DISPENSÁRIO DOS TUBERCULOSOS
Nilson Montoril
A
tuberculose pulmonar, infecção causada por um microorganismo chamado Mycobaterium
tuberculosis ou bacilo de Koch ocorre em todo o mundo, sendo mais comum nos
países pobres, promíscuos, desnutridos, má condição de higiene e saúde pública
deficiente. As maiores incidências são registradas na Índia, China, Indonésia,
Bangladesh, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Congo, Rússia e Brasil. A
Organização Mundial da Saúde calcula a existência de oito milhões de novos
casos. Antigamente a tuberculose era chamada peste cinzenta, tísica pulmonar ou
doença do peito. Também foi denominada de peste branca devido à palidez da pele
contratando com a cor rósea dos pômulos durante o acesso febril. A tuberculose
aparece entre os dez maiores problemas de saúde pública em relação à morbidade
tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. No
tocante à mortalidade, a tuberculose fica entre a 1ª e a 3ª causa entre as
doenças transmissíveis nos países desenvolvidos. Estima-se que ela exista há
mais de 50 mil anos. No século V antes de Cristo, Hipócrates se referiu à
tuberculose afirmando no livro Epidemias I, em detalhes: “Não conheço um só
caso que tivesse de permanecer no leito e que sobrevivesse por algum tempo”.
Areteu, que viveu em Roma de 81
a 138 depois de Cristo, também descreveu a doença, deixando
evidente que ela era freqüente no Império Romano. A primeira descrição do termo
tuberculose ou parênquima pulmonar se deve a Francisco La Boe em 1679. A doença só começou a
declinar depois que Villemin constatou sua contagiosidade em 1868, de Thomaz
Koch ter identificado o Mycobacterium tuberculosis em 1882 e Waksman haver descoberto
o antibiótico com ação sobre o bacilo, a estreptomicina em 1944. O tratamento
inicial da tuberculose pulmonar chama-se RHZ com rifampicana(R), isoniazida(H)
e pirazinamida(Z), dura seis meses e pode alcançar até 100% de cura. O
diagnóstico é feito a partir da abreugrafia, baciloscopia do escarro e PPD.
O
primeiro forte sinal de que alguém pode estar contaminado é uma tosse forte e impertinente
que causa muito sofrimento ao doente e transtornos aos que se encontram a seu
lado. A tísica, portanto, se deve a uma ulceração do pulmão e costuma
apresentar-se depois de uma tosse prolongada ou hemoptise, febre continua,
principalmente à noite. Também se fez uso do termo consunção como
identificatório da doença. Graças ao biólogo frances Albert Calmette, que viveu
entre 1863 a
1933, o tratamento da tuberculose passou a contar com a eficiente vacina BCG.
Foi iniciativa sua a fundação do primeiro dispensário antituberculose na
França. O dispensário corresponde a um estabelecimento de beneficência
destinado ao tratamento gratuito de enfermos pobres e serve para dar-lhes a
assistência devida. O paciente era apartado da família porque se acreditava que
a simples convivência de uma pessoa sadia com um tísico a levaria a contrair o
mal. Isso não deixa de ser verdade, desde que a pessoa sã não tome os devidos
cuidados e faça regularmente exames clínicos. Atualmente sabe-se que a
tuberculose não se contrai pelo sexo ou pelo sangue contaminado. Por isso, já
não é tão necessário separar copo, prato, talheres ou outros utensílios de uso
comum no seio de uma família. A tuberculose atinge os pulmões, as meninges,
ossos, rins, coração e outros órgãos. Só a tuberculose pulmonar é transmitida
de uma pessoa que tenha o bacilo de Koch a outra. Isso ocorre quando o doente
tosse e espirra eliminando o bacilo e através do ar ele é aspirado por quem não
possui o mal.
A palavra tísica usada antes da prevalência do termo tuberculose
é uma das mais antigas da medicina. Provem do grego phthsis e deriva do verbo
phthiso, com o sentido de decair, consumir, definhar. A doença é milenar ou
mesmo da pré-história, tendo sido identificada em múmias egípcias datadas de
mais de 3.000 anos. Múmias da dinastia de Ramsés, no Egito, apresentam
tuberculose óssea, notadamente na coluna vertebral. O médico grego Cláudio Galeno,
na Itália, dizia que a doença era incurável e aconselhava isolar os enfermos. Recomendava
repouso, ar puro e boa alimentação. No Brasil, os dispensários tornaram-se
bastante comuns entre as capitais do Brasil a partir do inicio do século XIX.
Entretanto, o combate à tuberculose foi iniciado no país pela Liga Brasileira
Contra a Tuberculose, fundada no Rio de Janeiro no dia 4 de agosto de 1900. Era
uma instituição filantrópica destinada a prestar assistência médico-social aos
doentes de tuberculose e disseminar informações sobre a doença.
No dia 26 de
janeiro de 1902, essa instituição criou seu primeiro dispensário, cuja
inauguração aconteceu em 1907. Depois dela, outras Ligas Contra a Tuberculose surgiram
e foram muito importantes, notadamente a partir de 1927, ano em que foi
instituída no Brasil a vacinação BCG. Outros órgãos como a Inspetoria de
Profilaxia da Tuberculose (1920), Serviço Nacional de Tuberculose (1940) e
Campanha Nacional Contra a Tuberculose (1946) também atuaram para erradicar a doença. Quando
o governo do Território Federal do Amapá pleiteou recursos federais para
construir o Hospital Geral de Macapá, fez incluir no projeto uma maternidade,
uma unidade de atendimento materno infantil e um dispensário dos tuberculosos.
Tratava-se na verdade de um complexo hospitalar que ainda hoje serve de base
para as ações de saúde pública desenvolvidas na capital do Estado do Amapá. O
prédio destinado ao Dispensário dos Tuberculosos tinha a frente para a Rua
Jovino Albuquerque Dinoá e fundo para a área interna do HGM. Na época de sua
inauguração não havia tráfego de veículos além da atual Avenida Duque de
Caxias, então um singular caminho. Os doentes eram internados por seis meses e
submetidos a rigoroso tratamento. Os tuberculosos cujo estágio da doença
merecia tratamento mais especializado eram mandados para o Hospital dos
Servidores Públicos na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República dos
Estados Unidos do Brasil.
Antes da inauguração do Hospital Geral de Macapá, as ações de saúde pública do governo territorial eram realizadas pela Unidade Mista de Saúde instalada em um velho casarão erguido onde hoje está o prédio da Biblioteca Elcy Rodrigues Lacerda. Lembro de várias pessoas que tinham tuberculose e passaram por tratamento em Macapá e no Rio de Janeiro. A maioria era bem carente, corpo franzino, tosse perturbadora e cansaço intenso. Vários doentes vieram da região da Ilhas do Pará, onde viviam sem qualquer assistência médica e entregues à própria sorte. Tísicos de Macapá residiam em casas humildes, desprovidas do conforto e higiene mínima necessária. As habitações eram quase todas de taipa, geminadas, cobertas de palha de ubuçu, sem janelas laterais e piso de terra batida. Raros eram os citadinos que usavam tamancos, alpercatas ou chinelos de borracha. Eu e meus amigos de infância convivíamos com os filhos dos doentes e eramos orientados a não ficar perto do tísico quando ele estivesse tossindo ou espirando. Também não deveríamos tomar água no único copo ou caneco que a família usava e ficava sempre perto do pote ou da bilha. Em várias casas os utensílios comum para beber água eram latas vazias de leite moça. Diziam os mais velhos que a contaminação ocorreria pelo uso comum de colheres, copos e pratos que também eram utilizados pelo doente. Outro cuidado redobrado era não pisar no cuspe ou escarro de um tísico. Por incrível que pareça, muitos tísicos não acreditavam na medicina para curar seus males.Mantinham o condenavel vicio de fumar e consumir cachaça. Alimentavam-se precariamente, razão pela qual acabaram morrendo praticamente sem assistência médica.
Antes da inauguração do Hospital Geral de Macapá, as ações de saúde pública do governo territorial eram realizadas pela Unidade Mista de Saúde instalada em um velho casarão erguido onde hoje está o prédio da Biblioteca Elcy Rodrigues Lacerda. Lembro de várias pessoas que tinham tuberculose e passaram por tratamento em Macapá e no Rio de Janeiro. A maioria era bem carente, corpo franzino, tosse perturbadora e cansaço intenso. Vários doentes vieram da região da Ilhas do Pará, onde viviam sem qualquer assistência médica e entregues à própria sorte. Tísicos de Macapá residiam em casas humildes, desprovidas do conforto e higiene mínima necessária. As habitações eram quase todas de taipa, geminadas, cobertas de palha de ubuçu, sem janelas laterais e piso de terra batida. Raros eram os citadinos que usavam tamancos, alpercatas ou chinelos de borracha. Eu e meus amigos de infância convivíamos com os filhos dos doentes e eramos orientados a não ficar perto do tísico quando ele estivesse tossindo ou espirando. Também não deveríamos tomar água no único copo ou caneco que a família usava e ficava sempre perto do pote ou da bilha. Em várias casas os utensílios comum para beber água eram latas vazias de leite moça. Diziam os mais velhos que a contaminação ocorreria pelo uso comum de colheres, copos e pratos que também eram utilizados pelo doente. Outro cuidado redobrado era não pisar no cuspe ou escarro de um tísico. Por incrível que pareça, muitos tísicos não acreditavam na medicina para curar seus males.Mantinham o condenavel vicio de fumar e consumir cachaça. Alimentavam-se precariamente, razão pela qual acabaram morrendo praticamente sem assistência médica.
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