quarta-feira, 27 de julho de 2011

COLUNAS PARTIDAS



           Por Nilson Montoril

A então Paraça da Saudade(1967),que o Governador Ivanhoé Gonçalves Martins já chamava de Praça Civica, sem a urbanização necessária. Observe que na área onde foi construido o Palácio do Setentrião havia um campo de futebol delineado por alunos do Coléio Amapaense. O espaço correspondia a um pequeno trcho do velho aeroporto da Panair do Brasil. O palaque de madeira era montada no final de agosto e desmontado após os festejos da semana da Pátria e do Território. O mastro onde a Bandeira Nacional era hasteada ficava no centro da praça.
                                                                                        
                               Quem vê a Praça da Bandeira urbanizada, nem de longe imagina que naquele local, no dia 21 de janeiro de 1959, os amapaenses ergueram um singelo monumento compreendendo um pilar em alvenaria, tendo no topo uma base em concreto, encimada pelo mapa do Amapá e sobre ele três colunas partidas. Antes do pano que cobria o monumento ser descerrado, foi realizada uma missa campal celebrada pelo bispo Prelado de Macapá, D. Aristides Piróvano. Centenas de pessoas conduziam cartazes com as fotografias de três ilustres cidadãos: deputado federal Coaracy Gentil Monteiro Nunes, o suplente de deputado Hildemar Pimentel Maia e o Oficial Administrativo Hamilton Henrique da Silva. Eles haviam falecido num pavoroso acidente aéreo na localidade Nossa Senhora do Carmo, região do rio Macacoary, na manhã do dia 21 de janeiro de 1958, uma terça-feira. Coaracy Nunes e Hildemar Maia tinham ido aquele povoado prestigiar uma festa que os moradores faziam em louvor a São Sebastião. Como à época não havia estrada de rodagem que ligasse a capital do Amapá àquela localidade, os dois amigos iriam empreender a viagem por via marítima. Foram desaconselhados a fazê-lo porque o percurso era longo e ambos deveriam estar em Porto Platon ao amanhecer do dia 21 de janeiro, a fim de seguirem de trem para Serra do Navio, onde manteriam contatos com técnicos do governo federal ligados às questões geográficas e mineralógicas. Se não tivessem ido ao Macacoary no dia 20, teriam tomado um trem da Estrada de Ferro do Amapá dia 21, na estação do quilômetro nove, então edificada próximo à bifurcação da rodovia BR 15/Macapá-Clevelândia com a estrada que demanda para o Porto de Santana, para cumprir a agenda acertada no Rio de Janeiro, então capital federal do Brasil. Desde o dia 2 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Amapá estava sendo governado pelo médico Amílcar da Silva Pereira, que substituiu Janary Nunes quando este foi nomeado pelo Presidente Juscelino Kubtischek para presidir a Petrobras. O Contador Pauxy Gentil Nunes atuava como Secretário Geral, uma espécie de vice-governador. Ao saber que Coaracy e Maia pretendiam ir a Vila Carmo do Macacoary por via fluvial, Amílcar Pereira lhes ofereceu um dos aviões da frota oficial, mas a oferta foi recusada. Eles não queriam dar motivos para que seus adversários políticos os criticassem por trágico de influência junto ao governo territorial.
O aparelho em questão é um Paulistinha CAP-4. O Paulistinha CAP-9 era um pouco maior,mas não tinha a mesma performance do CAP-4.

                                  O Dr. Maia sugeriu ao Dr. Coaracy que o piloto Hamilton Silva fosse contratado para levá-los até o local da festa e no dia seguinte transportá-los até Porto Platon. O aparelho que Hamilton Silva pilotava pertencia a ele e aos senhores Eugênio Gonçalves Machado, pecuarista naquela região, e a Carlos Andrade Pontes, seu genro. Por ser uma aeronave particular, ninguém da oposição teria o que falar. Assim foi feito. Hamilton Silva acertou com os contratantes todos os detalhes da viagem e convidou o amigo Eulálio Nery para acompanhá-los, haja vista que o Eulálio é natural do Macacoary e devoto de Nossa Senhora do Carmo  e de São Sebastião. O avião alugado era um Paulistinha, prefixo CAP- 9, com capacidade para quatro pessoas. Não era um aparelho indicado para decolar em pistas curtas, principalmente se estivesse conduzindo muita carga. Ao deixar Macapá, o Paulistinha levava quatro passageiros e um tambor de gasolina alojado atrás das poltronas destinadas aos passageiros. A viajem até Macacoary foi tranqüila e muito divertida. À noite, o baile estava do jeito que o diabo gosta, pelo menos para o Eulálio Nery que grudou numa morena e deixou de lado a condição de “co-piloto”. Dia 21 de janeiro de 1958, por volta das cinco horas da manhã, Coaracy Nunes, Hildemar Maia e Hamilton Silva foram acordados. Fizeram o asseio matinal, tomaram café e seguiram para o campo de aviação local. Bem que eles tentaram convencer o Eulálio Nery a continuar integrando a comitiva, mas o Eulálio tinha sido encantado pela cabrocha interiorana. O dia amanheceu nublado e chovia fino. O piloto Hamilton Silva não queria voar devido ao fato da pista só ter 400 metros, cumprimento nada recomendável para uma decolagem quando o tempo é adverso. Alem disso a pista de terra e areia estava encharcada. O Dr. Maia também ficou receoso. O Dr. Coaracy Nunes não quis faltar ao compromisso acertado para Serra do Navio e estimulou Hamilton Silva, lembrando que em outras ocasiões e em lugares ainda mais hostis o piloto agira com muita destreza.

Esta fotografia dos destroços do CAP-9 foi batida após a abertura da estrada de rodagem que liga Macapá à região do Rio Macacoari, cujo pico foi aberto por iniciativa do  pecuarista Eugênio Gonçalves Machado. Antes, o percurso era coberto a cavalo, passando por Santo Antônio e Abacate do Pedreira, São Francisco da Casa Grande e Curiaú . O cidadão de roupa escura que aparece no flagrante é o Governador Terêncio Furtado de Mendonça Porto. A foto, que certamente era do acervo governamental, tem sido usada por quem se dispõe a ilustrar artigos sobre a tragédia do Macacoari.

O avião Paulistinha sinistrado era um dos aparelhos fabricados pela Companhia Aeronáutica Paulista. Até 1949, ano em que a empresa em questão fechou as portas, centenas de aeronaves tinham sido fabricadas nas séries CAP 1 a CAP 9. O Paulistinha CAP 4 foi a série que fez mais sucesso, contando com ótima aceitação pelos aeroclubes do Brasil e empresários. Basicamente, o avião Paulistinha era um aparelho para treinamento primário. Tinha estrutura de tubos soldados de aço cromotibdênio e madeira, coberto de tela. O Paulistinha CAP 9, por exemplo, era uma versão sanitária do CAP 5 e poucas unidades foram fabricadas.Usava motor Franklin fabricado nos Estados Unidos da América e desenvolvia velocidade de 130 km por hora. No momento de sua decolagem na pequena pista do Macacoari, o Paulistinha CAP 9 estava com o tanque cheio e ainda levava razoável quantidade de gasolina em um tambor. Com a explosão deste tambor, provavelmente os ocupantes do avião foram encharcados de gasolina e rapidamente viraram tochas humanas. A credita-se que a simples queda da aeronave ceifou-lhes a vida.

                                 Convencido de que era necessário voar, Hamilton Silva posicionou o Paulistinha na cabeceira da pista e iniciou a operação para a decolagem. O avião teve ótima aceleração, mas perdeu velocidade ao deslocar-se na pista lamacenta. No momento certo alçou vôo e tudo indicava que ganharia os ares. Entretanto, a cauda do Paulistinha bateu no topo de uma portentosa árvore e o pequeno avião despencou contra o chão, explodindo. Momentos de muito tormento viveram as pessoas que estavam na margem da pista, impossibilitadas de fazer algo para debelar as chamas. Num esforço em vão limitaram-se a jogar areia nas labaredas. Quando o fogo apagou, restaram apenas três corpos carbonizados no interior do aparelho. A identificação dos corpos foi feita levando-se em conta a posição que as vítimas ocuparam no momento do embarque. O fogo reduziu a pedaços de carvão os corpos do tripulante e dos ilustres passageiros, que couberam em urnas mortuárias que não chegavam a ter 80 centímetros de cumprimento cada. Naquele fatídico dia, três importantes colunas foram partidas: Coaracy Gentil Monteiro Nunes, 45 anos; Hildemar Pimentel Maia, 38 anos; Hamilton Henrique da Silva, 32 anos. Cada um deles estava simbolicamente representado no monumento erguido em frente ao Colégio Amapaense, na lateral do espaço que passou a ser chamado “Praça da Saudade”. No mesmo dia, pela manhã, autoridades e escoteiros testemunharam a colocação do busto do Dr. Coaracy Nunes sobre uma pilastra na praça fronteiriça ao Aeroporto Internacional de Macapá, hoje transformada em estacionamento.

A Praça da Saudade não foi convenientemente construída devido às mudanças introduzidas na gestão do Território do Amapá a partir de 1961, e principalmente a contar de 1965. O civismo apregoado pelo General Ivanhoé Gonçalves Martins falou mais alto, e no lugar da Praça da Saudade surgiu a Praça  Cívica,  cujo nome, pouco tempo depois foi modificado para Praça da Bandeira, que nunca mais foi usada para o fim precípuo de sua edificação. A tragédia do Macacoari extinguiu a vida do Dr. Coaracy Nunes, cognominado no Congresso Nacional como “O Deputado da Amazônia”.


Nesta vista aérea de Macapá, o local onde seria construida a Praça da Saudade já abrigava a Praça da Bandeira. As obras do Palácio do Setentrião estavão concluídas e o palanque do logradouro público edificado em alvenaria.Posteriormente diversas modificações foram introduzidas na praça até o estágio atual.

sábado, 23 de julho de 2011

IMAGINAÇÃO FARTA NA IMPLANTAÇÃO DA CAVALHADA EM NOVA MAZAGÃO

                          
      
             Por Nilson Montoril

No inicio da edificação da Vila de Nova Mazagão as casas ficavam mais recuadas, abrigadas pela mata. A igreja vista na fotografia, dedicada a Nossa Senhora da Assunção é a 4ª a ser erguida na comunidade. São Tiago não é o padroeiro de Mazagão e sim Nossa Senhora da Assunção, que também era a padroeira da Mazagão do Marrocos.

            Entre os anos de 1770 e 1777, muito trabalho foi desenvolvido pelo governo do Grão Pará na instalação da Vila de Nossa Senhora da Assunção, no rio Mutuacá. Aos poucos, algumas famílias dos ex-moradores da Mazagão africana que se encontravam temporariamente em Belém foram sendo transferidas para o novo burgo. Segundo a tradição, apenas em agosto de 1777, por ocasião da festa alusiva a São Bartolomeu, dia 24 do referido mês, se deu o inicio das encenações das lutas que os soldados cristãos portugueses travaram contra os mouros na Mauritânia (Marrocos). A partir do ano acima referido, os organizadores do evento procuraram narrar os principais feitos históricos acontecidos no Castelo Real de Mazagão, sem esquecerem os aspectos religiosos que fortaleceram os combatentes lusitanos. Assim, a imaginação farta do povo migrante foi traçando uma colcha de retalho costurada com fatos extraordinários de cunho divino ocorridos na Espanha, em Portugal e até mesmo na Palestina. Afirma-se que, por ocasião da Batalha de Clavijo, travada no dia 23 de maio de 840, entre os castelhanos e os mouros, surgiu no meio das tropas cristãs um cavaleiro iluminado que matava com facilidade os inimigos da fé católica. Seria esse fantástico ginete Sant’Iago, que logo passou a ser o patrono dos combatentes espanhóis. Sobre Santiago fiz amplos comentários no artigo publicado no domingo retrasado com o título “Tiago Maior”. Esse apóstolo de Jesus Cristo é ainda hoje o padroeiro da Espanha e de muitas terras que os espanhóis descobriram. O santo em questão também foi patrono da cavalaria portuguesa, assim permanecendo até o ano de 1385, quando outro santo católico o substituiu. Falo de São Jorge, cuja devoção em Portugal é atribuída aos cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa em 1147, tirando-a das mãos dos mouros. Porém, apenas no reinado de Afonso IV é que o uso de “São Jorge!!” como grito de batalha se tornou regra substituindo “Santiago!!” O santo guerreiro nascido na Capadócia é apontado como o responsável pela vitória dos portugueses sobre os mouros na batalha de Aljubarrota. A substituição formal de Santiago por São Jorge como patrono de Portugal verificou-se no reinado de Dom João I . Em 1387, pela primeira vez a imagem de São Jorge a cavalo saiu na procissão de Corpo de Deus pelas ruas centrais de Lisboa.

Santiago Mata Mouros ou Conquistador. Ele teria lutado ao lados dos espanhóis na batalha de Clavijo e dizimado grande parte dos combatentes muçulmanos. Há correntes no catolicismo que não aceitam a versão guerreira do apóstolo.
            Quando os portugueses se fixaram no Marrocos, em 1502, São Jorge já figurava como patrono do exército luso. Ele teria nascido na Capadócia, região do sudeste da Anatólia, que hoje faz parte da Turquia. Seu pai morreu em combate quando Jorge ainda era criança. Sua mãe, natural de Lida e proprietária de muitos bens o levou para a Palestina, mandando educar o filho com esmero. Ao atingir a adolescência, Jorge ingressou no exército romano e rapidamente foi promovido ao posto de capitão. Devido a sua índole guerreira, conquistou a admiração de seus superiores. Em reconhecimento a seus feitos, o Imperador romano concedeu-lhe o titulo de conde da Capadócia. Aos 23 anos de idade já vivia na corte imperial romana, exercendo a função de Tribuno Militar, com direito a uma cadeira no Senado. Sensibilizado com a situação de extrema pobreza em que vivia a população de Roma, Jorge distribuiu entre eles os bens herdados de sua genitora. A expansão do cristianismo no meio da gente pobre de Roma acabou contagiando o jovem tribuno. No decorrer de uma sessão do Senado, onde um decreto do Imperador Diocleciano, buscando respaldo para exterminar os cristãos estava sendo votado, Jorge protestou contra tal barbárie, afirmando não ter sentido matar pessoas inocentes só porque elas não acreditavam nos falsos ídolos que o império adorava. Disse mais, se acreditar num único Deus que pregava o amor ao próximo significava ser seguidor de Cristo, ele também era cristão. Diocleciano tentou fazê-lo desistir da fé cristã. Como não conseguiu, mandou torturar o jovem capitão. Ao final de cada sessão de tortura, Jorge deveria ser levado à presença do imperador para publicamente renegar a fé em Jesus Cristo. Jorge se manteve irredutível e contagiou vários integrantes da corte romana, inclusive a esposa de Diocleciano. Por ordem do imperador, Jorge foi exilado para Nicomédia, na Ásia Menor, e aí degolado a 23 de abril do ano 303. Seus restos mortais foram levados para Lida, terra natal de sua mãe e sepultado conforme a fé católica. Anos mais tarde, quando o cristianismo era a religião oficial do império romano, o imperador Constantino mandou erguer um suntuoso oratório no local do sepulcro do santo mártir. A devoção a São Jorge cresceu rapidamente, motivando a construção de templos em todos os redutos do cristianismo. No Egito, no primeiro século após sua morte havia 4 igrejas e 40 conventos. No século V, contava-se 5 igrejas de São Jorge em Constantinopla. Não são poucos os relatos de soldados portugueses que afirmaram ter visto São Jorge envergando seu vistoso uniforme do exército romano abrindo fileiras entre as tropas mouras e assim facilitando a ação dos combatentes cristãos.
A gravura de São Jorge combatendo um dragão é sobejamente conhecida no universo. Ainda assim, na forma do Concilio Vaticano II, São Jorge foi relacionado entre os santos que perderam espaço nos altares dos templos católicos. Em Mazagão Velho, por ocasião da festa de São Tiago um cidadão da comunidade o personifica no trajeto da  procissão.

            Aliás, os propagadores da fé cristã sempre se valeram de lendas dos povos contatados para fazê-los aceitar o cristianismo. No caso de São Jorge, identificaram-no com Sigurd, um destemido caçador de dragões da mitologia nórdica. Sigurd ficou célebre depois de matar um dragão que exigia dos moradores de um reino, anualmente, uma donzela como alimento e pacto de paz. É por isso que São Jorge costuma ser retratado matando um dragão. Nas encenações das lutas entre cristãos e mouros, feitas em Mazagão Velho, São Jorge aparece em plano secundário. O destaque maior é para Santiago, morto por ordem de Herodes Agripa I no dia 25 de julho do ano 44. Há algum tempo outra figura lendária evidenciada nas primeiras encenações não tem sido lembrada. Trata-se de Josué, filho de Nun, personagem bíblico que substituiu Moisés na condução dos filhos de Israel à terra que o Senhor lhes prometeu além do rio Jordão, “desde o deserto e desse ao Líbano até ao grande rio Eufrates – todo o país dos hiteus – e até ao mar grande para o ocidente”. Josué desempenhou com muita determinação a missão que lhe foi confiada, conquistando todos os reinos existentes no território que Deus reservou ao seu povo. Foram tomadas as cidades de Jericó, Hai, Gabaon, Maceda, Libua, Láquis, Eglon, Hebron, Dahir, Asor e vários outros reinos.

Josué ordenando:" Sol, detém-te sobre Gabaon, e tua Lua, sobre o vale de Ajalon". O feito extraordinário é citado na Biblia Sagrada. Antes do Concílio Vaticano II, São Josué era venerado pelos adeptos do catolicismo.

Por ocasião da batalha contra forças coligadas dos amoreus, chefiadas pelos reis de Jerusalém, Hebron, Jerimot, Láquis e Eglon, aconteceu um fato extraordinário. Combatendo os amoreus, próximo à cidade de Gabaon, os israelitas venciam o embate enquanto o sol declinava no poente. Josué orou ao Senhor e exclamou: “Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu lua, sobre o vale de Ajalon”. O astro rei e a lua só retomaram seus ciclos normais depois que a vitória estava consumada. A imaginação dos migrantes lusitanos, aliada a religiosidade alicerçada sobre glórias diversas do judaísmo e do cristianismo, colocaram numa mesma batalha irreal as figuras de São Josué, Santiago e São Jorge.  

           

terça-feira, 19 de julho de 2011

O CABOCLO ( Governador Janary Gentil Nunes)



             Postado por Nilson Montoril

 Janary Gentil Nunes, com o uniforme de Capitão do Exército, Arma de Infantaria
                             Amazônida, e nascido na cidade paraense de Alenquer, Janary Nunes conhecia muito bem a lida do caboclo. Ao assumir o governo do Território Federal do Amapá, a 25 de janeiro de 1945, em Macapá, externou de imediato sua preocupação com a situação deste homem que poucos compreendem e muitos rotulam como indolente. Fez questão de escrever o primeiro editorial do jornal AMAPÁ Nº 1, lançado no dia 19 de março de 1945. A matéria estampou a primeira pagina do citado semanário e aqui segue fielmente transcrita, reipeitada a ortografia da época.
            
                                                              "O CABOCLO"                                                                                           
            “Durante 30 anos escutei as expressões com que o tratavam: fraco, indolente, preguiçoso, mole, sem vontade. Desprezava o trabalho, o conforto e a família. Nascera para escravo.
              Apontavam-lhe um DESTINO: ser mandado e obedecer.
              Seu sonho era aquele: morar numa cabana coberta de palha e de chão feito de paxiúba, em cima da água no inverno e do mato no verão, mais animal do que homem, plantando uma “tarefa” de mandioca e pescando ou caçando apenas quando forçado pela necessidade. Habituado a lesar o patrão, a inventar uma desculpa para sua miséria e dar um sorriso malicioso de triunfo ao “fintar” a sua vitima.
               Eis a síntese de sua fama, como foi divulgada pela bôca do povo – que é a voz de Deus.                     
               É verdade que sempre escutei um desmentido veemente e apaixonado na opinião de meu pai, que o considerava um titã.

               A história do CABOCLO ainda não foi, nem pintada, nem escrita, nem musicada. Dará quadros, livros, sinfonias, em que as cores mais esquisitas, os dramas mais palpitantes e as combinações de sons mais comoventes que conhecemos, sucumbirão à medida do contraste.                
               É preciso conhecer êste homem que mora isolado entre a água e a floresta, na beira do Amazonas e seus afluentes.
Temendo ser "ferrado" pela arraia, o experiente caboclo que segura o talão da rede de arrasto afastado da margem não dispensa a canoa. Ele sabe que  ao ser pisada a arraia usará o esporão para atingí-lo. Uma ferroada de arraia é  muito dolorida e custa a sarar. O pescador que segura o talão direito da rede arrasta os pés no chão. Se tocar na arraia,ela foge

               Nasceu numa rede suja, tratado na primeira hora por mãos de “curiosas” inexperientes, sentiu como carinho inicial na vida, quiçá, uma picada de carapanã. Aos dez dias de idade recebeu a visita do acesso de impaludismo, companhia tenaz que o seguirá como sombra volúvel, sumindo hoje ao mudar de lugar para voltar amanhã ao toma banho frio ou passar horas ao sol quente. Cresceu sem roupas nem exigências, tendo por carro de passeio uma caixa de sabão e por berço de seda uma esteira rústica da taboa.                                                                                                           
               Se a mãe não póde amamentá-lo, toma caribé ou mingau de macacheira e, não raro, antes do primeiro aniversário, já bebeu a cuia de assai ou de bacaba e provou o sabor do charque rançoso e do piracuí seco.
               E se desenvolve, utilizando precocemente os seus músculos, adulto com 6 e 7 anos, ao ataque das verminoses, mordido por insetos, pisando descalço no chão, contando os dias em que não vem a febre, bebendo de manhã café com farinha, jamais comendo legumes, sem beber leite e sem saber o que é vitamina, curando as suas doenças com chás, numa lata ciclópica, em que o heroísmo é tão imenso que parece inconsciente.
               Preguiçoso? Mas qual é o único sêr que afronta de peito aberto esta natureza bárbara, criança ainda em plena transformação, penetrando-lhe o arcano? Quem é que sobe os rios, remando dias seguidos com um rancho insignificante que não alimentaria o mais sóbrio branco civilizado? Quem fura o mato, este cipoal de lianas povoadas de emboscadas hostis e traz de lá os frutos? Qual é o homem que extrái as matérias primas da produção amazônica?
Numa pequena canoa ou montaria, o caboclo faz do rio a sua estrada e vai para onde deseja. Costuma levar como acompanhante um dos filhos a fim de que aprenda desde cedo a lidar com os recursos que a natureza lhe oferece. 

               Quem o calunia não sentiu a sua força. Andou deitado sob uma tolda, espreguiçando-se na cadeira a bordo de um navio, ou nos caminhos que só o CABOCLO desbravou ou, ainda, recêbendo atrás de um balcão, sem fadigas nem receios, aquilo que ele apanhou entre mil perigos. Porque o adventício não o iguala na resistência e na coragem. Apresenta-se ao seu lado armado de remédios e socorros com que ele nunca contou. O CABOCLO só tem satélite digno no nordestino – o homem das “cheias” e o homem das “sêcas”- um quase a morrer afogado e o outro quase a morrer de sêde, este pagando caro a sua audácia, bravos que se irmanam para enriquecer os que o acusam.
                Indolente? Mas quem teve infância e adolescência igual à sua? Como poderá ser vibrátil e ansioso de riquezas quem existe sozinho numa beira de rio, iluminando-se com querosene, prisioneiro da mais insidiosa cadeia econômica? Quem nunca aprendeu a ler e nem sabe para que serve?
                Sem vontade? Sem vontade ele? Só dizem os que não o viram, estátua de bronze impassível ao vento e à chuva, à treva e ao sol, conduzindo a embarcação nas corredeiras, olhar atento no canal e nas pedras: quem não o divisou embrenhando-se na floresta, exposto às cobras e às onças e percorrendo léguas e léguas a conduzir cargas pesadas: quem não o contemplou trabalhando na água ao tremor do acesso palustre.
Nas regiões de solom mais elevado, onde o percurso pela floresta é longo, o caboclo utiliza o burro para transportar a carga. O cachorro, seu fiel companheiro segue seus passos.

                Não o caluniemos. Que será desta gente quando tiver educação e saúde?
                São “heróis” os que voltam dos campos de batalha, depois de alguns meses de luta. Que título se dará a quem venceu o combate travado cotidianamente para sobreviver, ferido mil vezes, não por armas limpas, mas por espinhos, escorpiões, marimbondos, arraias, pedras, cobras, insetos e micróbios?
                O CABOCLO traz em si uma fortaleza inconquistável: o ESPÍRITO NACIONAL. Para ele o estrangeiro é o homem de língua atrapalhada, que arria com qualquer febrezinha e que teme os mosquitos como se fossem fantasmas. É o “brabo” mais errado que conhece. Copia seus hábitos, mas não os inveja. Tomai como exemplo, sibaritas do culto aos deuses de fora e do amesquinhamento dos próprios.
                Vamos para frente, CABOCLO! O Brasil precisa de ti. Vivestes até hoje? A morte não te vencerá mais! Entrega as veias, recebe o sangue novo. Escuta a idéia nova. Podes continuar sorrindo e desconfiando... Mas caminha conosco que a nossa trilha só tem um destino – e esse DESTINO tu mesmo dirás ao mundo do porvir qual é. ”

       (Artigo publicado no jornal AMAPÁ nº 1, edição de 19 de março de 1945, na primeira página)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

VICENTE VALDOMIRO, O ALFAIATE MAIS ANTIGO DE MACAPÁ


                  Por Nilson Montoril


                      
   Vadoca e sua singela máquina de pedal Singer comprada em 1996. Ele estava costurando uma calça quando bati  sua     foto. Observe ao fundo o velho espelho que pertenceu a sua genitora  e a galeria de  fotografias tiradas com  amigos. Duas flâmulas próximas ao braço esquerdo do Vadoca deixam claro que ele é torcedor do Clube de Regatas Vasco da Gama
              Vicente Valdomiro Ribeiro, o popular Vadoca, ainda mantém em funcionamento sua alfaiataria. Sua iniciação na costura começou na “Alfaiataria São José”, pertencente ao senhor Pedro Ribeiro. Na época, o Vadoca tinha apenas oito anos de idade, mas esbanjava curiosidade e vontade de aprender a profissão que ainda preserva. Nascido e criado na Rua 24 de Outubro, que o povo preferia rotular como Rua da Praia, Vadoca estava sempre perto de sua genitora para ajudá-la nas tarefas de carregar água, rachar lenha, fazer recados e compras. Dificilmente ultrapassava a área da então Praça Capitão Augusto Assis de Vasconcelos (Veiga Cabral) devido à rivalidade que os moleques da Matriz e do Formigueiro devotavam aos pirralhos que residiam na frente da cidade. Só ia à Igreja São José acompanhado dos pais ou de parentes. Era ele quem fazia as compras da família na “Casa Abraham Peres”, edificada na esquina do Beco do Sambariri com a Rua Cândido Mendes. Levava a relação dos gêneros de primeira necessidade e uma caderneta onde os itens fornecidos pela casa comercial eram anotados. O comércio do senhor Abraham Peres tinha de tudo, inclusive vistosos tecidos para roupa de homem e mulher. Vadoca veio ao mundo no dia 7 de setembro de 1932, na casa dos pais, Celso de Atayde Ribeiro e Esmerlinda de Carvalho Ribeiro. Sua genitora era natural do Maruanum e residia na casa da Professora Cora Rolla de Carvalho, sua parenta, quando conheceu Celso Ribeiro. Antes de ingressar na “Alfaiataria São José”, o menino Vadoca realizava deveres domésticos e vendia pasteis feitos pela irmã Angelina e jogava futebol com bola de meia e de sernambi. Angelina era casada com Miguel Gantus e morava no inicio da Rua do Abieiro. Só quando estava mais “taludinho” é que passou a jogar com bola de verdade no campo do Cumau Esporte Clube, o time alviverde da Cidade, cujo campo correspondia a uma área entre as Travessas Floriano Peixoto (Presidente Vargas) e Braz de Aguiar (Coriolano Jucá), onde depois foram edificados os prédios dos Correios e da antiga Lojas Pernambucanas. Posteriormente defendeu as cores do Inca, São José. Macapá e Trem. Em 1955, com 23 anos de idade, Vadoca casou com Odinea dos Santos Ribeiro. Continuou jogando futebol por mais quatro anos, deixando de fazê-lo em 1959, porque precisava trabalhar em tempo integral para sustentar condignamente a família. O casal gerou nove bruguelos, seis mulheres e três homens, que somados aos pais atinge o total de 11 pessoas, certinho um time de futebol.
Esta fotografia é uma das mais antigas da Macapá paraense, batida por volta de 1901. Em meados da década de 1920, o prédio que aparece em primeiro plano, feito em taipa de mão, abrigou o Cartório de Registro Civil da Comarca de Macapá e a residência do Tabelião Cesário dos Reis Cavalcante. Na década de 1930, a Alfaiataria São José foi instalada em uma das suas dependências. Foi aí, aos 8 anos de idade,que o Vadoca começou a aprender a costurar. Ele morou no inicio da rua.

              A “Alfaiataria São José”, instalada em Macapá pelo senhor Pedro Ribeiro à Rua 24 de Outubro, na frente de Macapá, foi um marco importante na história da cidade. Pedro Ribeiro era contra-mestre da “Alfaiataria Pinto”, em Belém e tinha decidido tentar a sorte no comércio de borracha. Com a produção da borracha em baixa, ele preferiu retomar sua antiga profissão. Casou com Carmosina Réis Cavalcante, filha do Oficial do Registro Civil da Comarca de Macapá, Cesário dos Reis Cavalcante e da senhora Odete Reis. Carmosina estava viúva do senhor Cícero Lemos e tinha os filhos Altair Cavalcante de Lemos, Altamiro Cavalcante de Lemos e Maria das Graças Cavalcante de Lemos. Dos três, apenas o Altamiro aprendeu a costurar. Com a anuência do senhor Cesário Reis, a alfaiataria ocupou um dos cômodos de sua residência. Trabalhavam na alfaiataria o senhor Pedro Ribeiro, sua esposa Carmosina e o garoto Vadoca. Antes de 1943, ano em que foi criado o Território Federal do Amapá, a cidade de Macapá tinha alfaiates e costureiras de primeira linha. A alfaiataria do senhor Atayde ficava na Travessa Castelo Branco (Rua Tiradentes) no espaço onde hoje funciona o Cartório Jucá.  Na Avenida General Gurjão atuava o Nelson e no Largo do Formigueiro o Lameira. Depois da instalação do Governo do Território do Amapá, a 25 de janeiro de 1944, a migração de jovens para Macapá foi marcante. O governo precisava de mão-de-obra para a construção de prédios públicos e para diversas atividades que estavam sendo implementadas. Entre os que buscavam emprego estava Herundino do Espírito Santo, conceituado alfaiate e bom futebolista. Ela conhecia o Pedro Ribeiro e não perdeu tempo em procurá-lo. Aceito na “Alfaiataria São José”, Herundino colocou em prática sua larga experiência no corte e confecção de roupas masculinas em casimira. A alfaiataria de Pedro Ribeiro também contou com os préstimos de Hermínio Costa, Antônio, Zé Arigó, Maria e Antônia. Com essa equipe, Pedro Ribeiro atendeu a todas as encomendas que a Indústria e Comércio de Minérios S.A lhe fez. A encomenda da ICOMI compreendia o vestuário que os empregados da empresa usavam. Em fevereiro de 1945, foi criada a Guarda Territorial, um órgão da Divisão de Segurança e Guarda. No decorrer da instalação da GT surgiu a moderna alfaiataria da instituição. O Herundino se apresentou como candidato para preencher uma das vagas, foi aprovado e passou a coordenar a equipe de alfaiates da novel instituição. O Antônio também se desligou da equipe de Pedro Ribeiro e seguiu o mesmo caminho traçado por Herundino. O Hermínio Costa, irmão do Hélio Costa, o grande centro-avante do Paysandú, passou a trabalhar na Escola Industrial de Macapá, onde, desde março de 1953, atuava o famoso irmão futebolista. O Formiga e o Passarinho I também fizeram parte da alfaiataria da Guarda Territorial. Todos eles, no período de folga, continuaram realizando atividades particulares em alfaiatarias de amigos. O Herundino montou a “Zaz Traz”, uma alfaiataria estabelecida no Largo da Matriz.

Esta fotografia foi batida do alto do baluarte Nossa Senhora da Conceição, da Fortaleza de Macapá. É do meado da década de 1960, fase do Amapá como território federal. A parte branca onde está assentada a identificação do blog do Lázaro corresponde ao Igarapé do Igapó ou Bacaba. A área coberta de vegetação ficava inundada pela maré no fluxo da enchente.A primeira edificação é o Estaleiro Naval do SERTTA Navegação, onde as embarcações do governo sofriam os reparos necessários. A casa dos pais do Vadoca ficava em frente á 1ª mangueira, na Rua 24 de Outubro ou Rua da Praia.


              Segundo o Vadoca, a equipe de Pedro Ribeiro era muito boa e o trabalho realizado para a ICOMI agradou plenamente. Nesta fase o Vadoca costurava numa máquina Pfaff de fabricação alemã e aprontava quatro calças por dia. Á época, as grandes lojas das capitais brasileiras e cidades mais desenvolvidas não vendiam confecções, só tecidos e armarinhos e isto favorecia os alfaiates. Em Macapá a situação não era diferente. O sujeito comprava a fazenda e a levava ao alfaiate para que ele tirasse suas medidas e fizesse a roupa que desejava. A maioria das lojas comerciais de Macapá vendia secos e molhados. Vadoca trabalhou na “Alfaiataria São José” até 1956, ano em que faleceu Pedro Ribeiro. A alfaiataria já não funcionava na Rua da Paia, mas na Avenida Presidente Vargas ao lado da casa da Dona Carmem (Carmita) Mendes, filha do Coronel da Guarda Nacional Manuel Theodoro Mendes, que comandou a guarnição da Fortaleza de Macapá e foi Intendente Municipal. Vadoca conta que o Pedro Ribeiro tinha um calo no dedo mínimo do pé direito, que o incomodava bastante. Ele costumava cortar a parte dura do calo com uma velha lâmina de barbear, fato que redundou em ferimento que infeccionou. Sem dar a devida atenção ao problema de saúde que a lesão lhe causava, Pedro Ribeiro foi acometido de tétano.
Time de futebol do Esporte Clube Macapá em 1956.Em pé, da esquerda para a direita: Sabá, Moringueira, Aracaty, Aristeu Ramos, Amujacy, Aristeu II, Ismael e Mário Santos(Presidente). Sentados, no mesmo sentido: Oliveira, Pigmeu,Dedeco, Vadoca e Roxinho. O E. C. Macapá era então tri campeão. Ao fundo aparece a fachada do Estádio Glicério de Souza Marques, ainda preservada nos dias atuais.

            Em 1956, o Governador do Amapá era o médico Amílcar da Silva Pereira, freguês do alfaiate. Ao constatar que o estado de saúde de Pedro Ribeiro era grave, o Dr. Amílcar Pereira o mandou para o Hospital dos Servidores Públicos, no Rio de Janeiro. O estágio do tétano estava tão avançado que a perna do alfaiate precisou ser cortada quase no tronco da coxa. De volta a Macapá, usando uma prótese, Pedro Ribeiro apenas cortava pano, mas não tinha como fazer roupa. Faleceu pouco tempo depois da cirurgia, ainda em 1956. Vadoca ficou gerenciando a alfaiataria por alguns dias, entregando-a a senhora Odinea Ribeiro, com quem Pedro Ribeiro havia casado depois de ficar viúvo de Carmosina Cavalcante. Casado há um ano, Vadoca sentiu que era o momento de trabalhar por conta própria e assim procedeu. Seu primeiro auxiliar foi o Chunda, bom costureiro, mas problemático por causa da bebida. Certa vez, com a cuca cheia de cachaça, o Chunda esqueceu o ferro elétrico ligado sobre a mesa de passar roupa e faltou pouco para a alfaiataria do Vadoca virar cinza. O Chunda também trabalhou com o senhor Atayde e anos mais tarde foi residir em Laranjal do Jarí, onde pereceu afogado. Vadoca domina como poucos a arte da costura. Faz paletó, blazer, jaquetão, camisa, bermuda, calça  e outros tipos de roupa. Trabalhou muito tempo com o linho caruá, linho tubarão (difícil de cortar), casimira aurora (que não pode ser lavada), tropical (caro e bonito), tricolina (apropriada para camisa), chita (usada prioritariamente para camisão de dormir), seda (tecido preferido pelos festeiros e malandros para camisa de manga comprida porque a navalha não lhe causa danos), brim, tergal (que não perde o vinco), etc. Aliás, o Vadoca trabalha com qualquer tipo de fazenda.Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, as fazendas de linho dominavam a preferência dos homens. Por ocasião da festa de São José o macapaense da gema não deixava de mandar fazer calça e camisa para ir à missa, acompanhar a procissão e freqüentar o arraial. As autoridades territoriais só usavam ternos de linho muito bem engomados por ocasião das solenidades mais expressivas da cidade. Nas lojas que vendiam fazendas em Macapá, todos os apetrechos necessários à costura eram encontrados. O fecho, que hoje é chamado de zíper só era empregado nas roupas das mulheres. Braguilha da calça de homem só levava botões, todos brancos.
A presente fotografia, batida no gramado do Estádio Glicério Marques é de 1957. Em 1948, o Trem Esporte Clube Beneficente estava se estruturando.O Hélio Costa, o famoso "Cabecinha de Ouro"do futebol paraense e atleta do Paysandu, só veio residir em  Macapá a partir  fevereiro de 1953. Dentre os atletas que aparecem na fotografia, apenas o Vadoca,(residindo em Macapá),o Vasconcelos(morando em Brasília) e o Lelé (pastor evangélico em Belém), estão vivos

              Vadoca nunca quis ser funcionário público, preferindo viver da sua profissão. Começou a pagar a previdência em 1952, como autônomo e sempre primou pelo pagamento das contribuições em dia. Beirando os 79 anos de idade, Vadoca faz expediente em dois turnos, de segunda-feira a sábado na sua frequentadissima alfaiataria, na esquina da Rua Jovino Albuquerque Dinoá com a Avenida Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, bairro central. É um ponto de encontro de novos e velhos fregueses. Ali, Vadoca conta e ouve histórias interessantes sobre todos os assuntos. Em uma das paredes há dezenas de fotografias que comprovam sua condição de jogador de futebol e junto a amigos. Chama a atenção de todos, um espelho cuja moldura faz lembrar o famoso espelho mágico que a madrasta da Branca de Neve usava para saber qual era a mulher mais bela da terra. O espelho que o Vadoca conserva na alfaiataria pertenceu a sua genitora e tem mais de oitenta anos de uso. O alfaiate mais antigo de Macapá ainda confecciona e reforma roupas de acordo com o gosto do freguês. A primeira máquina Singer que ele comprou foi usada de 1956 a 1996. Ainda funcionando bem, foi doada a um amigo. A máquina atual, também da marca Singer, foi adquirida em 1996. Há uma máquina Singer elétrica que ele só utiliza para fazer o arremate de algumas partes da roupa que fabrica. Por recomendação médica, Vadoca deve continuar pedalando sua máquina de costura enquanto o vigor físico das pernas permitir.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

TIAGO MAIOR, APÓSTOLO DE JESUS CRISTO NA ESPANHA

                                       

             Por Nilson Montoril

São Tiago Maior, Apóstolo de Cristo

          Entre os apóstolos de Jesus Cristo houve dois que tinham o nome Tiago. Enquanto não acompanharam o Divino Mestre eles levavam a vida sem grandes pretensões e eram identificados conforme o costume da época, que incluía o nome do pai depois do prenome. Eram eles: Tiago, filho de Zebedeu e Tiago, filho de Alpheu. Tiago, filho de Zebedeu, compunha com Simão, André e João um grupo de pescadores que diariamente se aventurava nas águas do mar da Galiléia. Tiago, filho de Alpheu desenvolvia atividades voltadas para causas religiosas e comunitárias. Era primo de Jesus Cristo e irmão de Judas Tadeu. O Tiago filho de Zebedeu era irmão João, o evangelista, que também compôs o clã de discípulos do Salvador. Para estabelecer distinção entre os dois, Jesus chamava o primeiro de Tiago Maior e o segundo de Tiago Menor. Tiago Maior destacou-se entre seus pares por sua desmedida coragem e personalidade forte, Era enérgico, firme, zeloso e impetuoso em suas atitudes. Era mais velho e mais alto que o outro. Tiago Maior e seu irmão João eram tão intempestivos que Jesus os chamava de Boanerges, ou seja, os “Filhos do Trovão”. Isso aconteceu depois que os Samaritanos se negaram a acolher Jesus e os seus discípulos. Naquele momento Tiago Maior perguntou ao Mestre se não era oportuno invocar fogo do céu para que consumisse os Samaritanos. Certa feita pediu a Jesus para ser colocado a seu lado para mandar no reino dos Céus. Essa pretensão lhe valeu o apelido de ambicioso. Entretanto, foi um dos apóstolos mais íntimos de Jesus, que normalmente se fazia acompanhar por três de seus seguidores. Por ocasião da transfiguração do Divino Mestre, por exemplo, estavam com ele: João, Pedro e Tiago Maior. Após a morte de Jesus e principalmente depois de Pentecostes, Tiago Maior foi difundir os ensinamentos de Cristo na Judéia e em Samaria. Sabendo que suas atividades não eram simpáticas ao rei Herodes Agripa I, Tiago saiu em direção à Península Ibérica, região da Galícia. Não foi bem sucedido e só obteve nove seguidores. Decidiu voltar a Cesaréia acompanhado por sete de seus discípulos, deixando dois para sequenciarem os trabalhos então iniciados. Corria o ano 42 da era cristã quando Tiago foi preso por ordem de Herodes Agripa I. No dia 25 de julho do ano 44, depois de ter ficado dois anos na prisão, o rei mandou cortar a cabeça de Tiago e lançar seus restos mortais aos cães bravios e famintos que viviam nos arredores de Cesaréia. Seu corpo só não foi consumido pelos cães porque Atanásio e Teodoro, ambos discípulos de Tiago não permitiram.

            Com os despojos de Tiago bem condicionados, Atanásio e Teodoro partiram secretamente de barco para a Espanha, realizando uma penosa viagem que durou sete dias. Chegaram às costas galegas de Iria Flávia perto da atual vila de Padrón, onde reinava a rainha Lupa e pediram autorização para enterrar os restos mortais de Tiago. A solicitação lhes foi deferida, mas vetado o sepultamento nas terras da rica e influente rainha. A despeito de ser pagã, Lupa ouviu com atenção os relatos feitos por Atanásio e Teodora sobre a vida de Tiago. O castelo de Lupa ficava na vila Luparion a pouca distância de Lidredunnum, onde havia um cemitério aberto pelos romanos no ano 44 da era cristã. Nesse cemitério os despojos de Tiago deveriam ser inumados. Como não era conveniente sepultar o corpo de um homem santo num cemitério pagão, os discípulos de Tiago Maior o sepultaram secretamente num bosque chamado Lidredón. Com o passar do tempo, o local que era guardado em segredo caiu no esquecimento devido à morte dos sabiam da sua localização. As invasões dos bárbaros, que contribuíram para a queda do Império Romano e forçaram a retirada da maioria dos ocupantes da região, também motivaram a perda da referência exata do sepulcro. Em abril ou maio do ano 711, a Península Ibérica foi invadida por hordas berberes, comandadas por Tarik Ibn Ziyad, que a ocuparam por força das armas.
Santiago Conquistador Mata Mouros

Os visigodos refugiaram-se nas regiões montanhosas das Astúrias, onde passaram a organizar o movimento de reconquista. Os mulçumanos mouros eram numerosos, mas desorganizados. Como estavam mais interessados em invadir a França, não se voltaram contra os combatentes estabelecidos nas Astúrias. Em 718, Pelágio, chefe dos visigodos aproveitou a desorganização mulçumana e iniciou o processo de reconquista dos territórios hispânicos. As investidas eram muito bem realizadas e causaram significativas baixas entre os mouros. Em 722, aconteceu a Batalha de Covadonga, ocasião em que, sob o comando de Pelágio, os visigodos obtiveram a primeira grande vitória cristã contra os invasores árabes. Na noite de 25 de julho do ano 813, data do martírio de Tiago em 44 dC, o eremita Pelaio contemplava o céu e observou que uma chuva de estrelas se derramava sobre o mesmo ponto do bosque de Lidredón, proporcionando uma luminosidade intensa. Imediatamente ele comunicou o fato ao bispo de Iria Flávia, Teodomiro, que associou o fenômeno a uma indicação divina e ordenou fossem feitas as escavações no local, encontrando-se uma arca de mármore com as relíquias de Tiago Maior. O ponto onde a urna foi encontrada passou a ser conhecido como Campus Estelae, derivando para mais tarde para Compostela.
            O local da importante descoberta passou a ser um centro de peregrinações. Tiago Maior já havia sido declarado santo pela Igreja Católica e despontava como uma importante referência do cristianismo da Península Ibérica. Os mulçumanos costumavam clamar por Alá e por Maomé, seu profeta quando iam participar das batalhas. Antes da descoberta do túmulo de Tiago Maior os hispânicos não tinham uma figura que os unificassem na luta contra os seguidores de Maomé. O nome Tiago deriva do latim Iacobus, forma como ficou o nome hebraico Jacob, que em português de diz e escreve Jacó. Na faixa ocidental da Península Ibérica prevalecia o termo Iaco ou Iago devido a supressão do sufixo latino bus. Assim, Santo Iago virou Sant’Iago em espanhol. Na língua catalã tornou-se Jácome, Jaume ou Jaime. Na língua alemã e nos idiomas nórdicos é Jacob. Em francês Jacques e em inglês é James. Por ocasião da Batalha de Clavijo, travada por mouros e cristão no dia 23 de maio do ano 844, o exército espanhol já havia adotado Santiago como patrono e  seus integrantes invocaram o destemido apóstolo de Jesus Cristo como protetor. Os mouros levavam uma grande vantagem numérica, mas não estavam imbuídos dos mesmos propósitos religiosos e patrióticos dos espanhóis. Os mulçumanos eram comandados pelo Califa Abderraman II. Os espanhóis tinham como líder Ramiro I, rei de Leon. O embate aconteceu numa região situada a 17 km da cidade de Logroño próximo a aldeia de Clavijo. No de decorrer dessa batalha que surgiu no meio das fileiras cristãs um personagem que trajava túnica, montava um veloz cavalo branco, levava na mão esquerda um estandarte com a Cruz de Cristo e na mão direita uma espada com a qual decapitava com extrema facilidade os inimigos. A luminosidade que envolvia o cavaleiro e sua montaria fazia os mouros fugirem apavorados, sendo facilmente passados a fio de espada. Ao final da pugna que indicou a vitória dos cristãos, o extraordinário cavaleiro não foi encontrado. Nos demais combates, os espanhóis já possuíam a Ordem dos Cavaleiros de Santiago da Espada e iniciavam as refegas com a expressão “Santiago y Cierre Espana” ou seja Santiago e tranca Espanha. A invocação inicial era dirigida a Santiago Matamoros ou Matamouros.
São Tiago da Espada, Igreja de N.S. Assunção-Mazagão Velho

            Os lusitanos também se valeram da fé inspirada em Santiago Matamoros para combaterem os árabes. Também declararam o santo como patrono de seus exércitos e criaram uma ordem militar similar a que existia na Espanha. Quando ocuparam a região do atual Marrocos, foram estimulados pelo Sumo Pontífice para combaterem com denodo os inimigos do cristianismo. Essa é a razão da devoção que os portugueses têm por Santiago ou São Tiago. Não são apenas os católicos que festejam Santiago. 

Os luteranos o fazem na mesma data: 25 de julho. Os cristãos ortodoxos a 30 de abril, os coptas a 12 de abril e os etíopes a 28 de dezembro. Em Portugal, a Ordem dos Cavaleiros de Santiago da Espada durou até o ano de 1385, quando sua organização e brado foram substituídos pelo de São Jorge. Isso explica a razão pela qual um comunitário de Mazagão Velho personifica o famoso santo guerreiro da Capadócia. Santiago ou São Tiago, também é citado pelos evangelistas como Tiago Zabedeu, Tiago, irmão de João, Tiago, o ambicioso, Tiago Boanerges e Tiago Maior. Ele foi o primeiro apóstolo a ser morto por difundir os ensinamentos de Jesus Cristo.  

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O DESENLACE DE IRACEMA CARVÃO NUNES


                  
                                                    
             Por Nilson Montoril
Janary Gentil Nunes e sua esposa Iracema Carvão Nunes logo após a chegada da primeira dama a Macapá.


            Nascida na cidade de Cruzeiro do Sul, no Território Federal do Acre, a 3 de outubro de 1913, Iracema Carvão Nunes viveu o suficiente para desempenhar um importante papel no seio de sua família, na vida do esposo e de um povo sofrido que a considerava um ser iluminado para cumprir importantes missões. Era filha do comerciante e contabilista Joaquim Carvão e de sua esposa Auta Rodrigues Carvão que geraram mais sete filhos: Alfredo, Mário, Silvio, Aluízio, Paulo, Irauta e Alice Déa. Em busca de melhores condições de vida a família Carvão mudou-se para Belém, onde faleceu a senhora Auta Rodrigues. Na condição de filha mais velha, Iracema auxiliou o pai na criação de seus irmãos. Em 23 de julho de 1937, contraiu núpcias com o jovem oficial do Exército Brasileiro, Janary Gentil Nunes, e o acompanhou em suas andanças pelo Paraná e Clevelândia. O então capitão Janary Gentil Nunes comandava a 5º Companhia de Metralhadoras Anti-Aérea, em pleno curso da II Guerra Mundial, quando o Presidente da República, Getúlio Vargas, o nomeou para assumir o importante cargo de governador do Território Federal do Amapá, criado no dia 13 de setembro de 1943. Neste momento, Iracema Carvão Nunes já enfrentava sérios problemas de saúde decorrentes de uma cardiopatia grave. Tinha uma menina ( Iracema Carvão Nunes) e um menino,Janary Carvão Nunes), nascidos respectivamente em 1940 e 1943, tratados por parentes e amigos como Ceminha e Janarizinho. A despeito dos contratempos enfrentados como esposa de militar, sujeita a mudanças repentinas para lugares nem sempre dotados de conforto, Dona Iracema mantinha-se fiel a seu papel de esposa e mãe extremosa. O Capitão Janary Nunes chegou a Macapá na manhã do dia 25 de janeiro de 1944, para instalar o governo do Território do Amapá. Ela, os filhos e a irmã mais nova, Alice Déa, permaneceram em Belém, haja vista que em Macapá não existia sequer uma casa condiga disponível para abrigá-los. O governador precisou mandar construir uma casa de madeira próxima a Intendência Municipal, para depois promover a vinda de sua família. O terreno onde o imóvel foi erguido pertencia ao casal Otávio Acioli Ramos e Paula Loureiro Acioli Ramos, pais dos jovens Aristeu e Avertino Ramos, atletas que defenderam brilhantemente as cores do Esporte Clube Macapá e da Seleção Amapaense de Futebol. No dia 1 de maio de 1944, viajando no Iate Itaguary, Dona Iracema, os filhos e a irmã, desembarcaram no Trapiche major Eliezer Levy, em Macapá. Acostumada a ver lugares degradados, Dona Iracema não estranhou a decadência da capital do Amapá.

               A fragilidade da sua saúde não a impediu de expandir sua condição de mãe às pessoas carentes da pequena Macapá. Como esposa do governador ela deveria dirigir a comissão Territorial da Legião Brasileira de Assistência, entidade presidida a nível nacional pela senhora Darcy Sarmento Vargas, esposa do presidente da República do Brasil, Dr. Getúlio Dorneles Vargas. A instalação da LBA-Amapá deu-se no dia 18 de agosto de 1944. Numa terra onde faltava tudo, a LBA iria implantar a Campanha de Redenção da Criança e os programas Natal do Soldado e da Criança, auxílio às pessoas notadamente pobres e às famílias dos reservistas convocados para a Força Expedicionária Brasileira, construção de um posto de puericultura e permanente assistência, em remédios, vestuários e alimentação às gestantes e crianças. Tolerante e compreensiva ouvia os que a procuravam e sempre agia com o interesse de ser útil, desde que fosse para praticar o bem. Nunca distinguiu as pessoas pelo brilho das jóias, pelo exibicionismo das idéias ou pela roupagem que vestiam. Avessa à intriga, à maledicência, à crítica deprimente do alheio, teve permanentemente ao seu lado amizades sinceras e definitivas. Recrutou como valorosos aliados na implantação da LBA-Amapá os doutores Hildemar Pimentel Maia, Odilardo Gonçalves da Silva, Salomão Moisés Levy, seu cunhado, doutora Abelinha Valdez, Maria de Lourdes Dacier Lobato, Alice de Araújo Jucá, Olga Montoril de Araújo, Irauta Carvão Levy e Lair do Couto Freitas. Instituiu com as cinco últimas a Campanha da “Boa Vontade” visando patrocinar o Natal da Criança Pobre.
Fotografia de Dona Iracema Carvão Nunes estampada na primeira página do Jornal Amapá nº 70, edição de 20 de julho de 1946. No dia 23, seria feita a benção da campa onde ela foi sepultada. O povo do Amapá arcou com as despesas para preparação do mausoléu.

            Diariamente, às 18 horas, Dona Iracema coordenava a distribuição de sopa às gestantes, parturientes e crianças pobres. Mas qualquer pessoa desprovida de meios para alimentar-se mais de uma vez por dia também era recebida com respeito e afeto. Isso acontecia na residência governamental, porque a bondosa senhora andava temerosa de que a saúde não lhe permitisse comparecer a lugares públicos. O Natal de 1944 foi marcado pela primeira grande promoção da LBA. Além das refeições próprias da época, as crianças receberam presentes. Em 1945, os trabalhos de assistência social coordenados pela primeira dama seriam ainda mais consagradores. Porém, às 20h30min do dia 23 de julho, uma segunda-feira, a morte iniciou suas manobras para arrebatá-la do convívio dos seus entes queridos e do povo amapaense. Naquela oportunidade ela e o governador completavam oito anos de casados, uma feliz união firmada perante as leis de Deus no dia 23 de julho de 1937. A jovem Iracema tinha então 24 anos de idade. Poucos meses antes de morrer, Dona Iracema precisou ir ao Rio de Janeiro a fim de buscar melhoras para seu estado de saúde. Retornou a Macapá depois de rigoroso tratamento e demonstrava muita disposição para cumprir seus compromissos. Entretanto, no dia 19 de julho de 1945, quinta-feira, a cardiopatia voltou a importuná-la, deixando-a de cama. Para cúmulo da má sorte, um acesso palúdico veio embaraçar o trabalho de seu dedicado médico, Dr. Cláudio Pastor Dacier Lobato. De Belém foi chamada às pressas a cardiologista Maria do Carmo Sarmento de Carvalho, que passou a lhe dar assistência médica. Às 21h30min do dia 23 de julho de 1945, um colapso que para alguns dos que a assistiam até passou despercebido, ceifou a vida da ilustre cidadã acreana. Ela viveu apenas 1 ano e 53 dias em solo macapaense.Dia 3 de outubro ela iria completar 32 anos de idade.



Dia 24 de julho de 1945. Cemitério Nossa Senhora da Conceição. O esquife de Dona Iracema estava coberto com a Bandeira Nacional e um soldado da Guarda Territorial executava o toque de silêncio. O Governador Janary Nunes usando seu uniforme militar segurava seu quepe com a mão direita junto ao quadril. A seu lado estava o Dr. Raul Montero Waldez, Secretário Geral do Território do Amapá. Os sacerdotes alemães Antônio Schulte (de branco) e Philippe Blanke  ( de preto) já haviam realizado as orações de praxe. Próximo ao corneteiro, entre dois garotos, estava o Dr. Marcilio Felgueiras Viana. Diretores e Chefes de repartições públicas, funcionários e populares foram prestar suas últimas homenagens Dona Iracema.

  

     Seu corpo foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora da Conceição sem pompa e sem luxo. O esquife, feito por marceneiros amapaenses, foi forrado de simples gorgorão preto, ornado com uma singelíssima cruz desenhada com nastro branco. O mausoléu que abriga seus restos mortais, edificado perto da Capela de Nossa Senhora da Conceição foi construído um ano depois com dinheiro proveniente de uma subscrição feita pelo povo do Amapá.  

terça-feira, 5 de julho de 2011

A PRIMEIRA IGREJA PENTECOSTAL DE MACAPÁ

              

            Por Nilson Montoril
Esta foto mostra o primeiro tempo da Igreja Pentecostal Assembléia de Deus na capital do Pará, edificad à Rua Cônego Siqueira Mendes, 67. Atualmente, além do belo templo existente na esquina da  Avenida Governador José Malcher com a Rua 14 de Março, uma nova e moderna igreja esta sendo construida na Rodovia Governador Augusto Montenegro.

                        Enquanto a monarquia predominou no Brasil, a religião oficial do país foi o catolicismo apostólico romano. Somente depois da deposição de D. Pedro II, por força da primeira constituição republicana é que a liberdade religiosa se fez sentir. A Carta Magna dos Estados Unidos do Brasil, promulgada a 24 de fevereiro de 1891, permitia a total liberdade de culto, associação, reunião e manifestação. No período monárquico havia uma relativa liberdade de culto aos que se propusessem a fazê-lo de modo reservado. A tolerância era maior com judaísmo do que com igrejas cristães que divergiam do catolicismo. Vale lembrar que, em 1557, uma missão francesa integrada por hugenotes chegou ao Rio de Janeiro e se estabeleceu numa das ilhas da baía da Guanabara. Vieram a mando de João Calvino a fim de fundar a França Antártica. No mesmo ano realizaram o primeiro culto protestante no Brasil. Combatidos pelas autoridades portuguesas deram fim ao movimento. Em 1630, os holandeses dominaram Pernambuco e instalaram em Recife a Igreja Cristã Reformada, hoje Igreja Protestante da Holanda. Estenderam seus domínios pelo Nordeste do Brasil onde fundaram 21 igrejas. Saíram após a restauração portuguesa na região. Os luteranos alemães chegaram em 1824. Os escoceses da Igreja Congregacional, liderados por Robert Kalley, em 1885. Em 1859, a Igreja Presbiteriana se fixou no Rio de Janeiro. Data de 1871, o inicio das atividades da Convenção Batista em Santa Bárbara d’Oeste, interior de São Paulo. No período republicano, o Pentecostalismo, com a Congregação Cristã do Brasil e a Assembléia de Deus marcaram presença em nosso país. A Assembléia de Deus começou suas pregações em Belém, capital do Estado do Pará, por obra dos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Chegaram a seguir: o Exército da Salvação (igreja reformada inglesa/ 1922), a Igreja de Cristo no Brasil, fundada em Mossoró, Rio Grande do Norte, por ministros dissidentes da Assembléia de Deus (1932).Em 1950,ocorreu nova onda de igrejas pentecostalistas: Igreja do Evangelho Quadrangular ( 1951, em São José da Boa Vista, São Paulo), Igreja Pentecostal Deus é Amor( organizada por David Miranda em 1962), Igreja Cristã Maranata (1968). Com o movimento neo-pentecostal de 1970, despontaram novas sociedades evangélicas como a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional do Reino de Deus. Ainda na década de 1970, a igreja católica começou a sofrer influência dos movimentos pentecostais através da Renovação Carismática organizados nos Estados Unidos da América. Também surgiram a Igreja Apostólica Renascer e a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. Atualmente há outras inúmeras sociedades em ação. Estima-se que existam no mundo 970 milhões de protestantes. Vivem nos Estados Unidos da América cerca de 170 milhões de crentes. No Brasil os evangélicos beiram a cifra de quase 30 milhões de almas. Algumas pesquisas indicam que 66% dos brasileiros professam o catolicismo, 25% são evangélicos e 19% seguem outras denominações pentecostais. Há, ainda, os movimentos teológicos de origem protestante.
 Daniel Berg e Gunnar Vingren, pastores que implantaram em Belém a Igreja Pentecostal Assembléia de Deus, concretizando uma profecia que lhes foi anunciada quando eles ainda estavam nos Estados Unidos da América.

                        A fundação da Igreja Assembléia de Deus em Macapá decorreu da persistência dos pastores Clímaco Bueno Aza e Manuel José de Mattos Caravela. Eles conviveram com os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, os dois grandes articulistas da implantação do pentecostalismo no Pará. Gunnar Vingren nasceu em Ostra Husby, Suécia, no dia 8 de agosto de 1879. Migrou para Chicago, nos Estados Unidos, onde conheceu Daniel Berg na Convenção de Igrejas Batistas. Uma profecia indicou que eles deveriam migrar para o Brasil e pregar no Pará. No dia 5 de novembro de 1910, o navio “Clement”, que os conduziu, deixou o porto de Nova Yorque, aportando em Belém no dia 19. Durante a viagem conheceram pessoas de boa índole que os orientaram quanto à instalagem e localização do templo da Igreja Batista. Foi nessa sociedade que Gunnar e Berg desenvolveram suas atividades em terras brasileiras. A maneira de pregar, focada no 7Divino Espírito Santo, não foi bem aceita por grande parte dos membros da igreja que os recebeu. Á conta dessa divergência, os dois pastores suecos foram afastados. No dia 13 de junho de 1911, 18 fiéis deixaram a Igreja Batista para ajudá-los a fundar uma nova sociedade evangélica. No dia 18 de junho do citado ano, á Rua Cônego Siqueira Mendes, 67, surgia a Igreja cujo nome inicial foi Fé Apostólica. Esse nome perdurou até abril de 1918, ocasião em que o movimento pentecostal passou a ser denominado Assembléia de Deus.
Clímaco Bueno Aza

                        CLIMACO BUENO AZA era boliviano e atuava em Belém como comerciante. Converteu-se ao pentecostalismo em 1913 e destacou-se como auxiliar dedicado de Daniel Berg. Em 1915, na condição de co-pastor recebeu a missão de evangelizar moradores que residiam ao longo da Estrada de Ferro Belém-Bragança sendo bem sucedido na empreitada. Integrou o grupo que Daniel Berg criou para expandir a pregação do evangelho e implantar templos da Assembléia de Deus em diversas localidades do interior paraense, inclusive Macapá. Adriano Nobre e o irmão Cipriano também compunham a ação conjunta. No dia 26 de maio de 1916, Clímaco Bueno Aza desembarcou em Macapá e imediatamente iniciou uma série de visitas às pessoas que se dispuseram a ouvir suas pregações. A essas pessoas ele distribuiu folhetos divulgadores da doutrina pentecostal e bíblias. Sua iniciativa foi reprimida pelo Padre Júlio Maria de Lombaerd, vigário de Macapá, que não gostou de saber que o evangélico procurava denegrir a imagem da igreja católica. Consta que alguns católicos aceitaram a visita de Bueno Aza só para ouvir o que ele falava contra o catolicismo e depois repassar detalhes ao Padre Júlio. Ora, as coisas ditas por Bueno Aza sempre foram sufocadas no período monárquico e nada mais eram do que fundamentos da fé que professava. Fazendo valer sua liderança religiosa, Padre Júlio exigiu que o pastor deixasse a cidade. Hostilizado pela população católica, Bueno Aza buscou assegurar na Justiça seu direito de evangelizar. Na época, Macapá tinha como Juiz Substituto o Dr. Demétrio Martinho de Souza que não se encontrava da sede da Comarca. O Juiz titular, Doutor João Batista de Miranda, no cargo desde 1904, passava a maior parte do tempo em Belém. O Promotor Público Henrique Jorge Hurley limitou-se a orientar o reclamante a requerer seu direito em Belém. Sem ter quem lhe assegurasse o direito constitucional de liberdade de culto em Macapá, Clímaco Bueno Asa foi buscá-lo em Belém. Sua petição foi recebida pelo Dr. João Batista de Miranda que expediu o mandado de segurança reclamado pelo pastor pentecostal. Devidamente amparado por uma decisão judicial, Clímaco veio a Macapá e preparou o caminho que seria trilhado no ano seguinte por José de Mattos. Ordenado ministro a 10/03/1918, por Gunnar Virgren, Clímaco Bueno Aza deixou Belém no final de 1921 com destino a São Luiz, no Maranhão, onde implantou a Assembléia de Deus. Entre os anos de 1922 e 1925, ele percorreu diversas cidades do Norte e Nordeste do Brasil pregando o evangelho. Em 1925, no Rio de Janeiro, reencontrou o Gunnar Virgren e o auxiliou até 1927. No dia 27/3/1927, Clímaco Aza chegou a Belo Horizonte e presidiu o primeiro culto pentecostal em sua residência. A 15/1/1929, ele inaugurou o templo pioneiro da Assembléia de Deus na capital mineira. Deixou Minas Gerais em 2/8/1931, retornando ao Rio de Janeiro. No dia 4 de setembro de 1934, assumiu a presidência da Assembléia de Deus da cidade de Santos, fundada em 5/5/1924. Também trabalhou em Natal/RN, Curitiba/PR (1939 a 1942) e Petrópolis/RJ (1942 a 1946). Foi casado com Júlia Galvão de Lima Bueno Aza que lhe deu quatro filhos. Viveu 70 anos, dos quais, 36 dedicados a evangelização.Nasceu em 1880, na Bolivia. Faleceu no dia 20 de setembro de 1950, no hospital evangélico do Rio de Janeiro. Em alguns históricos consta que ele era colombiano.

                        MANUEL JOSÉ DE MATTOS CARAVELA

Manuel José de Mattos Caravela, fundador da Igreja Pentecostal Assembléia de Deus em Macapá. De retorno a Portugal desenvolveu um trabalho marcante para consolidar a implantação do movimento pentecostalista em terras lusitanas.


                        José de Mattos nasceu na Vila Franca de Xira, Portugal, a 11 de dezembro de 1888. Trabalhou em pesca com o pai e depois numa Fragata. Sonhava em atravessar o Oceano Atlântico e se estabelecer em Belém, no Estado do Pará. Esse sonho se tornou realidade em 1916, quando migrou com José Plácido da Costa, tio de Palmira da Silva, moça com a qual casou após retornar a Portugal., e o  auxiliou nos trabalhos de cabotagem entre Belém e diversas localidades da Ilha do Marajó e arredores.No mesmo ano de sua chegada a Belém foi levado por amigos para assistir um culto na Assembléia de Deus e decidiu ser evangelizador. Entre 1916 e 1921, desenvolveu trabalho de colportagem evangélica no seio da população que vivia no interior do Pará. A palavra colportar deriva do francês e significa literalmente “levar no pescoço”. O termo é empregado em algumas igrejas evangélicas que através de um de seus membros oferecem literatura religiosa porta a porta, ao tempo em que se faz pregação. De modo geral o colportor é sempre leigo e tira da venda da Bíblia e de outros impressos o sustento próprio. Os colportores são pessoas devidamente preparadas para tal serviço e buscam conquistar adeptos para sua fé. Em outros tempos, os colportores levavam os produtos da venda pendurados no pescoço e por baixo da roupa. José de Mattos chegou a Macapá no dia 26 de junho de 1917, para dar seqüência ao trabalho que Clímaco Bueno Aza havia iniciado em 1916. Os primeiros moradores de Macapá interessados nas pregações evangélicas foram: Graciliano Picanço da Silva, sua esposa Izabel Paulo de Araújo, Valmira Paulo de Araújo, filha do casal, que então tinha 14 anos, Celestina Paulo de Araújo sogra de Gratuliano e Hermenegildo de Paulo Araújo, filho de João Antônio de Araújo e Celestina. Esta família residia à Avenida General Gurjão, no espaço onde atualmente está assentado o prédio da Embratel. Além da residência em Macapá a família possuía uma propriedade localizada no Furo dos Porcos, região das ilhas do Pará, à margem direita do canal norte do Rio Amazonas. A senhora Izabel Araújo foi aluna da Professora Cora Rola de Carvalho e a substituiu no exercício do magistério primário. O senhor Hermenegildo de Paulo Araújo criava porcos e aves no Sitio Veadinho, coletava sementes oleaginosas e produzia borracha, atividades através das quais obtinha de bons recursos financeiros. Em janeiro de 1917, lhe foi concedida a patente de Tenente Secretário do 71º Batalhão da Reserva da Guarda Nacional da Comarca de Macapá. Segundo relatos dos senhores João Silva de Araújo e Isaias Silva de Araújo, filhos de Hermenegildo, ele foi o primeiro cidadão de Macapá a receber o colportor José de Mattos em sua casa, cedendo-a para a realização das reuniões preparatórias da fundação da Assembléia de Deus. Hermenegildo Paulo de Araújo residia na Passagem Carlos Novais, que ficou conhecida anos mais tarde como Beco do Serrano. Foi aí que, no dia 27 de junho de 1917, a pretensão de José de Mattos tornou-se realidade. A cerimônia de batizado dos primeiros evangélicos de Macapá teria acontecido no dia 30 do mesmo mês e ano no igarapé da Fortaleza, data que não bate com o tomo da Igreja Católica. Hermenegildo não era irmão de Graciliano e sim cunhado.
                         
                        No “Resumo Histórico da Evangelização no Território Federal do Amapá” organizado pelo Padre Ângelo Bubani, encontramos os seguintes registros relativos à atuação de membros da Assembléia de Deus de Belém: “1915 – Macapá – Durante este ano apareceu na cidade um ministro protestante vendendo e dando Bíblias. Quando saiu, não tinha arranjado nenhum adepto. 1917 – O Protestantismo se introduziu na cidade este ano...mas sem esperanças.Tem-se lutado energicamente, quer pelas palavras, quer pelas conversas particulares,para afastar a praga. Deus mesmo interveio, porque o introdutor, tal pastor Fausto, após ter jurado que não sairia de Macapá, sabendo que o vigário trabalhava para botá-lo fora, caiu morto diante de sua oficina, no dia 23 de novembro de 1917. O companheiro dele continuou a obra, apoiado e protegido pelo Prefeito Fileto Borges da Fonseca, excomungado por Dom Frederico, por ter roubado o tesouro de São José e amaldiçoado pela própria mãe que maltratava. Uma só família aderiu à nova seita: uma família de espíritas, que nunca foram da Igreja e cuja filha de 14 anos, ainda não era batizada na Igreja. Esta família “Graciliano Araújo” com irmão, irmã e a mãe da mulher foram batizados no “Rio Jordão”, Igarapé da Ponte, na noite de Natal de 1917. A população inteira assistiu e ficou indignada. Foram desde este dia tão desprezados, que ninguém mais nem foi olhar para as rezas de tal seita. Pensa-se que em breve tudo desapareça”. Não há nenhum registro oficial atinente à glossolalia, ou seja, o falar em línguas espirituais estranhas.

                        No parágrafo anterior consta o nome do Pastor Fausto. Tentei localizar alguma citação deste nome nos históricos da Igreja Pentecostal de Belém sem qualquer sucesso. Quem seria o auxiliar de Fausto?Os descendentes de Hermenegildo confirmam o registro feito pela tomo da Igreja católica relativo ao desprezo que a população devotou a seus antepassados. O ambiente era tão hostil que todos deixaram Macapá e foram residir no Furo dos Porcos. O Padre Júlio Maria Lombaerd permaneceu em Macapá de 27 de fevereiro de 1913 a 1º de abril de 1923. Depois da fundação da Assembléia de Deus em Macapá, José de Mattos não retornou à cidade. Em 2 de julho de 1921, credenciado por seus superiores, embarcou para Portugal, sua terra natal. Inicialmente fundou uma igreja em Tordela, a qual não prosperou. Foi mais feliz em Carvalho Redondo. Evangelizou em Murtosa (1921 a 1924), Portemão (1924 a 1940) com atuações em Algarves (Vila Real de Santo Antônio, Ponta de Sagres, Lagos e Silves) e Ribeira de Santarém. Chegou a ser preso em Silves. Foi casado com Palmira da Silva Matos e com ela teve oito filhos: Samuel, Paulo, Abraão, Rute, Ester, João, Palmira e Davi, todos usando o sobrenome de Mattos Caravelas. Faleceu em Rio Maior/Portugal a 3 de maio de 1958, antes de completar 70 anos de idade.

                        A RETOMADA
O Pastor Otoniel Alves de Alencar presidiu a Assembléia de Deus, em Macapá, ao longo de 31 anos

                        A Igreja Assembléia de Deus de Macapá passou um longo período sem pastor fixo. Vez por outra, pastores de Belém saiam para pregar nas localidades da Ilha do Marajó e estendiam a viagem até Macapá. Este período de 32 anos de visitas esporádicas teve inicio em 1918 e se estendeu até 1940. Nesta fase, os próprios evangélicos locais dirigiam os cultos. Após a criação do Território Federal do Amapá a situação começou a mudar. Desde 1940 dois pastores residiram na cidade que ainda era sede do Município Paraense de Macapá. Inicialmente Flávio Monteiro e depois João Alves. Eles conseguiram adquirir o terreno onde está erguido o templo pioneiro da Assembléia de Deus. Neste terreno foi erguida uma igreja em madeira de lei e a residência do pastor. O terreno pertencia ao comerciante Rafael Arcângelo Picanço, pai do historiador Estácio Vidal Picanço. Em 1º de janeiro de 1948, a comunidade pentecostal passou a ser liderada pelo pastor Diocleciano Cabralzinho de Assis, substituído em 9 de abril de 1954, por Vicente Rego Barros, falecido em 1961. Até o dia 3 de fevereiro de 1962, quando tomou posse o pastor Ananias Gomes da Silva, a igreja pentecostal ficou sob a direção de José Pinto de Meneses. Este pastor já havia presidido a Assembléia de Deus em 1954 e 1961, em caráter excepcional, devido à vacância do cargo por motivo de forma maior. Ainda em 1962, mais precisamente no dia 28 de novembro, ocorreu a posse de Otoniel Alves de Alencar, nascido em Caxias, Estado do Maranhão. Até o presente momento é o ministro evangélico que dirigiu a Assembléia de Deus por um elástico período de tempo: 31 anos. Ele faleceu no dia 28 de abril de 1994, sendo substituído pelo filho Oton Miranda de Alencar, que já ocupava o cargo de vice-ministro.
    (Artigo elaborado por mim para homenagear nossos irmãos em Jesus Cristo- 27/06/2011. As fotos que ilustram este artigo constam na História da Convenção das Assembléias de Deus no Brasil e de outras fontes, inclusive de Portugal.)