Por Nilson Montoril
Criados para marcar a presença do governo brasileiro nas faixas de fronteira, os Territórios Federais, entre eles o do Amapá, permitiram ao Brasil resgatar a cidadania das pessoas que viviam isoladas e esquecidas nas áreas onde eles despontaram. As humildes cidades de Macapá, Mazagão, Amapá, Boa Vista e Porto Velho, que, até 13 de setembro de 1943, integravam os Estados do Pará e Amazonas, estavam decadentes. No caso das cidades amapaenses, seus habitantes esperaram mais 134 dias para ouvirem falar que o governo do Território do Amapá havia sido instalado a 25/1/1944. Souberam do fato através da PRC5 - Rádio Clube do Pará, emissora estabelecida em Belém, cuja Onda Tropical de 4.885 kHz cobria quase toda a região amazônica. Os moradores do atual Estado do Amapá estavam acostumados a sintonizar a referida estação transmissora. Entretanto, não era qualquer um que possuía um aparelho de rádio, caro e alimentado por energia elétrica. Nos lugares onde não existia energia, bateria de automóvel era conectada ao receptor. Os rádios a pilha, principalmente os menores, só começaram a aparecer em Macapá no inicio da década de 1960, contrabandeados do Peru. O governo do Amapá valeu-se frequentemente da PRC 5 para divulgar as noticiam de sua gestão administrativa, programas preventivos de saúde e as novidades programadas. Em 1945, o governador Janary Nunes requereu a concessão de uma emissora de rádio para ser instalada em Macapá. Ela deveria operar em amplitude modulada. O jornalista e advogado Paulo Eleutério Cavalcante de Albuquerque, que coordenava o Serviço de Informações do Território do Amapá foi credenciado para acompanhar o processo. Paulo Eleutério já havia instalado um sistema de alto-falantes no centro de Macapá, que funcionava das 17 às 18 horas, de segunda a sexta-feira e o Jornal Amapá, impresso pela primeira vez no dia 19/3/1945. Estava mais fácil para os citadinos, saberem as maravilhosas mudanças que se operavam na capital e no interior. A concessão da rádio não demorou a sair. A demora para sua instalação ficou por conta da encomenda do transmissor e dos demais aquipamentos. Em 1º/6/1946, excepcionalmente, haja vista que era a data do aniversário do governador Janary Nunes, a Rádio Difusora de Macapá entrou no ar, das 20 às 21 horas, com locução do Dr. Marcílio Felgueiras Viana. Foi um momento de muita alegria para os macapaenses.
O estúdio tinha sido improvisado no prédio da velha Intendência Municipal, no mesmo local onde operava o Serviço de Informações. Daí em diante, as transmissões em fase experimental se prolongaram até o dia 11 de setembro de 1946, ocasião em que foi inaugurado o prédio da estação transmissora e seu broadcasting. Nesta data entrava no ar a ZYE 2, Rádio Difusora de Macapá, a “Voz Mais Jovem do Brasil”, operava apenas em amplitude modulada (AM). Em 1953, houve a obtenção da emissora de onda tropical, freqüência de 4.915 Mc/s (megaciclos). Bem equipada, a RDM funcionou com muita desenvoltura. Revelou grandes valores para o rádio, inclusive um memorável cast de rádio-atores, instrumentistas e cantores. Em 1959, o transmissor de onda média da RDM apresentou um sério defeito e precisou ser mandado para São Paulo, de onde nunca voltou. Apenas a onda tropical ficou funcionando. Quando iniciei minha caminhada no rádio, em 1962, a Difusora continuava a ser bem ouvida, mas o povo sentia a falta da onda média. Em 1963, um grupo empresarial instalou a ZYD 11, Rádio Equatorial, uma emissora clandestina. Esta emissora contou com o beneplácido de algumas autoridades que estavam politicamente alinhadas com o Presidente João Goulart. O documento correspondente à concessão foi forjado e consequentemente a rádio não tinha registro oficial. Mesmo após a eclosão da revolução militar de 31/3/1964, essa emissora permaneceu no ar, sendo fechada pelo comando revolucionário e teve seus bens encampados pelo governo, passando a integrar o acervo da Rádio Difusora. Assim, a emissora voltou a operar em duas faixas de rádio.
Mesmo combalida, porque os governantes nomeados por Brasilia não lhe davam a atenção devida, a RDM viu surgir a Rádio Educadora São José Ltda., em 1968 e, no decorrer de quase 10 anos disputou com a rival a preferência dos macapaenses, sendo mais ouvida no interior.Foi nesse período que o Rui Uchoa, apresentador de um programa sertanejo autocognominado de "Bode Velho", a rotulou como “ A Velha Boa”. Em 1978, quando mais parecia um arremedo de emissora, a RDM foi atingida pela insensatez do governador Arthur de Azevedo Henning e todo deu patrimônio repassado, de graça, para a Radiobrás. Seu prédio passou por soberbas reformas para a instalação de dois modernos estúdios para locução, um estúdio para gravações e um estúdio para uma emissora de frequência modulada. Os bens da Difusora, tidos como velharia, foram declarados inserviveis e relegados ao lixo. Neste momento eu fazia parte do pequeno grupo de funcionários e colaboradores da estação. Mesmo enfrentando problemas de reposição de peças, a Rádio Difusora tinha voltado a reinar absoluta no Amapá, haja vista que a Educadora deixou de existir em abril de 1978. Curioso foi o fato da RDM ter passado a ser identificada como Rádio Nacional de Macapá a partir de 28/8/1978, e a nova emissora ter ficado utilizando todos os seus equipamentos até outubro.
A Rádio Nacional de Macapá funcionou de outubro de 1978 a junho de1989. Neste ano, o governador Jorge Nova da Costa requereu a devolução da concessão da emissora e pediu a doação dos equipamentos da Rádio Nacional para o governo territorial. A Radiobrás disse, que, se o governo do Amapá quisesse reinstalar a RDM, deveria comprar os bens que constituíam a Rádio Nacional de Macapá. E assim ele fez. Em fevereiro de 1990, quando assumi a Secretaria de Administração, a qual a rádio estava subordinada, tomei conhecimento de que o pagamento das parcelas estava em atrazo e a Radiobrás ameaçava reavê-la. Autorizado pelo Dr. Jorge Nova da Costa fiz contato com o Benedito Picanço, Secretário de Finanças e regularizamos a dívida. Ao deixar a SEAD, a Difusora estava paga. Na última sexta-feira, dia 30/3/2012, para satisfação dos que amam a Difusora, o governador Camilo inaugurou dois novo transmissores, de onda média e de onda tropical, que estão permitindo longo alcançe para as irradiação da emissora pública. Podemos dizer, que, "A Velha Boa” está com novo som.
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