segunda-feira, 15 de julho de 2013

GURGEL,TESTADO E APROVADO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO






           GURGEL, TESTADO E APROVADO PELO EXÉRCITO BRASILEIRO

            Por  Nilson Montoril
Herminio Gurgel, o Pai D'Égua, apresentava o programa "Alvorada Sertaneja", de segunda a sexta-feira através da Radio Difusora de Macapá, emissora que já havia contado com seu concurso antes da instalação da televisão em Macapá. A dupla formada por ele e pelo Osmar Melo fazia a alegria de muitos e causava raiva aos adversários políticos do governador Annibal Barcelos. Herminio Gurgel comandava o programa e Osmar Melo fazia as reportagens. Ambos já faleceram,mas deixaram muita saudade.
                     Por ocasião das manifestações populares que vêm ocorrendo em Macapá, o atual governador do Estado do Amapá tem se retirado para o interior. Fontes oficiais dizem que as viagens do gestor amapaense são estratégicas e previamente programadas, mas há controvérsias. Para seus adversários políticos, as ausências do governante visam mantê-lo longe dos burburinhos das ruas e das hostilidades que lhe são direcionadas. Basta alguém falar em manifestação pública e lá vai o governador para o interland. Isso me faz lembrar uma época do período da revolução militar deflagrada no dia 31 de março de 1964, relacionada às visitas que autorirades do primeiro escalão do governo federal realizavam ao então Território Federal do Amapá. Quando tal fato acontecia as pessoas rotuladas como comunistas ou simpatizantes do socialismo eram presas, recolhidas as casamatas da Fortaleza São José de Macapá e liberadas apenas quando o figurão já não se encontrava entre nós. Esse procedimento causou muitos constrangimentos aos cidadãos diretamente atingidos, a seus parentes e a amigos. Posteriormente, as prisões deixaram de ser realizadas, mas os “rotulados” deveriam ficar reclusos em casa ou se ausentarem da cidade sede. Entre os indivíduos costumeiramente atingidos estava o amigo Hermínio Carlos Gurgel Medeiros, meu contemporâneo do Colégio Amapaense, contumaz contestador dos atos e feitos restritivos e punitivos que os governantes impunham ao povo. Gurgel adorava um muro. Não para ficar em cima, eximindo-se de tomar partido de qualquer vertente filosófica ou popularesca, mas sim para fazer bradar sua voz de nordestino desassombrado. Ele foi preso inúmeras vezes e nunca pensou em fugir do país como fizeram muitos falastrões que hoje querem vender imagem de heróis. Gurgel falava o que bem entendia e assumia suas atitudes. Durante o governo do general Luiz Mendes da Silva, o primeiro da fase revolucionária, Hermínio Gurgel foi preso várias vezes. Era acusado de agitador porque falava em demasia. Entretanto, nunca causou danos ao patrimônio público, não assaltou estabelecimentos comerciais ou delatou companheiros. No tempo em que estes fatos ocorriam, a indústria nacional fabricava veículos da marca Gurgel, havendo entre eles um classificado como Jeep e feito de fibra de vidro. Por ser considerado robusto e apropriado para superar obstáculos ingrimes e atoleiros, o Exército Brasileiro comprou várias viaturas. Os fabricantes valeram-se disso para anunciar em suas propagandas que o Jeep “Gurgel era testado e aprovado pelo Exército Brasileiro”. Foi o suficiente para que o Hermínio Gurgel adotasse essa frase e a divulgasse no programa que apresentava pela manhã na Rádio Difusora de Macapá depois que o comandante Annibal Barcellos, seu amigo, lhe garantiu a tranqüilidade da qual precisava. Porém, até a posse de Annibal Barcellos, Gurgel precisou se afastar da capital amapaense todas as vezes que ouvia a notícia de que uma autoridade federal viria a Macapá. Certo dia ele ouvia uma emissora de rádio quando saiu a noticia de que um presidente desembarcaria em Macapá. Imediatamente, sem ter o cuidado de ouvir a noticia por inteiro, ele se mandou para Porto Grande. Quando retornou no dia seguinte soube que o presidente era da Federação de Desportos do Amapá.  Valia-se do rádio para divulgar a propaganda de sua loja São Paulo Saldos, certamente uma das mais barateiras de Macapá. No rádio era conhecido como Pai D’Égua e fazia dupla com o Osmar Melo, o Pai Velho. A esposa Regina era seu braço direito. Brincalhão e gozador, Hermínio não poupava ninguém com suas brincadeiras e freqüentemente criticava um elemento fujão tido como guerrilheiro. Mesmo sabendo que poderia enfrentar problemas futuros devido à ascensão política do dito sujeito, Gurgel o fustigou por um bom período de tempo. Quando era advertido de que poderia sofrer represálias empresariais por parte do executivo, ele simplesmente dizia; “Eu sou Gurgel, testado e aprovado pelo Exército Brasileiro”.Hermínio Gurgel, rio-grandense do norte, comerciante, radialista e professor de inglês, faleceu no dia 24 de dezembro de 1994, vitimado por um enfarto.

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