MOISÉS ELIEZER LEVY
Por
Nilson Montoril
Em
1870, várias famílias de ascendência israelita, cujos integrantes viviam em
Casablanca e Rabat, no Marrocos, migraram para o Brasil e se estabeleceram no
Estado do Pará. Entre os migrantes provenientes de Rabat estava o casal judeu
marroquino Moisés Isaac Levy e sua esposa. Os judeus vindos do Marrocos eram
recebidos em Belém por membros das famílias Nahon, Serfatty,Israel e Roffé que
já residiam na cidade porque tinham negócios com empresas inglesas e francesas.Em
29 de setembro de 1877, nascia em Belém mais um rebento, Moisés Eliezer Levy.Este
nome é muito significativo do ponto de vista histórico. Moisés é Moshe em
hebraico, e foi dado em homenagem ao grande líder que retirou os hebreus do
cativeiro no Egito. Moisés foi membro da tribo bíblica de Levi, cujos
integrantes tinham funções distintas no Templo. Moshe, entretanto, não era
descendente de Arão. Eliezer lembra o segundo filho de Moisés e Zipora e
significa “o que Deus ajuda”, O nome também faz lembrar Eliezer de Damasco,
filho de Niulore, e cabeça do patriarca da casa de Abraão, citado no livro
Gêneses e Eliezer, o Profeta.
Após quase dez anos de aclimatação, passados em
Belém, o casal foi residir na Ilha Grande de Gurupá, onde Moisés Isaac Levy se
dedicou ao comércio, obtendo bons lucros com a compra e venda da borracha. O
menino Eliezer Levy iniciou seus estudos em Gurupá e os concluiu na capital do
Pará. Sua genitora integrava a dinastia rabina de Dadela (D’avila), cujo membro
mais famoso era o Rabi Eliezer Dadela, cognominado a “Luz do Ocidente” (Ner
há-Maarabi). Em 21 de março de 1900, aos 23 anos de idade, seguindo a tradição
da fidelidade religiosa, judeu casa com judeu, Eliezer Levi casou com Esther
Levy Benoliel, então com apenas 13 anos de idade, filha de David e Beliza
Benoliel, descendentes de ilustre família judaica do Marrocos que residiam na
cidade de Cametá. O casal teve sete filhos, entre eles a escritora Zultana Levy
Rosenblatt. Ele também se dedicou ao
comércio e montou sua própria firma comercial, a E. Levy & Cia-Comissões e
Consignações. A partir de 1910, integrou a empresa Majus Ruber Company e depois
gerenciou a firma C. B. Merlin, constituída por italianos e voltada para a
navegação. Formou-se em direito e, no período de 1918 a 1926, passou
trabalhar no escritório de advogacia de Francisco Jucá Filho e Álvaro Adolfo da
Silveira. Francisco Jucá era Procurador Geral da República no Pará e Álvaro
Silveira exercia o cargo eletivo de deputado estadual e chefe do Partido
Conservador. Neste espaço de tempo Eliezer Levy também já atuava na política
paraense como filiado do Partido Republicano Federal. Graças a sua intermediação,
o escritório prestou relevante apoio às entidades hebraicas com serviços de
datilografia e orientações para melhor condução das discussões sionistas. Foi
importante membro da Grande Loja Maçônica do Pará, chegando ao grau 33 e sendo
elevado à condição de Grande Benemérito de sua ordem. Sempre ligado as questões
sociais e comunitárias, fundou uma escola para moças denominada Dr. Weizzman.
Cerca de 60 jovens passaram pelo aludido estabelecimento de ensino, do qual o
major Eliezer Levy era o diretor.
A unidade escolar tinha currículo oficial no
curso primário e ensino hebraico e profissionalizante ou técnico para as
meninas poderem ser donas de casa eficientes e prendadas. O corpo docente
estava assim constituído: Moisés Binlolo lecionava hebraico; Luza Cerdeira
ensinava bordado à máquina; a senhorita Sarah Rofé ministrava as aulas do curso
primário; a senhorita Anna Ismael Nunes conduzia as aulas de renda à mão,
contando com o auxilio da senhorita Annita Levy, filha mais velha do diretor da
escola. No dia 1º de dezembro de 1918, Eliezer Levi liderou a comunidade
judaica de Belém numa expressiva manifestação pública a favor da “Declaração
Balfour”. Ele próprio participou do belo cortejo de carros alegóricos
externando os mesmos anseios que os judeus desenvolviam em todo o mundo visando
à liberdade da Palestina. No seu carro, muito bem ornamentado, o major Eliezer
Levy estava ao lado de seu amigo Abraham Ribinik, postado atrás de uma espécie
de trono que evidenciava a beleza da jovem Haila. Esta senhorita era a filha
primogênita do major, conhecida na intimidade familiar como Annita ou Alita. Á
frente do carro constava uma faixa com os dizeres “Salve Palestina Livre”.
Outras duas importantes iniciativas de Eliezer Levi foram: a fundação do Comitê
“Ahavat Sion”, ou Amor a Sião, em português e o jornal “Kol Israel” (A Voz de
Israel), que circulou de 8 de dezembro de 1918 a 1933. Desde o ano de
1922, Eliezer Levy. O Comitê Israelita do Pará surgiu em 1918, substituindo a
Sociedade Guemilut Hassadim Shel Ribi Shimon Bar Yochai,fundada em 1890.
Eliezer
Levy sabia que as questões de ordem institucional só podem ser resolvidas e
definidas por via política. Por essa razão, participou da política paraense,
tornando-se amigo e correligionário de Magalhães Barata. Em 1932, à conta desta
amizade e militância política, Eliezer Levy, já ostentando a patente de coronel
da Guarda Nacional foi nomeado intendente do município paraense de Macapá,
permanecendo no cargo até 10 de fevereiro de 1936, ocasião em que tomaram posse
o primeiro prefeito eleito de Macapá, Francisco Alves Soares e sete vereadores.
Em 10 de novembro de 1937, em decorrência do golpe do “Estado Novo”, Getúlio
Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, extinguiu os
partidos políticos e fechou o Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas e
as Câmaras Municipais. Conseqüentemente, o prefeito e os vereadores perderam
seus mandatos. Entre novembro de 1937 e setembro de 1942, revezaram-se na
Prefeitura, por um breve período, Francisco Porfírio Soares, Secundino Braga Campos,
Hermes de Azevedo Mendes, João Ferreira de Sá e Silvio Ferreira de Sá. Em
setembro de 1942, o coronel Moises Eliezer Levi voltava a dirigir a comuna
macapaense. Dia 1º de julho de 1944, foi substituído pelo Dr. Odilardo Silva.
Graças a seu empenho, foi construído o trapiche de Macapá, erguido o mercadinho
“2 de Julho”, abertos os primeiros 25 quilômetros da
estrada Macapá-Clevelândia, erigida a capela de Nossa Senhora da Conceição no
cemitério São José e feitos outros melhoramentos na cidade. Em 1934, deu total
apoio à comunidade católica para a implantação do Círio de Nazaré em Macapá. Ele ainda foi
prefeito de Afuá. Faleceu em Belém, dia 1º de janeiro de 1947, com pouco mais de 69 anos de idade.
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