TRANSAMAZÔNICA,
UMA ESTRADA SEM FIM
Por
Nilson Montoril
No
dia 6 de junho de 1970, o general Emilio Garrastazu Médice, presidente do Brasil,
foi ao Nordeste para ver de perto os efeitos devastadores que a seca estava
causando na região. No retorno a Brasília passou por Recife, onde anunciou o
propósito do governo em construir a rodovia Transamazônica e assim transferir
flagelados para a Amazônia. Ao encerrar o discurso que fez, afirmou que transporia “homens sem terra para terra sem homens”. A 16 de junho ele criou o
Plano de Integração Nacional-PIN, no qual a abertura da Transamazônica era o
projeto primordial. A concorrência pública foi lançada dia 18 de junho e as
obras iniciaram em 1º de setembro de 1970. O dinheiro para o inicio da obra foi
sacado do orçamento da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM e
da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste-SUDENE. Todas as providências
para a concretização do projeto aconteceu de forma avassaladora.
O governo
pretendia instalar 500 mil colonos ao longo da estrada que passou a ser
identificada como BR-230, na Amazônia. O propósito do projeto empolgava os
governistas e os flagelados. Seriam instaladas agrovilas a cada 10 km da rodovia e, em cada
uma delas, haveria entre 48 a
64 casas além de escola primária, capela ecumênica, armazém, clinica e
farmácia. As casas ocupariam parte de terrenos com 20x80m a 25x125m. Cada família
receberia uma gleba de 100
hectares(1 km por 1 km), preservando metade do terreno. A cada 50 km, haveria uma agrópole
com quatro agrovilas sob sua jurisdição. Cada agrópole teria 500 casas e no
máximo 2.500 habitantes. Ali funcionaria uma escola secundária, olaria,
comércio e posto de gasolina. A cada 150 km, haveria uma rurópole com duas agrópoles
em sua jurisdição. No dia 10 de outubro de 1970, Médice inaugurou, em Altamira,
o marco inicial das obras da rodovia, ocasião em que uma castanheira de 50 metros foi derrubada.
No tronco da monumental árvore foi colocada uma placa de bronze com os
seguintes dizeres: “Nesta margem do Xingu, em plena selva Amazônica, o Sr.
Presidente da República dá inicio à construção da Transamazônica, numa
arrancada histórica para a conquista deste gigantesco mundo verde”.
No trecho
Altamira-Itaituba, surgiram a primeira agrópoles, a “Brasil Novo” e a primeira
rurópoles,a “Presidente Médice”,consagrada como Medicilândia. A Brasil Novo
dista 46 km
do marco inicial da estrada. A Medicilândia ficou um pouco mais distante, a 90 km de Altamira. Dentre as
agrovilas, a Leonardo da Vinci, localizada no município de Vitória do Xingu merece
destaque, pois até rua asfaltada possui. No decorrer da década de 1970, o
governo federal gastou mais de um bilhão e quinhentos mil dólares na construção
da rodovia. Numa extensão de 4.000
km abertos na Amazônia, só restam 20 agrovilas em 2012.
Medicilândia foi elevada à condição de município e hoje possui uma população de
mais de 30 mil habitantes.
Em 1970, Altamira possuía cerca de três mil habitantes.
Atualmente este contingente populacional é superior a 100 mil almas. A
Transamazônica atravessa Altamira de leste a oeste numa extensão de 60 km. Belém está a 800 km da sede do citado
município. O trecho Altamira-Itaituba compreende 500 km de distancia. Lonjura
semelhante precisa ser percorrida entre Altamira-Marabá e Altamira-Santarém. Altamira é tida como a capital da Transamazônica, à margem do rio
Xingu. Como os colonos não tiveram o crédito prometido pelo governo para
plantar, foram saindo da região, vendendo ou simplesmente abandonando as terras
recebidas. Os que chegaram a produzir alguma coisa não tiveram cesso ao mercado
produtivo. Outros, nem terras receberam.
O inicio da construção da Transamazônica ficou
marcada pela solene derrubada de uma castanheira de 50 metros de altura e
despertou opiniões contraditórias sobre a validade do projeto incluso no Plano
de Integração Nacional, que visava à ocupação física do solo por meio da
abertura de estradas e tinha como meta absorvera mão-de-obra nordestina,
disponível em grande quantidade devido às secas, e direcionar os fluxos de migração.
Para que isso ocorresse, o governo federal pretendia fixar famílias na região
amazônica, cujas terras, segundo a propaganda oficial, eram férteis e
gratuitas. Os ocupantes das terras deveriam receber do governo titulo de
legalização das mesmas, sementes para iniciar as plantações, vasta rede de postos
médicos e escola para todos.
Todo o excedente da produção seria transportado
para centros consumidores. O isolamento, o solo arenoso em grande parte, as
chuvas torrenciais que transformam em rios de lama largos trechos da rodovia,
dificultaram a adaptação dos colonos à região. A 3ª maior rodovia do Brasil foi
projetada no governo do presidente Emilio Garrastazu Médice, de 1969 a 1974. Inaugurada dia
27 de dezembro de 1972, e classificada como uma rodovia transversal, a
Transamazônica deveria ter 8 mil km de comprimento ligando região Nordeste e Norte do Brasil com
o Peru e o Equador. Posteriormente o projeto foi modificado para 4.977 km e a estrada
chegaria ao município de Benjamim Constant. Entretanto, não passou de Lábrea
com 4.233 km.
No período chuvoso, que se estende de outubro a março, os trabalhos eram
interrompidos e os trabalhadores ficavam isolados por terra.
Quando o tempo
permitia, pequenos aviões, usando pistas precárias, faziam o transporte de
viveres e medicamentos. Às vezes, os helicópteros também operavam na região. A
comunicação era realizada através de rádio. A Transamazônica, identificada como
BR-230, tem inicio na cidade portuária de Cabedelo, no Estado da Paraíba. Dos 4.233 km que possui, a
rodovia tem 2.656 km
asfaltados e 1577 km
de terra. Ela corta os estados da Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins,
Pará e Amazonas. Na Paraíba a Transamazônica compreende 521 km com boa condição de
tráfego até a divisa com o Ceará.
Inicia em Cabedelo, se ponto extremo leste e em João Pessoa ela tem
interseção com a BR-101, que dá acesso a Natal. Depois de João Pessoa a estrada
passa por Bayeux, Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Sobrado, Caldas Brandão,
Gurinhén, Mogeiro, Ingá, Riachão do Bacamarte, Massaranduba, Campina Grande (interseção
com a BR-104 e acesso a Caruaru), Soledade, Juazeirinho, Junco do Seridó, Santa
Luzia, São Mamede, Patos, Malta, Condado, São Benedito, Pombal, Aparecida,
Souza, Marizopólis e Cajazeiras. É duplicada no trecho de 147,6 km entre Cabedelo e
Campina Grande, conhecido como rodovia governador Antônio Mariz, para dar maior
desenvolvimento à região com o transporte da safra agrícola.
No estado do Ceará
a estrada passa por Ipaumirim (interseção com a BR-116, acesso a Fortaleza), Lavras
da Mangabeira, Vargem Alegre, Farias Brito, Antonina do Norte e Campos Sales.
No Piauí ela passa por Picos (acesso a Teresina), Oeiras e Floriano. No
Maranhão ela corta Balsas e Imperatriz. Nesta cidade existe interseção para
Belém, Palmas (Tocantins), Goiânia (Goiás) e Brasília (DF). No Estado de
Tocantins: Aguiarnópoles, Nazaré/Santa Terezinha a 2 e 3 km da
rodovia,respectivamente.Luzinópoles,Cachoeirinha,(a 2 km da rodovia),São Bento do
Tocantins, Araguatins(a 8 km
da estrada), além de acesso pela TO-010 ao povoado de Transraguaia e travessia
do rio Araguaia.
No Estado do Pará o primeiro centro urbano é Palestina do
Pará, cujo centro da cidade dista 6
km da estrada. Seguem: Brejo Grande do Araguaia (a 2 km), São Domingos do Araguaia
(a 4 km),
Marabá (acesso a Parauapebas, Xinguara e a Redação pela BR-155), Itupiranga, Novo
Repartimento (acesso a Tucurui pela BR-422), Pacajá, Anapu (acesso a Vitória do
Xingu pela PA-415), Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Rurópoles (acesso
a Belterra e a Santarém pela BR-163/Rodovia Cuiabá-Santarém, Campo Verde (distrito
de Itaituba com acesso a Trairão, Novo Progresso e a Cuiabá/Mato Grosso pela
BR-163) Itaituba (travessia sobre o rio Tapajós) Jacareacanga (a 7 km da rodovia). No Estado do
Amazonas: Apuí, Humaitá (acesso a Porto Velho/Rondônia e a Manaus pela BR-319)
e Lábrea.
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Mapa das regiões Nordeste e Norte com o traçado da Transamazônica.O trecho tracejado em preto e amarelo indica por onde a rodovia deveria passar até atingir Benjamim Constat. |
Em 1974, 300 famílias foram assentadas no trecho km 930 a 1035, em Humaitá e cada
uma delas recebeu lote de 100
hectares. Estima-se que, no entorno da Transamazônica
vivem cerca de um milhão e 200mil pessoas, a maioria no Pará. O trecho deste
estado concentra 60% da produção de cacau e 20% da criação de gado. No dia 12
de janeiro de 2011, percorri o trecho que se estende de Fortaleza a Crato, trafegando
pelo perímetro acima descrito. Dia 18 do mesmo mês e ano sai de Exu (Pernambuco)
seguindo o mesmo trecho e passando pela extensão da BR-230, até João Pessoa. No
dia 22 de janeiro de 2014, viajamos de Crato (Ceará) para Teresina (Piauí),
trafegando pela Transamazônica e passando por Picos, Oeiras e Floriano.
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Trecho de Pacajá, no Estado do Pará. |
No
Maranhão, ainda trilhando pela BR-230, passamos por Balsas e Imperatriz. Nesta
cidade a estrada faz conexão com outra rodovia que leva a Belém, Palmas,
Goiânia e Brasília. Em Cabedelo-PB, perto do porto e da Fortaleza de Santa Terezinha, há uma placa
que assinala o inicio da rodovia Transamazônica, a BR-230. Documentei em foto
minha presença no local. O trecho problemático da Transamazônica está
localizado no Pará e Amazonas. No Nordeste o movimento de veículos é intenso e
as estradas estão em ótima condição de tráfego. Testemunhei este fato,
identificando, pela chapa do veículo sua procedência. Nos postos de combustível
indaguei a diversos motoristas o destino da carga que transportavam. Em maior
quantidade elas eram conduzidas para Belém, São Luiz, Palmas, Marabá e Santarém.
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Presidente Médice e seus assessores contemplando a maquete da construção da Transamazônica, em 1970. |
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Bonita vista aérea da Transamazônica,no Estado do Pará.Imagine o progresso que a região teria se ela estivesse asfaltada totalmente |