SÃO
JOSÉ DE BOTAS
POR NILSON MONTORIL
Algumas
imagens de SÃO JOSÉ, pai putativo de JESUS CRISTO, mostram o humilde
carpinteiro usando botas. Acredita-se que a inovação pretende lembrar a
condição de caminhante que ele desempenhou ao fugir para o Egito, levando sobre
o lombo de um burro Maria e o menino Jesus. No tempo em que José viveu na
Palestina, era comum o uso de sandálias. Apenas as pessoas portadoras de bons
recursos e os romanos usavam calçados feitos com maior requinte. Estes calçados
tinham sola grossa e alta, protegendo os pés e chegavam até no meio das pernas.
Na antiga Grécia, os deuses eram retratados usando
este tipo de calçado, denominado kóthournos. Este tipo de bota se atava pela
frente e era usado sobre tudo pelos atores trágicos. O kóthourno era uma
espécie de calçado simbólico de alta dignidade, destinado aos deuses,
semi-deuses e heróis lendários. Os romanos, notadamente os militares de alta
patente, os magistrados e os nobres o adotaram, denominado-o cothurno. Os
franceses também agiram da mesma forma, imitando os neerlandeses, que se
referiam ao calçado como brozekem, evoluindo, no francês antigo para brosequim.
Em português, a palavra passou a ser escrita borzeguim, isto é, uma botina cujo
cano é fechado com cordões.
A idéia de perpetuar a imagem de São José trajando
botas deve ter ganhado reforço nos quartéis militares portugueses, onde se
exigiam dos freqüentadores, bilhetes denominados “santo e senha”, em que se
anotava a senha com o nome dum santo, para reconhecimento do portador. O
bilhete funcionava como sinal previamente combinado para se conhecer, sem
indiscrição, quem era partidário e quem era adversário. Assim, muitos adotavam
a palavra botas como senha e José, como santo. Em decorrência do hábito
surgiram São João das Botas, São Miguel das Botas, etc.
Segundo relatam antigos moradores de Macapá, havia
uma imagem de SÃO JOSÉ no frontispício do portão principal da Fortaleza. O
dedicado esposo de Maria Santíssima estava representado com botas. No altar da
capela havia outra imagem regularmente confeccionada, onde o santo aparecia
usando sandálias rústicas. Conta-se que, depois que a Fortaleza foi
desartilhada, na década de 1920,
a imagem de SÃO JOSÉ DE BOTAS foi retirada do
frontispício do portão principal e transferida para a Igreja Matriz, sendo
colocada no altar mor, na primeira banqueta, à frente de SÃO JOSÉ padroeiro da
cidade. Por obra de alguém que não suportava ver a fachada do forte sem a
presença do santo de botas, a imagem sempre reaparecia no espaço tradicional.
Muitos fiéis tomavam este fato como milagre, menos o Padre Júlio Maria Lombaerd,
que teria descoberto o autor da marmotice e lhe passou um descompostura
federal.
A comunidade católica reverencia SÃO JOSÉ em duas
importantes datas: 19 de março e 1º de maio. Nesta segunda data é evidenciada a
condição de operário do santo. Dia 1º de maio é o dia do Trabalho e de SÃO JOSÉ o perário. Valendo-se da profissão de carpinteiro, José, filho de
Jacó e neto de Matam, conseguiu promover o sustento de sua família. Mesmo sendo
pai putativo de Jesus Cristo, aceitou com resignação a missão que lhe foi
confiada por Deus. José era bem mais velho que Maria. Mesmo assim, com absoluta
humildade, cumpriu a missão de ser considerado o protetor e suposto pai do
Salvador. Em sua rústica oficina, trabalhando em obras grosseiras de madeira,
aparelhava as peças que outros encomendavam. Manuseando a serra, a enxó, a
plaina, o prumo, o martelo, o esquadro, a régua, o grampo, a vara ou a fita
métrica, era sobejamente conhecido em Nazaré.
Esta cidade de Macapá, inicialmente identificada pelos portugueses como Lugar, passou à denominação São José de Macapá em homenagem ao santo e ao Rei D. José I, vigésimo quinto monarca de Portugal, filho de D. João V e da rainha D. Marianna de Áustria. D. José nasceu em Lisboa e governou a terra lusitana e seus domínios entre 1750 e 1777. Fortificou sua administração ao nomear como Ministro o Marques de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo. Pombal dirigiu os negócios públicos da coroa realizando formidáveis reformas e devolveu a Portugal alento e vida. No reinado de D. José, o Governador do Grão Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marques de Pombal, fundou o povoado de Macapá, em 1751 e o elevou à categoria de vila em 1758, com o rótulo São José de Macapá. Com o passar do tempo o nome do santo foi suprimido e o vocábulo indígena evidenciado. Se tivesse sido mantida a denominação original, a capital do Estado do Amapá seria São José de Macapá, tal qual as seguintes cidades brasileiras: São José dos Barreiros (São Paulo), São José da Boa Vista (Paraná), São José dos Campos (São Paulo), São José da Lage (Alagoas), São José dos Matões (Maranhão), São José do Mipibu (Rio Grande do Norte), São José do Norte (Rio Grande do Sul), São José do Paraytinga (São Paulo), São José do Paraíso (Minas Gerais), São José dos Pinhais (Paraná), São José das Piranhas (Paraíba), São José do Rio Pardo (São Paulo), São José do Tocantins (Tocantins) e São José do Rio Preto) (São Paulo).
José é nome bíblico. Vale lembrar José, filho
de Jacó e Rachel, que o concebeu por graças de Deus, uma vez que era estéril. A
história de José é muito interessante e está contada em Gêneses, um dos livros
Pentateuco. Vendido por seus irmãos e levado para o Egito, foi ministro do
faraó e mandou buscar os israelitas para o país do Gessen. Durante muito tempo
foi tido como santo, mesmo sem ter sido beatificado. É São José do Egito,
venerado por considerável número de católicos, sendo o patrono da cidade de São
José do Egito, em
Pernambuco. Não estranhe o termo putativo que estou usando
neste relato. A palavra vem do latim “putativu”, e significa que aparenta ser
verdadeiro, legal e certo, sem o ser; suposto, reputado. Os escritos feitos
pelos evangelistas, romanos e escribas israelitas, referem-se a Jesus Cristo
com o filho do carpinteiro.
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