GURGEL, TESTADO E APROVADO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO
Por
Nilson Montoril
Por
ocasião das manifestações populares que vêm ocorrendo em Macapá, o atual
governador do Estado do Amapá tem se retirado para o interior. Fontes oficiais
dizem que as viagens do gestor amapaense são estratégicas e previamente
programadas, mas há controvérsias. Para seus adversários políticos, as
ausências do governante visam mantê-lo longe dos burburinhos das ruas e das
hostilidades que lhe são direcionadas. Basta alguém falar em manifestação pública e lá
vai o governador para o interland. Isso me faz lembrar uma época do período da
revolução militar deflagrada no dia 31 de março de 1964, relacionada às visitas
que autorirades do primeiro escalão do governo federal realizavam ao então
Território Federal do Amapá. Quando tal fato acontecia as pessoas rotuladas
como comunistas ou simpatizantes do socialismo eram presas, recolhidas as
casamatas da Fortaleza São José de Macapá e liberadas apenas quando o figurão
já não se encontrava entre nós. Esse procedimento causou muitos
constrangimentos aos cidadãos diretamente atingidos, a seus parentes e a amigos.
Posteriormente, as prisões deixaram de ser realizadas, mas os “rotulados” deveriam
ficar reclusos em casa ou se ausentarem da cidade sede. Entre os indivíduos
costumeiramente atingidos estava o amigo Hermínio Carlos Gurgel Medeiros, meu
contemporâneo do Colégio Amapaense, contumaz contestador dos atos e feitos
restritivos e punitivos que os governantes impunham ao povo. Gurgel adorava um
muro. Não para ficar em cima, eximindo-se de tomar partido de qualquer vertente
filosófica ou popularesca, mas sim para fazer bradar sua voz de nordestino
desassombrado. Ele foi preso inúmeras vezes e nunca pensou em fugir do país
como fizeram muitos falastrões que hoje querem vender imagem de heróis. Gurgel
falava o que bem entendia e assumia suas atitudes. Durante o governo do general
Luiz Mendes da Silva, o primeiro da fase revolucionária, Hermínio Gurgel foi
preso várias vezes. Era acusado de agitador porque falava em demasia. Entretanto,
nunca causou danos ao patrimônio público, não assaltou estabelecimentos
comerciais ou delatou companheiros. No tempo em que estes fatos ocorriam, a
indústria nacional fabricava veículos da marca Gurgel, havendo entre eles um classificado
como Jeep e feito de fibra de vidro. Por ser considerado robusto e apropriado
para superar obstáculos ingrimes e atoleiros, o Exército Brasileiro comprou
várias viaturas. Os fabricantes valeram-se disso para anunciar em suas
propagandas que o Jeep “Gurgel era testado e aprovado pelo Exército
Brasileiro”. Foi o suficiente para que o Hermínio Gurgel adotasse essa frase e
a divulgasse no programa que apresentava pela manhã na Rádio Difusora de Macapá
depois que o comandante Annibal Barcellos, seu amigo, lhe garantiu a
tranqüilidade da qual precisava. Porém, até a posse de Annibal Barcellos,
Gurgel precisou se afastar da capital amapaense todas as vezes que ouvia a
notícia de que uma autoridade federal viria a Macapá. Certo dia ele ouvia uma
emissora de rádio quando saiu a noticia de que um presidente desembarcaria em Macapá. Imediatamente,
sem ter o cuidado de ouvir a noticia por inteiro, ele se mandou para Porto
Grande. Quando retornou no dia seguinte soube que o presidente era da Federação
de Desportos do Amapá. Valia-se do rádio
para divulgar a propaganda de sua loja São Paulo Saldos, certamente uma das mais
barateiras de Macapá. No rádio era conhecido como Pai D’Égua e fazia dupla com
o Osmar Melo, o Pai Velho. A esposa Regina era seu braço direito. Brincalhão e
gozador, Hermínio não poupava ninguém com suas brincadeiras e freqüentemente
criticava um elemento fujão tido como guerrilheiro. Mesmo sabendo que poderia
enfrentar problemas futuros devido à ascensão política do dito sujeito, Gurgel
o fustigou por um bom período de tempo. Quando era advertido de que poderia
sofrer represálias empresariais por parte do executivo, ele simplesmente dizia;
“Eu sou Gurgel, testado e aprovado pelo Exército Brasileiro”.Hermínio Gurgel,
rio-grandense do norte, comerciante, radialista e professor de inglês, faleceu
no dia 24 de dezembro de 1994, vitimado por um enfarto.
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