quinta-feira, 9 de junho de 2011

PAISAGEM DE MACAPÁ DA DÉCADA DE 1930



                 Por Nilson Montoril

                      

Essa estreira via pública, atualmente denominada Mário Cruz, testemunhou as decisões políticas e administrativas da pequena cidade de Macapá. No prédio branco  funcionaram a Intendência, o Conselho de Intendência, a Câmara de Vereadores e o Tribunal do Juri. Os bailes de gala também aconteciam no Salão Nobre da Comuna Macapaense.
                                                                             
                        Essa é uma das mais expressivas paisagens da cidade de Macapá da época em que ela ainda era a sede do município paraense de idêntica denominação. A rua em questão tinha como patrono o tenente e político Antônio de Siqueira Campos, paulista de Rio Claro que se notabilizou na Revolta do Forte de Copacabana em 1922, Levante de São Borja em 1924, Coluna Prestes entre 1924 e 1927 e na Conjuração da Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao cargo de presidente da República do Brasil. A Rua Siqueira Campos começava na Travessa Visconde de Souza Franco e se estendia até a Rua São José. A fotografia foi tirada do meio da avenida, no trecho que hoje corresponde a seu cruzamento com a Rua Vereador Benedito Uchoa. Pelo lado esquerdo de quem observa a imagem merece destaque o prédio da Intendência Municipal, onde atualmente funciona o Museu Histórico Joaquim Caetano da Silva. O imóvel foi construído na gestão do Intendente Municipal Coriolano Finéas Jucá e inaugurado no dia 15 de novembro de 1895. Antes dele vê-se uma casa residencial que pertenceu ao casal Antônio Topson e Emidia Picanço. Nela, já na fase de Macapá como capital do Território Federal do Amapá, funcionaram duas loja: “A Barateira”, de Hamilton Henrique da Silva e a “Casa Olímpia”, de Raimundo Pessoa Borges, o popular Marituba. Pelo lado direito a referência fica por conta da famosa “casa amarela”, cujo primeiro proprietário foi o Tenente-Coronel Coriolano Finéas Jucá. Nela nasceram quase todos os vinte filhos do famoso intendente, frutos de sua união com três esposas. Após sua morte, o prédio ficou sob gestão do filho Jacy Barata Jucá que o vendeu ao senhor José Pereira Montoril, mais conhecido como Cazuzinha. A casa amarela, que originalmente foi pintada de branco, fazia fundos com a residência do maroquino Leão Zagury. Nenhuma das residências possuía quintal. Na casa amarela havia um pórtico de entrada com um sótão, um amplo pátio central, inúmeros quartos, cozinha, dispensa e poço amazônico. Os cômodos que faziam frente para a antiga Rua Independência, também chamada Rua de Cima, abrigaram a sede do Amapá Clube e o Bar Elite do senhor João Vieira de Assis. Logo na entrada do prédio funcionou o “Café Aymoré”, pertencente aos comerciantes Francisco Torquato de Araújo (meu genitor) e Francisco Aymoré Batista (pai do cidadão que hoje mantén em funcionamento o estabelecimento de igual nome na Avenida Iracema Carvão Nunes). O gerente do Café Aymoré era o Carlos Cordeiro Gomes, o popular “Segura o Balde” que depois enveredou pelo jornalismo e integrou a equipe esportiva da Rádio Difusora de Macapá. 


Cearense de Assaré, José Pereira Montoril montou comércio no Furo Grande que então pertencia ao Município de Macapá. Sua propriedade tinha o nome de Porto Serafim, homenagem ao conterrâneo e amigo José Serafim Gomes Coelho, industrial que foi o terceiro intendente de Macapá.
No tempo que o prédio pertenceu ao meu tio Cazuzinha Montoril, parte das instalações foi alugada à madame Charlote para a instalação de uma pensão. Vários jovens vindos de Belém para trabalhar no Território do Amapá residiram nos quartos da casa amarela e compravam alimentação da madame Charlote. Quando o casal Isnard Brandão e Walkiria Lima se mudou para Macapá, a casa amarela foi o primeiro imóvel que o abrigou. Numa deferência especial do tio Cazuzinha, graças à intermediação de meu pai Francisco Torquato de Araújo, um assoalho foi colocado no sótão. Nesse local o casal Lima e o filho Isnard Brandão Filho moraram por um relativo período de tempo. Com o passar do tempo a Rua Siqueira Campos recebeu duas denominações: Mendonça Furtado e Mário Cruz. Essa última ainda prevalece. A casa amarela foi vendida ao comerciante Moisés Zagury que mandou demoli-la para erguer a oficina mecânica dos carros Ford que ele vendia. Atualmente, naquela área demora parte da loja 246. Observe que o prédio da Intendência Municipal estava sendo pintado de branco. Apenas um sigelo poste de madeira é visto no flagrante. Era um dos que sustentavam uma rudimentar rede elétrica que fornecia energia à casa do Prefeito e ao prédio da comuna. A energia era gerada por uma velha caldeira localizada no inicio da Rua 24 de Outubro, sobejamente conhecida como Rua da Praia.

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