segunda-feira, 20 de agosto de 2012




ADA ROGATO: "CONDOR DOS ANDES"

Por Nilson Montoril

Ada Rogato e o pequeno avião utilizado no vôo sobre a Cordilheira dos Andes e o pouso no aeroporto "El Alto", em La Paz, Bolivia, considerado então o mais elado do mundo. Na fuzelagem vemos uma a gaivota voando, simbolo adotado pela brilhante aviadora brasileira, que lhe valeu o titulo de "Gaivota Solitária".

                        No dia 28 de outubro de 1951, depois de haver pernoitado, dia 27, na Base Aérea de Amapá, a aviadora brasileira Ada Leda Rogato, pilotando um avião Cesna de 90 HP, prefixo PP-ADL, pousa no aeroporto da Panair do Brasil S.A. na pequena cidade de Macapá, então capital do Território Federal do Amapá. Foi recebida com muito carinho pelos amapaenses, graças à bela programação elaborada pelo Aéro Clube de Macapá e Governo do Amapá. Ada Rogato retornava ao Brasil depois de empreender uma viagem solitária pelas três Américas, percorrendo 51.064 quilômetros, no decorrer de seis meses, entre ida e volta da Terra do Fogo ao Alasca. Esta extraordinária viagem começou no aeroporto de Piracicaba em demanda ao Rio de Janeiro no dia 9 de abril. Após a checagem do plano de vôo e tomadas as demais providências necessárias, Ada Rogato decolou rumo à Terra do Fogo. A partir daí, ela seguiu a rota do Pacifico até alcançar o Alasca. Ao retornar, cobriu a rota do Caribe. Em seu vôo de confraternização pousou no Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, México, Estados Unidos, Canadá e Alaska, na ida. Quando esteve no Canadá, visitou o Fort Yukon, onde presenciou o espetáculo do sol da meia-noite. Ao retornar, cobriu o mesmo percurso até o México, passando daí para Cuba, Haiti, República Dominicana, Porto Rico, Trinidad, Venezuela, Caiena, Base Aérea de Amapá e Macapá 
Hangar do Aéro Clube de Macapá, em 1951, onde o avião de Ada Rogato passou por vistoria técnica e renovação do óleo do motor ao retornar de Manaus, dia 31 de outubro de 1951. Na foto que ilustra este artigo, observamos a presença do "Bonanza", avião que pertencia ao governo do Território Federal do Amapá.

Em nossa cidade a brilhante aviadora aproveitou o domingo para conhecê-la, visitando prédios públicos, Hospital Geral de Macapá, Fortaleza São José e Fazendinha, tendo por companhia o diretor da Imprensa Oficial, Aderbal Melo e o presidente do Aéro Clube de Macapá, Nelson Geraldo Sofiat. Na manhã do dia 29 de outubro, segunda-feira, Ada Rogato seguia para Manaus, escalando em Santarém e Parintins. Em Manaus foi recepcionada pelo governador Álvaro Maia, sendo hóspede oficial do Estado do Amazonas, ocupando um dos apartamentos do Hotel Amazonas. Na tarde do dia 31 de outubro de 1951, o Cesna denominado “Brasil” alçou vôo de Manaus com destino a Belém, mas Ada Rogato precisou realizar um pouso preventivo em Macapá, por volta das 17 horas, em virtude do pouco óleo que restava no motor do aparelho, insuficiente para alcançar o aeroporto de Val de Cães. Recolhido ao hangar do Aéro Clube de Macapá, o avião foi reabastecido de óleo e passou por uma consistente revisão no motor. Ao alvorecer do dia 1º de novembro, o Cesna “Brasil” ganhou os ares no rumo da capital paraense. Na fuselagem do mono-motor “Brasil” havia desenhos das bandeiras dos 28 países visitados.

Avião PP ADL 90 HP que Ada Leda Rogato usou no vôo da boa vizinhança, entre a Terra do Fogo e o Alaska. Ao retornar ao Brasil, pousou inicialmente na pista da Base Aérea de Amapá,dia 27/10/1951 e depois em Macapá, no dia posterior. O aparelho está exposto no Museu da TAM,  na cidade de São Carlos, Estado de São Paulo, bem preservado.

 Em Macapá, o governador Janary Gentil Nunes mandou pintar, na calda do aparelho, na cor verde, a frase: “Macapá saúda Ada Rogato”. Sempre atenciosa e simpática Ada Rogato ofertou aos jornalistas amapaenses uma fotografia batida em Nova Yorque, onde ela aparecia ao lado do Cesna PP-ADL. Havia também uma mensagem que o presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Dorneles Vargas mandou pintar antes que o pequeno aparelho deixasse o Rio de Janeiro: “Por intermédio do vôo da boa vizinhança, envio uma saudação cordial aos povos irmãos da América”. A senhora Darcy Vargas esposa de Getúlio, entregou a Ada Rogato uma mensagem destinada às crianças das Américas, que foi lida pela aviadora onde aterrizava. Ao retornar ao Brasil, Ada Rogato trouxe uma mensagem expedida pela primeira dama do Chile às crianças brasileiras. Ada Rogato era portadora do brevet nº 1, do Rio de Janeiro, dirigia vários tipos de avião e somava à época, 2.280 horas de vôo. Destemida como era não deixou de realizar vôos sobre cafezais (combate a broca do café) e outras plantações para livrá-las das pragas das lavouras.
Ada Rogato e o avião PP DBL.

                        Antes de fazer o raid aéreo entre a Patagônia (Terra do Fogo) e o Alasca, a aviadora Ada Rogato já havia realizado outras monumentais proezas. Começou a voar em 1935, com 24 anos de idade em planador.Consagrou-se  eternamente como a primeira volovelista (piloto de planador) do Brasil. No decorrer da Segunda Guerra Mundial ela fez 213 vôos de patrulhamento do litoral brasileiro. Ada Rogato era uma aviadora arrojada, conhecida internacionalmente. Além do vôo de confraternização, já havia saltado de pára-quedas 103 vezes, inclusive no estrangeiro. Também realizou um extraordinário salto noturno em Botafogo, no Rio de Janeiro. Possuía as condecorações do Mérito Aeronáutico, no grau Cavaleiro do Brasil. No dia 12 de setembro de 1950, Ada Rogato tornou-se a primeira mulher a realizar uma viagem cruzando a Cordilheira dos Andes no comando de um avião Paulistinha, denominado “Brasileirinho”, prefixo CAP 4 PP-DBL, de apenas 65 HP, percorrendo 11.691 quilômetros.Em seguida e visitou o Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, consumindo 116 horas para cobrir o percurso. O Chile conferiu-lhe a condecoração do Mérito de Bernardo O’Higgins, a mais alta daquele país. Este feito foi repetido onze vezes. Em 1952, no comando de um avião de 90 HP, realizou a proeza de ser a primeira mulher a pousar no aeroporto de “El Alto”, o mais elevado do mundo, situado em La Paz, capital da Bolívia Em 1956, com uma bússola, mas sem rádio, Ada Rogato cruzou a selva amazônica num pequeno avião Cesna de 90 HP. Esta fantástica brasileira foi a primeira pára-quedista da América, a primeira mulher no mundo a saltar de paraquedas de um helicóptero e a primeira a pousar em Brasília, quando a capital federal ainda estava em construção. Fez mais de mil vôos conduzindo pessoas acometidas de coqueluche, pois se acreditava que a altura exterminava a bactéria da doença. Hábil como era, Ada Rogato também destacou-se fazendo acrobacias.
A aviadora Ada Rogato na cabine do avião Cesna de 90 HP, utilizado na viagem sobre a selva amazônica.

                        Ada Leda Rogato não foi propriamente um piloto profissional. Ela era datilógrafa do Instituto Biológico de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura. Trabalhou como redatora da Revista dos Aviadores e da Revista Velocidade. Sua performance como aviadores renderam-lhe vários títulos: “Milionária do Ar”, “Águia Paulista”, “Rainha dos Céus do Brasil”, “A Gaivota Solitária”(concedido pela imprensa brasileira), “Condor dos Andes”(dado pela revista chilena Margarita). Recebeu diversas comendas, entre elas “Asas da Força Aérea Colombiana”, a primeira a ser entregue a uma aviadora, “Asas da Força Aérea Brasileira” e “Piloto Honoris Causa da FAB”. Da França veio o diploma “Paul Tissandier” conferido pela Federação Aeronáutica Internacional, em 1954. Em 1956, integrou a Comissão organizadora das comemorações do cinqüentenário do 1º vôo do avião 14 Bis. No citado ano fez um reide por Estados e Territórios do Brasil homenageando Alberto Santos Dumont. Percorreu 25.057 km em 163 horas. Iniciou suas atividades em 1940, aposentando-se em 1980, como chefe da seção técnica da Secretaria de Esportes e Turismo de São Paulo.

Ada Rogato ao lado do avião Paulistinha CAP 4 PP-DBL, de 65 HP, denominado Brasileirinho, que ela utilizou para cruzar a Cordilheira dos Andes. NestA empreiytada ela percorreu  ll.691 km e encantou nossos hermanos da latino América.

 Também em 1940, ela fez o curso de pára-quedismo no Campo de Marte. O brevê para pilotar aviões foi concedido pelo Aeroclube de São Paulo. Filha única do casal italiano Gugliermo Rogato e Maria Rosa Greco Rogato, ela nasceu na cidade de São Paulo no dia 22 de dezembro de 1910 e aí faleceu no dia 15 de novembro de 1986, aos 76 anos, vitima de câncer. Seu corpo foi velado no Museu da Aeronáutica e o cortejo até o cemitério contou com o acompanhamento da Esquadrilha da Fumaça. O avião Cesna 140-A, intitulado “Brasil”, com o qual Ada Rogato realizou o vôo das Américas, encontra-se exposto no Museu da TAM, em São Carlos, São Paulo. A vida da ilustre aviadora está contida no livro “ADA, Mulher, Pioneira, Aviadora”, escrito por Lucita Briza. Em 8/3/2000, Ada Rogato recebeu homenagem póstuma dos Correios com selos postais lembrando as mulheres pioneiras da aviação no Brasil sob o tema “Mulheres Aviadoras”. Pela ordem, as três primeiras aviadores são: Anésia Pinheiro Machado, Thereza de Marzo Roesler e Ada Leda Rogato.

Capa do livro "ADA,Mulher, Pioneira,Aviadora", escrito pela jornalista Lucita Briza. Ele revela a valorosa trajetória de uma mulher despreendida que realizou viagens aéreas fantásticas, sempre sozinha e pilotando pequenos aviões.



                       

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