quarta-feira, 17 de abril de 2013

A SANTINHA DE MACAPÁ






                                        A SANTINHA DE MACAPÁ

                                                              Nilson Montoril

Raimunda Siqueira Coutinho, a Irmã Celeste, cognominada de Anjo da Eucaristia pelo Padre Júlio Maria Lombaerd tinha saúde frágil, agravada pelo costume de jejuar frequentemente e fazer penitência. Seus restos mortais encontram-se no Convento das irmãs da mesma congregação a qual pertenceu.Em Caucaia, "As Irmãs do Coração Imaculado de Maria" são conhecidas como "Cordimarianas".Na sala Histórica da Congregação repousam os restos mortais da Irmã Celeste para lá transportados por ordem do Padre Júlio em 1927. As casas de Macapá e Pinheiro(Icoaraci) já não funcionavam.
                        Quando exerceu o cargo de vigário da paróquia de Macapá, entre 1913 a 1922, o Padre Julio Maria Lombaerd decidiu criar uma escola onde as meninas receberiam instrução educacional e religiosa. Surgiu, porém um sério problema, haja vista que nenhum instituto que ele consultou dispunha de irmãs que pudessem ser deslocadas para Macapá a fim de dirigir o estabelecimento de ensino. Padre Júlio não pretendia criar um novo convento, mas convenceu-se que somente o fazendo conseguiria fundar a escola para meninas de Macapá. Recorreu ao Bispo Diocesano de Belém e dele obteve a permissão para fazer uma experiência. Como ele sempre ia fazer pregações em conventos de Belém, expôs às freiras e moças que com elas conviviam seu propósito de criar uma congregação com o nome de “Filhas do Coração Imaculado de Maria”. Várias moças externaram o desejo de serem religiosas, mas todas eram pobres e não tinham dinheiro para preparar o enxoval. Mesmo assim, Padre Júlio aceitou o desafio de trazê-las para Macapá. Contando com a ajuda de pessoas caridosas ele obteve o mínimo necessário para instalar a escola e o noviciado. Em uma casa de apenas dois cômodos foram instalas as três primeiras religiosas. Após um breve período de preparação elas receberam o hábito de noviças a 8 de dezembro de 1916. Em um cômodo da casa funcionava a escola e o outro abrigava refeitório, dormitório, capela e sala de trabalho. No inicio do ano de 1917, a escola passou a funcionar com uma clientela de 60 meninas. Além das aulas, as meninas aprendiam a costurar, a lavar, a passar, e a cozinhar. Dentre as alunas havia mais de 20 órfãs com idade entre 13 a 15 anos. Essas moças vivam na condição de agregadas de parentes ou vinculadas às famílias caridosas, sem receber educação escolar. Nessa faixa de idade eram presas fáceis dos homens sem escrúpulos da cidade de Macapá. As Filhas do Coração Imaculado de Maria ganharam o respeito e admiração das pessoas de bem de nossa cidade. Eram vistas como exemplo de dedicação à causa do catolicismo e do amor ao próximo.

Velho casarão que vemos em primeiro plano, com cinco janelas e uma porta, existiu na Praça da Matriz, esquina da Rua São José com a Travessa Floriano Peixoto(Presidente Vargas) e se encontrava bastante danificado quando o Padre Júlio Maria Lombaerd chegou a Macapá, em fevereiro de 1913,portanto há mais de 100 anos. O prédio pertencia ao comerciante Manoel Eudóxio Pereira um católico praticante que muito colaborou com o sacerdote belga. Esse imóvel serviu como segunda sede para" As Filhas do Sagrado Coração de Imaculado de Maria".
 Uma das noviças, chamada Raimunda Siqueira Coutinho, filha do casal João Coutinho e Ana Siqueira Coutinho, nasceu em Macapá no dia 28 de abril de 1905. Ingressou na “Casa Matriz Noviciado da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria” em 1920, quando tinha 15 anos de idade. Como noviça, a jovem adotou o nome de Irmã Celeste, a quem o Padre Júlio Maria Lombaerd chamava de “Anjo da Eucaristia”. No dia 3 de abril de 1922, doente e precisando de cuidados médicos só disponíveis em Belém, Irmã Celeste foi embarcada no navio “São Pedro”, contando com o acompanhamento do Padre Júlio. No dia 7 de abril ela faleceu a bordo da embarcação, sendo sepultada no cemitério de uma pequena comunidade existente em uma ilhota do arquipélago do Marajó, no Rio Pará (canal sul do Rio Amazonas) próximo a Belém. Padre Júlio prosseguiu viagem, pois precisava de tratamento contra uma terrível ferida que tinha na perna direita e que apresentava sinais de gangrena. Consultado pelo médico Remígio Fernandes, o vigário de Macapá foi informado de que, se a lesão não recrudescesse fatalmente sua perna seria amputada.

Assim era a igreja de São José, forma fiel desde sua construção entre 1758 e 1761.É atribuida ao padre frances Francisco Rellier a iniciativa de modificá-la. Antes da reforma, o templo possui em sua parte frontal apenas uma porta e duas janelas. A modificação lhe rendeu três portas na frente e tres janelas.Também houve mudanças nas laterais e na sacristia.
 Padre Júlio retornou a Macapá e passou a rogar pela interveniência de Irmã Celeste junto a Maria Santíssima. Milagrosamente a ferida cicatrizou. Em 1927, os restos mortais de Irmã Celeste foram exumados e trazidos para Macapá. Diariamente a ossada era colocada sobre um encerado, sob o sol escaldante, para ressecar os restos de tecidos e cartilagens ainda existentes. Meninas da escola fundada por Padre Júlio se revezavam no decorrer do dia movimentando varetas com panos atados nas extremidades para espantar as moscas varejeiras e impedir que elas botassem ovos nos despojos. Depois de raspados e fervidos em cal, os ossos foram acondicionados em uma urna de madeira e remetidos para a cidade de Caucaia, no Estado do Ceará, onde residiam religiosas da congregação fundada pelo Padre Júlio Lombaerd. Ainda hoje, os restos mortais da Santinha de Macapá repousam na Sala Histórica da Congregação a qual pertenceu. À Irmã Celeste são atribuídos muitos milagres, mas nunca foi iniciado o processo de beatificação ou santidade. Antes de ir residir em Manhumirim, Minas Gerais, Padre Júlio Maria Lombaerd, que alterou esse sobrenome para “de Lombarde” depois de sua naturalização como brasileiro, passou por Pinheiro (Icoaraci/Pará) e Rio de Janeiro. Familiares da Irmã Celeste ainda vivem em Macapá.

A Igreja  de São José após a reforma feita quando o Padre frances Françoi Rellier dava assistência religiosa à comunidade católica residente em toda a área que hoje corresponde ao Estado do Amapá. Francisco Rellier era o vigário de Saint  Jorge, na Guiana Francesa, mas foi provisionado pelas autoridades religiosas de Belém para poder suprir a falta de sacerdote na região.Por mais de 20 anos a Paróquia de Macapá ficou sem padre residente. Foi nesse belo tempo que Irmã Celeste se devotou totalmente ao noviciado, comungando diariamente. Vem daí o titulo que lhe deu o Padre Júlio:Anjo da Eucaristia.


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