A IGREJA MATRIZ DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ
Por Nilson Montoril
Figuro
entre as pessoas que preferem usar a palavra templo, para designar a construção
onde ocorrem os ofícios religiosos. A palavra igreja, ao tempo de Jesus Cristo,
foi utilizada para identificar o conjunto de fieis ligados à mesma fé e
sujeitos aos mesmos chefes espirituais. Os gregos chamavam de “ekklesia” as
assembléias. Os romanos também adotaram o termo, substituindo as letras k por
duas letras c: ecclesia. Quando poucos indivíduos reuniam-se para tratar de
assuntos sigilosos, dizia-se que eles estavam fazendo uma igrejinha. Ainda hoje
é assim. Foi o próprio Jesus Cristo quem usou a palavra ao se referir a sua
comunidade: “lembra-te Pedro que tu és pedra e sobre esta pedra construirei a
minha igreja”. Até mesmo algumas seitas protestantes usam a palavra, caso da
“Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.
Nossa
pequena cidade de Macapá tem, na igreja de São José, o mais antigo monumento
patrimonial da sua história. Mas, a igreja da qual falaremos não foi a primeira
a ser erguida na “Província dos Tucujú”. O primeiro templo era bem humilde,
tendo um altar de madeira, sobre o qual ficava a imagem de São José, pai
putativo de Jesus Cristo. Deve ter sido construída ainda no final do ano de
1751, na área onde está erguida a Fortaleza. Pouco tempo depois, ainda no mesmo
local, foi erigido um novo tempo, em taipa, e coberto de palha. A Paróquia de
São José de Macapá foi criada em 1752, sendo nomeado como Vigário o Pe. Miguel
Ângelo de Moraes, presente no povoado desde novembro de 1751. No dia 4 de
fevereiro de 1758, ocasião em que o povoado de Macapá foi elevado à categoria
de vila, se deu o lançamento da pedra fundamental de uma nova igreja, no Largo
de São Sebastião. A 6 de março de 1751, o templo foi inaugurado. As plantas
foram elaboradas pelo Sargento Mor da vila e aprovadas pelo arquiteto italiano
Antônio Lande, especialista em cartografia e construções. O aspecto do templo
era bem singular. Nas laterais havia uma porta e uma janela alta. A frente do
prédio tinha uma porta central de uma só folha. Ao alto, figuravam duas janelas
gradeadas com ferro. Ao lado esquerdo do templo se levanta um campanário com
uns 15 metros
de altura. Em cada face do campanário há um sino. O acesso ao campanário era
feito por uma porta posterior à fachada, cujo acesso era feito através da “Passagem
Espírito Santo”, existente à esquerda do templo, entre o ele e a Casa Paroquial
À direita da Igreja de São José havia a “Passagem Santo Antônio”, separando a
casa de orações do prédio do Senado da Câmara. A escada que leva ao piso onde
são luxadas as cordas dos sinos é de madeira. Conforme a planta da Vila de São
de São José de Macapá, traçada em 1761, pelo Capitão Engenheiro João Geraldo
Gronsfeld, a igreja tem a frente para a Rua São José. O fundo demanda para o
“Largo dos Inocentes”, cortado por uma estreita via denominada “Rua dos
Inocentes”. Os moradores do Largo dos Inocentes usavam as passagens Espírito
Santo e Santo Antônio para terem acesso ao Largo de São Sebastião, posteriormente
Largo da Matriz, e a outros logradouros do burgo. Até o inicio da década de
1980, carros e outras viaturas trafegavam pelas duas passagens. Para evitar
danos à igreja, o poder público autorizou a então Prelazia de Macapá a fechar,
com grades de ferro, a Passagem Santo Antônio, permitindo que os padres se
movimentassem com tranqüilidade entre a Sacristia e o imóvel onde residiam. Por
ocasião da ampla reforma pela qual passou a Biblioteca Elcy Rodrigues Lacerda,
erguida na área do velho Senado da Câmara, a largura da Passagem Santo Antônio
foi drasticamente reduzida.
As alterações feitas no contorno da igreja foram
amplamente aprovadas pela população, haja vista que o barulho produzido por
veículos automotores e indivíduos contrários ao catolicismo perturbavam as
orações, as missas, as novenas, as celebrações de casamentos e a ministração do
batismo e crisma. A coberta da igreja sempre foi de telha de barro, com um
considerável beiral que protegia as paredes. Há informes de que suas
características do estilo arquitetônico inaciano foram sendo modificadas com as
reformas introduzidas. A reforma mais expressiva, feita antes da chegada dos
padres italianos, é mérito do sacerdote francês François Rellier, no inicio do
século dezenove. O registro descritivo mais rico em detalhes é obra do Padre
Júlio Maria Lombaerd, que desembarcou em Macapá a 27 de fevereiro de 1913,
egresso de Belém. Além de descrever aspectos da cidade, Padre Júlio fala da
igreja: “Da cidade baixa, fomos para a cidade alta,
construída na planície. Primeiramente chegamos a uma grande praça, de mais de
dois hectares de superfície. É a Praça da Matriz. E, realmente, na nossa
frente, do lado oposto da praça, ergue-se solene, quase majestosa, uma grande
igreja de pedra. Destaca-se no meio de tudo que a cerca. De construção regular,
coberta de telhas francesas, com uma torre ao lado, como todas as igrejas
brasileiras, tem um tríplice pórtico, encimado de três belas janelas com vidro.
Uma escultura simples, mas de bom gosto. Termina com o pinhão que serve de base
para uma cruz branca, dando ao conjunto um toque de esperança e de futuro. Um
pavimento ladrilhado, à maneira européia, forma diante do pórtico, uma bela
plataforma que termina de cada lado, com uma coluna de madeira com lâmpadas
para iluminação”.
Observa-se
que, nos termos da narrativa do Padre Júlio Maria Lombaerd, na fachada da
igreja já existiam três portas, três janelas com vidros e pinhões no frontispício.
São detalhes arquitetônicos que passaram a figurar após as reformas feitas por
iniciativa do Padre Rellier. A iluminação das ruas e travessas de Macapá era a
querosene, havendo um servidor municipal que acendia e apagava as luminárias.
Voltemos às narrações do Padre Júlio Maria Lombaerd: “Entrando no Santuário, onde não pude
conter uma exclamação – Que igreja bonita! E de fato, é uma das mais belas que
encontrei, até agora, nesta terra brasileira. É simples e muito e muito simples
mesmo e, por conseguinte, sem pormenores arquitetônicos; mas esta simplicidade
lhe comunica algo de majestoso, quase misterioso. Tendo apenas uma nave
central, sem as laterais, permite-nos vê-la, no conjunto, com o primeiro
relance de olhos e avaliar suas dimensões. A nave, da porta de entrada até a
mesa de comunhão, mede 22
metros de comprimento por 11 de largura. A estrutura é
regular e sem saliências. As paredes são brancas; o piso é de ladrilhos de
cimento, com desenhos variados e três divisões com imitação mosaica, marcando a
linha média da nave. O altar-mor está bem acima do piso, com seis grandes
degraus. De cada lado do altar estão dois outros altares, do mesmo modelo,
porém menores. Um tem, na última banqueta, a imagem do Sagrado Coração de
Jesus; o outro a de Santo Antônio, mas, na banqueta principal está a imagem de
São José, o padroeira da igreja. O coro é separado do corpo da igreja por uma
magnífica mesa de comunhão de ferro fundido. Nesta parte, o corpo da igreja se
estreita de maneira a deixar bastante espaço, a cada lado da mesa de comunhão,
para dois altares; um consagrado a São Benedito, e outro, a Nossa Senhora, ou antes,
a um grupo de Santas Virgens. Há umas três ou quatro imagens destas Virgens,
todas bem estragadas; umas mais do que as outras – carcomidas, quebradas. A uma
falta mão; á outra braços. São todas pintadas de cores berrantes, quase
ridículas.
Do
lado do Evangelho está um lindo púlpito esculpido em cedro. No meio da igreja
há dois altares laterais, um em frente ao outro. Um consagrado não sei a qual
santo, porque há as imagens de São Miguel, São Vicente de Paulo, São Raimundo
Nonato, São José e São Tomé, etc. Uma coleção de antiguidades. O do outro lado
é consagrado à Sagrada Família. Ao entrar na igreja, o fiel podia ver dois
altares separados por uma linda grade de ferro fundido. Um é o altar – túmulo
(à direita), com a imagem do Salvador no sepulcro. É encimado pela imagem de
Jesus carregando a cruz. Do outro lado está o batistério”.
A
partir do segundo semestre de 1948, outras modificações aconteceriam. Presentes
nas terras do Amapá desde 1911, os Padres da Congregação da Sagrada Família a
deixaram em junho de 1948, repassando ao Pontifício Instituto das Missões
Estrangeiras a missão evangelizadora que haviam recebido em 1911. Os
sacramentinos foram substituídos pelos sacerdotes italianos. Os dois primeiros,
Aristides Piróvano e Arcângelo Cerqua, chegaram dia 29/5/1948. No dia 25 de
junho de 1948, chegavam a Macapá, por via fluvial, os padres Luiz Viganó, Mário
Limonta, Lino Simonelli, Carlos Bassanini e Vitório Galliani. Mestre em
restaurações, o Padre Mário Limonta ficou encarregado de reformar a igreja e a
casa paroquial.
No fundo do templo, foi modificado o altar central, permanecendo nele a imagem de São José. Nos altares ao lado, as imagens do Sagrado Coração de Jesus e a de Santo Antônio de Lisboa cederam espaço para dois belos painéis pintado pelo Pe. Lino Simonelli. À esquerda, cena da Sagrada Família fugindo para o Egito. À direita, a Sagrada Família foi retratada trabalhando na oficina de carpintaria de São José. A Imagem do Sagrado Coração passou a ocupar o altar onde ficava a imagem de São Benedito, à esquerda da mesa de Comunhão.
À direita, saíram as Santas Virgens, colocando-se na banqueta a Imagem de Nossa Senhora do Rosário. Os altares laterais da nave principal foram eliminados. O púlpito permaneceu recebendo melhoramentos. A mesa de comunhão de ferro fundido foi retirada e substituída por outra de alvenaria. A igreja foi pintada por dentro e por fora.
Nas laterais foram abertas três portas de cada lado e fechadas as janelas. Posteriormente, em decorrência das decisões do Concílio Vaticano II, a mesa de comunhão deixou de existir, retirou-se o púlpito, o batistério e os bancos próximos ao altar principal. Os padres passaram a celebrar a missa em português e de frente para os fieis. Com o advento da nova catedral, surgiu a idéia de transformar a velha igreja no Santuário de São José, com a reinstalação dos pormenores de outras épocas.
No fundo do templo, foi modificado o altar central, permanecendo nele a imagem de São José. Nos altares ao lado, as imagens do Sagrado Coração de Jesus e a de Santo Antônio de Lisboa cederam espaço para dois belos painéis pintado pelo Pe. Lino Simonelli. À esquerda, cena da Sagrada Família fugindo para o Egito. À direita, a Sagrada Família foi retratada trabalhando na oficina de carpintaria de São José. A Imagem do Sagrado Coração passou a ocupar o altar onde ficava a imagem de São Benedito, à esquerda da mesa de Comunhão.
São Vicente de Paulo. Em Macapá ainda funciona uma associação que presta auxilio às pessoas necessitadas, inclusive com a distribuição do Pão de Santo Antônio. |
À direita, saíram as Santas Virgens, colocando-se na banqueta a Imagem de Nossa Senhora do Rosário. Os altares laterais da nave principal foram eliminados. O púlpito permaneceu recebendo melhoramentos. A mesa de comunhão de ferro fundido foi retirada e substituída por outra de alvenaria. A igreja foi pintada por dentro e por fora.
Gravura de São Raimundo Nonato. Na localidade de São Pedro dos Bois, municipio de Macapá, os moradores lhe prestam homenagens no dia 31 de agosto. |
Nas laterais foram abertas três portas de cada lado e fechadas as janelas. Posteriormente, em decorrência das decisões do Concílio Vaticano II, a mesa de comunhão deixou de existir, retirou-se o púlpito, o batistério e os bancos próximos ao altar principal. Os padres passaram a celebrar a missa em português e de frente para os fieis. Com o advento da nova catedral, surgiu a idéia de transformar a velha igreja no Santuário de São José, com a reinstalação dos pormenores de outras épocas.
Observa-se
no interior da igreja que há várias pedras tumulares indicando o local onde teriam sido sepultadas pessoas
gradas da comunidade macapaense. Essas lápides estão assentadas no piso e nas
paredes, mas acredita-se que nenhum sepultamento foi realizado no interior do templo. A
colocação de uma lápide dependia da atuação do morto no dia a dia da religião
que professava, do status que o falecido e sua família ostentavam na cidade.O
poder aquisitivo dos familiares também era vital para a obtenção da licenca para a colocação das chamadas “lápides de penitência” ou
“lápides de lembrança”. Os corpos das pessoas mencionadas nas lápides da igreja teriam sido sepultados no Cemitério Nossa Senhora da Conceição.
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