JANARY NUNES E A REVOLUÇÃO DE 1964
Por Nilson Montoril
Eleito
deputado federal em outubro de 1962, mas ainda sem tomar posse, o coronel
Janary Gentil Nunes convenceu o presidente João Belchior Marques Goulart a nomear
o coronel Terêncio Furtado de Mendonça Porto para governar o Amapá. Obteve a
nomeação manifestando publicamente sua solidariedade ao mandatário do Brasil,
que estava necessitando de apoio parlamentar para permanecer na presidência.
Quando eclodiu a revolução de 1964, o panorama político se apresentou
turbulento para o primeiro governador do Território do Amapá. No dia 2 de abril
de mesmo ano, o comando da revolução militar extinguiu o mandato de Jango e
constituiu uma Junta Militar para substituí-lo. Dia 9 de abril a Junta Militar baixou
o Ato Institucional nº 1, cassando os direitos políticos de 102 cidadãos tidos
como nocivos à nação brasileira. Dia 10 de abril foi publicada a lista dos
cassados, havendo entre eles 41 deputados federais. Ainda no dia 10, sob forte
impacto emocional, Janary Nunes decidiu que iria requerer licença para
tratamento de saúde, abrindo espaço para que seu suplente Dário Cordeiro de
Lima o substituísse na Câmara Federal. Ciente de que os militares articulavam a
candidatura do general Humberto de Alencar Castelo Branco, Janary Nunes, que
também integrava a reserva do Exército Brasileiro, prestou solidariedade ao
movimento e prometeu referendar a indicação na condição de parlamentar. De
fato, no dia 11 de abril de 1964, em sessão realizada no Congresso Nacional, Castelo
Branco, já ocupando o posto de marechal e na reserva, foi eleito presidente do
Brasil. Votaram a seu favor 361 parlamentares, registrando-se 72 abstenções.
A
posse do marechal Castelo Branco ocorreu no dia l5 de abril de 1964, às 15
horas, no Congresso Nacional, ocasião em que o senhor Ranieri Mazzili, que
ocupava interinamente o cargo de presidente da República, lhe transmitiu o
comando da nação. Na tarde do mesmo dia, em Macapá, houve uma concentração
popular na Praça Barão do Rio Branco para um ato litúrgico e apoio a Castelo Branco.
Abrindo a programação a Banda de Música da Guarda Territorial executou o Hino
Nacional, seguindo-se a celebração de missa pelo bispo Dom Aristides Piróvano. Após
a missa teve inicio o ato político. O tenente José Alves Pessoa pelo Circulo
Militar, Dr. Dalton Lima no exercício do cargo de deputado federal e o governador
Terêncio Porto fizeram uso da palavra. A concentração foi intitulada como
“Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”, mesmo titulo do ato público articulado
pelo deputado Cunha Bueno e pelo Padre irlandês Patrick Peyton, realizado em São Paulo, no dia 19 de
março de 1964, que reuniu cerca de 400 mil pessoas. Ainda licenciado da Câmara
Federal, mas livre de ter seu mandato cassado, Janary Nunes se limitou a
acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, inclusive a exoneração do
governador Terêncio Porto e a nomeação do general Luiz Mendes da Silva para o
governo do Amapá. Serenados os ânimos, Janary reassumiu sua titularidade na
Câmara Federal, mas já não possuía a mesma força política de outros tempos.
Rejeitado por antigos correligionários e hostilizado pelo eleitorado jovem,
notadamente pelos estudantes, Janary Nunes ainda venceria a eleição realizada
em 1966, mas seria suplantado por Antônio Cordeiro Pontes em 1970.
Sua
ausência do Amapá depois que deixou o governo a 2 de fevereiro de 1956, para
assumir a presidência da Petrobrás e depois ao cargo de Ministro
Plenipotenciário do Brasil na Turquia foi fundamental para que seu prestigio
declinasse. Velhos aliados políticos dos tempos áureos do Partido Social
Democrático-PSD filiaram-se a outras associações, principalmente ao Partido
Trabalhista Brasileiro-PTB. Em 1966, ele precisou valer-se da sublegenda ARENA
2 para permanecer no cargo de deputado federal. Neste pleito Janary Nunes
venceu a chapa constituída por Alfredo Oliveira e João Lourenço da Silva
detentora da sublegenda ARENA 1.
A partir da posse do general Ivanhoé Gonçalves Martins
no cargo de governador do Território Federal do Amapá, ocorrida no dia 20 de
abril de 1967, o deputado Janary Nunes perdeu definitivamente sua influência no
governo, fato que o levou a também perder eleitores. Tentou criar embaraços ao
general Ivanhoé e só não perdeu o cargo de parlamentar porque mudou o rumo de
sua conduta. Derrotado em 1970, afastou-se do Amapá, mas jamais o esqueceu.
Queiram ou não seus adversários políticos, que no inicio eram seus amigos,
Janary Gentil Nunes foi o transformador de uma região desprovida de atendimento
governamental, lançando as bases que permitiram a evolução da unidade federada
à condição de estado.
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