ADA
ROGATO: "CONDOR DOS ANDES"
Por Nilson Montoril
No
dia 28 de outubro de 1951, depois de haver pernoitado, dia 27, na Base Aérea de
Amapá, a aviadora brasileira Ada Leda Rogato, pilotando um avião Cesna de 90
HP, prefixo PP-ADL, pousa no aeroporto da Panair do Brasil S.A. na pequena
cidade de Macapá, então capital do Território Federal do Amapá. Foi recebida com
muito carinho pelos amapaenses, graças à bela programação elaborada pelo Aéro
Clube de Macapá e Governo do Amapá. Ada Rogato retornava ao Brasil depois de empreender
uma viagem solitária pelas três Américas, percorrendo 51.064 quilômetros,
no decorrer de seis meses, entre ida e volta da Terra do Fogo ao Alasca. Esta
extraordinária viagem começou no aeroporto de Piracicaba em demanda ao Rio de
Janeiro no dia 9 de abril. Após a checagem do plano de vôo e tomadas as demais
providências necessárias, Ada Rogato decolou rumo à Terra do Fogo. A partir daí,
ela seguiu a rota do Pacifico até alcançar o Alasca. Ao retornar, cobriu a rota
do Caribe. Em seu vôo de confraternização pousou no Peru, Equador, Colômbia,
Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, México,
Estados Unidos, Canadá e Alaska, na ida. Quando esteve no Canadá, visitou o
Fort Yukon, onde presenciou o espetáculo do sol da meia-noite. Ao retornar,
cobriu o mesmo percurso até o México, passando daí para Cuba, Haiti, República
Dominicana, Porto Rico, Trinidad, Venezuela, Caiena, Base Aérea de Amapá e
Macapá
Em nossa cidade a brilhante aviadora aproveitou o domingo para
conhecê-la, visitando prédios públicos, Hospital Geral de Macapá, Fortaleza São
José e Fazendinha, tendo por companhia o diretor da Imprensa Oficial, Aderbal
Melo e o presidente do Aéro Clube de Macapá, Nelson Geraldo Sofiat. Na manhã do
dia 29 de outubro, segunda-feira, Ada Rogato seguia para Manaus, escalando em
Santarém e Parintins. Em Manaus foi recepcionada pelo governador Álvaro Maia,
sendo hóspede oficial do Estado do Amazonas, ocupando um dos apartamentos do
Hotel Amazonas. Na tarde do dia 31 de outubro de 1951, o Cesna denominado
“Brasil” alçou vôo de Manaus com destino a Belém, mas Ada Rogato precisou realizar
um pouso preventivo em Macapá, por volta das 17 horas, em virtude do pouco óleo
que restava no motor do aparelho, insuficiente para alcançar o aeroporto de Val
de Cães. Recolhido ao hangar do Aéro Clube de Macapá, o avião foi reabastecido
de óleo e passou por uma consistente revisão no motor. Ao alvorecer do dia 1º
de novembro, o Cesna “Brasil” ganhou os ares no rumo da capital paraense. Na
fuselagem do mono-motor “Brasil” havia desenhos das bandeiras dos 28 países
visitados.
Em Macapá, o governador Janary Gentil Nunes mandou pintar, na calda
do aparelho, na cor verde, a frase: “Macapá saúda Ada Rogato”. Sempre atenciosa
e simpática Ada Rogato ofertou aos jornalistas amapaenses uma fotografia batida
em Nova Yorque,
onde ela aparecia ao lado do Cesna PP-ADL. Havia também uma mensagem que o
presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Dorneles Vargas
mandou pintar antes que o pequeno aparelho deixasse o Rio de Janeiro: “Por
intermédio do vôo da boa vizinhança, envio uma saudação cordial aos povos
irmãos da América”. A senhora Darcy Vargas esposa de Getúlio, entregou a Ada
Rogato uma mensagem destinada às crianças das Américas, que foi lida pela
aviadora onde aterrizava. Ao retornar ao Brasil, Ada Rogato trouxe uma mensagem
expedida pela primeira dama do Chile às crianças brasileiras. Ada Rogato era
portadora do brevet nº 1, do Rio de Janeiro, dirigia vários tipos de avião e
somava à época, 2.280 horas de vôo. Destemida como era não deixou de realizar
vôos sobre cafezais (combate a broca do café) e outras plantações para
livrá-las das pragas das lavouras.
Ada Rogato e o avião PP DBL. |
Antes
de fazer o raid aéreo entre a Patagônia (Terra do Fogo) e o Alasca, a aviadora
Ada Rogato já havia realizado outras monumentais proezas. Começou a voar em
1935, com 24 anos de idade em planador.Consagrou-se eternamente como a primeira volovelista (piloto
de planador) do Brasil. No decorrer da Segunda Guerra Mundial ela fez 213 vôos
de patrulhamento do litoral brasileiro. Ada Rogato era uma aviadora arrojada,
conhecida internacionalmente. Além do vôo de confraternização, já havia saltado
de pára-quedas 103 vezes, inclusive no estrangeiro. Também realizou um extraordinário
salto noturno em Botafogo, no Rio de Janeiro. Possuía as condecorações do
Mérito Aeronáutico, no grau Cavaleiro do Brasil. No dia 12 de setembro de 1950,
Ada Rogato tornou-se a primeira mulher a realizar uma viagem cruzando a
Cordilheira dos Andes no comando de um avião Paulistinha, denominado
“Brasileirinho”, prefixo CAP 4 PP-DBL, de apenas 65 HP, percorrendo 11.691 quilômetros.Em
seguida e visitou o Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, consumindo 116 horas
para cobrir o percurso. O Chile conferiu-lhe a condecoração do Mérito de
Bernardo O’Higgins, a mais alta daquele país. Este feito foi repetido onze
vezes. Em 1952, no comando de um avião de 90 HP, realizou a proeza de ser a
primeira mulher a pousar no aeroporto de “El Alto”, o mais elevado do mundo,
situado em La Paz, capital
da Bolívia Em 1956, com uma bússola, mas sem rádio, Ada Rogato cruzou a selva
amazônica num pequeno avião Cesna de 90 HP. Esta fantástica brasileira foi a
primeira pára-quedista da América, a primeira mulher no mundo a saltar de
paraquedas de um helicóptero e a primeira a pousar em Brasília, quando a
capital federal ainda estava em construção. Fez mais de mil vôos conduzindo
pessoas acometidas de coqueluche, pois se acreditava que a altura exterminava a
bactéria da doença. Hábil como era, Ada Rogato também destacou-se fazendo
acrobacias.
A aviadora Ada Rogato na cabine do avião Cesna de 90 HP, utilizado na viagem sobre a selva amazônica. |
Ada
Leda Rogato não foi propriamente um piloto profissional. Ela era datilógrafa do
Instituto Biológico de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura.
Trabalhou como redatora da Revista dos Aviadores e da Revista Velocidade. Sua
performance como aviadores renderam-lhe vários títulos: “Milionária do Ar”,
“Águia Paulista”, “Rainha dos Céus do Brasil”, “A Gaivota Solitária”(concedido
pela imprensa brasileira), “Condor dos Andes”(dado pela revista chilena
Margarita). Recebeu diversas comendas, entre elas “Asas da Força Aérea
Colombiana”, a primeira a ser entregue a uma aviadora, “Asas da Força Aérea
Brasileira” e “Piloto Honoris Causa da FAB”. Da França veio o diploma “Paul
Tissandier” conferido pela Federação Aeronáutica Internacional, em 1954. Em
1956, integrou a Comissão organizadora das comemorações do cinqüentenário do 1º
vôo do avião 14 Bis. No citado ano fez um reide por Estados e Territórios do
Brasil homenageando Alberto Santos Dumont. Percorreu 25.057 km em 163 horas. Iniciou
suas atividades em 1940, aposentando-se em 1980, como chefe da seção técnica da
Secretaria de Esportes e Turismo de São Paulo.
Também em 1940, ela fez o curso
de pára-quedismo no Campo de Marte. O brevê para pilotar aviões foi concedido
pelo Aeroclube de São Paulo. Filha única do casal italiano Gugliermo Rogato e
Maria Rosa Greco Rogato, ela nasceu na cidade de São Paulo no dia 22 de
dezembro de 1910 e aí faleceu no dia 15 de novembro de 1986, aos 76 anos,
vitima de câncer. Seu corpo foi velado no Museu da Aeronáutica e o cortejo até
o cemitério contou com o acompanhamento da Esquadrilha da Fumaça. O avião Cesna
140-A, intitulado “Brasil”, com o qual Ada Rogato realizou o vôo das Américas,
encontra-se exposto no Museu da TAM, em São Carlos, São Paulo. A vida da ilustre aviadora
está contida no livro “ADA, Mulher, Pioneira, Aviadora”, escrito por Lucita
Briza. Em 8/3/2000, Ada Rogato recebeu homenagem póstuma dos Correios com selos
postais lembrando as mulheres pioneiras da aviação no Brasil sob o tema “Mulheres
Aviadoras”. Pela ordem, as três primeiras aviadores são: Anésia Pinheiro
Machado, Thereza de Marzo Roesler e Ada Leda Rogato.
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