniciei minha caminhada no rádio, em 1962, a Difusora continuava a ser bem ouvida, mas o povo sentia a falta da onda média. Em 1963, um grupo empresarial instalou a ZYD 11, Rádio Equatorial, uma emissora clandestina. Esta emissora contou com o beneplácido de algumas autoridades que estavam politicamente alinhadas com o Presidente João Goulart. O documento correspondente à concessão foi forjado e consequentemente a rádio não tinha registro oficial. Mesmo após a eclosão da revolução militar de 31/3/1964, essa emissora permaneceu no ar, sendo fechada pelo comando revolucionário e teve seus bens encampados pelo governo, passando a integrar o acervo da Rádio Difusora. Assim, a emissora voltou a operar em duas faixas de rádio.

Em 1957, no palco da Rádio Difusora de Macapá, Ruy Uchoa, vestido de cawboy, cantava um dos sucessos de Bob Nelson. Era acompanhado pelo Regional E2, constituido por instrumentistas do cast da emissora.Ao lado do Ruy Uchoa vemos o Cassiporé, tocando banjo.

              Mesmo combalida, porque os governantes nomeados por Brasilia não lhe davam a atenção devida, a RDM viu surgir a Rádio Educadora São José Ltda., em 1968 e, no decorrer de quase 10 anos disputou com a rival a preferência dos macapaenses, sendo mais ouvida no interior.Foi nesse período que o Rui Uchoa, apresentador de um programa sertanejo autocognominado de "Bode Velho", a rotulou como “ A Velha Boa”. Em 1978, quando mais parecia um arremedo de emissora, a RDM foi atingida pela insensatez do governador Arthur de Azevedo Henning e todo deu patrimônio repassado, de graça, para a Radiobrás. Seu prédio passou por soberbas reformas para a instalação de dois modernos estúdios para locução, um estúdio para gravações e um estúdio para uma emissora de frequência modulada. Os bens da Difusora, tidos como velharia, foram declarados inserviveis e relegados ao lixo. Neste momento eu fazia parte do pequeno grupo de funcionários e colaboradores da estação. Mesmo enfrentando problemas de reposição de peças, a Rádio Difusora tinha voltado a reinar absoluta no Amapá, haja vista que a Educadora deixou de existir em abril de 1978. Curioso foi o fato da RDM ter passado a ser identificada como Rádio Nacional de Macapá a partir de 28/8/1978, e a nova emissora ter ficado utilizando todos os seus equipamentos até outubro.
Um dos estúdios da Rádio Difusora de Macapá onde os radialistas Herminio Gurgel (Pai d'Égua) e Osmar Melo(Pai Véio) apresentavam o programa "Alvorada Sertaneja". Estrutura foi montada pela Radiobrás.Ambos são falecidos.

                       A Rádio Nacional de Macapá funcionou de outubro de 1978 a junho de1989. Neste ano, o governador Jorge Nova da Costa requereu a devolução da concessão da emissora e pediu a doação dos equipamentos da Rádio Nacional para o governo territorial. A Radiobrás disse, que, se o governo do Amapá quisesse reinstalar a RDM, deveria comprar os bens que constituíam a Rádio Nacional de Macapá. E assim ele fez. Em fevereiro de 1990, quando assumi a Secretaria de Administração, a qual a rádio estava subordinada, tomei conhecimento de que o pagamento das parcelas estava em atrazo e a Radiobrás ameaçava reavê-la. Autorizado pelo Dr. Jorge Nova da Costa fiz contato com o Benedito Picanço, Secretário de Finanças e regularizamos a dívida. Ao deixar a SEAD, a Difusora estava paga. Na última sexta-feira, dia 30/3/2012, para satisfação dos que amam a Difusora, o governador Camilo inaugurou dois novo transmissores, de onda média e de onda tropical, que estão permitindo longo alcançe para as irradiação da emissora pública. Podemos dizer, que, "A Velha Boa” está com novo som.

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