O BANCO DE CRÉDITO DA AMAZÔNIA EM MACAPÁ
Por
Nilson Montoril
Por volta das 8 horas do dia 7/7/1951,
proveniente de Belém, aterrizava no aeroporto de Macapá, então existente no
centro da cidade, um avião da companhia de aviação Cruzeiro do Sul,
transportando entre seus passageiros o Dr. Gabriel Hermes Filho, Guilherme
Vieira e Georgenor de Souza Franco, respectivamente presidente, Diretor da
Agência de Belém e Oficial de Gabinete do Banco de Crédito da Amazônia sediado
na capital paraense. Os bancários Pio de Menezes Veiga e Lourival Sales da
Costa, funcionários da novel instituição também integravam a embaixada do BCA.
Os ilustres visitantes foram recepcionados pelo governador Janary Gentil Nunes,
pelo Secretário Geral em exercício Antônio Gillet e pelo senhor Francisco
Torquato de Araújo presidente da Associação Comercial e Industrial do Amapá.
Após os acordes de praxe executados pela Banda de Música da Guarda Territorial
o governador Janary Nunes saudou as autoridades que nos visitavam.
Do aeroporto,
em viaturas oficiais, todos seguiram para o Macapá Hotel onde os visitantes
ficaram hospedados. Ás 10 horas, em solenidade realizada no salão de festas do
Macapá Hotel, ocorreu a instalação da agência bancária do BCA, a segunda a
surgir na capital amapaense. Em nome do governo falou o Dr. Nady Bastos Genú
evidenciando o esforço desprendido pelo governo territorial para conseguir a instalação
da importante instituição bancária em terras do Amapá. Em seguida, fez uso da
palavra o Sr. Francisco Torquato de Araújo, que no ato solene também
representava as classes conservadores do Amapá, mostrando o drama vivido pelos
produtores da Amazônia com a queda da produção da borracha e a falta de uma
instituição de crédito que pudesse oferecer os meios necessários para sua
recuperação. Á exemplo de outros comerciantes, Francisco Torquato de Araújo
também se devotava à produção de borracha e possuía uma propriedade na região
das Ilhas do Pará, cujas terras, até 13/9/1943, integravam o município de
Mazagão.
Ao se pronunciar, o Dr. Gabriel Hermes Filho deu posse aos bancários
Pio de Menezes Veiga, no cargo de gerente e Lourival Sales da Costa como contador.
A primeira agência do Banco de Crédito da Amazônia funcionou em um imóvel
edificado na Avenida Coriolano Fineias Jucá, que pertencia ao empreendedor
Fernando Lourenço da Silva, quase em frente à Loja Maçônica Duque de Caxias e que
ainda permanece sob controle de seus descendentes. Ao ser encerrada a
solenidade, o governador Janary Nunes preencheu sua ficha como primeiro
correntista do banco e depositou a quantia de Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros).
Só com os depósitos iniciais o BCA captou a importância de Cr$ 30.000,00(trinta
mil cruzeiros). O gerente Pio Menezes ofereceu um almoço as autoridades
territoriais e membros da ACIA, servido em sua residência. Às 17 horas, no
auditório da Rádio Difusora de Macapá ocorreu um debate sobre as reais
atividades da nova agência recém instalada. Os senhores Miranda Carvalho (Diretor
do Serviço de Geografia e Estatística), Nady Bastos Genú (Diretor da Divisão de
Produção), Francisco Torquato de Araújo (Presidente da ACIA e comerciante), Silvio
de Carvalho Santos (Prefeito de Mazagão) e Moysés Zagury (comerciante)
formularam várias perguntas aos membros da diretoria do banco, todas
respondidas com bastante dose de convencimento. À noite, a Associação Comercial
e Industrial de Macapá ofereceu um banquete ao pessoal do BCA no salão de
festas do Macapá Hotel. A presença do BCA foi tão marcante que, a 12/4/1952, a
instituição divulgou seu primeiro edital de concurso para praticante. Os
inscritos foram submetidos a 4 provas: Português (eliminatória), Aritmética
(eliminatória), Contabilidade e Datilografia.
Tipico barracão instalado à beira de um rio pelo comerciante(aviador) que financiava as atividades dos seringueiros. |
A
criação do Banco da Borracha, embrião do Banco de Crédito da Amazônia aconteceu
no dia 19 de julho de 1942, decorrente do Decreto-Lei nº 4.451 com capital
inicial de 50 milhões de cruzeiros. Surgiu após a assinatura de um acordo
firmado no dia 3 de março de 1942, entre o governo brasileiro e a agência
norte-americana Rubber Development Corporation, visando à criação de um
estabelecimento de crédito que estimulasse a produção gomífera na Amazônia,
haja vista que estava em curso a II Guerra Mundial e os japoneses impediam que
os ianques e consumidores dos países aliados obtivessem borracha nos seringais
do Oriente. A medida surtiu os efeitos esperados pelos norte-americanos até o
final do conflito bélico e a rendição do Japão em agosto de 1945.
Seringueira fornecendo o látex |
Exercendo
monopólio nacional da goma, o Banco da Borracha financiou os donos de seringais
e comprou-lhes toda a produção. Com o encerramento da guerra, os seringais do
Oriente voltaram a funcionar normalmente fazendo cessar o interesse dos Estados
Unidos pela borracha brasileira. No dia30 de agosto de 1950, entrou em vigor a
Lei nº 1.184 transformando o Banco da Borracha em Banco de Crédito da Amazônia. Com a reestruturação implantada, o BCA
ampliou seu campo de ação e, além da borracha, passou a financiar projetos
relativos a outros extrativismos, indústrias, comércio e pecuária. O primeiro
governo da revolução militar de 1964 alterou seu nome para Banco da Amazônia S.
A.ou simplesmente BASA. No Estado do Amapá, o BASA possui agências apenas nas cidades de
Macapá e Santana.
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