UM HERÓICO CEARENSE
Nilson Montoril
O titulo deste artigo figurou no jornal Gazeta de Noticias, edição do dia 8 de abril de 1954, autoria do jornalista H. Firmeza, então redator do importante órgão de comunicação social que circulava na capital alencarina, cujo teor transcrevo: “Cada
um de nós encontra na vida criaturas boas que tomam um lugar em nosso coração e
dele nunca saem, ainda que vivam longe de nossos olhos. Era eu menino (vejam
quanto tempo não faz) no interior do Estado, quando foi residir no seio de
minha família, como caixeiro viajante da casa comercial de meu pai, um
rapazinho de pele clara, cabelos alourados e olhos azuis. Chamava-se Antônio Pereira
Montoril. Tinha um caráter dócil e era honestíssimo, trabalhador, atenciosos, afetivo
e serviçal. Conquistou logo a estima de todos de nossa família, da qual se
tornou um elemento integrante. Todos lhe queriam como se fosse um filho ou irmão.
A Amazônia, porém, o atraiu. Era o tempo em que se estabelecera uma forte
corrente emigratória. Pessoas que por lá andavam vinham, de tempos em tempos,
visitar a sua gente e traziam notícias animadoras dos recursos da vida
amazônica, embora a insalubridade do clima e a luta em meio de selvas ainda não
desbravadas.Localizou-se ele, já não me lembro por qual razão, em Macapá, no
Estado do Pará, onde se dedicou à vida comercial, primeiramente como empregado
e, mais tarde, como comerciante de conta própria. Os seus negócios
progrediram.Tornou-se dono de barracão e fornecedor de uma numerosa freguesia
de seringueiros, o que lhe deu meios para educar filhos adotivos,já que não os
tivera do seu sangue. Um acidente casual com arma de fogo privou-o da visão de
um dos olhos e, mais tarde,atingido o outro por um glaucoma, veio a cegar
completamente.Mas foi nessa fase de cegueira que mais se acentuou a sua energia
física e moral.Fez várias viagens ao Sul na tentativa inútil de recobrar a
vista, inclusive a Minas Gerais, ao tempo dos célebres milagres do Padre
Antônio. O seu espírito não se abatia com o fracasso dos tratamentos e a sua
atividade não esmorecia.O seu tacto adquiriu uma acuidade tamanha que lhe
permitia locomover-se sozinho. A qualquer hora, na escuridão da noite dos
olhos, ia diretamente, dentro do seu estabelecimento ou de sua residência, ao
local onde estivesse qualquer objeto de que precisasse, como se transportava a
pé, do seu barracão até o ponto do rio em que fundeavam as embarcações. E
interessante era que parava precisamente onde terminava a terra e começavam as águas.
Nunca se despregou da amizade que o unia a nossa família e a sua presença entre
nós, sempre que, embora cego, aqui vinha, era motivo de alegria recíproca. Esse
heróico cearense acaba de falecer, segundo carta que recebi de Belém, e nestas
linhas deixo consignado o intenso pesar que isto me produziu e a todos os meus.
Quero assinalar que poucas pessoas tenho conhecido na minha vida tão boas, tão estimáveis
e dignas quanto era Antônio Montoril, cujo nome sempre guardarei na memória e
no coração”.
Antônio Pereira Montoril faleceu no dia 2 de março, em sua
propriedade denominada "Casa Nova Floresta", situada no Rio Tartaruga, município
de Afuá, região que até a criação do Território do Amapá pertenceu ao município
paraense de Macapá. Em Nota de Redação, o jornal “AMAPÁ”, edição nº 544, que
circulou no dia 17 de junho assim se expressou: “Esta crônica do jornalista H.
Firmeza foi divulgada pela “Gazeta de Notícias”,de Fortaleza, a 8 de abril do
corrente ano.E hoje, reproduzindo-a, demonstramos o nosso preito da admiração e
saudade ao desbravador Antônio Pereira Montoril, que por muitos anos residiu em
Macapá, antes do advento territorial, e que bons serviços prestou à nossa terra
comum.Nascido a 31 de janeiro de 1880, no interior do Estado do Ceará, esse
bandeirante faleceu no dia 2 de março do ano em curso, deixando este mundo com
a tranqüilidade que assinala o espírito dos justos. Vale pôr em relevo que a vida
de Antônio Montoril decorreu, toda ela, em permanente atmosfera de profícuo e
honesto labor, sendo de ressaltar a sua louvável qualidade de dedicado amigo do
Amapá, que nunca deixou de colaborar, desinteressadamente, com as iniciativas
que visam o progresso desta região”.
Antônio Pereira Montoril, tio de minha mãe Olga Montoril de Araújo, nasceu a 31 de janeiro de 1880, na cidade de Assaré,distrito do Crato, no Estado do Ceará. Foi o primeiro filho do casal Joaquim Montoril e Luzia Pereira Montoril que também conceberam Maria Pereira Montoril(1881),José Pereira Montoril(1891) e Alexandre Pereira Montoril(1893), esse o mais novo dos rebentos. Como bem frizou H. Firmeza, o cearense Antônio Montoril dedicou-se com afinco ao comércio, tendo trabalhando com o senhor Manuel Firmeza, genitor do jornalistae e foi muito bem sucedido nessa atividade empresarial. Em 1898, Joaquim Montoril veio para a Amazônia e se estabeleceu no Rio Tapajós cortando seringa. Cerca de dois anos depois ele retornou ao Crato e transportou os filhos Antônio e José para Macapá. Com a ajuda financeira do pai e com os recursos que eles mesmos obtinham, Antônio e José montaram casa de comércio, respectivamente no Rio Tartaruga o no Furo Grande. Antônio Pereira Montoril casou com Ana Maria Montoril, mas o casal não teve filhos biológicos. Decidiram pela criação de filhos adotivos: Rivadávia, Capitulina e Maria Mendes. Maria faleceu no lugar Santo Antônio(Antonino) no dia 17 de maio de 1956,onde tia Ana Maria gerenciava um estabelecimento comercial.Maria foi vitima de colapso cardiaco aos 15 anos de idade. Capitulina morreu em Macapá e Rivadávia vive em Belém.
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