segunda-feira, 18 de junho de 2012




   O PORCO-CARNEIRO DE MACAPÁ

                         Por Nilson Montoril

Foto de um porco da raça Mangalitza Gilt, resultante do cruzamento de animais das raças Lincolnsshire Curly Coat (britânica) e Mangalitz (austríaca e húngara). A raça Mangalitz Gilt está em extinção porque os fazendeiros não querem criá-la, alegando que o bicho tem pouca carne. O porco-carneiro do João Barca era igual ao que vemos na fotografia que ilustra este artigo.

                        O cidadão João Barca de Araújo Coutinho, membro de uma família tradicional de Macapá, exercia a profissão de marceneiro quando ocorreu a criação do Território Federal do Amapá, a 13/9/1943. A exemplo de seus conterrâneos gostou da novidade, mas ficou meio escabreado com as noticias de que tudo mudaria na cidade onde residia. Na época, Macapá era uma pequena e carente cidade do Estado do Pará, onde o tempo passava de modo pachorrento. Muitos moradores possuíam “roçados” nas áreas periféricas da cidade e criavam seus animais soltos pelas ruas, passagens e largos. João Barca possuía um belo boi-cavalo, que em outras regiões do Brasil é denominado boi-de-montaria Era, então, figura de destaque do Marabaixo, tendo composto vários “ladrões” de sucesso. Também é de sua autoria uma canção dolente denominada “A Morte do Pedreira”. O Pedreira foi um cavalo que pertenceu a Jeribá Álvares da Costa, criador de gado nos campos que margeiam o rio Macacoary e morreu  de inanição devido ao descuido do vaqueiro encarregado de sua alimentação e segurança. O falecimento do Pedreiro ocorreu no local onde está erguido o Teatro das Bacabeiras. Após a instalação do governo territorial, a 25/1/1944, os hábitos dos moradores foram mudando gradativamente. O boi-cavalo do João Barca deixou de pastar livremente no centro de Macapá. Capim para alimentá-lo não faltava, razão pela qual o animal era mantido no cercado da residência de seu proprietário, situada à Rua General Gurjão, entre as Ruas São José e Coronel José Serafim Gomes Coelho, a atual Tiradentes. João Barca era vizinho de meu pai, Francisco Torquato de Araújo e seu compadre de “águas bentas”. No dia da festa de São José, seu João Barca preparava o boi-cavalo com muito capricho, colocava uma bela sela em seu dorso e o levava para o largo da Matriz. Quem quisesse dar uma voltinha ou apenas tirar fotografia montado no boi-cavalo, pagaria Cr$ 1,00 (um cruzeiro). Habilíssimo com suas ferramentas de marceneiro, seu João Barca fabricava móveis, esquadrias, utensílios domésticos e brinquedos. Na oficina dele havia uma serra igualzinha a que aparece na pintura feita pelo Padre Lino Simonelli, ao lado esquerdo do altar mor da igreja de São José, retratando o padroeiro de Macapá em sua oficina de carpinteiro, tendo a companhia da esposa Maria e do filho putativo Jesus. Em 1953, por ocasião da realização da 6ª Feira de Animais e Produtos Econômicos, levada a efeito na Fazendinha, a Divisão de Pesquisa e Produção apresentou como novidade uma raça de porco totalmente desconhecida na região e pouco difundida no Brasil, a chamada porco-ovelha. A raça é originária da Áustria e da Hungria e o animal tem pelos densos e cacheados, parecendo lã. Provém do cruzamento da raça britânica Lincolnshire Curly Coat com a raça Mangalitza, na Áustria. Em 1900, os porcos da Inglaterra foram vendidos para a Áustria e Hungria, países onde surgiu a raça Mangalitza Gilt. Em 2007, os ingleses decidiram reintroduzir o porco-ovelha na Grã-Bretanha, extinta na comunidade desde 1972. O animal comprado por João Barca era um macho, ainda pequeno e tinha poucos pelos brancos. A proporção em ele que foi crescendo, os pelos cacheados foram aparecendo. A novidade foi considerada uma aberração da natureza, decorrente do cruzamento de um porco com uma ovelha, coisa impossível de acontecer, porque são animais de espécies diferentes. A curiosidade humana transformou o porco-carneiro numa celebridade. Gente à beça aparecia na casa do João Barca querendo ver a extraordinária criatura. O assédio só diminui quando o dono do porco pintou uma tabuleta, pendurando-a na cerca de sua casa contendo o seguinte anúncio: “Porco-carneiro, entrada Cr$ 1,00”. Parece reduzido o valor cobrado, mas um cruzeiro naquela época dava pra comprar dois picolés.Além do salário de servidor público lotado na Garagem Territorial, João Barca contava com os ganhos advindos do boi-cavalo, do porco-carneiro e de seus biscates como marceneiro.  A existência do porco rendeu ao Batista, filho do João Barca, a alcunha de porco-carneiro, haja vista que lhe cabia receber os curiosos, cobrar a taxa de visita e cuidar do animal. Porém, com o passar do tempo, o apelido foi esquecido e o Batista apenas ri quando essa história é lembrada.

Os porcos da raça Mangalitz Gilt podem ter pelos brancos, ruivos, pretos e cinzentos.Estes dois individuos que vemos na fotografia contida no Blog da Ciência e Tecnolia,da Inglaterra, apresentam tonalidade diferente. Um é cinzento e o outro é preto. Eles descendem dos porcos que fazendeiros ingleses foram buscar na Áustria e na Hungria, em 2007.
O porco-ovelha que vemos acima é o Buddy, que vive no Zoológico Tropical de Wings, em Essex, na Inglaterra. É um macho que convive com as fêmeas Margot, de pelo ruivo, e Porche, que tem o pelo preto e está grávida. Os três animais são mantidos em exposição e encantam as crianças e os adultos.
Está porquinha branca é a Elizabeth, que foi arrematada em um leilão na Inglaterra por Tim Fitton por £250(duzentos e cinquenta libras esterlinas), que a deu presente a uma de suas filhas. Elizabethe é dócil e vive sossegadamente recebendo os cuidados especiais de sua dona.
                      

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