Por Nilson Montoril
Entre os anos de 1770 e 1777, muito trabalho foi desenvolvido pelo governo do Grão Pará na instalação da Vila de Nossa Senhora da Assunção, no rio Mutuacá. Aos poucos, algumas famílias dos ex-moradores da Mazagão africana que se encontravam temporariamente em Belém foram sendo transferidas para o novo burgo. Segundo a tradição, apenas em agosto de 1777, por ocasião da festa alusiva a São Bartolomeu, dia 24 do referido mês, se deu o inicio das encenações das lutas que os soldados cristãos portugueses travaram contra os mouros na Mauritânia (Marrocos). A partir do ano acima referido, os organizadores do evento procuraram narrar os principais feitos históricos acontecidos no Castelo Real de Mazagão, sem esquecerem os aspectos religiosos que fortaleceram os combatentes lusitanos. Assim, a imaginação farta do povo migrante foi traçando uma colcha de retalho costurada com fatos extraordinários de cunho divino ocorridos na Espanha, em Portugal e até mesmo na Palestina. Afirma-se que, por ocasião da Batalha de Clavijo, travada no dia 23 de maio de 840, entre os castelhanos e os mouros, surgiu no meio das tropas cristãs um cavaleiro iluminado que matava com facilidade os inimigos da fé católica. Seria esse fantástico ginete Sant’Iago, que logo passou a ser o patrono dos combatentes espanhóis. Sobre Santiago fiz amplos comentários no artigo publicado no domingo retrasado com o título “Tiago Maior”. Esse apóstolo de Jesus Cristo é ainda hoje o padroeiro da Espanha e de muitas terras que os espanhóis descobriram. O santo em questão também foi patrono da cavalaria portuguesa, assim permanecendo até o ano de 1385, quando outro santo católico o substituiu. Falo de São Jorge, cuja devoção em Portugal é atribuída aos cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa em 1147, tirando-a das mãos dos mouros. Porém, apenas no reinado de Afonso IV é que o uso de “São Jorge!!” como grito de batalha se tornou regra substituindo “Santiago!!” O santo guerreiro nascido na Capadócia é apontado como o responsável pela vitória dos portugueses sobre os mouros na batalha de Aljubarrota. A substituição formal de Santiago por São Jorge como patrono de Portugal verificou-se no reinado de Dom João I . Em 1387, pela primeira vez a imagem de São Jorge a cavalo saiu na procissão de Corpo de Deus pelas ruas centrais de Lisboa.
Aliás, os propagadores da fé cristã sempre se valeram de lendas dos povos contatados para fazê-los aceitar o cristianismo. No caso de São Jorge, identificaram-no com Sigurd, um destemido caçador de dragões da mitologia nórdica. Sigurd ficou célebre depois de matar um dragão que exigia dos moradores de um reino, anualmente, uma donzela como alimento e pacto de paz. É por isso que São Jorge costuma ser retratado matando um dragão. Nas encenações das lutas entre cristãos e mouros, feitas em Mazagão Velho, São Jorge aparece em plano secundário. O destaque maior é para Santiago, morto por ordem de Herodes Agripa I no dia 25 de julho do ano 44. Há algum tempo outra figura lendária evidenciada nas primeiras encenações não tem sido lembrada. Trata-se de Josué, filho de Nun, personagem bíblico que substituiu Moisés na condução dos filhos de Israel à terra que o Senhor lhes prometeu além do rio Jordão, “desde o deserto e desse ao Líbano até ao grande rio Eufrates – todo o país dos hiteus – e até ao mar grande para o ocidente”. Josué desempenhou com muita determinação a missão que lhe foi confiada, conquistando todos os reinos existentes no território que Deus reservou ao seu povo. Foram tomadas as cidades de Jericó, Hai, Gabaon, Maceda, Libua, Láquis, Eglon, Hebron, Dahir, Asor e vários outros reinos.
Por ocasião da batalha contra forças coligadas dos amoreus, chefiadas pelos reis de Jerusalém, Hebron, Jerimot, Láquis e Eglon, aconteceu um fato extraordinário. Combatendo os amoreus, próximo à cidade de Gabaon, os israelitas venciam o embate enquanto o sol declinava no poente. Josué orou ao Senhor e exclamou: “Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu lua, sobre o vale de Ajalon”. O astro rei e a lua só retomaram seus ciclos normais depois que a vitória estava consumada. A imaginação dos migrantes lusitanos, aliada a religiosidade alicerçada sobre glórias diversas do judaísmo e do cristianismo, colocaram numa mesma batalha irreal as figuras de São Josué, Santiago e São Jorge.
Por ocasião da batalha contra forças coligadas dos amoreus, chefiadas pelos reis de Jerusalém, Hebron, Jerimot, Láquis e Eglon, aconteceu um fato extraordinário. Combatendo os amoreus, próximo à cidade de Gabaon, os israelitas venciam o embate enquanto o sol declinava no poente. Josué orou ao Senhor e exclamou: “Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu lua, sobre o vale de Ajalon”. O astro rei e a lua só retomaram seus ciclos normais depois que a vitória estava consumada. A imaginação dos migrantes lusitanos, aliada a religiosidade alicerçada sobre glórias diversas do judaísmo e do cristianismo, colocaram numa mesma batalha irreal as figuras de São Josué, Santiago e São Jorge.
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