Nilson Montoril
No dia 14 de janeiro de 1809, tropas brasileiras que haviam saído de Belém no dia 27 de outubro de 1808, composta por 751 homens, ocupavam a cidade de Caiena aprisionando as principais autoridades francesas, inclusive o governador Victor Hugues. Este feito é considerado o batismo de fogo do Corpo de Fuzileiros Navais, criado em Lisboa a 28 de agosto de 1787, e que chegou ao Brasil a 7 de março de 1808, seguindo a Família Real lusitana que fugira das tropas de Napoleão Bonaparte. A ordem para desencadear a operação bélica partiu do Príncipe Regente D. João, que então geria os negócios da Coroa, devido à demência de sua mãe, a rainha Maria I. A declaração de guerra à França ocorreu no dia 1º de maio de 1808, como represália portuguesa a atitude de Napoleão que mandou tropas francesas invadir Portugal. O contingente luso-brasileiro estava sob o comando do tenente-coronel Manoel Marques e foi organizado em Belém pelo tenente-general José Narciso de Magalhães e Menezes que, em 1808, era o governador do Pará. Na época a província estava com reduzida capacidade financeira, fato que levou o capitão-general a assinar uma subscrição que ele próprio iniciou doando seis contos de réis. O restante dos recursos destinados ao pagamento de uma tropa de voluntários foi obtido junto às pessoas de bons recursos que residiam na capital paraense. Não há registro quanto à importância arrecadada, mas ela foi bem expressiva. Além da constituição de uma força terrestre, os lideres da expedição mobilizaram uma frota naval integrada pela escuna “General Magalhães” com 12 peças de artilharia de pequeno calibre; pelos dos brigues “Leão”, “Vingança” “Ninfa” e “Narciso”, cada um com 8 peças; 2 cúteros com 8 peças cada; 3 barcaças canhoneiras; 1 sumaca; 1 lancha e 1 iate. A oito de outubro a expedição partiu de Belém com 400 soldados, aportando na Vila de Breves para embarcar mais 100 homens do 2º Regimento de Infantaria ali aquartelado. No dia 12 de novembro os expedicionários atingiram o Cabo Norte, onde encontraram a corveta “Confiance” da Marina Real Britânica que tinham saído do Rio de Janeiro acompanhada pelos cúteros “Voador” e “Infante D. Pedro”, ambos da Marinha Portuguesa, transportando cada um 18 fogos. Esta frotilha estava sob o comando do oficial inglês James Lucas Yeo e transportava mais de 300 fuzileiros-marinheiros luso-brasileiros.
Na fragata “Confiance”, além da tripulação, viajavam 150 marinheiros ingleses. No dia 1º de dezembro, na foz do Rio Oiapoque, a expedição traçou o plano de ataque, realizando o primeiro embate no dia 15 às margens do Rio Aproak, onde aprisionou a escuna guianense “Petit Adele”. Dias mais tarde apressou a escuna “Creole”, logo incorporada à frota luso-brasileira com o nome de “Lusitânia”. No dia 6 de janeiro de 1809, cerca de 300 homens conquistaram o forte Diamante, edificado no Rio Maroni. Em seguida ocorreram as conquistas dos fortes “Dégrad des Cannes” (sete de janeiro) e Trió (oito de janeiro), ambos eretos na ilha de Caiena. A partir do dia 9, com o recuo dos franceses, teve inicio a marcha decisiva sobre a capital da Guiana.
Como o governador Victor Hugues não aceitou a proposta de rendição apresentada pelos invasores, a invasão da possessão francesa tornou-se inadiável. Na tarde do dia 12 de janeiro de 1809, o governador Victor Hugues se rende e, em Bourgarde, assina a rendição. Caiena foi totalmente dominada no dia 14 de janeiro. Para governar a Colônia de Caiena e Guiana, o Príncipe D. João designou. João Severiano Maciel da Costa, nascido em Mariana, Minas Gerais e formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Antes de assumir a nova função, João Severiano ocupava o cargo de Desembargador do Paço, no Rio de Janeiro.
Durante o período de 14 de janeiro de 1809 a 21 de novembro de 1817, ele governou Caiena desenvolvendo um belo trabalho. Por força do Tratado de Paris de 30 de maio de 1814, assinado pelas nações que derrotaram Napoleão Bonaparte, a Guiana Francesa deveria ser devolvida à França que então era governada pelo Rei Luiz XVIII. Os franceses pretendiam que a decisão fosse cumprida imediatamente, mas os portugueses só o fizeram a 21 de novembro de 1817. Para administrar a possessão na América do Sul, Luiz XVIII nomeou o conde de Claude Carra de Saint-Cyr, major-general da França e homem de sua extrema confiança.
A força bélica mobilizada contra Caiena contava com um ótimo poderio militar. A escuna “General Magalhães” era a capitânea das tropas paraenses e tinha o tenente coronel Manoel Marques no comando. A fragata “Confiance” estava equipada com 26 canhões e havia sido tomada da marinha francesa pelo capitão James Yeo em 4 de junho de 1805. Naquela oportunidade ele comandava a fragata “Loire” e o apressamento se deu no porto de Muros, na Espanha. O brigue “Voador” viajava sob comando de José Antônio Salgado, e o brigue “Infante D. Pedro” tinha a comandá-lo Luiz da Cunha Moura. Os brigues “Vingança”, “Leão”, “Ninfa” e ‘Narciso” eram comandados pelo tenente Manoel Luiz de Melo).
Soldado da Real Brigada da Marinha Portugues. Trezentos combatentes deste corpo de combate integraram o contingente que participou da ocupação de Caiena. |
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